domingo, 8 de agosto de 2010

A revista Veja e a mídia neofascista

Reproduzo excelente artigo de Tulio Muniz, publicado no Observatório da Imprensa:

Saiu na sexta-feira (30/7) a última pesquisa do Ibope sobre as eleições presidenciais, demonstrando o óbvio: Dilma Rousseff já tem vantagem sobre José Serra para além da margem de erro. Entretanto, será o suficiente para desmontar a miragem que o Datafolha vem criando com seus resultados únicos e originais, contestando todos os demais institutos? Mas, além disso, será suficiente para barrar de vez algo de novo, e de preocupante, em gestação na chamada grande imprensa? Algo que não soa bem ao contexto democrático de um país que passou boa parte do último século sob regimes ditatoriais (de 1930 a 1945 e de 1964 a 1985).

Penso, notadamente, na última edição de Veja, com manchetes do tipo "Índio acerta o alvo", repercutindo a insistência dos candidatos do PSDB, José Serra e Índio da Costa, em centrar fogo na suposta "relação" do PT com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). A intenção explícita é tentar ligar o PT com o tráfico de drogas, notadamente no Rio de Janeiro. Índio chegou a dizer em entrevistas que "todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior. Não tenho dúvida nenhuma disso". Assim como tentaram antes, quando Serra "denunciou" que a relação entre governos de Brasil e Bolívia "facilitaria" o tráfico. Mirando em "alvos" como esses, não compreendem o porquê da queda nas pesquisas?

De fato, parece que os tucanos e a mídia a eles aliada (quase toda a "grande" mídia) estão a perder o senso de realidade. Mas, ainda pior é estarem a forjar um discurso de matiz claramente fascista, e é essa a novidade nefasta. Fascista porque, diferente de outras ocasiões passadas em que carregou contra o governo Lula ou contra Dilma (o "dossiê" da "guerrilheira" na Folha, por exemplo), Veja e afins conclamam uma recusa ao processo democrático ao legitimar miragens como o conluio Farc-PT. Pois ainda há quem acredite nesses veículos informativos, por mais que tenha decrescido sua credibilidade.

Mentalidade pode crescer após as eleições

Em eleições anteriores, o discurso do "medo" já foi adotado, mas por protagonistas da disputa eleitoral, como Regina Duarte, em 2002, ou o presidente da Fiesp, em 1989, que prenunciou o abandono do Brasil pelos empresários caso Lula vencesse. Agora quem irradia o discurso é um conjunto reunindo boa parte da mídia, e não só um veículo isolado, como fez a Veja em 1989 com o "Brizula", quando uma hipotética aliança Brizola-Lula teria potencial para vencer.

O fascismo enquanto discurso de massa adotado por meios de comunicação de circulação nacional jamais emergiu com tamanha recorrência como vemos agora acontecer. E isso quando partidos assumidamente fascistas ascendem aos governos de vários países europeus (Holanda, Hungria, Itália etc). E mesmo em países onde residem governos de centro-esquerda, como Portugal e Espanha, se passa o que Boaventura Santos chama de "fascismo social" que, resumidamente, é quando o próprio Estado despromove conquistas sociais importantes, como direito universal à saúde, educação, subsídios-desemprego etc.

Convém lembrar que, cá no Brasil, persiste uma certa mentalidade de classe média que se refere a programas sociais europeus como "conquistas históricas" (e são, por mais agonizantes que estejam), mas encara congêneres como o Bolsa Família como "assistencialismo", "demagogia". Essa "classe média" certamente é o que a mídia neofascista quer espoletar e jogar contra o governo e sua candidata. Uma coisa é reconhecer que, por ora, tal estratégia não surte efeito, mas outra é dizer que tal mentalidade não é latente e que não pode vir a crescer após as eleições, seja quem for o vencedor.

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