Reproduzo editorial do sítio Carta Maior:
As demissões de jornalistas na TV Cultura de São Paulo e o silêncio dos grandes meios de comunicação sobre as causas destas demissões evidenciam mais uma vez um preocupante comportamento cínico, submisso e hipócrita. Mais uma vez, são blogs e sites de jornalistas independentes que cumprem o dever de informar ao público o que é de interesse público. Entidades como a Associação Nacional de Jornais, supostamente comprometidas com a defesa da liberdade de expressão, exibem um silêncio ensurdecedor.
O comportamento cínico e hipócrita da maioria das grandes empresas de comunicação do Brasil ficou mais uma vez evidenciado esta semana, e de um modo extremamente preocupante. Não se trata apenas de valores ou sentimentos, mas sim de fatos objetivos e de silêncios não menos objetivos. O relato sobre demissões na TV Cultura de São Paulo, causadas pelo interesse de jornalistas no tema dos pedágios, justifica plenamente essa preocupação. Um desses relatos, feito nesta sexta-feira pelo jornalista Luis Nassif, chega a ser assustador. Em apenas uma semana, dois jornalistas perderam o emprego, escreve Nassif, em função de uma matéria sobre pedágios. Ele relata:
Há uma semana, Gabriel Priolli foi indicado diretor de jornalismo da TV Cultura. Ontem (7), planejou uma matéria sobre os pedágios paulistas. Foram ouvidos Geraldo Alckmin e Aloizio Mercadante, candidatos ao governo do estado. Tentou-se ouvir a Secretaria dos Transportes, que não quis dar entrevistas. O jornalismo pediu ao menos uma nota oficial. Acabaram não se pronunciando.
Sete horas da noite, o novo vice-presidente de conteúdo da TV Cultura, Fernando Vieira de Mello, chamou Priolli em sua sala. Na volta, Priolli informou que a matéria teria que ser derrubada. Tiveram que improvisar uma matéria anódina sobre as viagens dos candidatos.
Hoje (8) , Priolli foi demitido do cargo. Não durou uma semana.
Semana passada foi Heródoto Barbeiro, demitido do cargo de apresentador do Roda Viva devido às perguntas sobre pedágio feitas ao candidato José Serra (ver vídeo abaixo). Para quem ainda têm dúvidas: a maior ameaça à liberdade de imprensa que esse país jamais enfrentou, nas últimas décadas, seria se, por desgraça, Serra juntasse ao poder de mídia, que já tem, o poder de Estado.
Não é o primeiro relato sobre a truculência do ex-governador de São Paulo com jornalistas. Nos últimos meses, há pelo menos dois outros episódios, um deles envolvendo a jornalista Miriam Leitão, na Globonews, e outros envolvendo jornalistas da RBS TV, em Porto Alegre. A passagem da truculência à ameaça ao trabalho dos jornalistas é algo que deveria receber veemente manifestação da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), sempre prontas a denunciar tais ameaças. No entanto, ao invés disso, o que se houve é um silêncio ensurdecedor.
Mais uma vez, são blogs e sites de jornalistas independentes que cumprem o dever de informar ao público o que é de interesse público. E, mais uma vez também, os chamados jornalões e seus braços no rádio e na TV, calam-se, aliando submissão e cumplicidade com a truculência e o desrespeito ao trabalho de experientes profissionais. O mesmo silêncio, a mesma submissão e a mesma cumplicidade manifestadas nos recentes casos de assassinatos de jornalistas em Honduras, em função de sua posição crítica ao golpe de Estado ocorrido naquele país.
Esse triângulo perverso que une cinismo, hipocrisia e silêncio não é um privilégio da imprensa brasileira. Um outro caso, esta semana, envolveu uma das maiores cadeias de televisão do mundo. A CNN demitiu a jornalista Octavia Nasr, editora de noticiário do Oriente Médio, por causa de uma mensagem publicada por ela em sua página no Twitter onde manifestou “respeito” pelo ex-dirigente do Hezbollah, Sayyed Mohammed, que morreu no final de semana passado.
Octavia tinha 20 anos de trabalho CNN. O que ela escreveu no twitter e causou sua demissão foi: “(Fiquei) triste por saber do falecimento do Sayyed Mohammed Hussein Fadlallah…Um dos gigantes do Hezzbollah que eu respeito muito”. Parisa Khosravi, vice-presidente-sênior da CNN International Newsgathering, afirmou em um memorando interno que “teve uma conversa” com a editora e “decidimos que ela irá deixar a companhia”.
Essa mesma CNN não hesita em denunciar agressões à liberdade de imprensa em outros países quando isso é do interesse de sua linha editorial e dos interesses geopolíticos da empresa. Crime de opinião? Segundo as versões oficiais, isso só existe em países do chamado eixo do mal.
Esse mesmo triângulo perverso ajuda a entender por que essas grandes corporações midiáticas não querem debater com a sociedade a sua própria atuação. Colocam-se acima do bem e do mal como se fossem portadores de legitimidade pública. Não são. Ao cultivarem esse tipo de comportamento e prática, o que estão fazendo, na verdade, é auto-atribuir-se, de modo fraudulento, uma suposta representação pública. Representam, na verdade, os interesses dos donos das empresas e, cada vez menos, o interesse público.
Neste exato momento, o planeta vive aquele que pode vir a se confirmar como o maior desastre ecológico de sua história. O acidente com a plataforma da British Petroleum no Golfo do México e o vazamento diário de milhões de litros de óleo no mar tem proporções ainda incalculáveis. No entanto, a cobertura midiática sobre o caso nem de longe é proporcional, em quantidade e qualidade, à gravidade e importância do caso. Organizações ambientalistas já denunciaram que a BP vem operando pesadamente nos bastidores para bloquear e filtrar informações.
É preciso ter clareza que são os dirigentes e porta-vozes dessas corporações midiáticas e seus braços políticos e empresariais que não hesitam em denunciar qualquer proposta de tornar transparente à sociedade o seu trabalho, supostamente de interesse público. O bloqueio e seleção de informações, a demissão de jornalistas incômodos e a truculência com aqueles que ousam fazer alguma pergunta fora do script são diferentes faces de um mesmo cenário: o cenário da privatização da informação, da deformação da verdade e da destruição do espaço público.
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sexta-feira, 9 de julho de 2010
Josias de Souza e o machismo contra Dilma
O blogueiro predileto da famíglia Frias, Josias de Souza, não vacila em dar suas contribuições às baixarias na campanha eleitoral deste ano. Na internet, várias páginas demotucanas têm atacado a candidata Dilma Rousseff com palavrões e abjetos preconceitos machistas. A Justiça Eleitoral não aplica nenhuma penalidade alegando dificuldades para rastrear os seus endereços. No caso de Josias de Souza, não há desculpas. O seu blog está hospedado na UOL, do Grupo Folha.
Nesta semana, o jornalista postou uma charge de péssimo gosto, insinuando que Dilma Rousseff é “candidata de programa”. Indignado, o comerciante Eduardo Guimarães, do blog Cidadania, chutou o pau da barraca: “O blogueiro da Folha ataca a qualquer um que seu patrão mande, da forma que for determinada. Josias é apenas um pau-mandado. Por dinheiro, se mandarem ele difamar a própria mãe, não hesitará. É um mercenário. Por dinheiro, faz qualquer coisa”.
Tímida reação às baixarias
Numa “dócil” mensagem enviada ao blogueiro, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, também protestou, enquanto seu partido novamente evitou enfrentar mais esta agressão rasteira. Algumas lideranças feministas criticaram o conteúdo da charge, mas o protesto deste movimento ficou bem aquém da gravidade do fato. Alguns falsários da “liberdade de expressão” relativizaram o episódio, bem diferente da postura agressiva que adotaram quando a campanha de Marta Suplicy à prefeitura da capital paulista fez insinuações sobre a opção sexual de Gilberto Kassab.
Não é a primeira vez que Josias de Souza incita preconceitos machistas contra Dilma Rousseff. No ano passado, ao noticiar um jantar oferecido a então ministra, ele não vacilou em dar o título: “Notas vadias de um domingo de notícias vagabundas”. Abaixo, a foto de Dilma e Marta, duas mulheres que ocupam papel de destaque na política brasileira. Caso o título fosse colocado acima da foto de sua mãe, ele protestaria... ou não, já que não “hesitaria em difamar a própria mãe”.
O colunista da direita neoliberal
Nada em Josias de Souza é gratuito. A charge não foi postada por descuido nem foi uma simples brincadeira. O blogueiro da Folha nunca escondeu seu ódio ao governo Lula e sua simpatia pelos tucanos. Até quando crítica o presidenciável José Serra, ele faz com a presunção de “orientar sua campanha”, como se fosse um gênio da estratégia política. Josias é um direitista convicto, que detesta os movimentos sociais, e um udenista “moderno”, que se traveste de paladino da ética.
Reproduzo abaixo artigo escrito em maio de 2007 sobre o badalado blogueiro da Folha:
No seu blog na Folha de S.Paulo desta terça-feira, 1.º de Maio, o colunista Josias de Souza revela todo seu reacionarismo a serviço do capital. No artigo "peleguismo sindical sepulta a reforma trabalhista", ele esbanja arrogância ao atacar a CUT e a Força Sindical. "Nunca na história desse país a máquina dos sindicatos esteve tão atrelada ao Estado... Os interesses reais dos trabalhadores não compareceram às duas festividades. As centrais parecem, no momento, mais interessadas em obter vantagen$ [ironicamente com cifrão] para elas próprias", esbraveja.
O jornalista, que nunca criticou o atrelamento da Folha de S.Paulo à ditadura militar e nem as vantagen$ das privatizações no reinado de FHC, resolveu destilar novamente o seu veneno contra os organismos dos trabalhadores. Para o porta-voz do capital, as manifestações do 1.º de Maio só seriam positivas se tivessem defendido a urgência da reforma trabalhista. "Todos desejam vê-la bem longe da cena política brasileira", lamenta. No mesmo rumo, critica o presidente Lula por ter abandonado, segundo garante, esta proposta. "Ele não moveu uma mísera palha nessa direção", choraminga o assessor de imprensa do patronato.
Seguidor das cartilhas do FMI
Bem ao feitio das cartilhas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Josias de Souza garante que, "sob o discurso da pretensa defesa dos direitos trabalhistas, move-se uma legião de brasileiros que, empurrados para a informalidade, não dispõem de nenhum tipo de direito". Como se a culpa pelo desemprego e pela informalidade fosse dos trabalhadores com registro e direitos básicos assegurados pela Constituição. Para ser coerente, ele deveria abdicar do seu régio salário e de seu registro profissional; ou, ao menos, citar os relatórios da OIT que revelam que a flexibilização não gera emprego nem equaciona o mercado informal.
No mesmo final da noite de domingo, o inspirado colunista da Folha também escreveu um pequeno artigo no seu blog afirmando que "neste 1.º de Maio, os companheiros Hugo Chávez e Evo Morales apertaram o passo da marcha que empreendem na direção da consolidação do atraso". O motivo de sua bronca noturna é que estes presidentes, eleitos democraticamente por seus povos (ao contragosto do baba-ovo da direita), anunciaram novas medidas no rumo da estatização das reservas de petróleo. Para o colunista do capital, a estatização é atraso; já a privataria de FHC é avanço – inclusive para os que receberam alguns jabaculês!
Inimigo dos trabalhadores
Não é de hoje que Josias de Souza, o badalado colunista da golpista Folha de S.Paulo, investe contra as organizações de trabalhadores. No final de 2000, ele acusou o MST de realizar "cobrança ilegal de taxas" dos assentados da reforma agrária. Pouco depois, veio a público que a sua reportagem num assentamento no Paraná tinha sido financiada pelo governo FHC, que chegou a ceder automóveis e orientação técnica para a produção deste exemplo de "independência e neutralidade" do jornalismo nacional. O próprio Josias de Souza foi obrigado a confessar o crime, mas tentou repassar a responsabilidade para a direção do jornal.
Na ocasião, o Fórum Nacional pela Reforma Agrária protocolou representação no Ministério Público Federal para "apurar os subsídios do Incra ao jornalista Josias de Souza, diretor da sucursal da Folha de S.Paulo em Brasília". Documentos expedidos pelo Incra do Paraná revelaram que o órgão cedeu um carro oficial e pagou diárias e combustível para levar o "repórter" a um assentamento no interior do Estado, que resultou num texto intitulado "MST desvia dinheiro da reforma agrária". Segundo o MST, a reportagem "foi o mote para o desencadeamento de uma série de medidas repressivas por parte do governo FHC".
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) também exigiu explicações do pretenso "jornalista". Numa nota oficial, emitida em 10 de novembro de 2000, protestou contra este processo de satanização do MST. "O último lance dessa campanha é a denúncia feita pelo jornal Folha de S.Paulo, na pessoa do colunista Josias de Souza. O referido jornalista, para fazer a matéria, utilizou carro e motorista do Incra do Paraná e percorreu vários assentamentos no interior do Estado... É lamentável que a direção da FSP e o jornalista Josias de Souza descumpram o próprio código de conduta da empresa, que prega a sua ‘independência’".
Cão-de-guarda da direita
Tão servil diante do governo FHC, Josias de Souza virou um raivoso crítico do presidente Lula. Ele nunca perdoou o fato do atual governante vestir o boné do MST, dialogar com o sindicalismo e não criminalizar as lutas sociais. Nos últimos quatro anos, postou-se como um "fiscalizador" das contas das organizações sociais – do MST, da CUT, da UNE, das ONGs progressistas e de tudo que não reze do dogma neoliberal. Para ele, os recursos públicos devem servir para bancar a publicidade da mídia privada e para financiar as entidades filantrópicas das elites; não podem, nunca, servir para fortalecer os movimentos sociais.
Como argumenta o jornalista José Arbex, colunistas da direita, como Josias de Souza, "acham estranho o governo ceder verbas a um movimento social que agrega 300 mil famílias de trabalhadores rurais em todo o país e que mantém escolas, atendimento de saúde, treinamento profissional, assistência técnica e outros serviços públicos. Só para mero efeito de comparação: em 2003, a Associação Nacional de Cooperação Agrícola obteve do Ministério da Educação R$ 3.424.608,00 para promover seu plano de alfabetização de 35 mil sem terras... No mesmo período, a entidade dirigida pela ex-primeira ministra Ruth Cardoso recebeu R$ 33.966.900,00... Mas nada disso merece atenção destes honestos editores [e colunistas]".
Nesta postura de cão-de-guarda da direita, Josias de Souza passou a desqualificar qualquer recurso oficial às mobilizações de trabalhadores – como as efetuadas neste 1.º de Maio. Todo apoio ao movimento social aparece com o símbolo do cifrão. O MST é tratado de M$T. Como afirma Luiz Antonio Magalhães, do Observatório da Imprensa, "ao utilizar esse recurso gráfico irônico, o jornalista passa dos limites. O cifrão no lugar do S induz um pré-julgamento e é, em si, um desrespeito não só ao movimento, mas aos leitores da Folha... O cifrão não acrescenta coisa alguma ao texto, mas subtrai o que os jornalistas mais deveriam prezar: a credibilidade". Mas não se trata de ironia ou recurso gráfico, mas sim de reacionarismo tacanho!
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Serra ordena demissões na TV Cultura?
Dois renomados jornalistas da TV Cultura, tutelada pelo governo paulista, foram demitidos nos últimos dias: Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli. Por mera coincidência, ambos questionaram os abusivos pedágios cobrados nas rodovias privatizadas do estado. A mídia demotucana, que tanto bravateia sobre a “liberdade de expressão”, evita tratar do assunto, que relembra a perseguição e a censura nos piores tempos da ditadura. Ela não vacila em blindar o presidenciável José Serra.
Heródoto Barbeiro, apresentador do programa Roda Viva, foi demitido após perguntar, ao vivo, sobre os altos pedágios. O ex-governador Serra, autoritário e despreparado, atacou o jornalista, acusando-o de repetir o “trololó petista”. Heródoto será substituído por Marília Gabriela, uma das estrelas da Rede Globo. Já Gabriel Priolli, que assumira a função de diretor de jornalismo da TV Cultura apenas uma semana antes, foi sumariamente dispensado ao pautar uma reportagem sobre o “delicado” assunto, que tanto incomoda e irrita os tucanos.
Risco à liberdade de expressão
Sua equipe chegou a entrevistar Geraldo Alckmin e Aloizio Mercadante, candidatos ao governo paulista. Mas pouco antes de ser exibida, a reportagem foi suspensa por ordens do novo vice-presidente de conteúdo da emissora, Fernando Vieira de Mello. “Tiveram que improvisar uma matéria anódina sobre viagens dos candidatos” e “Priolli foi demitido do cargo”, relata o sempre bem informado Luis Nassif, que também foi alvo de perseguições na TV Cultura.
Entre os jornalistas, não há dúvida de que mais estas demissões foram ordenadas diretamente por José Serra. Nas redes privadas de rádio e TV e nos jornalões e revistonas, o grão-tucano goza de forte influência. Ele costuma freqüentar as confortáveis salas dos barões da mídia. Ele também é conhecido por ligar para as redações exigindo a cabeça de repórteres inconvenientes. Depois os tucanos e a sua mídia ainda falam nos ataques à liberdade de expressão no governo Lula.
“Para quem ainda têm dúvidas, a maior ameaça à liberdade de imprensa que esse país jamais enfrentou, nas últimas décadas, seria se, por desgraça, Serra juntasse ao poder da mídia, que já tem, o poder de Estado”, alerta Nassif. Aguarda-se, agora, algum pronunciamento de Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli sobre o ditador José Serra, para o bem da dignidade dos jornalistas e do jornalismo.
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quinta-feira, 8 de julho de 2010
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Dilma, a "radical", estréia nos jornalões
Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:
Dilma, a “radical”, acaba de estrear nas páginas dos jornalões, por conta do programa de governo apresentado pela candidatura da ex-ministra ao TSE, posteriormente substituído.
Erro ou não, o fato é que sabemos que o “Dilma terrorista” vai emergir na campanha, mais cedo ou mais tarde, depois da estreia espetacular que fez na capa da Folha de S. Paulo, na forma de uma ficha falsa que chegou ao jornal por e-mail. Ou seja, como bem lembrou um internauta, a Folha publicou spam na primeira página.
Soube de um amigo bem informado que repórteres da Veja e da Época estão buscando contatos na antiga comunidade de informações do período do regime militar atrás de informações supostamente comprometedoras sobre a militância de Dilma. Também estão conversando com antigos militantes de esquerda.
Isso me lembra exatamente o que vi como repórter da TV Globo em 2005/2006: os melhores quadros da emissora dirigidos para apurar informações contra o governo federal, no período que precedia a campanha de reeleição de Lula. Os governos do PSDB eram, então, poupados.
O padrão, agora, se repete. Não me dei conta, ainda, da divisão de tarefas, mas tudo indica que reprisará o que já vi antes: capas de revistas semanais, repercutidas no Jornal Nacional de sábado, que ganharão perna através da repercussão nos jornais de domingo, arrastando consigo a cobertura de portais, das emissoras de rádio e TV, dos jornais regionais e locais.
É o famoso controle sobre a matriz das notícias, que está nas mãos da campanha de José Serra.
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Dilma, a “radical”, acaba de estrear nas páginas dos jornalões, por conta do programa de governo apresentado pela candidatura da ex-ministra ao TSE, posteriormente substituído.
