Por Altamiro Borges
O exercício de poder produz cenas constrangedoras! A presença de Dilma Rousseff na festa dos 90 anos da Folha é um exemplo típico do chamado “cretinismo institucional”. No passado distante e recente, este veículo esteve em campos diametralmente opostos ao da atual presidenta. Hoje, ele tenta disfarçar o seu oposicionismo. Amanhã, quem sabe como se comportará!
A ditadura no passado distante
No passado distante, a Folha foi um dos baluartes da direita brasileira. Em manchetes e editoriais, ela clamou pelo golpe militar de 1964; ajudou a criar um clima de instabilidade no país para justificar a deposição ilegal do presidente João Goulart. Depois, o seu fundador, Otávio Frias, foi um dos principais aliados dos “generais de linha dura”. A empresa chegou a ceder as suas peruas para transportar presos políticos à tortura. Já nos estertores do regime militar, ela mudou de lado e abraçou a bandeira das Diretas-Já.
Neste período sombrio, a jovem militante Dilma Rousseff participava da resistência à ditadura. Com diferentes métodos de luta, num contexto totalmente adverso, vários patriotas e democratas deram sua vida pela democracia no Brasil. A atual presidenta foi presa e torturada. Escapou da morte por pouco. Para o “seu” Octávio, chefão da Folha, Dilma Rousseff seria mais uma “terrorista”, “subversiva”, “comunista” – apta a ser enviada ao pau-de-arara, a levar choques elétricos, a figurar na lista dos “desaparecidos”.
O golpismo no passado recente
Superada a ditadura, a Folha manteve sua visão de classe. O ecletismo da sua linha editorial só serviu para ludibriar os ingênuos. Conquistada a eleição direta, o jornal elitista e preconceituoso fez de tudo para evitar a chegada do “peão” Lula à presidência. No reinado de FHC, ele foi um defensor militante dos dogmas regressivos e destrutivos do neoliberalismo. A partir da vitória de Lula, em 2002, o diário deixou de lado o seu falso pluralismo e abusou do denuncismo vazio, do oposicionismo golpista.
Para evitar a continuidade do ciclo político aberto pelo operário-presidente, a Folha estampou na capa uma ficha policial fajuta de Dilma - lembrando as manchetes contra os “terroristas” do finado “seu” Frias. O jornal blindou o demotucano José Serra e virou quartel-general da sua candidatura. Seus colunistas de aluguel tentaram justificar o soldo. Josias de Souza, o carona de FHC, não vacilou em usar estereótipos machistas – termos como vadia e vagabunda. Eliane Cantanhêde vibrou com a “massa cheirosa” do PSDB.
Manobra tática ou cedência estratégica?
Toda esta tenebrosa história, distante e recente, foi deixada de lado na festança dos 90 anos do jornal. Os mais otimistas afirmam que Dilma cumpriu o seu papel de chefe de estado, que não tinha como evitar o ritual – junto com ela estiveram os presidentes do Senado e da Câmara, ministros do STF e lideranças políticas de distintos partidos. Já os mais incrédulos criticam a participação da presidenta na homenagem aos algozes da Folha. Alguns suspeitam que sua atitude sinalize nova cedência aos barões da mídia.
Ainda é cedo para tirar conclusões taxativas sobre o significado do seu gesto. A presidenta pode ter decidido ir à “toca dos leões” numa tática para neutralizar ou minimizar os ataques deste veículo. Momentaneamente, a sua visita “diplomática” colocaria na defensiva os filhos do “seu” Frias – e, de quebra, o conjunto da mídia e de seus “calunistas”. Josias de Souza virou fã da Dilma; até o Estadão elogiou a festa do seu rival. Leitores mais hidrófobos devem ter entrado em parafuso. Essa é a hipótese mais otimista.
Um discurso ensaboado
A mais pessimista analisa o gesto não como uma manobra tática ou obrigação de uma estadista, mas sim como opção estratégica de evitar confrontos com os barões da mídia. Numa visão tecnicista e administrativista, Dilma estaria evitando qualquer “marola” – seja com a imprensa golpista ou com o “deus-mercado” (vide o aumento dos juros, o corte dos gastos públicos e a refrega do salário mínimo). Corrobora com esta visão mais negativa o próprio discurso da presidenta no evento festivo – veja íntegra abaixo.
