quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Cessar-fogo em Gaza é vitória palestina

Foto: Fatima Shbair/AP
Por José Reinaldo Carvalho, no site Brasil-247:

Em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira à noite (horário local), o ministro dos Negócios Estrangeiros do Catar anunciou o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza celebrado entre a Resistência palestina, representada pelo Hamas, e os agressores israelenses. Abre-se o caminho para encerrar o genocídio em Gaza perpetrado pelos sionistas, após 15 meses de massacre continuado, que acarretou a morte de dezenas de milhares de palestinos e levou o Oriente Médio à beira de uma guerra generalizada.

A partir do próximo domingo (19), inicia-se um cessar-fogo de seis semanas desencadeando um processo complexo que inclui a retirada gradual das forças agressoras israelenses da Faixa de Gaza e a libertação de cativos israelenses em poder do Hamas em troca de prisioneiros palestinos mantidos por Israel.

O acordo é anunciado após inúmeros episódios de impasses diplomáticos, entre estes os vetos dos Estados Unidos a anteriores propostas de cessar-fogo tramitadas no âmbito do Conselho de Segurança da ONU.

O pacto prevê inicialmente a liberação de 33 cativos israelenses em troca da soltura de prisioneiros palestinos. Primeiramente serão liberadas as mulheres e crianças, seguidas pelas mulheres soldados, depois os homens com mais de 50 anos e os jovens definidos como "casos humanitários". Em troca, Israel libertará cerca de 2.000 combatentes palestinos condenados, incluindo cerca de 250 que foram sentenciados à prisão perpétua. Além disso, Israel libertará cerca de mil combatentes capturados após 7 de outubro, nenhum diretamente envolvido nas ações de 7 de outubro. Posteriormente, serão promovidas outras trocas de prisioneiros.

Nove reféns doentes ou feridos serão libertados em troca da libertação de 110 militantes palestinos condenados que cumprem penas de prisão perpétua.

A primeira fase do acordo durará 42 dias. O exército agressor israelense é obrigado a se retirar do corredor Netzarim e de todas as áreas povoadas de Gaza para cerca de 700 metros da fronteira, exceto em cinco áreas especificadas, onde a distância será de 400 metros. No corredor Filadélfia será reduzida a presença do exército agressor, que depois se retirará completamente ao longo dos primeiros 50 dias.O Corredor Netzarim corta a região central de Gaza e foi criado nos últimos meses pelas forças israelenses para monitorar os palestinos. O Corredor Filadélfia é uma zona entre o Egito e Gaza, existe há mais de quatro décadas e foi mantido com base em dois acordos bilaterais entre o Cairo e Israel.

Após uma semana desde a implementação do acordo, Israel é obrigado a abrir a passagem de fronteira de Rafah para assegurar a implantação de um protocolo de ajuda humanitária, sob a supervisão dos mediadores. Israel também está obrigado a começar os preparativos para iniciar o transporte de ajuda através da travessia imediatamente.

Israel abrirá a passagem de Rafah para civis após a libertação de todas as mulheres, tanto civis quanto soldados, do cativeiro do Hamas. Todos os civis palestinos feridos e doentes poderão sair pela passagem de Rafah após sua reabertura para civis. O Hamas terá permissão para transferir 50 agentes feridos para hospitais egípcios a cada dia. No entanto, cada agente está sujeito à aprovação de Israel e do Egito.

Israel é obrigado a permitir que refugiados desarmados retornem ao norte da Faixa de Gaza a pé, sujeitos a buscas na primeira semana.

Após a primeira semana, centenas de milhares de refugiados palestinos terão permissão, sob determinadas condições, para retornar ao Norte.

O acordo demonstra a capacidade de negociação do Hamas e sua influência no cenário geopolítico, impondo-se como um interlocutor incontornável. Governos árabes, como os do Egito e Catar foram negociadores e fiadores do acordo e dialogaram intensamente com a direção do Hamas, ao passo que o imperialismo estadunidense e os genocidas israelenses, cujo propósito foi aniquilar o Hamas, foram obrigados a negociar com este, atestando a autoridade e o reconhecimento internacional do Movimento.

Demosntrando maturidade política, o Hamas, em declaração oficial, celebrou a trégua como fruto da “lendária firmeza do nosso grande povo palestino” e da coragem de sua resistência na Faixa de Gaza. Essa afirmação é mais do que retórica: é a afirmação de que a persistência e a abnegação do povo palestino foram elementos indispensáveis para impedir que os inimigos alcançassem seus objetivos e iniciar um ciclo de conquistas para o povo palestino. A trégua simboliza uma derrota significativa para os agressores, que se viram obrigados a reconhecer a força da Resistência e a sentar-se à mesa de negociação.

Este acordo é imperioso e indispensável, pois representa uma pausa necessária nas agressões contra a população de Gaza, o alívio da crise humanitária e abre caminho para soluções mais duradouras. A resistência palestina demonstrou que, mesmo diante de adversidades extremas, é possível obter conquistas concretas. Este é um momento de celebração não apenas para o povo palestino, mas para todos os povos do mundo que codenam os crimes de Israel, apoiam a paz e a libertação do povo palestino.

É necessário garantir o pleno cumprimento do acordo e exercer pressão internacional por soluções que respeitem os direitos do povo palestino. Os mediadores prometeram emitir uma resolução do Conselho de Segurança da ONU apoiando a declaração de um cessar-fogo para garantir que as partes cumpram o acordo. Até porque os inimigos figadais da paz e da libertação do povo palestino, embora participando do acordo, continuam vociferando expressões de ódio que podem ser o prelúdio de novas ações agressivas. Os maiores expoentes da extrema direita colonialista e genocida em Israel abominam o acordo e proclamam que “é hora de ocupar e limpar toda a Faixa de Gaza. Já os maiorais do imperialismo estadunidense na fase que começa a partir da assunção de Trump, as declarações são aterradoras: "Gaza precisa ser totalmente desmilitarizada; o Hamas precisa ser destruído a ponto de não poder se reconstituir", afirmou Mike Waltz, conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump, que a partir da próxima segunda-feira (20), toma posse para mais um mandato presidencial. Ele próprio, ao capitalizar o acordo como obra sua, declarou “Gaza nunca mais se tornará um paraíso do terror”, mostrando o ânimo que tem em face da Resistência palestina.

O cessar-fogo é apenas o primeiro passo rumo à liberdade e à paz duradoura. A vitória da resistência é também a derrota dos agressores, que, diante da força e da resiliência palestina, precisaram recuar. Este acordo é, sem dúvida, um marco histórico e uma lógica consequência da incansável busca por justiça e dignidade. É fundamental que a resistência siga firme e que o mundo reconheça a legitimidade dessa luta.

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