Inaugurado no sul do Brasil, em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial retorna às terras nativas na sua nona edição, desta vez no norte do país, em plena região Amazônica, em Belém do Pará. De 27 de janeiro a 1 de fevereiro, cerca de 120 mil lutadores sociais do mundo inteiro participarão de centenas de debates, assembléias, marchas e protestos, num fervilhante caldeirão de luta de idéias e de manifestações dos que acreditam que “um outro mundo é possível”.
Desde a sua primeira edição, em 2001, o mundo passou por intensas mudanças. O capitalismo, vendido como “fim da história”, afunda numa grave crise. O socialismo, que os apologistas do capital consideravam “morto”, ressurge como perspectiva. O imperialismo estadunidense, que se considerava imbatível, entrou em forte declínio. A resistência dos povos ganhou força, seja na insurgência no Iraque ou nas vitórias progressistas na América Latina. O mundo hoje, com seus ziguezagues e armadilhas, não vive mais a “paz de cemitério” do pensamento único neoliberal.
Contribuições e avanços sensíveis
Com suas limitações e dilemas, o Fórum Social Mundial deu sua contribuição nesta alteração da correlação de forças. Ele ajudou a amplificar as críticas ao neoliberalismo, a denunciar a política imperialista dos EUA, com suas guerras e seus tratados neocoloniais, a desmascarar a ditadura midiática. Além de reforçar a resistência dos povos, ele contribuiu na busca de alternativas. A cada edição, o Fórum Social Mundial também enfrentou seus próprios equívocos, como o que tentava separar a luta social da luta política, excluindo partidos e governantes progressistas.
Como observa Ricardo Abreu, o Alemão, dirigente nacional do PCdoB, ocorreram importantes avanços desde a nascimento do fórum. “O evento está mais aberto à participação das fundações vinculadas aos partidos políticos. Diminuiu o preconceito que havia em relação às organizações partidárias e aos movimentos sociais ‘tradicionais’. Além disso, nas primeiras edições era vetada a presença de chefes de Estado, numa negação à luta pelo poder político. Isto agora não acontece mais”. Ele lembra que Lula, Chávez, Morales e Lugo serão destaques nesta nona edição.
Os novos desafios do fórum
Na sua nona edição, novos desafios se impõem ao FSM. Além de abordar as várias iniciativas atomizadas, todas com sua importância, ele necessita concentrar as energias nos temas centrais, totalizantes, que ajudem na unificação da resistência mundial e na busca de alternativa à barbárie capitalista. O enfrentamento à grave crise do capitalismo, evitando que seu ônus seja jogado nas costas dos trabalhadores; a luta contra a guerra imperialista, seja a patrocinada pelos sionistas em Gaza ou pelos ianques no Iraque e Afeganistão; a jornada contra a devastação e pela soberania da Amazônia, entre outros temas, poderão alavancar e dar novo realce ao Fórum Social Mundial.
Para o sociólogo Emir Sader, a nona edição do fórum, “significativamente realizada na América Latina, elo mais fraco da cadeia neoliberal, tem a possibilidade de superar os descompassos e de redefinir sua esfera de atuação – tanto em relação a restabelecer as relações entre a esfera social e a política, única forma de disputar uma nova hegemonia e de lutar realmente pela construção de ‘outro mundo possível’, como na luta contra as guerras imperiais... É o momento da construção de alternativas concretas ao neoliberalismo a nível mundial, regional e local. É a oportunidade do fórum se reciclar e se colocar à altura do maior desafio colocado à esquerda neste novo século”.
Já me antecipando ao debate que deve ser reeditado pela mídia Tupiniquim em Fevereiro, pela consulta que será feita aos Venezuelanos, a respeito da chamada reeleição indefinida. Resolvi fazer uma pesquisa do tema, na História recente, a fim de verificar se a mídia é coerente com outros casos nas suas terríveis preocupações. Pois se o essencial na democracia é a alternabilidade como muitos apregoam, vejamos se é um valor universal ou se é válida conforme as conveniências de cada um.