Dilma nada falou sobre seu compromisso de campanha de promover mudanças no marco regulatório para democratizar os meios de comunicação. Nem sequer citou a projeto do seu antecessor sobre regulação da mídia. Ao fazer tantos elogios à Folha, ela não fez sequer uma crítica aos monopólios e às manipulações midiáticas. E a presidente ainda insistiu no erro conceitual ao confundir liberdade de imprensa – que serve hoje unicamente aos monopólios midiáticos – com a garantia da plena liberdade de expressão.
Em síntese, a festança da Folha revela que a ditadura midiática continua exercendo forte poder político e enorme capacidade de sedução – ou de intimidação. Dilma Rousseff, que foi vítima destas corporações no passado distante e recente, parece que ainda carece de uma melhor estratégia para o setor. Em festa, hoje a Folha bajula e acaricia. Amanhã, caso não dobre e enquadre a nova presidenta, o jornal poderá voltar novamente chamá-la de “terrorista”. Aí poderá ser tarde demais para mudanças!
Íntegra do discurso (21 de fevereiro)
Eu queria desejar boa noite a todos os presentes.
Cumprimentar o sr. Michel Temer, vice-presidente da República, o nosso governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, e a senhora Lu Alckmin. Queria cumprimentar o senador José Sarney, presidente do Senado. Queria cumprimentar também o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Cumprimentar o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Marco Maia. O ministro Cezar Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal, por meio de quem cumprimento os demais ministros do Supremo presentes a esta cerimônia.
Queria cumprimentar a família Frias, o Luiz, o Otavio, a Maria Cristina, e queria cumprimentar também o senhor José Serra, ex-governador do Estado.
Dirijo um cumprimento especial também aos governadores aqui presentes e também aos ministros de Estado que me acompanham nesta cerimônia. Cumprimento o senhor Barros Munhoz, presidente da Assembleia Legislativa do Estado.
Queria cumprimentar também todos os senadores, deputados e senadoras, deputados e deputadas federais, deputados e deputadas estaduais. Queria cumprimentar o senhor Paulo Skaf, presidente da Fiesp. Dirigir um cumprimento especial aos representantes das diferentes religiões que estiveram neste palco.
Dirigir também um cumprimento a todos os funcionários do Grupo Folha. Queria cumprimentar os senhores e as senhoras jornalistas. E a todos aqueles que contribuem para que a Folha seja diariamente levada até nós.
Eu estou aqui representando a Presidência da República, estou aqui como presidente da República. E tenho certeza que cada um de nós percebe, hoje, que o Brasil é um país em desenvolvimento econômico acelerado. Que aspira ser, ao mesmo tempo, um país justo, uma nação justa, sem pobreza, e com cada vez menos desigualdade. Para todos nós isso não é concebível sem democracia. Uma democracia viva, construída com esforço de cada um de nós, e construída ao longo destes anos por todos aqui presentes. Que cresce e se consolida a cada dia. É uma democracia ainda jovem, mas nem por isso mais valorosa e valiosa.
A nossa democracia se fortalece por meio de práticas diárias, como os diferentes processos eleitorais. As discussões que a sociedade trava e que leva até as suas representações políticas. E, sobretudo, pela atividade da liberdade de opinião e de expressão. E, obviamente, uma liberdade que se alicerça, também, na liberdade de crítica, no direito de se expressar e se manifestar de acordo com suas convicções.
Nós, quando saímos da ditadura em 1988, consagramos a liberdade de imprensa e rompemos com aquele passado que vedava manifestações e que tornou a censura o pilar de uma atividade que afetou profundamente a imprensa brasileira.
A multiplicidade de pontos de vista, a abordagem investigativa e sem preconceitos dos grandes temas de interesse nacional constituem requisitos indispensáveis para o pleno usufruto da democracia, mesmo quando são irritantes, mesmo quando nos afetam, mesmo quando nos atingem.
E o amadurecimento da consciência cívica da nossa sociedade faz com que nós tenhamos a obrigação de conviver de forma civilizada com as diferenças de opinião, de crença e de propostas.