Erro ou não, o fato é que sabemos que o “Dilma terrorista” vai emergir na campanha, mais cedo ou mais tarde, depois da estreia espetacular que fez na capa da Folha de S. Paulo, na forma de uma ficha falsa que chegou ao jornal por e-mail. Ou seja, como bem lembrou um internauta, a Folha publicou spam na primeira página.
Soube de um amigo bem informado que repórteres da Veja e da Época estão buscando contatos na antiga comunidade de informações do período do regime militar atrás de informações supostamente comprometedoras sobre a militância de Dilma. Também estão conversando com antigos militantes de esquerda.
Isso me lembra exatamente o que vi como repórter da TV Globo em 2005/2006: os melhores quadros da emissora dirigidos para apurar informações contra o governo federal, no período que precedia a campanha de reeleição de Lula. Os governos do PSDB eram, então, poupados.
O padrão, agora, se repete. Não me dei conta, ainda, da divisão de tarefas, mas tudo indica que reprisará o que já vi antes: capas de revistas semanais, repercutidas no Jornal Nacional de sábado, que ganharão perna através da repercussão nos jornais de domingo, arrastando consigo a cobertura de portais, das emissoras de rádio e TV, dos jornais regionais e locais.
É o famoso controle sobre a matriz das notícias, que está nas mãos da campanha de José Serra.
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Lula e as mentiras que pareciam verdades
Reproduzo artigo do jornalista e escritor Washington Araújo, publicado no sítio Carta Maior:
Os anos Lula serão registrados nos livros de história do Brasil como aquele período em que o país investiu na criação de uma cultura de aprendizagem. O período republicano começado em 1º janeiro de 2003 e prestes a findar em 1º de janeiro de 2011 testemunhou mudanças profundas em nossa forma de entender o Brasil. Passamos a refletir sobre o que é realmente e para que serve o governo federal, o que significa o exercício da presidência da República e também o que quer dizer viver em uma época em que um país cindido teve sua maior confluência, unindo de maneira indivisível o Brasil-Índia com o Brasil-Bélgica. Vivemos novos aprendizados. E destes, compartilho alguns que podem ser aferidos a olho nu. Vejamos:
Aprendemos ao longo do tempo que exercer qualquer cargo na administração pública exigia, no mínimo, certo estofo intelectual, diploma de curso superior na parede, apenas para começo de conversa. Lula tem estofo intelectual, mas não aquele certificado pelo diploma na parede. Na verdade no dia 2 de janeiro de 2003 tinha apenas dois diplomas: o de torneiro mecânico certificado pelo Senac e o de Presidente da República certificado pelo Congresso Nacional Brasileiro.
Aprendemos que nenhuma autoridade guindada pelo voto popular ao posto máximo do país – a Presidência da República – conseguiria sobreviver muito tempo como força política se não contasse com o beneplácito dos formadores de opinião, dos luminares da academia e da classe artística, dos colunistas de plantão nas revistas e jornais de maior tiragem diária e semanal. Lula contrariou isso. É denunciado sistematicamente como embuste pelo príncipe dos sociólogos Fernando Henrique Cardoso, é visto como quem infunde terror à ex-namoradinha do Brasil Regina Duarte, é desancado de forma grosseira por Caetano Veloso, é satanizado semanalmente por colunistas da revista Veja e está bastante longe de contar com o olhar benevolente da Rede Globo de Televisão.
Aprendemos que, com o mundo se tornando aldeia global, e o processo de globalização galopando livre, leve e solto nos campos da iniciativa privada e do neoliberalismo, saber ao menos a língua inglesa seria meio caminho andado para o sucesso. Lula não pode dispensar o tradutor em qualquer conversa com não-nacionais. E seu tradutor não pode ser qualquer um: tem que entender e falar inglês, francês, espanhol, russo, farsi, alemão, italiano, japonês e árabe.
Aprendemos que, havendo a imprensa ocupado o chamado Quarto Poder desde meados do século 19, ninguém poderia ser eleito para cargo público de relevo se não contasse de antemão com o apoio dos mais expressivos e influentes órgãos da imprensa. Lula contrariou essa tese, sempre se elegeu... apesar da imprensa e, em especial, da grande imprensa.
Aprendemos que para bem governar o Presidente deve passar a mão na cabeça da imprensa três vezes ao dia: ao amanhecer, ao meio-dia e ao anoitecer. Do contrário é preparar os nervos para resistir ao milionésimo ataque da fera ao seu governo. Do contrário a imprensa estaria sempre emparedada no círculo vicioso que vitimou do ex-ministro da economia Rubens Ricupero, aquele do indiscreto bordão “o que é bom a gente esconde, o que é ruim a gente divulga”. É oportuno resgatar entrevista à Folha de S. Paulo, de 22/10/2009, em que Lula afirmou: “Eu não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. É informar. (...) Para ser fiscal, tem o Tribunal de Contas da União, a Corregedoria-Geral da República, tem um monte de coisas... a única coisa que peço a Deus é que a imprensa informe da maneira mais isenta possível, e as posições políticas sejam colocadas apenas em seus editoriais”. Exatamente uma semana depois (29/10/2009), discursando em São Paulo para uma plateia formada por catadores de materiais recicláveis, o mesmo Lula criticou o trabalho da imprensa, o que levou o público, estimado em cerca de 3.000 pessoas, a vaiar o grupo de jornalistas que acompanhava o seu discurso.
Naquela ocasião o presidente recomendou que os repórteres não interpretassem para dizer em seguida que “os formadores de opinião já não decidem mais (...) porque o povo não quer mais intermediário. Hoje vocês têm a oportunidade de fazer a matéria da vida de vocês. Se vocês esquecerem a pauta do editor de vocês e se embrenharem no meio dessa gente (...) aproveitem para conversar sobre a vida deles (...) Publiquem apenas o que eles falarem. Não tentem interpretar". Lula, ao receber o prêmio de Brasileiro do Ano da revista IstoÉ, na noite de 7/12/2009, afirmou em discurso de agradecimento que “teria vontade de "se suicidar" se olhasse as manchetes da imprensa...”
Aprendemos que, para um Presidente abordar temas internacionais em geral, política mundial, economia planetária, contatos com Chefes de Estados, relações com as Nações Unidas etc é exigido que este detenha profundo conhecimento de cada tema, expertise diplomática tarimbada por muitos anos no ora carcomido circuito Helena Rubinstein (Londres, Paris, Roma, Washington, Nova York, Moscou e Tóquio) e considerável jogo de cintura para não queimar o filme do país. É fato que, não obstante protestos generalizados, Lula trouxe ao Brasil o controvertido presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad e antes deste chegar a Brasília, também estendeu boas-vindas em solo nacional ao não menos polêmicos presidente israelense Shimon Perez e ao chefe da Autoridade Palestina Mahmud Abbas.
Aprendemos que para o país ficar bem na foto teria que se alinhar automaticamente com políticas e agendas formuladas por países como os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e o Japão. Lula mudou os figurantes da fotografia. Além de manter boas relações com estas quatro potências, trouxe para seu lado a Venezuela de Hugo Chávez, a Bolívia de Evo Morales, Cuba dos irmãos Castro, e ainda conseguiu liderar com folga os chamados BRICs, que inclui na foto emergentes continentais como China, Índia e Rússia.
Aprendemos que para termos uma economia sólida, funcional e confiável é necessário que o papel do Estado seja mínimo e que o Deus-mercado tem que permanecer intocável, como Zeus em seu ilusório Olimpo. Aprendemos também que política pública que se preze não pode desconsiderar os efeitos benéficos que advêm com as privatizações. Lula contrariou mais este cânone. Ante a crise econômica mundial que se avizinhava partiu pra cima com o discurso que para o Brasil tratava-se de uma “marolinha” e que a crise fora feita “por gente branca, de olhos azuis”. Chamou o FMI e o Banco Mundial aos carretéis e denunciou a jogatina em que se transformara a economia mundial. Não privatizou e vociferou contra algumas desastradas privatizações do passado recente: Sistema Telebrás, Companhia Vale do Rio Doce, Companhia Siderúrgica Nacional etc.
Aprendemos que Presidente da República, Chefe de Estado, não pode descuidar da liturgia que o cargo impõe. Lula mexeu muito com isso. Na maioria dos discursos menciona termos e chavões do futebol, simplifica teorias econômicas com o uso de metáforas futebolísticas, de conversa de compadres. E coloca boné do MST, veste camisa do Corinthians, coloca cocar de índio Kiriri na cabeça, vibra como torcedor apaixonado e sem medo de ser feliz pula, chora, grita e abraça quem está por perto como fez, quando em Copenhague, o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar as Olimpíadas de 2016. É a antiliturgia do cargo em ação. É o presidente-mascate a vender produtos brasileiros no exterior. Apenas com a visita do intolerante Ahmadinejad foram firmados 63 acordos internacionais e as exportações brasileiras para o Irã saltarão de US$ 1,2 bilhão para US$ 10,8 bi ao ano.
Aprendemos que presidente da República tem que estar sempre medindo forças com a oposição, demarcando seu território, viabilizando seu governo. Lula inverteu essa lógica. Troca figurinhas com Aécio Neves e com José Serra, demonstra apreço por sua ex-ministra Marina Silva, não responde a Fernando Henrique Cardoso quando este se põe a remoer a inveja com tantas das vitórias do “despreparado” petista. Lula consegue manter, lado a lado, na defesa de seu governo políticos antípodas como Jacques Wagner e Geddel Vieira Lima, José Sarney e Michel Temer, Fernando Collor e Renan Calheiros, Ana Julia Carepa e Jader Barbalho, Sérgio Cabral e o casal Garotinho. Mesmo fazendo essa exótica e bem-sucedida engenharia política Lula não pode nos apresentar qualquer diploma de conclusão de curso de ciência política, de história das instituições políticas brasileiras, de sociologia política. Em matéria de ostentação de diplomas acadêmicos é nada mais que um rotundo fracasso.
Aprendemos que para ser um bom Presidente da República há que se fiar muito na competência e na formação adquirida ao longo da vida. Há que confiar muito na experiência e tarimba conseguidas através do exercício de cargos executivos, de preferência, começando como prefeito, passando a governador e de lá a presidente. Se no meio tempo tiver sido deputado estadual, senador... ainda melhor. Pois bem, Lula contrariou tudo isso. Nunca foi prefeito e muito menos governador. Só foi eleito para a Câmara dos Deputados. E como Deputado Federal causou estupefação com aquela famosa frase depois adotada pela MPB: “o Congresso Nacional abriga 300 picaretas”. Sua competência só podia ser mensurada pela passagem na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Em ambiente tão improvável ele criou um partido político, formou lideranças populares, liderou conglomerado de siglas partidárias, perdeu três eleições para Presidente (1989/1994/1998) e se elegeu presidente duas vezes (2002/2006). Lula provou que ter sorte é mais que mero acaso.
Em seu governo viu a autosuficiência do país em petróleo; descobriu extensas reservas do ouro negro no Pré-Sal; trouxe para o Brasil a Copa do Mundo de Futebol 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016; autorizou o Tesouro Nacional a emprestar US$ 10 bi ao FMI; criou e gerenciou o maior programa mundial de distribuição de renda – o Bolsa-Família; está colocando uma pá de cal sobre a indústria da Seca que mantinha os Estados nordestinos à mercê dos coronéis com o avanço das obras de transposição do rio São Francisco.
Em meio a tudo isso, há menos de 48 horas, Lula pode deitar a cabeça no travesseiro com a notícia da Pesquisa Ibope dando conta que era bem avaliado por estupendos 78% da população brasileira. Sui generis. Esse novo recorde é certificado por nada menos que o Instituto de Pesquisa Datafolha, do jornal Folha de S.Paulo. Nesta pesquisa, 17% consideram seu governo “regular” e apenas 4% consideraram o governo “ruim/pésssimo”.
Faço o destaque porque parece ser recorrente que os números do Datafolha, ao menos nesta eleição presidencial 2010 tendem a sistematicamente contrariar os resultados de seus congêneres Ibope, Sensus e Vox Populi. Curiosamente os congêneres são contrariados porque vêm apresentando o crescimento “sustentado” da candidata governista e o refluir de votos do candidato oposicionista, nestes últimos Institutos a taxa de rejeição da candidata reflui e a do candidato oposicionista aumenta e assim por diante. Não precisamos ser futurólogos para perceber que três institutos de pesquisas mostrarão nas próximas semanas números robustos dando conta da transferência da popularidade presidencial para sua candidata. E, no encalço destas, saberemos que o contraponto ficará por conta do Datafolha, diminuindo a “transferência”, invertendo as inflexões das curvas estatísticas... até que, cansados, oferecerão um vistoso cavalo-de-pau que, como meio de arrumação matemática, conformarão seus números com os demais. Uma coisa é certa: seja quem for eleito em 3 de outubro de 2010 para governar o Brasil a academia deverá dedicar seus esforços para entender os misteriosos mecanismos que regem alguns de nossos institutos de opinião pública.
A trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva é em si mesma, um vigoroso libelo contra algumas mentiras que parecem verdades. Lula é o brasileiro que mais vezes se candidatou à presidência da República do Brasil, sendo candidato a presidente cinco vezes. Curioso constatar que em 2006 ultrapassou Rui Barbosa, que se candidatou quatro vezes. Pois bem, de tanto ouvirmos as mentiras chegamos a pensar que eram verdades. E assim, gerações após geração de brasileiros descobriram outro Brasil possível. Aprendemos a ver sentido na expressão “nunca antes na história deste país” porque Lula vestiu estas palavras com novos significados. Queiramos ou não foi o que aconteceu.
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Os anos Lula serão registrados nos livros de história do Brasil como aquele período em que o país investiu na criação de uma cultura de aprendizagem. O período republicano começado em 1º janeiro de 2003 e prestes a findar em 1º de janeiro de 2011 testemunhou mudanças profundas em nossa forma de entender o Brasil. Passamos a refletir sobre o que é realmente e para que serve o governo federal, o que significa o exercício da presidência da República e também o que quer dizer viver em uma época em que um país cindido teve sua maior confluência, unindo de maneira indivisível o Brasil-Índia com o Brasil-Bélgica. Vivemos novos aprendizados. E destes, compartilho alguns que podem ser aferidos a olho nu. Vejamos:
Aprendemos ao longo do tempo que exercer qualquer cargo na administração pública exigia, no mínimo, certo estofo intelectual, diploma de curso superior na parede, apenas para começo de conversa. Lula tem estofo intelectual, mas não aquele certificado pelo diploma na parede. Na verdade no dia 2 de janeiro de 2003 tinha apenas dois diplomas: o de torneiro mecânico certificado pelo Senac e o de Presidente da República certificado pelo Congresso Nacional Brasileiro.
Aprendemos que nenhuma autoridade guindada pelo voto popular ao posto máximo do país – a Presidência da República – conseguiria sobreviver muito tempo como força política se não contasse com o beneplácito dos formadores de opinião, dos luminares da academia e da classe artística, dos colunistas de plantão nas revistas e jornais de maior tiragem diária e semanal. Lula contrariou isso. É denunciado sistematicamente como embuste pelo príncipe dos sociólogos Fernando Henrique Cardoso, é visto como quem infunde terror à ex-namoradinha do Brasil Regina Duarte, é desancado de forma grosseira por Caetano Veloso, é satanizado semanalmente por colunistas da revista Veja e está bastante longe de contar com o olhar benevolente da Rede Globo de Televisão.
Aprendemos que, com o mundo se tornando aldeia global, e o processo de globalização galopando livre, leve e solto nos campos da iniciativa privada e do neoliberalismo, saber ao menos a língua inglesa seria meio caminho andado para o sucesso. Lula não pode dispensar o tradutor em qualquer conversa com não-nacionais. E seu tradutor não pode ser qualquer um: tem que entender e falar inglês, francês, espanhol, russo, farsi, alemão, italiano, japonês e árabe.
Aprendemos que, havendo a imprensa ocupado o chamado Quarto Poder desde meados do século 19, ninguém poderia ser eleito para cargo público de relevo se não contasse de antemão com o apoio dos mais expressivos e influentes órgãos da imprensa. Lula contrariou essa tese, sempre se elegeu... apesar da imprensa e, em especial, da grande imprensa.
Aprendemos que para bem governar o Presidente deve passar a mão na cabeça da imprensa três vezes ao dia: ao amanhecer, ao meio-dia e ao anoitecer. Do contrário é preparar os nervos para resistir ao milionésimo ataque da fera ao seu governo. Do contrário a imprensa estaria sempre emparedada no círculo vicioso que vitimou do ex-ministro da economia Rubens Ricupero, aquele do indiscreto bordão “o que é bom a gente esconde, o que é ruim a gente divulga”. É oportuno resgatar entrevista à Folha de S. Paulo, de 22/10/2009, em que Lula afirmou: “Eu não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. É informar. (...) Para ser fiscal, tem o Tribunal de Contas da União, a Corregedoria-Geral da República, tem um monte de coisas... a única coisa que peço a Deus é que a imprensa informe da maneira mais isenta possível, e as posições políticas sejam colocadas apenas em seus editoriais”. Exatamente uma semana depois (29/10/2009), discursando em São Paulo para uma plateia formada por catadores de materiais recicláveis, o mesmo Lula criticou o trabalho da imprensa, o que levou o público, estimado em cerca de 3.000 pessoas, a vaiar o grupo de jornalistas que acompanhava o seu discurso.
Naquela ocasião o presidente recomendou que os repórteres não interpretassem para dizer em seguida que “os formadores de opinião já não decidem mais (...) porque o povo não quer mais intermediário. Hoje vocês têm a oportunidade de fazer a matéria da vida de vocês. Se vocês esquecerem a pauta do editor de vocês e se embrenharem no meio dessa gente (...) aproveitem para conversar sobre a vida deles (...) Publiquem apenas o que eles falarem. Não tentem interpretar". Lula, ao receber o prêmio de Brasileiro do Ano da revista IstoÉ, na noite de 7/12/2009, afirmou em discurso de agradecimento que “teria vontade de "se suicidar" se olhasse as manchetes da imprensa...”
Aprendemos que, para um Presidente abordar temas internacionais em geral, política mundial, economia planetária, contatos com Chefes de Estados, relações com as Nações Unidas etc é exigido que este detenha profundo conhecimento de cada tema, expertise diplomática tarimbada por muitos anos no ora carcomido circuito Helena Rubinstein (Londres, Paris, Roma, Washington, Nova York, Moscou e Tóquio) e considerável jogo de cintura para não queimar o filme do país. É fato que, não obstante protestos generalizados, Lula trouxe ao Brasil o controvertido presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad e antes deste chegar a Brasília, também estendeu boas-vindas em solo nacional ao não menos polêmicos presidente israelense Shimon Perez e ao chefe da Autoridade Palestina Mahmud Abbas.
Aprendemos que para o país ficar bem na foto teria que se alinhar automaticamente com políticas e agendas formuladas por países como os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e o Japão. Lula mudou os figurantes da fotografia. Além de manter boas relações com estas quatro potências, trouxe para seu lado a Venezuela de Hugo Chávez, a Bolívia de Evo Morales, Cuba dos irmãos Castro, e ainda conseguiu liderar com folga os chamados BRICs, que inclui na foto emergentes continentais como China, Índia e Rússia.