ResponderExcluirComecemos pelos nossos meios de comunicação:
- Existe alguma alternabilidade nos principais jornais e canais de Televisão do Brasil ou mesmo do mundo. As concessões públicas de canais televisivos, que é um direito soberano do Estado, são sempre concedidas às mesmas famílias. Quer coisa mais antidemocrática, não? É passado de pai para filho, não existe concurso público, não existe mérito, competência, muito menos eleição, é tudo uma questão de posse de ações e lobby político. Mas estas mesmas pessoas adoram se apresentar como os paladinos da democracia, estão cheios de moral para defender a plenitude democrática. Não devem nem dormir quando sentem uma ameaça ditatorial em algum canto do mundo. A mesma coisa no caso das revistas e jornais, vejamos:
Revista Veja: Os Civita são donos do segundo maior império midiático nacional, o Grupo Abril. Victor Civita foi quem criou a editora na década de 50 e de Revistinha do Pato Donald expandiu seus negócios para revistas, fascículos, hotéis e frigoríficos. Seu filho Roberto Civita foi o criador e editor da revista Veja e assumiu a presidência da Abril em 1990.
Estadão: Júlio Mesquita torna-se sócio do que seria o Estado de São Paulo em 1888. Em 1927 após sua morte passa o jornal para Francisco e Júlio de Mesquita Filho. Em 1959 assume a função de diretor de redação o jornalista Júlio de Mesquita Neto e com sua morte em 1996, hoje quem toma conta do jornal é seu irmão Ruy Mesquita. São nada menos que 120 anos de dinastia dos Mesquitas. Um recorde!!
Folha de São Paulo: Octávio Frias de Oliveira, empreiteiro da controversa estação rodoviária de São Paulo, decide comprar o jornal Folha da Manhã em 1962. Posteriormente lança o Folha da Tarde e já no período de Ditadura Militar fornece os carros de sua empresa para os órgãos de repressão. Sua “veia democrática” se notabiliza quando em 1971, em pleno governo Médici, escreve um editorial em apoio ao regime descrevendo-o como sério e responsável. Em 1984 seu filho o Otavinho assume a Direção de Redação e assim continua até hoje.
Passamos aos políticos da Venezuela
Engraçado que quando os defensores da alternabilidade explanam sua tese são bastante seletivos. Do contrário, deveriam se preocupar com a alternabilidade em outras instâncias da política, desde governadores, passando por prefeitos, deputados e vereadores.
Assim temos na Venezuela o senhor Miguel Enrique Otero que como dono do jornal El Nacional exerceu por três vezes o mandato de deputado sem sequer ser eleito pelo voto popular. Ricardo Gutierréz ao final do próximo período vai chegar a 22 anos como deputado. Ismael García tem apenas 18 anos nas costas. Juan José Caldera é o recordista com 7 períodos e 32 anos como deputado. Faz parte da lista ainda, Henry Ramos Allup (27 anos). Rodriguez Iturbe e Aydee Castillo (25 anos), e mais alguns. O engraçado é que hoje estão escandalizados com a possibilidade da aprovação da reeleição indefinida, mas foram contra a modificação que Chávez fez na Constituição em 99 que acabava com os senadores vitalícios. Ou seja, para estes senhores é mais democrático um ex-presidente ficar a vida toda como representante legislativo sem ter que se submeter ao voto, do que um presidente poder se submeter ao voto soberano quantas vezes queira.
Mesma pergunta deveria ser feita aos políticos brasileiros que se perpetuam em cargos diversos, além daqueles que foram ou apoiaram senadores biônicos da época da Ditadura e os que recentemente propuseram a criação dos senadores vitalícios para os ex-presidentes da República.
E vamos à História e ao mundo
Claro que muita gente poderia argumentar que no caso do presidente é diferente, que é o principal mandatário do país, e que por isso periga uma Ditadura, um personalismo descontrolado, etc...
