sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Os 25 anos do MST e o ódio da Folha

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) comemora nesta semana os seus 25 anos de existência. Lideranças políticas, artistas e intelectuais de renome já saudaram a data como um feito histórico, destacando a militância aguerrida do movimento, sua organicidade, seu papel pedagógico e civilizador e sua importante contribuição à luta por mudanças no país e na América Latina. O escritor uruguaio Eduardo Galeano, por exemplo, enviou uma nota singela e carinhosa: “Eu suplico aos deuses e aos demônios que protejam o MST e a toda sua linda gente que comete a loucura de querer trabalhar, neste mundo onde o trabalho merece castigo”.

O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, destacou o papel do MST na luta pela reforma agrária, num país que “apresenta forte predomínio do monopólio da terra, de grandes áreas improdutivas e de gigantescas empresas monopolistas nacionais e estrangeiras”. Já Ricardo Berzoini, dirigente do PT, frisou a contribuição do MST na “reconstrução da democracia brasileira, tarefa ainda em curso que exige sempre a unidade na diversidade daqueles que lutam por um país democrático e justo”. E Roberto Amaral, vice-presidente do PSB, opinou que “o MST é o mais profundo e, por isso, o mais importante movimento social brasileiro”. PSOL, PSTU e PCB também deram apoio.

A teimosia e as conquistas

Artistas conscientes, como o dramaturgo Augusto Boal, a sambista Leci Brandão, a atriz Lucélia Santos e os atores Osmar Prado e Paulo Betti, enviaram suas mensagens de “parabéns”. Outras palavras de reconhecimento e de apoio devem chegar nestes próximos dias, inclusive do exterior – já que o MST possui núcleos de apoiadores em vários continentes e goza de prestígio junto aos presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Fernando Lugo (Paraguai) e Raul Castro (Cuba). As comemorações que se realizam em Sarandi, interior gaúcho, local da primeira ocupação de terras do MST, deverão ter intensa carga emocional, “mística”.

Esse reconhecimento, como aponta João Pedro Stedile, integrante da sua coordenação nacional, deve-se “aos 25 anos de teimosia do MST”. Ele lembra que movimento surgiu no embalo da luta contra a ditadura e teve forte inspiração da Teologia da Libertação. Os lutadores pela terra de 16 estados, reunidos em janeiro de 1984 em Cascavel, “estimulados pelo trabalho pastoral da CPT”, davam início a um movimento que ocupou terras ociosas, que garantiu assentamentos produtivos – evitando que centenas de milhares de lavradores vegetassem no desemprego e marginalidade nos centros urbanos –, que construiu centenas de escolas no campo, formando camponeses.

A violência das oligarquias rurais

Neste percurso, o MST “pagou caro pela teimosia” e enfrentou a violência das oligarquias rurais, formadas com a mentalidade dos senhores de escravos. Segundo balanço da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entre 1985/2007 foram assassinados 1.508 trabalhadores em conflitos agrários. Destes, 31 eram dirigentes do MST, que também sofreu mais de 600 processos judiciais contra 1.500 militantes. No ano passado, o Ministério Público gaúcho determinou, de forma arbitrária, a “dissolução” do movimento e sentenciou: “Cabe agora quebrar a espinha dorsal do MST”.

Além da violência do latifúndio e dos barões do agronegócio, com suas milícias de jagunços, o MST também enfrentou governos na luta pela reforma agrária e por justiça. “No governo Collor, fomos duramente reprimidos, com a instalação, inclusive, de um departamento especializado na Polícia Federal de combate aos sem-terra. Depois, a vitória do neoliberalismo do governo FHC foi o sinal verde aos latifundiários e as suas policiais estaduais. Tivemos em pouco tempo dois massacres: Corumbiara e Carajás... Mas seguimos na luta. Brecamos o neoliberalismo elegendo Lula”. Mas, lamentavelmente, “não houve a reforma agrária no governo Lula”, relata Stedile.

Parcialidade e rancor da mídia

Esta rica trajetória, que recolocou a reforma agrária na agenda política, conquistou terras em centenas de assentamentos e foi manchada de sangue de seus mártires, deveria ter, no mínimo, o respeito da imprensa nativa. Mas, a exemplo dos latifundiários, os barões da mídia nunca deram trégua ao MST. É só lembrar as capas e reportagens abjetas da revista Veja, a maneira pejorativa que a TV Globo trata os “invasores”, a cara de asco do fascistóide Boris Casoy ou os editorais rancorosos do jornal O Estado de S.Paulo, fundado pela família escravocrata dos Mesquitas.

A Folha de S.Paulo, que ainda engana os ingênuos com o seu falso ecletismo – mas que clamou pelo golpe militar contra o “perigo comunista” e a reforma agrária –, não esconde seu ódio nem na semana do aniversário. Publicou editorial raivoso e várias reportagens marotas. Na primeira delas, ate faz um rico levantamento sobre os fundadores do MST, mas a edição refinada procura mostrar sua “decadência”, priorizando os que se “afastaram”. Outro texto, que poderia estar nas páginas policiais, é intitulado “MST foi processado mais de 600 vezes”; outro estimula a cizânia entre os sem-terra e o governo Lula; outro realça que o “MST perde adeptos e recursos”.