Aprendemos que para termos uma economia sólida, funcional e confiável é necessário que o papel do Estado seja mínimo e que o Deus-mercado tem que permanecer intocável, como Zeus em seu ilusório Olimpo. Aprendemos também que política pública que se preze não pode desconsiderar os efeitos benéficos que advêm com as privatizações. Lula contrariou mais este cânone. Ante a crise econômica mundial que se avizinhava partiu pra cima com o discurso que para o Brasil tratava-se de uma “marolinha” e que a crise fora feita “por gente branca, de olhos azuis”. Chamou o FMI e o Banco Mundial aos carretéis e denunciou a jogatina em que se transformara a economia mundial. Não privatizou e vociferou contra algumas desastradas privatizações do passado recente: Sistema Telebrás, Companhia Vale do Rio Doce, Companhia Siderúrgica Nacional etc.
Aprendemos que Presidente da República, Chefe de Estado, não pode descuidar da liturgia que o cargo impõe. Lula mexeu muito com isso. Na maioria dos discursos menciona termos e chavões do futebol, simplifica teorias econômicas com o uso de metáforas futebolísticas, de conversa de compadres. E coloca boné do MST, veste camisa do Corinthians, coloca cocar de índio Kiriri na cabeça, vibra como torcedor apaixonado e sem medo de ser feliz pula, chora, grita e abraça quem está por perto como fez, quando em Copenhague, o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar as Olimpíadas de 2016. É a antiliturgia do cargo em ação. É o presidente-mascate a vender produtos brasileiros no exterior. Apenas com a visita do intolerante Ahmadinejad foram firmados 63 acordos internacionais e as exportações brasileiras para o Irã saltarão de US$ 1,2 bilhão para US$ 10,8 bi ao ano.
Aprendemos que presidente da República tem que estar sempre medindo forças com a oposição, demarcando seu território, viabilizando seu governo. Lula inverteu essa lógica. Troca figurinhas com Aécio Neves e com José Serra, demonstra apreço por sua ex-ministra Marina Silva, não responde a Fernando Henrique Cardoso quando este se põe a remoer a inveja com tantas das vitórias do “despreparado” petista. Lula consegue manter, lado a lado, na defesa de seu governo políticos antípodas como Jacques Wagner e Geddel Vieira Lima, José Sarney e Michel Temer, Fernando Collor e Renan Calheiros, Ana Julia Carepa e Jader Barbalho, Sérgio Cabral e o casal Garotinho. Mesmo fazendo essa exótica e bem-sucedida engenharia política Lula não pode nos apresentar qualquer diploma de conclusão de curso de ciência política, de história das instituições políticas brasileiras, de sociologia política. Em matéria de ostentação de diplomas acadêmicos é nada mais que um rotundo fracasso.
Aprendemos que para ser um bom Presidente da República há que se fiar muito na competência e na formação adquirida ao longo da vida. Há que confiar muito na experiência e tarimba conseguidas através do exercício de cargos executivos, de preferência, começando como prefeito, passando a governador e de lá a presidente. Se no meio tempo tiver sido deputado estadual, senador... ainda melhor. Pois bem, Lula contrariou tudo isso. Nunca foi prefeito e muito menos governador. Só foi eleito para a Câmara dos Deputados. E como Deputado Federal causou estupefação com aquela famosa frase depois adotada pela MPB: “o Congresso Nacional abriga 300 picaretas”. Sua competência só podia ser mensurada pela passagem na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Em ambiente tão improvável ele criou um partido político, formou lideranças populares, liderou conglomerado de siglas partidárias, perdeu três eleições para Presidente (1989/1994/1998) e se elegeu presidente duas vezes (2002/2006). Lula provou que ter sorte é mais que mero acaso.
Em seu governo viu a autosuficiência do país em petróleo; descobriu extensas reservas do ouro negro no Pré-Sal; trouxe para o Brasil a Copa do Mundo de Futebol 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016; autorizou o Tesouro Nacional a emprestar US$ 10 bi ao FMI; criou e gerenciou o maior programa mundial de distribuição de renda – o Bolsa-Família; está colocando uma pá de cal sobre a indústria da Seca que mantinha os Estados nordestinos à mercê dos coronéis com o avanço das obras de transposição do rio São Francisco.
Em meio a tudo isso, há menos de 48 horas, Lula pode deitar a cabeça no travesseiro com a notícia da Pesquisa Ibope dando conta que era bem avaliado por estupendos 78% da população brasileira. Sui generis. Esse novo recorde é certificado por nada menos que o Instituto de Pesquisa Datafolha, do jornal Folha de S.Paulo. Nesta pesquisa, 17% consideram seu governo “regular” e apenas 4% consideraram o governo “ruim/pésssimo”.
Faço o destaque porque parece ser recorrente que os números do Datafolha, ao menos nesta eleição presidencial 2010 tendem a sistematicamente contrariar os resultados de seus congêneres Ibope, Sensus e Vox Populi. Curiosamente os congêneres são contrariados porque vêm apresentando o crescimento “sustentado” da candidata governista e o refluir de votos do candidato oposicionista, nestes últimos Institutos a taxa de rejeição da candidata reflui e a do candidato oposicionista aumenta e assim por diante. Não precisamos ser futurólogos para perceber que três institutos de pesquisas mostrarão nas próximas semanas números robustos dando conta da transferência da popularidade presidencial para sua candidata. E, no encalço destas, saberemos que o contraponto ficará por conta do Datafolha, diminuindo a “transferência”, invertendo as inflexões das curvas estatísticas... até que, cansados, oferecerão um vistoso cavalo-de-pau que, como meio de arrumação matemática, conformarão seus números com os demais. Uma coisa é certa: seja quem for eleito em 3 de outubro de 2010 para governar o Brasil a academia deverá dedicar seus esforços para entender os misteriosos mecanismos que regem alguns de nossos institutos de opinião pública.
A trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva é em si mesma, um vigoroso libelo contra algumas mentiras que parecem verdades. Lula é o brasileiro que mais vezes se candidatou à presidência da República do Brasil, sendo candidato a presidente cinco vezes. Curioso constatar que em 2006 ultrapassou Rui Barbosa, que se candidatou quatro vezes. Pois bem, de tanto ouvirmos as mentiras chegamos a pensar que eram verdades. E assim, gerações após geração de brasileiros descobriram outro Brasil possível. Aprendemos a ver sentido na expressão “nunca antes na história deste país” porque Lula vestiu estas palavras com novos significados. Queiramos ou não foi o que aconteceu.
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terça-feira, 6 de julho de 2010
O polêmico relatório do Código Florestal
Reproduzo equilibrado artigo de Aldo Arantes, secretário nacional de meio ambiente do PCdoB:
A divulgação do Relatório da Comissão Especial que trata de modificações ao Código Florestal, elaborado por Aldo Rebelo, tem provocado intensos debates com posições radicalizadas a favor e contra. A importância do tema exige uma análise objetiva e multifacética.
O relatório destaca corretamente o interesse das nações ricas na apropriação dos recursos naturais e a tentativa de impedir o crescimento das nações em desenvolvimento. Ressalta a disputa comercial com os países desenvolvidos pelo mercado da carne, açúcar, algodão e soja. A manipulação dos países desenvolvidos para sufocar a produção dos países em desenvolvimento fica expressa, entre outras medidas, através da política protecionista em relação aos seus produtos agrícolas e das ações desenvolvidas na OMC não aceitando o “livre mercado” para os produtos agrícolas e impondo tal regra para os produtos industrializados. Onde eles são fortes, impõem o “livre mercado” e onde são frágeis impõem a política de subsídios.
A política de impor restrições à produção agro-pecuária dos países em desenvolvimento ficou mais explícita com a divulgação do relatório “Florestas lá, plantações aqui” onde se afirma cinicamente “Eliminar o desmatamento nos trópicos até 2030 limitará a receita para expansão agrícola e para a atividade madeireira nos países tropicais, nivelando o campo do jogo para os produtos americanos no mercado global”. A autora principal do relatório é Shari Friedman, ex-funcionária do governo Clinton, quando trabalhou na Environmental Protection Agency (EPA, a Agência de Proteção Ambiental), analisando políticas domésticas de mudanças climáticas e a competitividade internacional. Ela também fez parte da equipe norte-americana de negociações para o Protocolo de Kyoto, que os Estados Unidos se negaram a assinar. Não enxergar esta gritante manobra do imperialismo norte-americano é total ingenuidade ou intenção consciente de favorecer empresas estrangeiras.
Todavia, o Relatório absolutiza a disputa comercial e não ressalta, devidamente, a questão ambiental. Reconhecer a manipulação feita pelo imperialismo na questão agrícola não retira a necessidade de dar um tratamento adequado ao meio ambiente. Nos dias atuais, em que a questão ambiental é melhor compreendida e incorporada à pauta da luta antiimperialista e pelo socialismo, há que combinar o desenvolvimento com o meio ambiente.
O texto do relator destaca o papel positivo da agricultura na produção de alimentos e nas exportações brasileiras. Tal ponto de vista coincide com a defesa do PCdoB de uma união ampla dos diversos segmentos da sociedade, incluindo o setor produtivo industrial e agrícola, em torno de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento que assegure uma Nação forte, democrática e com justiça social.
Por isto mesmo o reconhecimento do papel positivo da agricultura na produção não nos exime de pontuar as conseqüências negativas que certo tipo de produção agro-pecurária acarreta para o meio ambiente e para os trabalhadores. Ela utiliza agrotóxicos, realiza queimadas, desmatamentos, destrói matas ciliares assoreando os rios, gasta excessivamente água para um método ultrapassado de irrigação e retira do solo nutrientes com o método corrente de plantio agrícola. Adota o trabalho semelhante ao trabalho escravo e trabalho de menores. Uma análise objetiva do agronegócio não deve conduzir à sua demonização, mas também não deve conduzir ao seu endeusamento, não ressaltando seus aspectos predatórios.
É feita correta análise dos que criticam o antropocentrismo e que, na relação entre o homem e a natureza, erigem a natureza como aspecto decisivo. Tal ponto de vista conduz a uma absolutização da natureza e tem como decorrência a falsa idéia de preservar a natureza impedindo o desenvolvimento, sendo que o desenvolvimento é o caminho indispensável para enfrentar os problemas da fome e da miséria.
De forma oportuna é feita uma crítica à falsa idéia Malthusiana de que o crescimento da população é fator de grande relevância na crise ambiental.
É feita, também, uma importante crítica à tentativa de transformar a Amazônia em santuário intocável, impedindo o seu desenvolvimento. Como grande repositório de recursos naturais, os países imperialistas querem barrar o seu desenvolvimento para assegurar uma fonte importante de matérias primas para o futuro. No entanto o texto não destaca a ação predatória realizada na Amazônia, sobretudo, com o desmatamento que tem sido realizado. A combinação de desenvolvimento e meio ambiente implica no desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Ao falar da emissão de gases de efeito estufa provocados pela agro-pecuária o relatório destaca que não há consenso de que as mudanças climáticas decorram da ação humana. Todavia não informa que a grande maioria dos cientistas defende a tese da responsabilidade humana, sobretudo dos países desenvolvidos no aquecimento global. Bem como o fato de que tal ponto de vista é defendido pela quase totalidade dos países inclusive dos principais países emergentes entre o quais Brasil, China e Índia. No texto “China Políticas e Ações para combater as alterações climáticas” afirma-se “Desde a revolução industrial, as atividades humanas, especialmente o consumo maciço de energia e de recursos pelos países desenvolvidos no processo de industrialização, têm aumentado as concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa, produzido impactos visíveis sobre os ecossistemas naturais da Terra, e graves desafios colocados para a sobrevivência e o desenvolvimento da sociedade humana”.
Esta questão tem importante conseqüência. Isto porque se o decisivo no aquecimento global for a natureza e não a ação humana, não há porque limitar a emissão de gases de efeito estufa produzidos pelo desenvolvimento.
O substitutivo estabelece o tamanho das Áreas de Preservação Permanente (APPs), praticamente, nos mesmos termos do Código Florestal. Fato grave, no entanto, ele abre caminho para uma acentuada redução das APPs ao assegurar aos estados e distrito federal o poder de reduzir ou aumentar em 50 % as faixas mínimas das marginais dos cursos d’água, do entorno dos lagos e das nascentes e olhos d’água. Segundo o texto do relator tal decisão estará condicionada ao Zoneamento Econômico-Ecológico e ao Plano de Recursos Hídricos elaborado para a bacia hidrográfica. Esta modificação decorreria da necessidade de dar um tratamento diferenciado às áreas de produção já consolidadas. Todavia, permitir que os estados reduzam as dimensões das APPs trará graves prejuízos ao meio ambiente.
As assembléias legislativas da grande maioria dos estados edstão sob forte influência do agro-negócio e, evidentemente, as APPs serão reduzidas e não aumentadas. Isto porque o posicionamento em torno da função social e ambiental da terra está fortemente influenciado pela posição de classe dos grandes produtores que visam mais áreas para a produção, sem levar em conta o meio ambiente. Na Constituinte, quando os mesmos setores defenderam que a reforma agrária ficasse sob a responsabilidade dos estados foi com o mesmo argumento que as forças defensoras desta importante reforma se colocaram contra.
Cabe ressaltar que estudiosos no assunto destacam que o tamanho das APPs não decorre, fundamentalmente, do seu papel na preservação da água e do solo. Se se tratasse apenas destes aspectos a questão colocada pela Embrapa de que as encostas devem ser o fator predominante nesta definição seria adequada. Todavia além de proteger a água e o solo as APPs têm um importante papel na preservação da biodiversidade. E este é o fator decisivo para determinar o tamanho das APPs já que ela exige uma maior faixa para a sua proteção. Por isto mesmo, estudiosos do tema consideram que o Código Florestal define corretamente os limites das APPs e que sua redução trará sérios prejuízos à biodiversidade.
Contudo a importância da biodiversidade ainda é pouco reconhecida pela sociedade brasileira. Incluindo todos os produtos da evolução orgânica, ou seja, a vida biológica do planeta, de genes até espécies e ecossistemas, a biodiversidade ganhou grande importância com os avanços da engenharia genética e o conseqüente aproveitamento dos recursos biológicos e genéticos como matéria-prima para as modernas tecnologias. Tal fato confere à biodiversidade um valor estratégico no chamado novo paradigma tecnológico passando a ser fator de acirradas disputas geopolíticas. E a preservação da vegetação natural é condição para a preservação da biodiversidade.
O texto do relatório define os percentuais da Reserva Legal assegurando aos pequenos proprietários, de até quatro módulos fiscais, a incorporação da Reserva Legal na APP. Nas condições da legislação atual o produtor familiar, com uma pequena propriedade, fica com uma área muito limitada para a sua produção. Tal dispositivo incorporado ao substitutivo é justo, pois não é aceitável dar o mesmo tratamento à pequena e à grande propriedade rural. Em Audiência Pública realizada na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul foi feito um entendimento entre os produtores familiares e o Ministério do Meio Ambiente nos mesmos termos do incorporado ao substituto do Código Florestal. No sentido de impedir manobras por parte dos grandes proprietários o substitutivo estabeleceu que, com o fracionamento do imóvel, as dimensões da Reserva Legal deverão ser fixadas em função da área do imóvel anterior ao fracionamento.
Outro fato que atenta contra o meio ambiente é a possibilidade de grandes proprietários poderem incorporar as áreas das APPS no cálculo do percentual da Reserva Legal. Tal medida reduzirá em muito as áreas de Reserva Legal, com sérios prejuízos ao meio ambiente. Tal dispositivo estende aos grandes proprietários o benefício corretamente assegurado aos pequenos.
Outro dispositivo prejudicial ao meio ambiente diz respeito à possibilidade do Programa de Regularização Ambiental assegurar que áreas rurais consolidadas sejam eximidas da exigência da recuperação das APPs. Grave problema porque aí diz respeito não somente à biodiversidade, mas também à conservação do solo e das águas, questão fundamental inclusive para a própria agricultura.
Dispositivo bastante positivo diz respeito à garantia de que durante cinco anos não será permitida a supressão de florestas nativas para estabelecimento de atividades agropastoris. Uma análise multilateral do substitutivo revela aspectos positivos. Todavia os aspectos negativos são muito maiores e resultam em graves prejuízos ao meio ambiente.
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A divulgação do Relatório da Comissão Especial que trata de modificações ao Código Florestal, elaborado por Aldo Rebelo, tem provocado intensos debates com posições radicalizadas a favor e contra. A importância do tema exige uma análise objetiva e multifacética.
O relatório destaca corretamente o interesse das nações ricas na apropriação dos recursos naturais e a tentativa de impedir o crescimento das nações em desenvolvimento. Ressalta a disputa comercial com os países desenvolvidos pelo mercado da carne, açúcar, algodão e soja. A manipulação dos países desenvolvidos para sufocar a produção dos países em desenvolvimento fica expressa, entre outras medidas, através da política protecionista em relação aos seus produtos agrícolas e das ações desenvolvidas na OMC não aceitando o “livre mercado” para os produtos agrícolas e impondo tal regra para os produtos industrializados. Onde eles são fortes, impõem o “livre mercado” e onde são frágeis impõem a política de subsídios.
A política de impor restrições à produção agro-pecuária dos países em desenvolvimento ficou mais explícita com a divulgação do relatório “Florestas lá, plantações aqui” onde se afirma cinicamente “Eliminar o desmatamento nos trópicos até 2030 limitará a receita para expansão agrícola e para a atividade madeireira nos países tropicais, nivelando o campo do jogo para os produtos americanos no mercado global”. A autora principal do relatório é Shari Friedman, ex-funcionária do governo Clinton, quando trabalhou na Environmental Protection Agency (EPA, a Agência de Proteção Ambiental), analisando políticas domésticas de mudanças climáticas e a competitividade internacional. Ela também fez parte da equipe norte-americana de negociações para o Protocolo de Kyoto, que os Estados Unidos se negaram a assinar. Não enxergar esta gritante manobra do imperialismo norte-americano é total ingenuidade ou intenção consciente de favorecer empresas estrangeiras.
Todavia, o Relatório absolutiza a disputa comercial e não ressalta, devidamente, a questão ambiental. Reconhecer a manipulação feita pelo imperialismo na questão agrícola não retira a necessidade de dar um tratamento adequado ao meio ambiente. Nos dias atuais, em que a questão ambiental é melhor compreendida e incorporada à pauta da luta antiimperialista e pelo socialismo, há que combinar o desenvolvimento com o meio ambiente.
O texto do relator destaca o papel positivo da agricultura na produção de alimentos e nas exportações brasileiras. Tal ponto de vista coincide com a defesa do PCdoB de uma união ampla dos diversos segmentos da sociedade, incluindo o setor produtivo industrial e agrícola, em torno de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento que assegure uma Nação forte, democrática e com justiça social.
Por isto mesmo o reconhecimento do papel positivo da agricultura na produção não nos exime de pontuar as conseqüências negativas que certo tipo de produção agro-pecurária acarreta para o meio ambiente e para os trabalhadores. Ela utiliza agrotóxicos, realiza queimadas, desmatamentos, destrói matas ciliares assoreando os rios, gasta excessivamente água para um método ultrapassado de irrigação e retira do solo nutrientes com o método corrente de plantio agrícola. Adota o trabalho semelhante ao trabalho escravo e trabalho de menores. Uma análise objetiva do agronegócio não deve conduzir à sua demonização, mas também não deve conduzir ao seu endeusamento, não ressaltando seus aspectos predatórios.
É feita correta análise dos que criticam o antropocentrismo e que, na relação entre o homem e a natureza, erigem a natureza como aspecto decisivo. Tal ponto de vista conduz a uma absolutização da natureza e tem como decorrência a falsa idéia de preservar a natureza impedindo o desenvolvimento, sendo que o desenvolvimento é o caminho indispensável para enfrentar os problemas da fome e da miséria.