Ok, se tal argumento é correto, então vejamos algumas Ditaduras vigentes atualmente e outras presentes nos nossos livros de História:
Vamos primeiro ao velho mundo, que para muita gente representa o farol da humanidade, o berço da razão, habitado por um povo culto e desenvolvido. Portugal, Espanha, Inglaterra, Dinamarca, Bélgica, Suécia, Noruega, Liechtenstein, Luxemburgo, Países Baixos, Mônaco são os países europeus que agraciam uma família de sorte como Chefe de Estado do país, sem qualquer eleição ou concurso público, ou seja, uma Ditadura das grandes. Baseados apenas em uma herança divina de nome,certos indivíduos possuem atribuições representativas no cenário internacional além de serem bancados pelo Estado. Isso mesmo, muitos que advogam pela diminuição do papel do Estado, adoram gastar dinheiro público com firulas de reis e rainhas, bancando cidadãos que não precisam trabalhar e muitas vezes nem pagam impostos. Sob pressão, a rainha Elizabeth II começou a pagar impostos somente em 1993. Seus gastos superam os US$ 70 milhões anuais. Na Espanha é de US$ 12 milhões, e na Suécia, 16 milhões. E por mais que alguns argumentem no simbolismo e tradição, a verdade é que as duas coisas representam poderes reais em suas respectivas sociedades, além de ser extremamente anacrônico se mostrar um vigilante da democracia e ter como símbolo algo absolutamente anti-democrático como a monarquia.
Temos ainda monarquias no resto do mundo: Na Asia (Brunei, Bután, Camboya, Japón, Malasia, Nepal, Tailandia, Arabia Saudita, Bahrein, Emiratos Arabes, Jordania, Kuwait, Omán e Qatar), 3 na Africa (Lesotho, Marrocos e Suazilandia) e 2 na Oceanía (Samoa Occidental eTonga.
Das monarquias para as eleições, em uma aula de História o professor/jornalista explica a Ditadura Rooselvetiana nos EUA de 1933 à 1944. Responsável pelo NeW Deal, que tirou os americanos da crise de 29, foi eleito e reeleito por quatro vezes seguidas (1932, 1936, 1940, 1944) e só não continuou por mais alguns mandatos porque morreu de hemorragia cerebral em 1945. Existem aqueles que chamam Roosvelt de o maior Estadista dos EUA de todos os tempos, mas para nossos coerentes jornalistas é melhor revisar suas análise e optar pelo termo Ditador. Além disso, os EUA nos presenteia com um sistema bipartidarista e que em termos de mudança estrutural, é o país mais rígido e fossilizado do mundo, com uns 150 anos sem mudanças bruscas na política.
E quem não se lembra do começo da Ditadura francesa, em 24 de setembro de 2000, quando o então presidente Jacques Chirac, submete ao referendo dos franceses uma nova proposta, vigente até hoje: o mandato é reduzido para cinco anos; a eleição permanece direta e com direito de reeleição sem limitações. A consulta tem a aprovação de 73,2%, mas uma forte abstenção, de 69,8% dos eleitores. Hoje, Sarkozy deve estar sendo constantemente denunciado pelos coerentes jornalista, pois pode prenteder se manter no poder de maneira indefinida.
A República Federal da Alemanha é regída por um sistema parlamentar clássico e a eleição do chanceler corresponde à maioria parlamentar onde não há qualquer limitação para várias reeleições. O presidente eleito por voto popular também não tem qualquer restrição de reeleições indefinidas. Desta forma que o chanceler Helmut Khol ficou 16 anos à frente do país, sendo derrotado somente na tentativa de levar adiante o seu quinto mandato em 1998.
Temos também a famosa Ditadura suéca, em que o primeiro-ministro Tage Erlander governou ininterruptamente de 1946 a 1969, ou seja, nada menos que 23 anos à frente do principal poder do Estado.
Itália também não tem qualquer restrição à reeleição, além de Portugal, Chipre e Islândia.
A Colômbia comprou recentemente dois deputados para aprovar a reeleição de Uribe Além disso tem um governo com fortes ligações tanto com o narcotráfico como com paramilitares, e nos últimos anos vem aventando a possibilidade de acabar com o limite de reeleição via Congresso, sem passar por aprovação popular. Onde estão os vigilantes da democracia para denunciar o Ditador Uribe?
Importante lembrar ainda que a maioria destes países e todos os outros do mundo não possuem o dispositivo da Constituição Venezuelana que outorga ao povo a possibilidade de revogar o mandato presidencial. Mas que importa isto? Os critérios de democracia voam conforme os interesses dos nossos Civitas, Frias e Mesquitas. Todos coerentes e históricos vigilantes da democracia como destacado no início. Bastou eles decretarem e pronto devemos aceitar...
Cristiano Scarpelli