O “jornalismo canalha” dos Frias

Todos os textos seguem a linha traçada no título do editorial: “Decadente aos 25”. Nele, a senil família Frias afirma que “o MST completa 25 anos de existência, mas não amadurece. Ameaça, agora, ‘invadir’ cidades, ou seja, intensificar a sua atuação nos centros urbanos”. A manipulação é gritante: participar das mobilizações urbanas não significa “invadir”. O ataque é brutal, quase reforçando o coro da “dissolução” dos juízes gaúchos. “Encurralado pela própria decadência, o MST reage a seu modo... Enfrentará, além de mais processos judiciais, apenas a indiferença da maioria da população”. Haja arrogância desde jornal elitista ao falar em nome da sociedade.

O ódio da Folha ao MST é antigo. No livro “O jornalismo canalha”, o professor José Arbex Jr. cita um caso emblemático, ocorrido em maio/2000, quando o servil Josias de Souza “denunciou a cobrança de ‘pedágios’ pelo MST, prática posteriormente qualificada de ‘mafiosa’ em editorial do próprio jornal, em resposta a uma denúncia comprovada e admitida de que Josias, para fazer a sua ‘reportagem’, utilizou recursos e orientação da Incra”, como pau-mandado do governo FHC. Arbex relembra outros editoriais na mesma linha, taxando as “invasões” do MST como prática “criminosa, estúpida e afrontadora” (20 de março de 2002). Como se observa, a Folha realmente deve estar triste com a “teimosia” e as comemorações dos 25 anos do MST.

7 comentários:

  1. Caríssimos, estou me dirigindo a este espaço que adoro para protestar contra uma injustiça, mais uma, mais uma injustiça praticada por causa de pré-conceitos que nos levam a ver uma coisa no lugar da outra, como dizem, este estado de espírito que nos fazem ver chifre em cabeça de cavalo. Estou me referindo à nova prisão da artista Caroline Pivetta da Mota, mais uma vez uma injustiça. Não podemos compactuar com isso. Aqui o link http://josecarloslima.blogspot.com/2009/01/artista-caroline-pivetta-da-mota-mais.html#links

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  2. O ódio das quatro ou cinco "famiglias" que controlam a velha mídia brasileira tem uma explicação:
    O MST continua muito vivo e atuante.
    Enquanto isso:
    - O PT virou partido institucional.
    - Os sindicatos amornaram.
    - O movimento estudantil quase evaporou.
    Ou seja, o MST é a chama que ainda pode incendiar o restante do movimento popular.
    A raiz do ódio é sempre o medo.

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  3. Miro, lembra de mim? Tenho lido tua produção em diversos blogs, e ela tem sido brilhante. Este comentário tá com cara de email pessoal, e é mesmo, porque não sei teu endereço eletrônico, então o jeito é postar aqui mesmo. Maceió continua linda, apareça.
    Grande abraço,
    Plínio Lins

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  4. Statement by Mr. Che Guevara (Cuba) before the United Nations General Assembly on 11 December 1964

    http://br.youtube.com/watch?v=bufHojkoGtw

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  5. parabéns altamiro, pelo trabalho, e pela coragem de enfrentar os tubarões da mídia, o que é, nos dias de hoje, no Brasil, uma das frentes mais importantes na batalha pelo desenvolvimento e por mais conquistas para o trabalhador. Outro dia, o Globo estava criticando o governo por manter a política de valorização do salário mínimo. Ahah, o Globo é contra o salário mínimo desde os tempos de Getúlio. Já pesquisei edições do Globo da década de 50 na biblioteca nacional. Na época, o Globo estava na linha de frente nos ataques à Getúlio, à criação da Petrobrás e à instituição do salário mínimo. A oposição, instigada pela imprensa, levou o caso (do salário mínimo) ao Supremo Tribunal Federal. As centrais sindicais (para isso existiam) pressionaram e o STF considerou o salário mínimo constitucionalmente legítimo. Veja só. As centrais tiveram que pagar matéria nos jornais, no dia seguinte à vitória no STF, para divulgarem sua felicidade e explicarem o significado desta conquista para o povo brasileiro.

    Grande abraço,
    meu blog é oleododiabo.blogspot.com.

    Estou colocando-o em minha lista de blogs com rss. Abs

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  6. Miro, parabéns pelo artigo. Realmente a máioria da mídia tem tratado os trabalhadores sem-terra como bandidos. Mas eles têm feito um trabalho inestimável em prol da democratização da terra. É um absurdo a leniência com que a justiça trata os assassinos de agricultores no Brasil. Os mandantes ficam impunes e os pistoleiros ficam soltos, impondo um clima de terror nas áreas de conflito. E isto acontece há séculos, sem que medidas sejam tomadas por parte das autoridades. No Sudoeste do Paraná, há cerca de 50 anos, os pequenos agricultores se revoltaram e, armados, expulsaram os capangas egrileiros da região. Foi um dos poucos casos de vitória dos pequenos contra os latifundiários. Por isso este evento é pouco citado pela mídia.

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  7. Este é o PSDB que você não vê na TV...

    http://video.google.com/videoplay?docid=-4282345827147197000&ei=s1p8SdbDMIH6qgLW-L2pBQ&q=o+psdb+que+voce+n%C3%A3o+ve+na+tv

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