De forma oportuna é feita uma crítica à falsa idéia Malthusiana de que o crescimento da população é fator de grande relevância na crise ambiental.
É feita, também, uma importante crítica à tentativa de transformar a Amazônia em santuário intocável, impedindo o seu desenvolvimento. Como grande repositório de recursos naturais, os países imperialistas querem barrar o seu desenvolvimento para assegurar uma fonte importante de matérias primas para o futuro. No entanto o texto não destaca a ação predatória realizada na Amazônia, sobretudo, com o desmatamento que tem sido realizado. A combinação de desenvolvimento e meio ambiente implica no desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Ao falar da emissão de gases de efeito estufa provocados pela agro-pecuária o relatório destaca que não há consenso de que as mudanças climáticas decorram da ação humana. Todavia não informa que a grande maioria dos cientistas defende a tese da responsabilidade humana, sobretudo dos países desenvolvidos no aquecimento global. Bem como o fato de que tal ponto de vista é defendido pela quase totalidade dos países inclusive dos principais países emergentes entre o quais Brasil, China e Índia. No texto “China Políticas e Ações para combater as alterações climáticas” afirma-se “Desde a revolução industrial, as atividades humanas, especialmente o consumo maciço de energia e de recursos pelos países desenvolvidos no processo de industrialização, têm aumentado as concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa, produzido impactos visíveis sobre os ecossistemas naturais da Terra, e graves desafios colocados para a sobrevivência e o desenvolvimento da sociedade humana”.
Esta questão tem importante conseqüência. Isto porque se o decisivo no aquecimento global for a natureza e não a ação humana, não há porque limitar a emissão de gases de efeito estufa produzidos pelo desenvolvimento.
O substitutivo estabelece o tamanho das Áreas de Preservação Permanente (APPs), praticamente, nos mesmos termos do Código Florestal. Fato grave, no entanto, ele abre caminho para uma acentuada redução das APPs ao assegurar aos estados e distrito federal o poder de reduzir ou aumentar em 50 % as faixas mínimas das marginais dos cursos d’água, do entorno dos lagos e das nascentes e olhos d’água. Segundo o texto do relator tal decisão estará condicionada ao Zoneamento Econômico-Ecológico e ao Plano de Recursos Hídricos elaborado para a bacia hidrográfica. Esta modificação decorreria da necessidade de dar um tratamento diferenciado às áreas de produção já consolidadas. Todavia, permitir que os estados reduzam as dimensões das APPs trará graves prejuízos ao meio ambiente.
As assembléias legislativas da grande maioria dos estados edstão sob forte influência do agro-negócio e, evidentemente, as APPs serão reduzidas e não aumentadas. Isto porque o posicionamento em torno da função social e ambiental da terra está fortemente influenciado pela posição de classe dos grandes produtores que visam mais áreas para a produção, sem levar em conta o meio ambiente. Na Constituinte, quando os mesmos setores defenderam que a reforma agrária ficasse sob a responsabilidade dos estados foi com o mesmo argumento que as forças defensoras desta importante reforma se colocaram contra.
Cabe ressaltar que estudiosos no assunto destacam que o tamanho das APPs não decorre, fundamentalmente, do seu papel na preservação da água e do solo. Se se tratasse apenas destes aspectos a questão colocada pela Embrapa de que as encostas devem ser o fator predominante nesta definição seria adequada. Todavia além de proteger a água e o solo as APPs têm um importante papel na preservação da biodiversidade. E este é o fator decisivo para determinar o tamanho das APPs já que ela exige uma maior faixa para a sua proteção. Por isto mesmo, estudiosos do tema consideram que o Código Florestal define corretamente os limites das APPs e que sua redução trará sérios prejuízos à biodiversidade.
Contudo a importância da biodiversidade ainda é pouco reconhecida pela sociedade brasileira. Incluindo todos os produtos da evolução orgânica, ou seja, a vida biológica do planeta, de genes até espécies e ecossistemas, a biodiversidade ganhou grande importância com os avanços da engenharia genética e o conseqüente aproveitamento dos recursos biológicos e genéticos como matéria-prima para as modernas tecnologias. Tal fato confere à biodiversidade um valor estratégico no chamado novo paradigma tecnológico passando a ser fator de acirradas disputas geopolíticas. E a preservação da vegetação natural é condição para a preservação da biodiversidade.
O texto do relatório define os percentuais da Reserva Legal assegurando aos pequenos proprietários, de até quatro módulos fiscais, a incorporação da Reserva Legal na APP. Nas condições da legislação atual o produtor familiar, com uma pequena propriedade, fica com uma área muito limitada para a sua produção. Tal dispositivo incorporado ao substitutivo é justo, pois não é aceitável dar o mesmo tratamento à pequena e à grande propriedade rural. Em Audiência Pública realizada na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul foi feito um entendimento entre os produtores familiares e o Ministério do Meio Ambiente nos mesmos termos do incorporado ao substituto do Código Florestal. No sentido de impedir manobras por parte dos grandes proprietários o substitutivo estabeleceu que, com o fracionamento do imóvel, as dimensões da Reserva Legal deverão ser fixadas em função da área do imóvel anterior ao fracionamento.
Outro fato que atenta contra o meio ambiente é a possibilidade de grandes proprietários poderem incorporar as áreas das APPS no cálculo do percentual da Reserva Legal. Tal medida reduzirá em muito as áreas de Reserva Legal, com sérios prejuízos ao meio ambiente. Tal dispositivo estende aos grandes proprietários o benefício corretamente assegurado aos pequenos.
Outro dispositivo prejudicial ao meio ambiente diz respeito à possibilidade do Programa de Regularização Ambiental assegurar que áreas rurais consolidadas sejam eximidas da exigência da recuperação das APPs. Grave problema porque aí diz respeito não somente à biodiversidade, mas também à conservação do solo e das águas, questão fundamental inclusive para a própria agricultura.
Dispositivo bastante positivo diz respeito à garantia de que durante cinco anos não será permitida a supressão de florestas nativas para estabelecimento de atividades agropastoris. Uma análise multilateral do substitutivo revela aspectos positivos. Todavia os aspectos negativos são muito maiores e resultam em graves prejuízos ao meio ambiente.
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Dilma enfrentará a mídia golpista?
Por razões políticas de classe, a mídia tem seu candidato preferencial, o demotucano José Serra. Ao mesmo tempo, ela fará de tudo para enquadrar a candidatura de Dilma Rousseff, a mais forte concorrente nas eleições de 2010. Esta dupla tática já foi usada na campanha de Lula em 2002 e resultou na famosa “carta ao povo brasileiro”, também ironizada de “carta aos banqueiros”. Ela fará campanha, aberta e enrustida, para Serra, mas tentará evitar “extravagâncias” de Dilma. O objetivo é domesticar o seu programa e afastar os “setores mais radicais, bolcheviques”.
Os movimentos neste sentido já se fazem sentir. Seguindo recomendações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o comando petista registrou a candidatura de Dilma e anexou um “programa provisório”. O texto reúne as principais resoluções do congresso partidário, ocorrido em fevereiro último. A gritaria foi imediata. Nas emissoras de televisão e nos jornalões, os comentaristas de aluguel atacaram várias propostas, como a da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, da criação do Imposto sobre Grandes Fortunas e da não criminalização dos movimentos sociais.
“Uso intensivo da blogosfera”
O alvo central da gritaria histérica, porém, foi o capítulo que trata da democratização dos meios de comunicação. O texto afirma, entre outros pontos, que “apesar dos avanços dos últimos anos, a maioria da população brasileira conta, como único veículo cultural e de informação, com as cadeias de rádio e de televisão, em geral, pouco afeitas à qualidade, ao pluralismo e ao debate democrático”. Diante deste cenário adverso à democracia, o “programa provisório” de Dilma Rousseff apresentava várias propostas concretas e progressistas, entre elas:
“Ampliação da rede de equipamentos, como centros culturais, museus, teatros e cinemas, política que deve estar articulada com a multiplicação dos pontos de cultura, representando amplo movimento de socialização cultural”; “Iniciativas que estimulem o debate de idéias, com o fortalecimento das redes públicas de comunicação e o uso intensivo da blogosfera”; “Medidas que promovam a democratização da comunicação social no país, em particular aquelas voltadas para combater o monopólio dos meios eletrônicos de informação, cultura e entretenimento”.
Resoluções da 1ª Confecom
O texto deixava explícito que se baseou nos debates na 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada em dezembro passado, e assumia abertamente as suas resoluções. “Elas prevêem o estabelecimento de um novo parâmetro legal para as telecomunicações no país; a reativação do Conselho Nacional de Comunicação Social; o fim da propriedade cruzada; a exigência de uma porcentagem para a produção regional, de acordo com a Constituição Federal; a proibição da sublocação de emissoras e de horários; e o direito de resposta coletivo”.
Mas, da mesma forma como a Confecom foi sabotada pelos barões da mídia, o “programa provisório” também foi duramente bombardeado nas últimas horas. Para evitar maiores traumas, o comando de campanha simplesmente pediu ao TSE para retirar as “menções polêmicas”, sob a desculpa de que o programa oficial será elaborado pelo conjunto dos partidos coligados. Com mais esta trapalhada, ele deu força aos donos da mídia, que festejaram sua vitória parcial. A questão é: Dilma Rousseff, eleita presidente, enfrentará a tirania midiática ou se dobrará as suas pressões e chantagens?
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Os movimentos neste sentido já se fazem sentir. Seguindo recomendações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o comando petista registrou a candidatura de Dilma e anexou um “programa provisório”. O texto reúne as principais resoluções do congresso partidário, ocorrido em fevereiro último. A gritaria foi imediata. Nas emissoras de televisão e nos jornalões, os comentaristas de aluguel atacaram várias propostas, como a da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, da criação do Imposto sobre Grandes Fortunas e da não criminalização dos movimentos sociais.
“Uso intensivo da blogosfera”
O alvo central da gritaria histérica, porém, foi o capítulo que trata da democratização dos meios de comunicação. O texto afirma, entre outros pontos, que “apesar dos avanços dos últimos anos, a maioria da população brasileira conta, como único veículo cultural e de informação, com as cadeias de rádio e de televisão, em geral, pouco afeitas à qualidade, ao pluralismo e ao debate democrático”. Diante deste cenário adverso à democracia, o “programa provisório” de Dilma Rousseff apresentava várias propostas concretas e progressistas, entre elas:
“Ampliação da rede de equipamentos, como centros culturais, museus, teatros e cinemas, política que deve estar articulada com a multiplicação dos pontos de cultura, representando amplo movimento de socialização cultural”; “Iniciativas que estimulem o debate de idéias, com o fortalecimento das redes públicas de comunicação e o uso intensivo da blogosfera”; “Medidas que promovam a democratização da comunicação social no país, em particular aquelas voltadas para combater o monopólio dos meios eletrônicos de informação, cultura e entretenimento”.
Resoluções da 1ª Confecom
O texto deixava explícito que se baseou nos debates na 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada em dezembro passado, e assumia abertamente as suas resoluções. “Elas prevêem o estabelecimento de um novo parâmetro legal para as telecomunicações no país; a reativação do Conselho Nacional de Comunicação Social; o fim da propriedade cruzada; a exigência de uma porcentagem para a produção regional, de acordo com a Constituição Federal; a proibição da sublocação de emissoras e de horários; e o direito de resposta coletivo”.
Mas, da mesma forma como a Confecom foi sabotada pelos barões da mídia, o “programa provisório” também foi duramente bombardeado nas últimas horas. Para evitar maiores traumas, o comando de campanha simplesmente pediu ao TSE para retirar as “menções polêmicas”, sob a desculpa de que o programa oficial será elaborado pelo conjunto dos partidos coligados. Com mais esta trapalhada, ele deu força aos donos da mídia, que festejaram sua vitória parcial. A questão é: Dilma Rousseff, eleita presidente, enfrentará a tirania midiática ou se dobrará as suas pressões e chantagens?
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FAT e seguro-desemprego: Serra mente!
Uma das marcas da campanha presidencial de José Serra deverá ser a da dissimulação – para ser mais direto, da mentira. O candidato não tem como defender abertamente o programa neoliberal de desmonte do estado, da nação e do trabalho. Além de esconder seu programa, Serra está sem discurso. O chavão udenista da “ética” sucumbiu com a prisão do “vice-careca” Arruda no DF e com as denúncias de corrupção contra Yeda Crusius. Neste cenário, só resta mesmo a mentira.
Essa tática já está em pleno uso. No programa de rádio e TV do PSDB, o embusteiro apareceu na maior caradura afirmando ser o criador do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do seguro-desemprego. No sítio oficial da campanha, a mentira está estampada no título: “Emenda de Serra criou o FAT e tirou o seguro-desemprego do papel”. Em seu discurso na convenção do PTB, em 12 de junho, ele voltou a se jactar destes feitos. “Tenho orgulho de ter iniciado esse processo”.
“Expediente para alavancar a candidatura”
Uma mentira repetida várias vezes pode virar “verdade”, já ensinava Goebbels, o marqueteiro de Hitler. Como adverte o deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT-SP), em entrevista ao blog Viomundo, “nem o FAT nem o seguro-desemprego são criações do Serra... Ele não pode usar a mentira como expediente para se promover e alavancar sua candidatura, pois ele vai perder mais credibilidade. Ainda mais hoje em dia que, graças à internet, tudo é descoberto rapidamente”.
Uma rápida pesquisa nos anais do Congresso Nacional confirma o embuste do demotucano. O autor do projeto de lei que criou o FAT foi o ex-deputado federal Jorge Uequed (PMDB-RS). O PL de número 991 foi apresentado em 11 de outubro de 1988. Já o projeto de José Serra sobre o tema foi apresentado sete meses depois, em 5 de maio de 1989, e recebeu o número 2250. Na sessão de 13 de dezembro de 1989, ele foi considerado prejudicado pelo plenário da Câmara dos Deputados devido à aprovação do projeto de Jorge Uequed.
Sarney desmente o tucano
Já no que se refere ao seguro-desemprego, José Serra volta a mentir. Na campanha presidencial de 2002, ele já havia difundido esta falsa versão. Na ocasião, numa entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o senador José Sarney desmentiu o candidato de chofre. “Não sei de onde ele tirou que criou o seguro-desemprego. O seguro foi criado no meu governo. Na época, ele era secretário de Econômica e Planejamento do governador Franco Montoro”.
Como apurou o blog Viomundo, Sarney disse a mais pura verdade – e Serra, novamente, mentiu. “O seguro-desemprego foi criado em 1986, quando Sarney ocupava a presidência da República. Fo instituído junto com o Plano Cruzado pelo decreto-lei 2.284, de 10 de março de 1986. Passou a ser concedido aos trabalhadores após a sua regulamentação, que ocorreu 40 dias depois, pelo decreto 92.608, de 30 de abril do mesmo ano”.
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Essa tática já está em pleno uso. No programa de rádio e TV do PSDB, o embusteiro apareceu na maior caradura afirmando ser o criador do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do seguro-desemprego. No sítio oficial da campanha, a mentira está estampada no título: “Emenda de Serra criou o FAT e tirou o seguro-desemprego do papel”. Em seu discurso na convenção do PTB, em 12 de junho, ele voltou a se jactar destes feitos. “Tenho orgulho de ter iniciado esse processo”.
“Expediente para alavancar a candidatura”
Uma mentira repetida várias vezes pode virar “verdade”, já ensinava Goebbels, o marqueteiro de Hitler. Como adverte o deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT-SP), em entrevista ao blog Viomundo, “nem o FAT nem o seguro-desemprego são criações do Serra... Ele não pode usar a mentira como expediente para se promover e alavancar sua candidatura, pois ele vai perder mais credibilidade. Ainda mais hoje em dia que, graças à internet, tudo é descoberto rapidamente”.
Uma rápida pesquisa nos anais do Congresso Nacional confirma o embuste do demotucano. O autor do projeto de lei que criou o FAT foi o ex-deputado federal Jorge Uequed (PMDB-RS). O PL de número 991 foi apresentado em 11 de outubro de 1988. Já o projeto de José Serra sobre o tema foi apresentado sete meses depois, em 5 de maio de 1989, e recebeu o número 2250. Na sessão de 13 de dezembro de 1989, ele foi considerado prejudicado pelo plenário da Câmara dos Deputados devido à aprovação do projeto de Jorge Uequed.
Sarney desmente o tucano
Já no que se refere ao seguro-desemprego, José Serra volta a mentir. Na campanha presidencial de 2002, ele já havia difundido esta falsa versão. Na ocasião, numa entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o senador José Sarney desmentiu o candidato de chofre. “Não sei de onde ele tirou que criou o seguro-desemprego. O seguro foi criado no meu governo. Na época, ele era secretário de Econômica e Planejamento do governador Franco Montoro”.
Como apurou o blog Viomundo, Sarney disse a mais pura verdade – e Serra, novamente, mentiu. “O seguro-desemprego foi criado em 1986, quando Sarney ocupava a presidência da República. Fo instituído junto com o Plano Cruzado pelo decreto-lei 2.284, de 10 de março de 1986. Passou a ser concedido aos trabalhadores após a sua regulamentação, que ocorreu 40 dias depois, pelo decreto 92.608, de 30 de abril do mesmo ano”.
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segunda-feira, 5 de julho de 2010
A velha mídia está derretendo
Reproduzo artigo de Antonio Lassance, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado no sítio Carta Maior:
Como um iceberg a navegar em águas quentes e turbulentas, a velha mídia está derretendo. O mundo está mudando, o Brasil é outro e os brasileiros desenvolvem, aceleradamente, novos hábitos de informação.
Um retrato desse processo pode ser visto na recente pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom-P.R.), destinada a descobrir o que o brasileiro lê, ouve, vê e como analisa os fatos e forma sua opinião.
A pesquisa revelou as dimensões que o iceberg ainda preserva. A televisão e o radio permanecem como os meios de comunicação mais comuns aos brasileiros. A TV é assistida por 96,6% da população brasileira, e o rádio, por expressivos 80,3%. Os jornais e revistas ficam bem atrás. Cerca de 46% costumam ler jornais, e menos de 35%, revistas. Perto de apenas 11,5% são leitores diários dos jornais tradicionais.
Quanto à internet, os resultados, da forma como estão apresentados, preferiram escolher o lado cheio do copo. Avalia-se que a internet no Brasil segue a tendência de crescimento mundial e já é utilizada por 46,1% da população brasileira. No entanto, é preciso uma avaliação sobre o lado vazio do copo, ou seja, a constatação de que os 53,9% de pessoas que não têm qualquer acesso à internet ainda revelam um quadro de exclusão digital que precisa ser superado. Ponto para o Programa Nacional da Banda Larga, que representa a chance de uma mudança estrutural e definitiva na forma como os brasileiros se informam e comunicam-se.
A internet tem devorado a TV e o rádio com grande apetite. Os conectados já gastam, em média, mais tempo navegando do que em frente à TV ou ao rádio. Esse avanço relaciona-se não apenas a um novo hábito, mas ao crescimento da renda nacional e à incorporação de contingentes populacionais pobres à classe média, que passaram a ter condições de adquirir um computador conectado.