Ao comemorar o aniversário de 90 anos da Folha de S.Paulo, este grande jornal brasileiro, o que estamos celebrando também é a existência da liberdade de imprensa no Brasil.
Sabemos que nem sempre foi assim. A censura obrigou o primeiro jornal brasileiro a ser impresso em Londres, a partir de 1808. Nesses 188 anos de independência, é necessário reconhecer que na maior parte do tempo a imprensa brasileira viveu sob algum tipo de censura. De Líbero Badaró a Vladimir Herzog, ser um jornalista no Brasil tem sido um ato de coragem. É esta coragem que aplaudo hoje no aniversário da Folha.
Uma imprensa livre, plural e investigativa, ela é imprescindível para a democracia num país como o nosso, que além de ser um país continental, é um país que congrega diferenças culturais apesar da nossa unidade. Um governo deve saber conviver com as críticas dos jornais para ter um compromisso real com a democracia. Porque a democracia exige sobretudo este contraditório, e repito mais uma vez: o convívio civilizado, com a multiplicidade de opiniões, crenças, aspirações.
Este evento é também uma homenagem à obra e ao legado de um grande empresário. Um homem que é referência para toda a imprensa brasileira. Octavio Frias de Oliveira foi um exemplo de jornalismo dinâmico e inovador. Trabalhador desde os 14 anos de idade, Octavio Frias transformou a Folha de S.Paulo em um dos jornais mais importantes do nosso país. E foi responsável por revolucionar a forma de se fazer jornalismo no nosso Brasil.
Soube, por exemplo, levar o seu jornal a ocupar espaços decisivos em momentos marcantes da nossa história, como foi o caso da campanha das Diretas-Já. Soube também promover uma série de inovações tecnológicas, tanto nas versões impressas dos seus jornais, como nas novas fronteiras digitais da internet.
Reafirmo nessa homenagem aos 90 anos da Folha de S.Paulo meu compromisso inabalável com a garantia plena das liberdades democráticas, entre elas a liberdade de imprensa e de opinião.
Sei que o jornalismo impresso atravessa um momento especial na sua história. A revolução tecnológica proporcionada pela internet modificou para sempre os hábitos dos leitores e, principalmente, a relação desses leitores com seus jornais. Como oferecer um produto que acompanhe a velocidade tecnológica e não perca a sua profundidade? Como aceitar as críticas dos leitores e torná-las um ativo do jornal?
Sei que as senhoras e os senhores conhecem a dimensão do desafio que enfrentam, e que, com a mesma dedicação com que enfrentaram a censura, irão encontrar a resposta para esse novo desafio. E desejo a vocês o que nesse caminho sintetiza melhor o sucesso: que dentro de 90 anos a Folha continue sendo tão importante como agora para se entender o Brasil.
É nesse espírito que parabenizo a Folha pelos seus 90 anos. Parabenizo cada um daqueles que contribuem, e daquelas que contribuem, para que ela chegue à luz. A todos esses profissionais que lhe dedicam diariamente o melhor do seu talento e do seu trabalho.
Por fim, reitero sempre, que no Brasil de hoje, nesse Brasil com uma democracia tão nova, todos nós devemos preferir um milhão de vezes os sons das vozes críticas de uma imprensa livre ao silêncio das ditaduras.
Muito obrigada.
O exercício de poder produz cenas constrangedoras! A presença de Dilma Rousseff na festa dos 90 anos da Folha é um exemplo típico do chamado “cretinismo institucional”. No passado distante e recente, este veículo esteve em campos diametralmente opostos ao da atual presidenta. Hoje, ele tenta disfarçar o seu oposicionismo. Amanhã, quem sabe como se comportará!
A ditadura no passado distante
No passado distante, a Folha foi um dos baluartes da direita brasileira. Em manchetes e editoriais, ela clamou pelo golpe militar de 1964; ajudou a criar um clima de instabilidade no país para justificar a deposição ilegal do presidente João Goulart. Depois, o seu fundador, Otávio Frias, foi um dos principais aliados dos “generais de linha dura”. A empresa chegou a ceder as suas peruas para transportar presos políticos à tortura. Já nos estertores do regime militar, ela mudou de lado e abraçou a bandeira das Diretas-Já.