O processo em curso não levará ao desaparecimento da TV, do rádio e da mídia impressa. O que está havendo é que as velhas mídias estão sendo canibalizadas pela internet, que tornou-se a mídia das mídias, uma plataforma capaz de integrar os mais diversos meios e oferecer ao público alternativas flexíveis e novas opções de entretenimento, comunicação pessoal e “autocomunicação de massa”, como diz o espanhol Manuel Castells.
Ainda usando a analogia do iceberg, a internet tem o poder de diluir, para engolir, a velha mídia.
A pesquisa da Secom-P.R. dá uma boa pista sobre o grande sucesso das plataformas eletrônicas das redes sociais. A formação de opinião entre os brasileiros se dá, em grande medida, na interlocução com amigos (70,9%), família (57,7%), colegas de trabalho (27,3%) e de escola (6,9%), o namorado ou namorada (2,5%), a igreja (1,9%), os movimentos sociais (1,8%) e os sindicatos (0,8%). Alerta para movimentos sociais, sindicatos e igrejas: seu “sex appeal” anda mais baixo que o das (os) namoradas (os).
Estes números confirmam estudos de longa data que afirmam que as redes sociais influem mais na formação da opinião do que os meios de comunicação. Por isso, uma informação muitas vezes bombardeada pela mídia demora a cair nas graças ou desgraças da opinião pública: ela depende do filtro excercido pela rede de relações sociais que envolve a vida de qualquer pessoa. Explica também por que algo que a imprensa bombardeia como negativo pode ser visto pela maioria como positivo. A alta popularidade do governo Lula, diante do longo e pesado cerco midiático, talvez seja o exemplo mais retumbante.
Em suma, o povo não engole tudo o que se despeja sobre ele: mastiga, deglute, digere e muitas vezes cospe conteúdos que não se encaixam em seus valores, sua percepção da realidade e diante de informações que ele consegue por meios próprios e muito mais confiáveis.
É aqui que mora o perigo para a velha mídia. Sua credibilidade está descendo ladeira abaixo. Segundo a citada pesquisa, quase 60% das pessoas acham que as notícias veiculadas pela imprensa são tendenciosas.
Um dado ainda mais grave: 8 em cada 10 brasileiros acreditam muito pouco ou não acreditam no que a imprensa veicula. Quanto maior o nível de renda e de escolaridade do brasileiro (que é o rumo da atual trajetória do país), maior o senso crítico em relação ao que a mídia veicula - ou “inocula”.
A velha mídia está se tornando cada vez mais salgada para o povo. Em dois sentidos: ela pode estar exagerando em conteúdos cada vez mais difíceis de engolir, e as pessoas estão cada vez menos dispostas a comprar conteúdos que podem conseguir de graça, de forma mais simples, e por canais diretos, mais interativos, confiáveis, simpáticos e prazerosos. Num momento em que tudo o que parece sólido se desmancha... na água, quem quiser sobreviver vai ter que trocar as lições de moral pelas explicações didáticas; vai ter que demitir os pit bulls e contratar mais explicadores, humoristas e chargistas. Terá que abandonar o cargo, em que se autoempossou, de superego da República.
Do contrário, obstinados na defesa de seus próprios interesses e na descarga ideológica coletiva de suas raivas particulares, alguns dos mais tradicionais veículos de comunicação serão vítimas de seu próprio veneno. Ao exagerarem no sal, apenas contribuirão para acelerar o processo de derretimento do impávido colosso iceberg que já não está em terra firme.
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Como um iceberg a navegar em águas quentes e turbulentas, a velha mídia está derretendo. O mundo está mudando, o Brasil é outro e os brasileiros desenvolvem, aceleradamente, novos hábitos de informação.
Um retrato desse processo pode ser visto na recente pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom-P.R.), destinada a descobrir o que o brasileiro lê, ouve, vê e como analisa os fatos e forma sua opinião.
A pesquisa revelou as dimensões que o iceberg ainda preserva. A televisão e o radio permanecem como os meios de comunicação mais comuns aos brasileiros. A TV é assistida por 96,6% da população brasileira, e o rádio, por expressivos 80,3%. Os jornais e revistas ficam bem atrás. Cerca de 46% costumam ler jornais, e menos de 35%, revistas. Perto de apenas 11,5% são leitores diários dos jornais tradicionais.
Quanto à internet, os resultados, da forma como estão apresentados, preferiram escolher o lado cheio do copo. Avalia-se que a internet no Brasil segue a tendência de crescimento mundial e já é utilizada por 46,1% da população brasileira. No entanto, é preciso uma avaliação sobre o lado vazio do copo, ou seja, a constatação de que os 53,9% de pessoas que não têm qualquer acesso à internet ainda revelam um quadro de exclusão digital que precisa ser superado. Ponto para o Programa Nacional da Banda Larga, que representa a chance de uma mudança estrutural e definitiva na forma como os brasileiros se informam e comunicam-se.
A internet tem devorado a TV e o rádio com grande apetite. Os conectados já gastam, em média, mais tempo navegando do que em frente à TV ou ao rádio. Esse avanço relaciona-se não apenas a um novo hábito, mas ao crescimento da renda nacional e à incorporação de contingentes populacionais pobres à classe média, que passaram a ter condições de adquirir um computador conectado.
O processo em curso não levará ao desaparecimento da TV, do rádio e da mídia impressa. O que está havendo é que as velhas mídias estão sendo canibalizadas pela internet, que tornou-se a mídia das mídias, uma plataforma capaz de integrar os mais diversos meios e oferecer ao público alternativas flexíveis e novas opções de entretenimento, comunicação pessoal e “autocomunicação de massa”, como diz o espanhol Manuel Castells.
Ainda usando a analogia do iceberg, a internet tem o poder de diluir, para engolir, a velha mídia.
A pesquisa da Secom-P.R. dá uma boa pista sobre o grande sucesso das plataformas eletrônicas das redes sociais. A formação de opinião entre os brasileiros se dá, em grande medida, na interlocução com amigos (70,9%), família (57,7%), colegas de trabalho (27,3%) e de escola (6,9%), o namorado ou namorada (2,5%), a igreja (1,9%), os movimentos sociais (1,8%) e os sindicatos (0,8%). Alerta para movimentos sociais, sindicatos e igrejas: seu “sex appeal” anda mais baixo que o das (os) namoradas (os).
Estes números confirmam estudos de longa data que afirmam que as redes sociais influem mais na formação da opinião do que os meios de comunicação. Por isso, uma informação muitas vezes bombardeada pela mídia demora a cair nas graças ou desgraças da opinião pública: ela depende do filtro excercido pela rede de relações sociais que envolve a vida de qualquer pessoa. Explica também por que algo que a imprensa bombardeia como negativo pode ser visto pela maioria como positivo. A alta popularidade do governo Lula, diante do longo e pesado cerco midiático, talvez seja o exemplo mais retumbante.
Em suma, o povo não engole tudo o que se despeja sobre ele: mastiga, deglute, digere e muitas vezes cospe conteúdos que não se encaixam em seus valores, sua percepção da realidade e diante de informações que ele consegue por meios próprios e muito mais confiáveis.
É aqui que mora o perigo para a velha mídia. Sua credibilidade está descendo ladeira abaixo. Segundo a citada pesquisa, quase 60% das pessoas acham que as notícias veiculadas pela imprensa são tendenciosas.
Um dado ainda mais grave: 8 em cada 10 brasileiros acreditam muito pouco ou não acreditam no que a imprensa veicula. Quanto maior o nível de renda e de escolaridade do brasileiro (que é o rumo da atual trajetória do país), maior o senso crítico em relação ao que a mídia veicula - ou “inocula”.
A velha mídia está se tornando cada vez mais salgada para o povo. Em dois sentidos: ela pode estar exagerando em conteúdos cada vez mais difíceis de engolir, e as pessoas estão cada vez menos dispostas a comprar conteúdos que podem conseguir de graça, de forma mais simples, e por canais diretos, mais interativos, confiáveis, simpáticos e prazerosos. Num momento em que tudo o que parece sólido se desmancha... na água, quem quiser sobreviver vai ter que trocar as lições de moral pelas explicações didáticas; vai ter que demitir os pit bulls e contratar mais explicadores, humoristas e chargistas. Terá que abandonar o cargo, em que se autoempossou, de superego da República.
Do contrário, obstinados na defesa de seus próprios interesses e na descarga ideológica coletiva de suas raivas particulares, alguns dos mais tradicionais veículos de comunicação serão vítimas de seu próprio veneno. Ao exagerarem no sal, apenas contribuirão para acelerar o processo de derretimento do impávido colosso iceberg que já não está em terra firme.
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A mídia é o partido do capital
Reproduzo entrevista concedida ao jornal O Piquete, editado pelo Sindicato dos Bancários de Vitória da Conquista (BA):
O filósofo italiano Antonio Gramsci teorizou que nos momentos de crise das instituições burguesas, a imprensa ocuparia o lugar do partido das classes dominantes. Altamiro Borges, jornalista e autor do livro A Ditadura da Mídia, confirma essa tese e aponta que, nesses momentos, a mídia transforma-se num verdadeiro “partido do capital”.
Essa prática tem sido corrente em Vitória Conquista, quando setores da mídia local têm transformado o ato de informar e o debate de idéias, tão essenciais à cidadania, em espaços de manipulação e utilização político-partidária dos meios de comunicação.
Em entrevista concedida ao Piquete Bancário, Altamiro Borges esclareceu como a grande imprensa perde o seu papel e assume essa visão político-partidária.
Os interlocutores da mídia comercial, em muitas ocasiões, transformam-se em verdadeiros representantes do partido do capital. Como o senhor avalia esse processo?
Este processo é antigo. Antes de se constituir como mídia, a imprensa já atuava como partido político, desestabilizando governos e promovendo golpes. Na história ficaram conhecidos os casos de Getúlio Vargas, levado ao suicídio por pressão da imprensa, e de João Goulart, derrubado por uma conspiração militar-civil que teve papel ativo da imprensa.
Na fase mais recente, a mídia fabricou candidatos – como o tal “caçador de marajás” -, defendeu o modelo neoliberal, destrutivo e regressivo de FHC e tentou derrubar o presidente Lula no famoso caso do “mensalão”, em 2005/2006. A grande mídia sempre atuou politicamente, defendendo os interesses dos poderosos. Ela exerce um duplo poder – econômico e ideológico -, manipulando informações e deformando comportamentos.
Em suas palestras, o senhor aponta que na Venezuela e na Bolívia o povo venceu a mídia. Há possibilidades dessa realidade se repetir no Brasil?
Na Venezuela, o golpe de abril de 2002 foi patrocinado por dois jornalões e por três emissoras de televisão. Eles clamaram pelo golpe, instigaram a violência nas ruas, mentiram descaradamente sobre o presidente eleito, Hugo Chávez, que tachou a conspiração de “golpe midiático” e tomou várias medidas para democratizar a comunicação e estimular meios alternativos e comunitários. Já na Bolívia, 86% das notícias dos jornais, revistas, rádios e televisões foram contrárias à candidatura de Evo Morales, inclusive com ataques preconceituosos. Em ambos os casos, o povo não se iludiu e derrotou a ditadura midiática.
No Brasil, a mídia não dá sossego para o presidente Lula. Ela apostou no impeachment em 2006 e hoje está completamente vinculada à candidatura demotucana de José Serra. Com o resultado das pesquisas recentes, que confirma o crescimento da candidatura de Dilma Rousseff, a mídia tende para baixaria. Acho que esta será a campanha mais suja da história recente do país.
O senhor também discute, em seu livro, a questão da criminalização dos movimentos sociais pela mídia comercial. Como ocorre essa criminalização?
Desde sua origem, a imprensa burguesa foi inimiga das lutas dos trabalhadores. Ela foi contra a revolta dos escravos, contra a luta de Canudos, contra as greves lideradas pelos anarquistas no início do século passado e sempre se posicionou contra os direitos dos trabalhadores. Atualmente, usa os mesmos argumentos dos senhores de escravos para se contrapor à redução da jornada de trabalho – diz que a economia vai afundar, que a medida estimula a preguiça e outros besteiras preconceituosas.
Esta criminalização é feita com requintes de manipulação. Toda a greve é tratada como “congestionamento de trânsito” e transtornos para a sociedade. Todos os direitos são encarados como privilégios. A grande mídia tem nojo dos trabalhadores e rejeita suas lutas e seus direitos.
Em meio às práticas antidemocráticas de setores da grande imprensa, qual deve ser o papel da imprensa ligada aos movimentos sociais?
A imprensa popular, principalmente a sindical, tem um papel fundamental nos dias de hoje e precisa denunciar as manipulações da mídia patronal, ajudando a estimular a consciência crítica dos trabalhadores. Para isto, precisa ser cada vez mais fortalecida e não pode ser encarada como um gasto, mas sim como um investimento na conscientização dos trabalhadores, na luta de idéias na sociedade.
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O filósofo italiano Antonio Gramsci teorizou que nos momentos de crise das instituições burguesas, a imprensa ocuparia o lugar do partido das classes dominantes. Altamiro Borges, jornalista e autor do livro A Ditadura da Mídia, confirma essa tese e aponta que, nesses momentos, a mídia transforma-se num verdadeiro “partido do capital”.
Essa prática tem sido corrente em Vitória Conquista, quando setores da mídia local têm transformado o ato de informar e o debate de idéias, tão essenciais à cidadania, em espaços de manipulação e utilização político-partidária dos meios de comunicação.
Em entrevista concedida ao Piquete Bancário, Altamiro Borges esclareceu como a grande imprensa perde o seu papel e assume essa visão político-partidária.
Os interlocutores da mídia comercial, em muitas ocasiões, transformam-se em verdadeiros representantes do partido do capital. Como o senhor avalia esse processo?
Este processo é antigo. Antes de se constituir como mídia, a imprensa já atuava como partido político, desestabilizando governos e promovendo golpes. Na história ficaram conhecidos os casos de Getúlio Vargas, levado ao suicídio por pressão da imprensa, e de João Goulart, derrubado por uma conspiração militar-civil que teve papel ativo da imprensa.
Na fase mais recente, a mídia fabricou candidatos – como o tal “caçador de marajás” -, defendeu o modelo neoliberal, destrutivo e regressivo de FHC e tentou derrubar o presidente Lula no famoso caso do “mensalão”, em 2005/2006. A grande mídia sempre atuou politicamente, defendendo os interesses dos poderosos. Ela exerce um duplo poder – econômico e ideológico -, manipulando informações e deformando comportamentos.
Em suas palestras, o senhor aponta que na Venezuela e na Bolívia o povo venceu a mídia. Há possibilidades dessa realidade se repetir no Brasil?
Na Venezuela, o golpe de abril de 2002 foi patrocinado por dois jornalões e por três emissoras de televisão. Eles clamaram pelo golpe, instigaram a violência nas ruas, mentiram descaradamente sobre o presidente eleito, Hugo Chávez, que tachou a conspiração de “golpe midiático” e tomou várias medidas para democratizar a comunicação e estimular meios alternativos e comunitários. Já na Bolívia, 86% das notícias dos jornais, revistas, rádios e televisões foram contrárias à candidatura de Evo Morales, inclusive com ataques preconceituosos. Em ambos os casos, o povo não se iludiu e derrotou a ditadura midiática.
No Brasil, a mídia não dá sossego para o presidente Lula. Ela apostou no impeachment em 2006 e hoje está completamente vinculada à candidatura demotucana de José Serra. Com o resultado das pesquisas recentes, que confirma o crescimento da candidatura de Dilma Rousseff, a mídia tende para baixaria. Acho que esta será a campanha mais suja da história recente do país.
O senhor também discute, em seu livro, a questão da criminalização dos movimentos sociais pela mídia comercial. Como ocorre essa criminalização?
Desde sua origem, a imprensa burguesa foi inimiga das lutas dos trabalhadores. Ela foi contra a revolta dos escravos, contra a luta de Canudos, contra as greves lideradas pelos anarquistas no início do século passado e sempre se posicionou contra os direitos dos trabalhadores. Atualmente, usa os mesmos argumentos dos senhores de escravos para se contrapor à redução da jornada de trabalho – diz que a economia vai afundar, que a medida estimula a preguiça e outros besteiras preconceituosas.
Esta criminalização é feita com requintes de manipulação. Toda a greve é tratada como “congestionamento de trânsito” e transtornos para a sociedade. Todos os direitos são encarados como privilégios. A grande mídia tem nojo dos trabalhadores e rejeita suas lutas e seus direitos.
Em meio às práticas antidemocráticas de setores da grande imprensa, qual deve ser o papel da imprensa ligada aos movimentos sociais?
A imprensa popular, principalmente a sindical, tem um papel fundamental nos dias de hoje e precisa denunciar as manipulações da mídia patronal, ajudando a estimular a consciência crítica dos trabalhadores. Para isto, precisa ser cada vez mais fortalecida e não pode ser encarada como um gasto, mas sim como um investimento na conscientização dos trabalhadores, na luta de idéias na sociedade.
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Galvão Bueno será linchado no aeroporto?
Como já alertou o jornalista Eliakim Araújo, que conhece os bastidores da televisão brasileira, a “Globo é vingativa”. Ela até agora não perdoou o fato do técnico Dunga ter vetado as entrevistas exclusivas para a emissora e de ter adotado normas disciplinares para garantir a concentração dos jogadores. No retorno da seleção ao Brasil, só faltou este império midiático, com todos os seus tentáculos – TV aberta e fechada, jornal, rádio e revista – estimular o linchamento de Dunga.
A rádio CBN, do poderoso grupo, alardeou que a chegada de parte do time no aeroporto do Rio de Janeiro foi caótica, com agressões aos jogadores e ao técnico. Stanley Burburinho, em matéria no blog Viomundo, desmentiu a versão terrorista. “Eu estava lá e não houve confusão nenhuma, a não ser a causada pela própria imprensa na ânsia de entrevistas os jogadores”. Já o Fantástico, da TV Globo, destilou novos venenos editorializados contra Dunga, com vários adjetivos.
Data e local do retorno
Na mídia altamente concentrada e manipuladora não há espaço para o contraditório. Todos estão contra Dunga – a TV Globo simplesmente expressa o sentimento do povo brasileiro. Nem sequer a manifestação de respeito ao técnico, ocorrida no aeroporto de Porto Alegre, teve destaque nos inúmeros programas da emissora sobre a Copa do Mundo. A pesquisa de opinião, divulgada na véspera do jogo contra a Alemanha, que deu quase 70% de aprovação ao técnico, também não mereceu qualquer realce. A Rede Globo é contra; portanto, o povo é contra. Ponto final.
Para evitar cair no ridículo e no total descrédito, a Rede Globo deveria tentar ser um pouco mais equilibrada – menos rancorosa e arrogante. Na Copa do Mundo da África do Sul, ela já não foi consenso na cobertura. Através da internet, milhares de pessoas participaram da campanha “Cala boca Galvão” e do movimento “diasemglobo”. Apesar da incitação, Dunga não foi linchado nos aeroportos – para tristeza dos repórteres do império global. E bom não fazer o mesmo teste com Galvão Bueno, evitando divulgar o horário e o local do seu retorno ao Brasil.
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A rádio CBN, do poderoso grupo, alardeou que a chegada de parte do time no aeroporto do Rio de Janeiro foi caótica, com agressões aos jogadores e ao técnico. Stanley Burburinho, em matéria no blog Viomundo, desmentiu a versão terrorista. “Eu estava lá e não houve confusão nenhuma, a não ser a causada pela própria imprensa na ânsia de entrevistas os jogadores”. Já o Fantástico, da TV Globo, destilou novos venenos editorializados contra Dunga, com vários adjetivos.
Data e local do retorno
Na mídia altamente concentrada e manipuladora não há espaço para o contraditório. Todos estão contra Dunga – a TV Globo simplesmente expressa o sentimento do povo brasileiro. Nem sequer a manifestação de respeito ao técnico, ocorrida no aeroporto de Porto Alegre, teve destaque nos inúmeros programas da emissora sobre a Copa do Mundo. A pesquisa de opinião, divulgada na véspera do jogo contra a Alemanha, que deu quase 70% de aprovação ao técnico, também não mereceu qualquer realce. A Rede Globo é contra; portanto, o povo é contra. Ponto final.
Para evitar cair no ridículo e no total descrédito, a Rede Globo deveria tentar ser um pouco mais equilibrada – menos rancorosa e arrogante. Na Copa do Mundo da África do Sul, ela já não foi consenso na cobertura. Através da internet, milhares de pessoas participaram da campanha “Cala boca Galvão” e do movimento “diasemglobo”. Apesar da incitação, Dunga não foi linchado nos aeroportos – para tristeza dos repórteres do império global. E bom não fazer o mesmo teste com Galvão Bueno, evitando divulgar o horário e o local do seu retorno ao Brasil.
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Mídia é colonizada até no futebol
No início da Copa do Mundo, alguns comentaristas da mídia colonizada, principalmente da Rede Globo, pareciam torcedores dos EUA. Galvão Bueno, sempre ele, fez rasgados elogios à pujança do time ianque e à determinação e “patriotismo” de seus jogadores. Puro servilismo. A babação, porém, durou pouco, já que a equipe logo foi desclassificada. Agora, no final da Copa na África, os mesmos comentaristas elogiam a “eficiência” do futebol europeu e debocham das seleções da América Latina – até lembram o José Serra afirmando que o Mercosul é “inútil”.
O servilismo da mídia colonizada se expressa até no futebol. Ela venera o “primeiro mundo”, seu paraíso de consumo, e menospreza os povos do “terceiro mundo”. Esta opção ficou patente antes mesmo do início das partidas. Várias reportagens destacaram o caos existente na África do Sul e alertaram para o risco da violência, dos “atos terroristas”. Nada disto ocorreu até agora. A alegria do sofrido povo sul-africano contagiou multidões e obrigou a mídia a mudar o tom.
Racismo e direitismo
Este servilismo chega a produzir cenas deprimentes, de explícito racismo. A emissora Sportv, da poderosa Rede Globo, humilhou os vizinhos do Paraguai após a sua desclassificação. Num texto carregado de preconceitos, um repórter desqualificou o país como “paraíso obscuro do mundo” e zombou até da fisionomia dos paraguaios, da sua gastronomia e da sua música. A agressão gerou protestos da imprensa local, que destacou o orgulho do seu povo com a campanha da seleção.
No mesmo rumo, a mídia brasileira estimulou os piores instintos contra os argentinos. Ela tentou, de todas as formas, ridicularizar o técnico Maradona. Uma comentarista da GloboNews chegou a afirmar que, além de culpado pela “derrota humilhante diante da Alemanha”, ele seria criticado por suas opções políticas, “de apoiar a presidente Cristina Kirchner e o regime cubano”. Haja servilismo, de uma mídia que parece uma sucursal rastaqüera do império estadunidense.
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O servilismo da mídia colonizada se expressa até no futebol. Ela venera o “primeiro mundo”, seu paraíso de consumo, e menospreza os povos do “terceiro mundo”. Esta opção ficou patente antes mesmo do início das partidas. Várias reportagens destacaram o caos existente na África do Sul e alertaram para o risco da violência, dos “atos terroristas”. Nada disto ocorreu até agora. A alegria do sofrido povo sul-africano contagiou multidões e obrigou a mídia a mudar o tom.
Racismo e direitismo
Este servilismo chega a produzir cenas deprimentes, de explícito racismo. A emissora Sportv, da poderosa Rede Globo, humilhou os vizinhos do Paraguai após a sua desclassificação. Num texto carregado de preconceitos, um repórter desqualificou o país como “paraíso obscuro do mundo” e zombou até da fisionomia dos paraguaios, da sua gastronomia e da sua música. A agressão gerou protestos da imprensa local, que destacou o orgulho do seu povo com a campanha da seleção.
No mesmo rumo, a mídia brasileira estimulou os piores instintos contra os argentinos. Ela tentou, de todas as formas, ridicularizar o técnico Maradona. Uma comentarista da GloboNews chegou a afirmar que, além de culpado pela “derrota humilhante diante da Alemanha”, ele seria criticado por suas opções políticas, “de apoiar a presidente Cristina Kirchner e o regime cubano”. Haja servilismo, de uma mídia que parece uma sucursal rastaqüera do império estadunidense.
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domingo, 4 de julho de 2010
O Globo cria fantasmas
Reproduzo artigo de Laurindo Lalo Leal Filho, publicado no sítio Carta Maior:
O programa da oposição para o horário eleitoral obrigatório no rádio e na TV que vai ao ar de 17 de agosto até 30 de setembro já tem os ingredientes necessários para criar a versão Regina Duarte 2010. Quem os criou foi O Globo, em seu editorial do dia 1º de julho. O medo difuso da atriz em relação a um possível governo Lula é, na nova versão, mais concreto: a candidata da situação, se eleita, importaria para o Brasil o “modelo chavista” de governo.
O Globo não consegue nem ser original ao levantar essa hipótese. Há pouco mais de um ano esses mesmos argumentos foram usados para derrubar, com um golpe de Estado, o presidente Manoel Zelaya de Honduras. Com sua histórica tradição golpista o jornal carioca oferece de bandeja à oposição os elementos necessários para que, nos programas eleitorais, ela possa assustar os eleitores, como tentou, sem sucesso, a atriz global em 2002.
O mote inspirador do editorial foi uma das respostas dadas pela candidata Dilma Roussef no programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo. Ela simplesmente defendeu a necessidade de uma reforma política no Brasil, tema que há muito tempo faz parte do debate nacional na sociedade e no Parlamento. Curiosa é a posição de jornais como o Globo sempre sequiosos de denunciar falcatruas envolvendo parlamentares e administradores públicos, condenando-os junto à sociedade, sem nunca chegar às raízes desse problema, fincadas justamente no sistema político em vigor no pais. Sua modernização é urgente, como salientou a candidata.
O jornal ataca, por exemplo, o financiamento público de campanha, um dos temas centrais de uma possível reforma política. Sem se dar ao trabalho de lembrar que esta é uma das principais distorções do processo eleitoral brasileiro, o qual reserva aos mais afortunados – no sentido literal do termo – o direito de acesso a cargos eletivos com muito mais facilidade que os demais. Ou seja cria cidadãos de primeira e segunda classe. Mas como os representantes do Globo nos parlamentos fazem parte do primeiro grupo, não interessa ao jornal defender o princípio básico de que os direitos políticos são iguais para todos.
O editorial é pródigo em referências negativas aos governos democráticos e populares da América Latina. Além de Hugo Chávez, cita os presidentes Rafael Correa, do Equador e Evo Morales da Bolívia, como inspiradores da candidata petista. Somando-se tudo isso às declarações beligerantes do candidato da oposição ao presidente boliviano é possível fazer algumas conjecturas sobre o que veremos nos programas demo-tucanos de rádio e TV. A esta altura, inspiradas pelo editorial de O Globo, as equipes de produção desses partidos já devem estar revirando arquivos em busca de imagens de manifestações de rua em Caracas, Quito e La Paz. Elas serão cuidadosamente editadas para assustar, especialmente a classe média brasileira, com a “bagunça” existente nos países onde reformas políticas – ainda que distintas das propostas para o Brasil – foram implantadas.
Claro que diante da solidez da candidatura Dilma essas imagens não deverão causar grandes estragos à campanha. O perigo maior está na persistência desses arautos do golpismo em tentar, há várias gerações e por todas as vias, obstruir o processo de aprofundamento da democracia no país. Para enfrentá-los vitórias eleitorais talvez não sejam suficientes. É necessário que venham acompanhadas de reformas políticas capazes de trazer para o centro das decisões nacionais amplas camadas da população, hoje chamadas a se manifestar apenas no momento do voto.
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O programa da oposição para o horário eleitoral obrigatório no rádio e na TV que vai ao ar de 17 de agosto até 30 de setembro já tem os ingredientes necessários para criar a versão Regina Duarte 2010. Quem os criou foi O Globo, em seu editorial do dia 1º de julho. O medo difuso da atriz em relação a um possível governo Lula é, na nova versão, mais concreto: a candidata da situação, se eleita, importaria para o Brasil o “modelo chavista” de governo.
O Globo não consegue nem ser original ao levantar essa hipótese. Há pouco mais de um ano esses mesmos argumentos foram usados para derrubar, com um golpe de Estado, o presidente Manoel Zelaya de Honduras. Com sua histórica tradição golpista o jornal carioca oferece de bandeja à oposição os elementos necessários para que, nos programas eleitorais, ela possa assustar os eleitores, como tentou, sem sucesso, a atriz global em 2002.
O mote inspirador do editorial foi uma das respostas dadas pela candidata Dilma Roussef no programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo. Ela simplesmente defendeu a necessidade de uma reforma política no Brasil, tema que há muito tempo faz parte do debate nacional na sociedade e no Parlamento. Curiosa é a posição de jornais como o Globo sempre sequiosos de denunciar falcatruas envolvendo parlamentares e administradores públicos, condenando-os junto à sociedade, sem nunca chegar às raízes desse problema, fincadas justamente no sistema político em vigor no pais. Sua modernização é urgente, como salientou a candidata.
O jornal ataca, por exemplo, o financiamento público de campanha, um dos temas centrais de uma possível reforma política. Sem se dar ao trabalho de lembrar que esta é uma das principais distorções do processo eleitoral brasileiro, o qual reserva aos mais afortunados – no sentido literal do termo – o direito de acesso a cargos eletivos com muito mais facilidade que os demais. Ou seja cria cidadãos de primeira e segunda classe. Mas como os representantes do Globo nos parlamentos fazem parte do primeiro grupo, não interessa ao jornal defender o princípio básico de que os direitos políticos são iguais para todos.
O editorial é pródigo em referências negativas aos governos democráticos e populares da América Latina. Além de Hugo Chávez, cita os presidentes Rafael Correa, do Equador e Evo Morales da Bolívia, como inspiradores da candidata petista. Somando-se tudo isso às declarações beligerantes do candidato da oposição ao presidente boliviano é possível fazer algumas conjecturas sobre o que veremos nos programas demo-tucanos de rádio e TV. A esta altura, inspiradas pelo editorial de O Globo, as equipes de produção desses partidos já devem estar revirando arquivos em busca de imagens de manifestações de rua em Caracas, Quito e La Paz. Elas serão cuidadosamente editadas para assustar, especialmente a classe média brasileira, com a “bagunça” existente nos países onde reformas políticas – ainda que distintas das propostas para o Brasil – foram implantadas.
Claro que diante da solidez da candidatura Dilma essas imagens não deverão causar grandes estragos à campanha. O perigo maior está na persistência desses arautos do golpismo em tentar, há várias gerações e por todas as vias, obstruir o processo de aprofundamento da democracia no país. Para enfrentá-los vitórias eleitorais talvez não sejam suficientes. É necessário que venham acompanhadas de reformas políticas capazes de trazer para o centro das decisões nacionais amplas camadas da população, hoje chamadas a se manifestar apenas no momento do voto.
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Fim da pré-campanha e vexame midiático
Reproduzo artigo de Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi, publicado no Correio Braziliense:
Quem tinha razão era Magalhães Pinto, velha raposa política e ex-governador de Minas Gerais. A política é mesmo como nuvem. Uma hora, você olha e vê uma coisa. Olha de novo e ela já mudou.
Se estivesse vivo, seria o que ele diria sobre o período da campanha presidencial que agora se encerra. Do início de abril, quando se desincompatibilizaram os principais candidatos, ao fim de junho, quando começa a reta final da sucessão, tudo ficou diferente.
A entrada em campo de Serra era aguardada há meses. É verdade que ele teve que disputar, até dezembro, o posto de candidato com Aécio, ainda que não se preocupasse muito com as aspirações do mineiro. Estava convencido de que o PSDB terminaria por lhe entregar a vaga.
De qualquer maneira, o fato é que, desde quando Aécio saiu do páreo, nada mais restava em seu caminho. Com a candidatura assegurada, teve amplo tempo para se preparar, montar sua estratégia, organizar sua equipe. Ainda que continuasse, de janeiro a março, com suas obrigações de governo, pôde pensar com calma no que faria quando saísse do Palácio dos Bandeirantes.
Com algum retardo (que ajudou a manter o suspense sobre sua decisão até a véspera do prazo fatal), ele finalmente renunciou ao cargo de governador e virou candidato. Juntou-se a Dilma que, dias antes, havia deixado o ministério.
Entre o começo de abril e meados de maio, Serra viveu seus melhores 45 dias desde quando iniciou sua jornada em busca da Presidência. Quem tiver alguma memória se lembrará do que andaram dizendo seus correligionários e publicaram aqueles que por ele torcem na imprensa carioca e paulista.
Era como se estivesse ali começando para valer a sucessão, com um goleador nato, em momento inspirado, mostrando seu melhor futebol. Para eles, Serra fazia um gol atrás do outro, com postura serena, palavras sempre bem escolhidas, hábeis manobras.
Pelo que se lia nesses jornais, enquanto Serra conquistava novos apoios, Dilma perdia os dela. Era apenas questão de tempo até que as pesquisas assinalassem seu crescimento. Enquanto não vinham, as colunas estavam cheias de especulações sobre "pesquisas internas", que já o mostrariam bem à frente da adversária.
Se era esse o tom da cobertura a respeito do candidato tucano, via-se o inverso no que era publicado sobre a petista. Parecia que uma desastrada havia entrado em campo, cometendo um erro depois do outro. Precipitação, amadorismo, inabilidade, incompetência, era isso que se falava dela e de sua campanha. Chegaram a dizer que Lula andava nervoso, agitado, irritadiço.
As nuvens, no entanto, mudaram. Se o sol parecia brilhar para Serra até o meio de maio, a chuva desabou de lá para cá. Viu-se que a falta de traquejo eleitoral não prejudicava Dilma. Ela cresceu nas pesquisas, suas alianças se confirmaram, outras surgiram. Gorou a esperança de que a propaganda partidária de PSDB, DEM, PPS e PTB, somadas, mudassem o panorama. Na maioria dos estados, alegrias para o governo, decepções para a oposição. Lula já não franzia mais a testa. Quando junho chegou ao fim, ele era só sorrisos.
Ficou, no entanto, para o apagar das luzes da "pré-campanha", o pior momento. O episódio da escolha do companheiro de chapa de Serra tem tudo para entrar para a história.
Desde a quarta-feira, quando Índio da Costa foi confirmado, já se falou tanto que é até cruel insistir no assunto. Qualquer argumento em favor de seu nome chega a ser risível, desde o potencial de seus 40 anos atraírem a juventude e provocarem a reversão do voto no Sudeste, à densidade de sua biografia de "ficha limpa".
Mas resta uma pergunta: por mais que as pessoas se julguem imortais, um candidato a presidente não tem a obrigação de raciocinar com a hipótese de vir a faltar, por qualquer motivo? Não foi, talvez, pensando assim que Collor escolheu Itamar, que Fernando Henrique convidou Marco Maciel, que Lula optou por José Alencar?
Goste-se ou não de Michel Temer, nem seus inimigos negam que tem experiência e qualificações para, se imperativo, substituir Dilma. E Índio da Costa?
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Quem tinha razão era Magalhães Pinto, velha raposa política e ex-governador de Minas Gerais. A política é mesmo como nuvem. Uma hora, você olha e vê uma coisa. Olha de novo e ela já mudou.
Se estivesse vivo, seria o que ele diria sobre o período da campanha presidencial que agora se encerra. Do início de abril, quando se desincompatibilizaram os principais candidatos, ao fim de junho, quando começa a reta final da sucessão, tudo ficou diferente.
A entrada em campo de Serra era aguardada há meses. É verdade que ele teve que disputar, até dezembro, o posto de candidato com Aécio, ainda que não se preocupasse muito com as aspirações do mineiro. Estava convencido de que o PSDB terminaria por lhe entregar a vaga.
De qualquer maneira, o fato é que, desde quando Aécio saiu do páreo, nada mais restava em seu caminho. Com a candidatura assegurada, teve amplo tempo para se preparar, montar sua estratégia, organizar sua equipe. Ainda que continuasse, de janeiro a março, com suas obrigações de governo, pôde pensar com calma no que faria quando saísse do Palácio dos Bandeirantes.
Com algum retardo (que ajudou a manter o suspense sobre sua decisão até a véspera do prazo fatal), ele finalmente renunciou ao cargo de governador e virou candidato. Juntou-se a Dilma que, dias antes, havia deixado o ministério.
Entre o começo de abril e meados de maio, Serra viveu seus melhores 45 dias desde quando iniciou sua jornada em busca da Presidência. Quem tiver alguma memória se lembrará do que andaram dizendo seus correligionários e publicaram aqueles que por ele torcem na imprensa carioca e paulista.
Era como se estivesse ali começando para valer a sucessão, com um goleador nato, em momento inspirado, mostrando seu melhor futebol. Para eles, Serra fazia um gol atrás do outro, com postura serena, palavras sempre bem escolhidas, hábeis manobras.
Pelo que se lia nesses jornais, enquanto Serra conquistava novos apoios, Dilma perdia os dela. Era apenas questão de tempo até que as pesquisas assinalassem seu crescimento. Enquanto não vinham, as colunas estavam cheias de especulações sobre "pesquisas internas", que já o mostrariam bem à frente da adversária.
Se era esse o tom da cobertura a respeito do candidato tucano, via-se o inverso no que era publicado sobre a petista. Parecia que uma desastrada havia entrado em campo, cometendo um erro depois do outro. Precipitação, amadorismo, inabilidade, incompetência, era isso que se falava dela e de sua campanha. Chegaram a dizer que Lula andava nervoso, agitado, irritadiço.
As nuvens, no entanto, mudaram. Se o sol parecia brilhar para Serra até o meio de maio, a chuva desabou de lá para cá. Viu-se que a falta de traquejo eleitoral não prejudicava Dilma. Ela cresceu nas pesquisas, suas alianças se confirmaram, outras surgiram. Gorou a esperança de que a propaganda partidária de PSDB, DEM, PPS e PTB, somadas, mudassem o panorama. Na maioria dos estados, alegrias para o governo, decepções para a oposição. Lula já não franzia mais a testa. Quando junho chegou ao fim, ele era só sorrisos.
Ficou, no entanto, para o apagar das luzes da "pré-campanha", o pior momento. O episódio da escolha do companheiro de chapa de Serra tem tudo para entrar para a história.
Desde a quarta-feira, quando Índio da Costa foi confirmado, já se falou tanto que é até cruel insistir no assunto. Qualquer argumento em favor de seu nome chega a ser risível, desde o potencial de seus 40 anos atraírem a juventude e provocarem a reversão do voto no Sudeste, à densidade de sua biografia de "ficha limpa".
Mas resta uma pergunta: por mais que as pessoas se julguem imortais, um candidato a presidente não tem a obrigação de raciocinar com a hipótese de vir a faltar, por qualquer motivo? Não foi, talvez, pensando assim que Collor escolheu Itamar, que Fernando Henrique convidou Marco Maciel, que Lula optou por José Alencar?