Neste período sombrio, a jovem militante Dilma Rousseff participava da resistência à ditadura. Com diferentes métodos de luta, num contexto totalmente adverso, vários patriotas e democratas deram sua vida pela democracia no Brasil. A atual presidenta foi presa e torturada. Escapou da morte por pouco. Para o “seu” Octávio, chefão da Folha, Dilma Rousseff seria mais uma “terrorista”, “subversiva”, “comunista” – apta a ser enviada ao pau-de-arara, a levar choques elétricos, a figurar na lista dos “desaparecidos”.
O golpismo no passado recente
Superada a ditadura, a Folha manteve sua visão de classe. O ecletismo da sua linha editorial só serviu para ludibriar os ingênuos. Conquistada a eleição direta, o jornal elitista e preconceituoso fez de tudo para evitar a chegada do “peão” Lula à presidência. No reinado de FHC, ele foi um defensor militante dos dogmas regressivos e destrutivos do neoliberalismo. A partir da vitória de Lula, em 2002, o diário deixou de lado o seu falso pluralismo e abusou do denuncismo vazio, do oposicionismo golpista.
Para evitar a continuidade do ciclo político aberto pelo operário-presidente, a Folha estampou na capa uma ficha policial fajuta de Dilma - lembrando as manchetes contra os “terroristas” do finado “seu” Frias. O jornal blindou o demotucano José Serra e virou quartel-general da sua candidatura. Seus colunistas de aluguel tentaram justificar o soldo. Josias de Souza, o carona de FHC, não vacilou em usar estereótipos machistas – termos como vadia e vagabunda. Eliane Cantanhêde vibrou com a “massa cheirosa” do PSDB.
Manobra tática ou cedência estratégica?
Toda esta tenebrosa história, distante e recente, foi deixada de lado na festança dos 90 anos do jornal. Os mais otimistas afirmam que Dilma cumpriu o seu papel de chefe de estado, que não tinha como evitar o ritual – junto com ela estiveram os presidentes do Senado e da Câmara, ministros do STF e lideranças políticas de distintos partidos. Já os mais incrédulos criticam a participação da presidenta na homenagem aos algozes da Folha. Alguns suspeitam que sua atitude sinalize nova cedência aos barões da mídia.
Ainda é cedo para tirar conclusões taxativas sobre o significado do seu gesto. A presidenta pode ter decidido ir à “toca dos leões” numa tática para neutralizar ou minimizar os ataques deste veículo. Momentaneamente, a sua visita “diplomática” colocaria na defensiva os filhos do “seu” Frias – e, de quebra, o conjunto da mídia e de seus “calunistas”. Josias de Souza virou fã da Dilma; até o Estadão elogiou a festa do seu rival. Leitores mais hidrófobos devem ter entrado em parafuso. Essa é a hipótese mais otimista.
Um discurso ensaboado
A mais pessimista analisa o gesto não como uma manobra tática ou obrigação de uma estadista, mas sim como opção estratégica de evitar confrontos com os barões da mídia. Numa visão tecnicista e administrativista, Dilma estaria evitando qualquer “marola” – seja com a imprensa golpista ou com o “deus-mercado” (vide o aumento dos juros, o corte dos gastos públicos e a refrega do salário mínimo). Corrobora com esta visão mais negativa o próprio discurso da presidenta no evento festivo – veja íntegra abaixo.
Dilma nada falou sobre seu compromisso de campanha de promover mudanças no marco regulatório para democratizar os meios de comunicação. Nem sequer citou a projeto do seu antecessor sobre regulação da mídia. Ao fazer tantos elogios à Folha, ela não fez sequer uma crítica aos monopólios e às manipulações midiáticas. E a presidente ainda insistiu no erro conceitual ao confundir liberdade de imprensa – que serve hoje unicamente aos monopólios midiáticos – com a garantia da plena liberdade de expressão.