Goste-se ou não de Michel Temer, nem seus inimigos negam que tem experiência e qualificações para, se imperativo, substituir Dilma. E Índio da Costa?
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Bancos lavaram dinheiro do narcotráfico
Reproduzo artigo de David Brooks, publicado no jornal La Jornada e traduzido por Katarina Peixoto para o sítio Carta Maior:
Alguns dos principais bancos e financeiras estadunidenses, entre eles Wells Fargo, Bank of América, Citigroup, American Express e Western Union lucraram durante anos com a lavagem de dinheiro oriundo do narcotráfico e só pagam multas mínimas, sem que nenhum executivo seja encarcerado quando as autoridades conseguem detectar o negócio ilícito.
Em múltiplos casos fiscalizados durante os últimos anos, estes bancos estadunidenses confessaram não ter cumprido as leis e regulamentos federais para controlar a lavagem de dinheiro, ao participarem das transferências de bilhões de dólares em fundos ilícitos provenientes do narcotráfico mexicano.
Esse é o caso do Wachovia Corp, antes o sexto banco do país, comprado pelo Wells Fargo em 2008 e agora o banco com mais sucursais nos Estados Unidos. O Wells Fargo admitiu perante um tribunal que o Wachovia não vigiou nem informou sobre as atividades suspeitas de lavagem de dinheiro por narcotraficantes, incluindo quantias para a compra de pelo menos quatro aviões nos Estados Unidos, que transportaram um total de 22 toneladas de cocaína. O outro banco envolvido na transferência de fundos com os quais se comprou um desses aviões – um DC-9 que em seguida foi confiscado no México com toneladas de cocaína – foi o Bank of America, reportou o Bloomberg News.
Tudo isso foi revelado num acordo judicial do banco com procuradores federais, em março de 2010. Nos documentos judiciais do caso lidos pelo La Jornada, Wachovia admitiu que não fez o suficiente para detectar fundos ilícitos sob sua administração, na casa de mais de 378,4 bilhões de dólares, em seus negócios com casas de câmbio mexicanas, entre maio de 2004 e maio de 2007.
Desse total, Wachovia processou ao menos 373,6 bilhões em transferências eletrônicas, mais 4,7 bilhões em traslados de dinheiro em espécie e outros 47 bilhões em depósitos de cheques internacionais. Nem todos esses fundos estão vinculados ao narcotráfico, mas segundo as investigações do Departamento de Justiça bilhões não foram sujeitos à fiscalização exigida pela lei, e centenas de bilhões de dólares desses fundos estavam diretamente ligados ao narcotráfico.
Wachovia, violação recorde
Pelo volume total de fundos que não estiveram sujeitos à fiscalização antilavagem de dinheiro, o caso do Wachovia se tornou a maior violação da Lei de Sigilo Bancário na história. Essa lei obriga os bancos a reportarem às autoridades toda transferência de fundos em espécie em valores acima de 10 mil dólares, assim como a informar sobre atividade suspeita de lavagem de dinheiro.
O procurador federal no caso, Jeffrey Sloman, declarou em março, ao anunciar o acordo com Wells Fargo: “A desatenção flagrante de nossas leis bancárias por Wachovia permitiu uma virtual carta branca aos cartéis internacionais de cocaína para financiar suas operações, ao lavarem ao menos 110 milhões de dólares em lucros com a droga”.
Não é que ninguém tenha notado. O próprio banco admitiu perante o Tribunal que já desde 2004 o Wachovia reconheceu o risco. Mas apesar das advertências permaneceu no negócio, segundo os documentos lidos por La Jornada.
Esse negócio era a administração e traslado de fundos de pelo menos 22 casas de câmbio no México que tinham contas no Wachovia. Um exemplo citado nos documentos é o da Casa de Câmbio Puebla S/A, cujos gerentes criaram empresas fictícias para os cartéis e, segundo o Departamento de Justiça, conseguiram lavar uns 720 milhões de dólares, por meio de bancos estadunidenses.
De fato, foi o caso da Casa de Câmbio Puebla que detonou esta investigação das autoridades federais. Desde 2005 algunas transferências de fundos do Wachovia já estavam sob investigação, em suas sucursais em Miami, a partir do México, por meio de casas de câmbio, e estes fundos eram utilizados para comprar aviões destinados ao narcotráfico, informam os documentos judiciais do caso.
Por outro lado, durante esse período o diretor da unidade antilavagem de dinheiro de Wachovia em Londres, Martin Woods, suspeitava que narcotraficantes utilizavam o banco para mover quantias. Ele informou a seus chefes, que lhe ordenaram a deixar o assunto de lado, e por isso renunciou ao seu postos reportou a Bloomberg. Woods disse a essa agência que “é a lavagem de dinheiro dos cartéis pelos bancos que financia a tragédia...Se não se vê a correlação entre a lavagem de dinheiro pelos bancos e as 22 mil pessoas assassinadas no México não se entende o que está em jogo”.
Depois de ser acusado de violar a lei, Wells Fargo, agora dono do Wachovia, comprometeu-se num tribunal federal de Miami a reformar seus sistemas de vigilância. Pagou 160 milhões de dólares em multa e, caso cumpra suas promessas feitas às autoridades federais, estas deixarão os encargos contra o banco em março de 2011.
Esta prática é comum nestes casos e se chama acordo de fiscalização diferida. Por meio dele um banco paga uma multa, coopera com a investigação e se compromete a não violar a lei, mais.
Nenhum empregado recusou a propina
Em sua reportagem a Bloomberg enumera vários outros casos em que bancos pagaram multas e mudaram suas práticas, mas não enfrentaram nenhuma consequência penal importante por suas ações. É o caso da American Express Bank International de Miami, que pagou multas em 1994 e em 2007, do Bank of America, cujas sucursais em Oklahoma City foram utilizadas para comprar aviões para narcotraficantes, bem como as contas em suas sucursais de Atlanta, Chicago e Brownsville, Texas; e também há casos documentados sob investigação sobre o uso de sucursais no México de bancos estrangeiros como o Citigroup, HSBC e Santander.
Outro caso é o do Western Union, que no começo deste ano pagou 94 milhões de dólares para encerrar uma investigação criminal e civil do procurador geral do Arizona, depois que numa operação agentes à paisana da polícia estadual, disfarçados de narcotraficantes, conseguiram subornar, em várias ocasiões, empregados da empresa para trasladar dinheiro de maneira ilícita. Em 20 escritórios diferentes do Western Union, nenhum empregado jamais recusou a propina para permitirem envios de quantias atribuídas a laranjas.
Calcula-se que quase 30 bilhões de dólares em dinheiro vivo se mova de um lado a outro da fronteira mexicana com os Estados Unidos. E uma parte desses recursos é depositada em bancos de ambos os países e em bancos internacionais, a partir dos quais os fundos podem ser trasladados por todo o sistema financeiro internacional.
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Alguns dos principais bancos e financeiras estadunidenses, entre eles Wells Fargo, Bank of América, Citigroup, American Express e Western Union lucraram durante anos com a lavagem de dinheiro oriundo do narcotráfico e só pagam multas mínimas, sem que nenhum executivo seja encarcerado quando as autoridades conseguem detectar o negócio ilícito.
Em múltiplos casos fiscalizados durante os últimos anos, estes bancos estadunidenses confessaram não ter cumprido as leis e regulamentos federais para controlar a lavagem de dinheiro, ao participarem das transferências de bilhões de dólares em fundos ilícitos provenientes do narcotráfico mexicano.
Esse é o caso do Wachovia Corp, antes o sexto banco do país, comprado pelo Wells Fargo em 2008 e agora o banco com mais sucursais nos Estados Unidos. O Wells Fargo admitiu perante um tribunal que o Wachovia não vigiou nem informou sobre as atividades suspeitas de lavagem de dinheiro por narcotraficantes, incluindo quantias para a compra de pelo menos quatro aviões nos Estados Unidos, que transportaram um total de 22 toneladas de cocaína. O outro banco envolvido na transferência de fundos com os quais se comprou um desses aviões – um DC-9 que em seguida foi confiscado no México com toneladas de cocaína – foi o Bank of America, reportou o Bloomberg News.
Tudo isso foi revelado num acordo judicial do banco com procuradores federais, em março de 2010. Nos documentos judiciais do caso lidos pelo La Jornada, Wachovia admitiu que não fez o suficiente para detectar fundos ilícitos sob sua administração, na casa de mais de 378,4 bilhões de dólares, em seus negócios com casas de câmbio mexicanas, entre maio de 2004 e maio de 2007.
Desse total, Wachovia processou ao menos 373,6 bilhões em transferências eletrônicas, mais 4,7 bilhões em traslados de dinheiro em espécie e outros 47 bilhões em depósitos de cheques internacionais. Nem todos esses fundos estão vinculados ao narcotráfico, mas segundo as investigações do Departamento de Justiça bilhões não foram sujeitos à fiscalização exigida pela lei, e centenas de bilhões de dólares desses fundos estavam diretamente ligados ao narcotráfico.
Wachovia, violação recorde
Pelo volume total de fundos que não estiveram sujeitos à fiscalização antilavagem de dinheiro, o caso do Wachovia se tornou a maior violação da Lei de Sigilo Bancário na história. Essa lei obriga os bancos a reportarem às autoridades toda transferência de fundos em espécie em valores acima de 10 mil dólares, assim como a informar sobre atividade suspeita de lavagem de dinheiro.
O procurador federal no caso, Jeffrey Sloman, declarou em março, ao anunciar o acordo com Wells Fargo: “A desatenção flagrante de nossas leis bancárias por Wachovia permitiu uma virtual carta branca aos cartéis internacionais de cocaína para financiar suas operações, ao lavarem ao menos 110 milhões de dólares em lucros com a droga”.
Não é que ninguém tenha notado. O próprio banco admitiu perante o Tribunal que já desde 2004 o Wachovia reconheceu o risco. Mas apesar das advertências permaneceu no negócio, segundo os documentos lidos por La Jornada.
Esse negócio era a administração e traslado de fundos de pelo menos 22 casas de câmbio no México que tinham contas no Wachovia. Um exemplo citado nos documentos é o da Casa de Câmbio Puebla S/A, cujos gerentes criaram empresas fictícias para os cartéis e, segundo o Departamento de Justiça, conseguiram lavar uns 720 milhões de dólares, por meio de bancos estadunidenses.
De fato, foi o caso da Casa de Câmbio Puebla que detonou esta investigação das autoridades federais. Desde 2005 algunas transferências de fundos do Wachovia já estavam sob investigação, em suas sucursais em Miami, a partir do México, por meio de casas de câmbio, e estes fundos eram utilizados para comprar aviões destinados ao narcotráfico, informam os documentos judiciais do caso.
Por outro lado, durante esse período o diretor da unidade antilavagem de dinheiro de Wachovia em Londres, Martin Woods, suspeitava que narcotraficantes utilizavam o banco para mover quantias. Ele informou a seus chefes, que lhe ordenaram a deixar o assunto de lado, e por isso renunciou ao seu postos reportou a Bloomberg. Woods disse a essa agência que “é a lavagem de dinheiro dos cartéis pelos bancos que financia a tragédia...Se não se vê a correlação entre a lavagem de dinheiro pelos bancos e as 22 mil pessoas assassinadas no México não se entende o que está em jogo”.
Depois de ser acusado de violar a lei, Wells Fargo, agora dono do Wachovia, comprometeu-se num tribunal federal de Miami a reformar seus sistemas de vigilância. Pagou 160 milhões de dólares em multa e, caso cumpra suas promessas feitas às autoridades federais, estas deixarão os encargos contra o banco em março de 2011.
Esta prática é comum nestes casos e se chama acordo de fiscalização diferida. Por meio dele um banco paga uma multa, coopera com a investigação e se compromete a não violar a lei, mais.
Nenhum empregado recusou a propina
Em sua reportagem a Bloomberg enumera vários outros casos em que bancos pagaram multas e mudaram suas práticas, mas não enfrentaram nenhuma consequência penal importante por suas ações. É o caso da American Express Bank International de Miami, que pagou multas em 1994 e em 2007, do Bank of America, cujas sucursais em Oklahoma City foram utilizadas para comprar aviões para narcotraficantes, bem como as contas em suas sucursais de Atlanta, Chicago e Brownsville, Texas; e também há casos documentados sob investigação sobre o uso de sucursais no México de bancos estrangeiros como o Citigroup, HSBC e Santander.
Outro caso é o do Western Union, que no começo deste ano pagou 94 milhões de dólares para encerrar uma investigação criminal e civil do procurador geral do Arizona, depois que numa operação agentes à paisana da polícia estadual, disfarçados de narcotraficantes, conseguiram subornar, em várias ocasiões, empregados da empresa para trasladar dinheiro de maneira ilícita. Em 20 escritórios diferentes do Western Union, nenhum empregado jamais recusou a propina para permitirem envios de quantias atribuídas a laranjas.
Calcula-se que quase 30 bilhões de dólares em dinheiro vivo se mova de um lado a outro da fronteira mexicana com os Estados Unidos. E uma parte desses recursos é depositada em bancos de ambos os países e em bancos internacionais, a partir dos quais os fundos podem ser trasladados por todo o sistema financeiro internacional.
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Os neojornalistas estão chegando
Reproduzo artigo de Muniz Sodré, publicado no Observatório da Imprensa:
Em sua coluna semanal do Globo (20/6/2010), Caetano Veloso comentava sobre um amigo jornalista para quem o convite feito a celebridades para escrever em jornais é uma tentativa furada de enfrentar a crise da palavra impressa no mercado. O jornalista estaria "sentindo saudades de um suposto tempo em que jornais eram feitos por jornalistas".
Assim, de um jeito muito casual, o ator-compositor-escritor – personagem ativo na vida pública brasileira e agora colunista de jornal – pôs em poucas palavras um aspecto candente da crise do jornalismo. Mas seu adjetivo "suposto" vai ainda mais além, ao insinuar que apenas teria havido um tempo em que jornais eram feitos por jornalistas.
Na realidade, há muito tempo os jornais são feitos por um tipo de profissional a que se convencionou chamar de jornalista. Não que outro tipo de identidade autoral não pudesse ser reivindicada na produção do conteúdo jornalístico (cronistas e articulistas, principalmente), mas a modernização da velha "publicística" consolidou-se como "jornalismo", com um agente de produção específico, embora ficando sempre claro que essa profissionalização era tão só uma das várias atividades no interior da esfera pública.
Liberdade de expressão
Nunca foi pacífica a consolidação dessa atividade, assim como nunca foi homogêneo o seu percurso prestigioso do jornalismo na Europa: houve períodos em que o jornal diário não gozava da boa consideração que mais tarde lhe veio atribuir o espírito liberal. Enquanto Friedrich Hegel (1770-1831) pôde ver na leitura matinal dos jornais "a prece do homem moderno", Honoré de Balzac (1799-1850) mostrou-se abertamente cáustico para com essa ela – "se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la" –, embora assumisse paradoxalmente a condição de panfletário: "O verdadeiro panfleto é obra do mais alto talento, se todavia não for o grito do gênio."
Mas as contradições e os confrontos se davam sempre no interior de um movimento histórico de esclarecimento da cidadania e de luta pela liberdade de expressão. Num livro recente (A Narração do Fato, Editora Vozes), reiteramos longamente que até mesmo em seus instantes panfletários ou em seus manifestos típicos do publicismo (o jornal artesanalmente produzido, mas politicamente definido como tribune aggrandie, na formulação de Benjamin Constant), a imprensa queria de algum modo esclarecer um público, ora trazendo à luz o que se ocultava nos desvãos do poder como "segredos de Estado", ora tentando fazer passar uma ideia ou uma causa como indutoras de modernização e progresso.
Jornais e jornalistas não são meras e episódicas categorias editoriais, mas instrumentos ideológicos na luta pela consolidação ideológica de uma classe social em sua definitiva emergência histórica, a classe burguesa. Emergindo na passagem do Estado absoluto ao Estado de direito, como porta-voz dos direitos (civis) que inauguram a modernidade da cidadania, a imprensa traz consigo a novidade da liberdade de expressão e mais, toda uma retórica a serviço da legitimação ideológica de si mesma e, numa dimensão prático-profissional, a serviço da narração fragmentária da atualidade.
Apuradores de fatos e ficcionistas
Assim, perpassada pelo compromisso histórico para com a ética do liberalismo, a ideologia jornalística nos repete há dois séculos, por um lado, que cabe à imprensa assegurar ao cidadão a representatividade de sua palavra, de seus pensamentos particulares, garantindo a sua liberdade civil de exprimir-se publicamente. Esta função, que é a virtude intrínseca do jornalismo, lastreia eticamente o pacto comercial implícito na relação entre os meios de comunicação e a sua comunidade receptora. Seja no suporte escrito ou eletrônico, o dever do jornalista para com o público-leitor é noticiar uma verdade, reconhecida como tal pelo senso comum, desde que o enunciado corresponda a um fato, selecionado por regras hierárquicas de importância. A profissionalização específica consolidou-se dentro desse contexto.
Mas as coisas vêm mudando, e aceleradamente. Já não é nenhuma novidade dizer que a era eletrônica, com a internet à frente, pôs em crise a identidade corporativa do profissional de imprensa. Blogs e twitters estão aí para demonstrar que qualquer indivíduo, munido de computador e devidamente "antenado", é, no mínimo, um "protojornalista", isto é, uma fonte de informação ou de opinião conversível em discurso social. O jornalismo sempre implicou essa condição: uma voz reconhecida como discurso social por se investir da autoridade de um testemunho (histor, em grego) quanto ao fato social, ainda que o testemunho fosse indireto.
Sabemos dos percalços históricos para o reconhecimento social desse discurso – a longa transformação do publicismo opinativo e panfletário em jornalismo como comunicação supostamente objetiva e imparcial dos fatos. E como essa função social sempre conviveu com o espírito literário (escritores-jornalistas, cronistas etc.), os jornais abrigavam tradicionalmente intelectuais oriundos do mundo das Letras ou da Academia stricto sensu. Nas redações, os apuradores de fatos sempre estiveram lado a lado com ficcionistas e cultores do encantamento retórico. O termo "jornalismo" recobre semanticamente essa cumplicidade.
A migração do besteirol
Algo mudou, entretanto, como já salientamos, e o mal-estar de agora não é apenas semântico. É isso o que deixa transparecer, quase como um sintoma, a frase do compositor-colunista sobre o "tempo em que jornal era feito por jornalista". Então não é mais? Ainda é, sim, basta fazer o cômputo corporativo. Mas o sensível compositor intui que tempo é algo que também se compõe, como as notas na partitura. Isto é, há um tempo que se inventa ou que se constrói socialmente.
A frase caetana sinaliza um tempo em gestação, em que a identidade corporativa do profissional de imprensa vem sendo fortemente abalada por uma série de fatores. Há o fator tecnológico, a internet. Mas há também, especialmente aqui entre nós, um novo tipo de reconhecimento do entertainer (músico, ator, compositor, cantor etc.) como intelectual com voz socialmente autorizada como pública. É esta, muito provavelmente, a razão para o recrutamento desses entertainers como colunistas em jornais do Rio e São Paulo.
Ainda é cedo para saber se o leitor vai sair ganhando alguma coisa com isso, algo intelectualmente mais elevado ou mais tocado por discursos de alta comunicabilidade. Os resultados de uma primeira avaliação não se mostram ainda muito promissores. Quanto maior o grau de celebrização do entertainer, menor, ao que tudo indica, seu compromisso com a clareza ou com a determinação objetiva de alguma coisa. É possível que isso não tenha mais nenhuma importância ou que importe mais a imagem valorizada do que a validade histórica dos enunciados.
Colada à celebridade midiática, a imagem é viral e, em sua progressão metastática, relativiza a semântica e o sentido. No contexto de massa (sim, massa ainda é conceito operativo, com interatividade cibernética e tudo), vale pouco o que se diz, vale muito quem diz.
A censura implícita nas ações de danos morais – estas mesmas que fazem o modismo judiciário do final do último século para cá e que perturbam o trânsito da expressão pública – nos impede de dar nome aos bois.
Charme pessoal à parte, multiplicam-se os indícios de que o besteirol possa estar migrando das ribaltas para o jornal.
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Em sua coluna semanal do Globo (20/6/2010), Caetano Veloso comentava sobre um amigo jornalista para quem o convite feito a celebridades para escrever em jornais é uma tentativa furada de enfrentar a crise da palavra impressa no mercado. O jornalista estaria "sentindo saudades de um suposto tempo em que jornais eram feitos por jornalistas".
Assim, de um jeito muito casual, o ator-compositor-escritor – personagem ativo na vida pública brasileira e agora colunista de jornal – pôs em poucas palavras um aspecto candente da crise do jornalismo. Mas seu adjetivo "suposto" vai ainda mais além, ao insinuar que apenas teria havido um tempo em que jornais eram feitos por jornalistas.
Na realidade, há muito tempo os jornais são feitos por um tipo de profissional a que se convencionou chamar de jornalista. Não que outro tipo de identidade autoral não pudesse ser reivindicada na produção do conteúdo jornalístico (cronistas e articulistas, principalmente), mas a modernização da velha "publicística" consolidou-se como "jornalismo", com um agente de produção específico, embora ficando sempre claro que essa profissionalização era tão só uma das várias atividades no interior da esfera pública.
Liberdade de expressão
Nunca foi pacífica a consolidação dessa atividade, assim como nunca foi homogêneo o seu percurso prestigioso do jornalismo na Europa: houve períodos em que o jornal diário não gozava da boa consideração que mais tarde lhe veio atribuir o espírito liberal. Enquanto Friedrich Hegel (1770-1831) pôde ver na leitura matinal dos jornais "a prece do homem moderno", Honoré de Balzac (1799-1850) mostrou-se abertamente cáustico para com essa ela – "se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la" –, embora assumisse paradoxalmente a condição de panfletário: "O verdadeiro panfleto é obra do mais alto talento, se todavia não for o grito do gênio."
Mas as contradições e os confrontos se davam sempre no interior de um movimento histórico de esclarecimento da cidadania e de luta pela liberdade de expressão. Num livro recente (A Narração do Fato, Editora Vozes), reiteramos longamente que até mesmo em seus instantes panfletários ou em seus manifestos típicos do publicismo (o jornal artesanalmente produzido, mas politicamente definido como tribune aggrandie, na formulação de Benjamin Constant), a imprensa queria de algum modo esclarecer um público, ora trazendo à luz o que se ocultava nos desvãos do poder como "segredos de Estado", ora tentando fazer passar uma ideia ou uma causa como indutoras de modernização e progresso.
Jornais e jornalistas não são meras e episódicas categorias editoriais, mas instrumentos ideológicos na luta pela consolidação ideológica de uma classe social em sua definitiva emergência histórica, a classe burguesa. Emergindo na passagem do Estado absoluto ao Estado de direito, como porta-voz dos direitos (civis) que inauguram a modernidade da cidadania, a imprensa traz consigo a novidade da liberdade de expressão e mais, toda uma retórica a serviço da legitimação ideológica de si mesma e, numa dimensão prático-profissional, a serviço da narração fragmentária da atualidade.
Apuradores de fatos e ficcionistas
Assim, perpassada pelo compromisso histórico para com a ética do liberalismo, a ideologia jornalística nos repete há dois séculos, por um lado, que cabe à imprensa assegurar ao cidadão a representatividade de sua palavra, de seus pensamentos particulares, garantindo a sua liberdade civil de exprimir-se publicamente. Esta função, que é a virtude intrínseca do jornalismo, lastreia eticamente o pacto comercial implícito na relação entre os meios de comunicação e a sua comunidade receptora. Seja no suporte escrito ou eletrônico, o dever do jornalista para com o público-leitor é noticiar uma verdade, reconhecida como tal pelo senso comum, desde que o enunciado corresponda a um fato, selecionado por regras hierárquicas de importância. A profissionalização específica consolidou-se dentro desse contexto.
Mas as coisas vêm mudando, e aceleradamente. Já não é nenhuma novidade dizer que a era eletrônica, com a internet à frente, pôs em crise a identidade corporativa do profissional de imprensa. Blogs e twitters estão aí para demonstrar que qualquer indivíduo, munido de computador e devidamente "antenado", é, no mínimo, um "protojornalista", isto é, uma fonte de informação ou de opinião conversível em discurso social. O jornalismo sempre implicou essa condição: uma voz reconhecida como discurso social por se investir da autoridade de um testemunho (histor, em grego) quanto ao fato social, ainda que o testemunho fosse indireto.
Sabemos dos percalços históricos para o reconhecimento social desse discurso – a longa transformação do publicismo opinativo e panfletário em jornalismo como comunicação supostamente objetiva e imparcial dos fatos. E como essa função social sempre conviveu com o espírito literário (escritores-jornalistas, cronistas etc.), os jornais abrigavam tradicionalmente intelectuais oriundos do mundo das Letras ou da Academia stricto sensu. Nas redações, os apuradores de fatos sempre estiveram lado a lado com ficcionistas e cultores do encantamento retórico. O termo "jornalismo" recobre semanticamente essa cumplicidade.
A migração do besteirol
Algo mudou, entretanto, como já salientamos, e o mal-estar de agora não é apenas semântico. É isso o que deixa transparecer, quase como um sintoma, a frase do compositor-colunista sobre o "tempo em que jornal era feito por jornalista". Então não é mais? Ainda é, sim, basta fazer o cômputo corporativo. Mas o sensível compositor intui que tempo é algo que também se compõe, como as notas na partitura. Isto é, há um tempo que se inventa ou que se constrói socialmente.
A frase caetana sinaliza um tempo em gestação, em que a identidade corporativa do profissional de imprensa vem sendo fortemente abalada por uma série de fatores. Há o fator tecnológico, a internet. Mas há também, especialmente aqui entre nós, um novo tipo de reconhecimento do entertainer (músico, ator, compositor, cantor etc.) como intelectual com voz socialmente autorizada como pública. É esta, muito provavelmente, a razão para o recrutamento desses entertainers como colunistas em jornais do Rio e São Paulo.
Ainda é cedo para saber se o leitor vai sair ganhando alguma coisa com isso, algo intelectualmente mais elevado ou mais tocado por discursos de alta comunicabilidade. Os resultados de uma primeira avaliação não se mostram ainda muito promissores. Quanto maior o grau de celebrização do entertainer, menor, ao que tudo indica, seu compromisso com a clareza ou com a determinação objetiva de alguma coisa. É possível que isso não tenha mais nenhuma importância ou que importe mais a imagem valorizada do que a validade histórica dos enunciados.
Colada à celebridade midiática, a imagem é viral e, em sua progressão metastática, relativiza a semântica e o sentido. No contexto de massa (sim, massa ainda é conceito operativo, com interatividade cibernética e tudo), vale pouco o que se diz, vale muito quem diz.
A censura implícita nas ações de danos morais – estas mesmas que fazem o modismo judiciário do final do último século para cá e que perturbam o trânsito da expressão pública – nos impede de dar nome aos bois.
Charme pessoal à parte, multiplicam-se os indícios de que o besteirol possa estar migrando das ribaltas para o jornal.
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São Paulo regride ao velho agrarismo
Reproduzo artigo de Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado no sítio Adital:
A estabilidade monetária alcançada a partir do Plano Real, em 1994, abriu nova perspectiva para que o estado de São Paulo voltasse a protagonizar novo ciclo de expansão econômica e social, já que respondia por quase 37% da população ocupada não pobre do país.
Para isso, contudo, deveria impulsionar, em bases inovadoras, a sua estrutura produtiva, especialmente industrial, com a finalidade de potencializar o avanço das fontes contemporâneas de riqueza, cada vez mais presentes no interior do setor terciário da economia.
Esse processo de modernização constituiria peça fundamental na promoção e difusão do conhecimento, ou seja, a educação, as tecnologias de informação e comunicação e o trabalho imaterial como o esteio central da geração da riqueza e do bem-estar social.
Paralelamente, o esforço governamental voltado à expansão e integração da infraestrutura urbana e social poderia estimular decisivamente a economia de serviços para o crescente atendimento da demanda interna e externa. As decisões governamentais que poderiam operar como faróis a iluminar o futuro foram sendo transformadas em lanternas de freio a clarear o passado.
Pelas informações geradas pelo IBGE para a contabilidade dos estados brasileiros, verifica-se o retrocesso paulista na fase recente da estabilidade monetária alcançada pelo país. O setor industrial paulista regrediu de 43% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional em 1996 para menos de 35% em 2007.
No mesmo sentido, o setor da construção civil teve sua participação relativa diminuída de 37% para 27% no mesmo período de tempo, assim como no caso do setor produtor e distribuidor de eletricidade e gás, de água e esgoto e de limpeza (de 45% para 27%); do comércio (de 41% para 33%); da administração pública (de 21% para 19%); e de serviços (de 35% para 34%).
Apesar dessas quedas relativas na participação econômica do Estado de São Paulo na produção nacional, percebe-se que houve crescimento do peso paulista em outros setores, não necessariamente estimulantes em termos da construção exitosa do seu futuro.
O setor da agropecuária ampliou sua participação de 8,6%, em 1996, para 11,7%, em 2007, e o de intermediação financeira teve ampliação de 49,9% para 51,4% no mesmo período de tempo. Mesmo reconhecendo a importância dos setores agropecuários e financeiros, sabe-se que eles não são suficientes para contribuir decisivamente na construção de uma sociedade superior.
O que se verifica, inclusive, são sinais de decadência, com a queda da importância relativa de São Paulo na economia nacional, de quase 36% em 1996 para 33% em 2007, e a queda da importância paulista no conjunto da população brasileira não pobre, de 37% para menos de 32%. Ademais, observa-se que as escolhas governamentais mais recentes apostam mais no passado do que no futuro.
Em geral, a trajetória do desenvolvimento capitalista tem sido a evolução da sociedade agrária para a sociedade urbano-industrial, e desta para a pós-industrial. No caso paulista, entretanto, constata-se a sinalização de interrupção na passagem da sociedade industrial para o pós-industrial, com importante retorno ao velho agrarismo.
O setor agropecuário gera riqueza empregando cada vez menos mão de obra, enquanto a intermediação financeira opera com crescente tecnologia de informação poupadora de força de trabalho, o que compromete o futuro de inclusão e coesão social paulista.
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A estabilidade monetária alcançada a partir do Plano Real, em 1994, abriu nova perspectiva para que o estado de São Paulo voltasse a protagonizar novo ciclo de expansão econômica e social, já que respondia por quase 37% da população ocupada não pobre do país.
Para isso, contudo, deveria impulsionar, em bases inovadoras, a sua estrutura produtiva, especialmente industrial, com a finalidade de potencializar o avanço das fontes contemporâneas de riqueza, cada vez mais presentes no interior do setor terciário da economia.
Esse processo de modernização constituiria peça fundamental na promoção e difusão do conhecimento, ou seja, a educação, as tecnologias de informação e comunicação e o trabalho imaterial como o esteio central da geração da riqueza e do bem-estar social.
Paralelamente, o esforço governamental voltado à expansão e integração da infraestrutura urbana e social poderia estimular decisivamente a economia de serviços para o crescente atendimento da demanda interna e externa. As decisões governamentais que poderiam operar como faróis a iluminar o futuro foram sendo transformadas em lanternas de freio a clarear o passado.
Pelas informações geradas pelo IBGE para a contabilidade dos estados brasileiros, verifica-se o retrocesso paulista na fase recente da estabilidade monetária alcançada pelo país. O setor industrial paulista regrediu de 43% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional em 1996 para menos de 35% em 2007.
No mesmo sentido, o setor da construção civil teve sua participação relativa diminuída de 37% para 27% no mesmo período de tempo, assim como no caso do setor produtor e distribuidor de eletricidade e gás, de água e esgoto e de limpeza (de 45% para 27%); do comércio (de 41% para 33%); da administração pública (de 21% para 19%); e de serviços (de 35% para 34%).
Apesar dessas quedas relativas na participação econômica do Estado de São Paulo na produção nacional, percebe-se que houve crescimento do peso paulista em outros setores, não necessariamente estimulantes em termos da construção exitosa do seu futuro.
O setor da agropecuária ampliou sua participação de 8,6%, em 1996, para 11,7%, em 2007, e o de intermediação financeira teve ampliação de 49,9% para 51,4% no mesmo período de tempo. Mesmo reconhecendo a importância dos setores agropecuários e financeiros, sabe-se que eles não são suficientes para contribuir decisivamente na construção de uma sociedade superior.
O que se verifica, inclusive, são sinais de decadência, com a queda da importância relativa de São Paulo na economia nacional, de quase 36% em 1996 para 33% em 2007, e a queda da importância paulista no conjunto da população brasileira não pobre, de 37% para menos de 32%. Ademais, observa-se que as escolhas governamentais mais recentes apostam mais no passado do que no futuro.
Em geral, a trajetória do desenvolvimento capitalista tem sido a evolução da sociedade agrária para a sociedade urbano-industrial, e desta para a pós-industrial. No caso paulista, entretanto, constata-se a sinalização de interrupção na passagem da sociedade industrial para o pós-industrial, com importante retorno ao velho agrarismo.
O setor agropecuário gera riqueza empregando cada vez menos mão de obra, enquanto a intermediação financeira opera com crescente tecnologia de informação poupadora de força de trabalho, o que compromete o futuro de inclusão e coesão social paulista.
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Um vice improvisado para José Serra
Reproduzo editorial do sítio Vermelho:
A novela do vice do candidato oposicionista José Serra (PSDB) chegou ao fim dando a nítida impressão de improvisação e falta de alternativa. A tentativa tucana de impor uma chapa puro sangue, com o senador paranense Álvaro Dias, foi o estopim da mais recente crise na campanha de Serra, e o DEM quase rachou o núcleo da aliança da direita, formada justamente por estes dois partidos.
Depois de muita conversa entre os cardeais dos dois partidos, a solução saiu com a grife do ex-prefeito carioca Cesar Maia: o desconhecido deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ). Foi uma decisão arriscada mas a pergunta é: havia outra? Um sinal claro das dificuldades foi o comentário do jornalista Merval Pereira, que não morre de simpatias por Lula ou Dilma. Em sua coluna em O Globo ele chamou a escolha de "jogada marqueteira" pois a história de Índio Costa "não tem a menor consistência para alçá-lo ao segundo posto mais importante na hierarquia política do país". E, além disso, é suspeito de envolvimento em irregularidades investigadas pela CPI da Merenda Escolar da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.
Por uns minutinhos a mais na televisão, o PSDB e José Serra renderam-se às imposições do DEM, partido que vive um declínio acelerado (carcomindo, como se dizia antigamente). E que precisa de um cargo visível, como a vice-presidência da República, para tentar uma sobrevida disfarçado de "novo", "força jovem" e imagens semelhantes. É preciso saber se os políticos de sua base, os muitos prefeitos que ainda controlam pelo país afora, vão aderir ao arranjo feito em hotéis de luxo de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, ou seguir seu lendário instinto de sobrevivência política, deixando a coligação nacional demo-tucana à deriva.
Além da sensação de improvisação logo no começo oficial da campanha eleitoral, José Serra vai também deixando às claras sua cara e seu programa. Na sabatina de quinta feira (dia 1), no templo dos latifundiários, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), ele atacou o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) com as garras dos conservadores e da direita. É movimento "que se diz de reforma agrária para na verdade usar a ideia da reforma agrária para uma mudança de natureza revolucionária socialista no Brasil", disse.
Palavras que soaram docemente, com certeza, aos ouvidos atentos daqueles que estavam no auditório da entidade dirigida pela senadora Katia Abreu (DEM-GO) e que reúne a nata dos grandes monopolistas da propriedade da terra.
Pois é, com um vice que conheceu durante o jogo do Brasil contra a Coréia do Norte, e com o qual acumula apenas uns quinze minutos de conversa, e investindo contra um movimento social como o MST, Serra está mesmo em dificuldades, agravadas pelas sucessivas pesquisas de opinião que revelam uma perda de consistência de sua candidatura inimaginável há poucas semanas.
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A novela do vice do candidato oposicionista José Serra (PSDB) chegou ao fim dando a nítida impressão de improvisação e falta de alternativa. A tentativa tucana de impor uma chapa puro sangue, com o senador paranense Álvaro Dias, foi o estopim da mais recente crise na campanha de Serra, e o DEM quase rachou o núcleo da aliança da direita, formada justamente por estes dois partidos.
Depois de muita conversa entre os cardeais dos dois partidos, a solução saiu com a grife do ex-prefeito carioca Cesar Maia: o desconhecido deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ). Foi uma decisão arriscada mas a pergunta é: havia outra? Um sinal claro das dificuldades foi o comentário do jornalista Merval Pereira, que não morre de simpatias por Lula ou Dilma. Em sua coluna em O Globo ele chamou a escolha de "jogada marqueteira" pois a história de Índio Costa "não tem a menor consistência para alçá-lo ao segundo posto mais importante na hierarquia política do país". E, além disso, é suspeito de envolvimento em irregularidades investigadas pela CPI da Merenda Escolar da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.
Por uns minutinhos a mais na televisão, o PSDB e José Serra renderam-se às imposições do DEM, partido que vive um declínio acelerado (carcomindo, como se dizia antigamente). E que precisa de um cargo visível, como a vice-presidência da República, para tentar uma sobrevida disfarçado de "novo", "força jovem" e imagens semelhantes. É preciso saber se os políticos de sua base, os muitos prefeitos que ainda controlam pelo país afora, vão aderir ao arranjo feito em hotéis de luxo de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, ou seguir seu lendário instinto de sobrevivência política, deixando a coligação nacional demo-tucana à deriva.
Além da sensação de improvisação logo no começo oficial da campanha eleitoral, José Serra vai também deixando às claras sua cara e seu programa. Na sabatina de quinta feira (dia 1), no templo dos latifundiários, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), ele atacou o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) com as garras dos conservadores e da direita. É movimento "que se diz de reforma agrária para na verdade usar a ideia da reforma agrária para uma mudança de natureza revolucionária socialista no Brasil", disse.
Palavras que soaram docemente, com certeza, aos ouvidos atentos daqueles que estavam no auditório da entidade dirigida pela senadora Katia Abreu (DEM-GO) e que reúne a nata dos grandes monopolistas da propriedade da terra.
Pois é, com um vice que conheceu durante o jogo do Brasil contra a Coréia do Norte, e com o qual acumula apenas uns quinze minutos de conversa, e investindo contra um movimento social como o MST, Serra está mesmo em dificuldades, agravadas pelas sucessivas pesquisas de opinião que revelam uma perda de consistência de sua candidatura inimaginável há poucas semanas.
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