Em síntese, a festança da Folha revela que a ditadura midiática continua exercendo forte poder político e enorme capacidade de sedução – ou de intimidação. Dilma Rousseff, que foi vítima destas corporações no passado distante e recente, parece que ainda carece de uma melhor estratégia para o setor. Em festa, hoje a Folha bajula e acaricia. Amanhã, caso não dobre e enquadre a nova presidenta, o jornal poderá voltar novamente chamá-la de “terrorista”. Aí poderá ser tarde demais para mudanças!
Íntegra do discurso (21 de fevereiro)
Eu queria desejar boa noite a todos os presentes.
Cumprimentar o sr. Michel Temer, vice-presidente da República, o nosso governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, e a senhora Lu Alckmin. Queria cumprimentar o senador José Sarney, presidente do Senado. Queria cumprimentar também o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Cumprimentar o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Marco Maia. O ministro Cezar Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal, por meio de quem cumprimento os demais ministros do Supremo presentes a esta cerimônia.
Queria cumprimentar a família Frias, o Luiz, o Otavio, a Maria Cristina, e queria cumprimentar também o senhor José Serra, ex-governador do Estado.
Dirijo um cumprimento especial também aos governadores aqui presentes e também aos ministros de Estado que me acompanham nesta cerimônia. Cumprimento o senhor Barros Munhoz, presidente da Assembleia Legislativa do Estado.
Queria cumprimentar também todos os senadores, deputados e senadoras, deputados e deputadas federais, deputados e deputadas estaduais. Queria cumprimentar o senhor Paulo Skaf, presidente da Fiesp. Dirigir um cumprimento especial aos representantes das diferentes religiões que estiveram neste palco.
Dirigir também um cumprimento a todos os funcionários do Grupo Folha. Queria cumprimentar os senhores e as senhoras jornalistas. E a todos aqueles que contribuem para que a Folha seja diariamente levada até nós.
Eu estou aqui representando a Presidência da República, estou aqui como presidente da República. E tenho certeza que cada um de nós percebe, hoje, que o Brasil é um país em desenvolvimento econômico acelerado. Que aspira ser, ao mesmo tempo, um país justo, uma nação justa, sem pobreza, e com cada vez menos desigualdade. Para todos nós isso não é concebível sem democracia. Uma democracia viva, construída com esforço de cada um de nós, e construída ao longo destes anos por todos aqui presentes. Que cresce e se consolida a cada dia. É uma democracia ainda jovem, mas nem por isso mais valorosa e valiosa.
A nossa democracia se fortalece por meio de práticas diárias, como os diferentes processos eleitorais. As discussões que a sociedade trava e que leva até as suas representações políticas. E, sobretudo, pela atividade da liberdade de opinião e de expressão. E, obviamente, uma liberdade que se alicerça, também, na liberdade de crítica, no direito de se expressar e se manifestar de acordo com suas convicções.
Nós, quando saímos da ditadura em 1988, consagramos a liberdade de imprensa e rompemos com aquele passado que vedava manifestações e que tornou a censura o pilar de uma atividade que afetou profundamente a imprensa brasileira.
A multiplicidade de pontos de vista, a abordagem investigativa e sem preconceitos dos grandes temas de interesse nacional constituem requisitos indispensáveis para o pleno usufruto da democracia, mesmo quando são irritantes, mesmo quando nos afetam, mesmo quando nos atingem.
E o amadurecimento da consciência cívica da nossa sociedade faz com que nós tenhamos a obrigação de conviver de forma civilizada com as diferenças de opinião, de crença e de propostas.
Ao comemorar o aniversário de 90 anos da Folha de S.Paulo, este grande jornal brasileiro, o que estamos celebrando também é a existência da liberdade de imprensa no Brasil.
Sabemos que nem sempre foi assim. A censura obrigou o primeiro jornal brasileiro a ser impresso em Londres, a partir de 1808. Nesses 188 anos de independência, é necessário reconhecer que na maior parte do tempo a imprensa brasileira viveu sob algum tipo de censura. De Líbero Badaró a Vladimir Herzog, ser um jornalista no Brasil tem sido um ato de coragem. É esta coragem que aplaudo hoje no aniversário da Folha.
Uma imprensa livre, plural e investigativa, ela é imprescindível para a democracia num país como o nosso, que além de ser um país continental, é um país que congrega diferenças culturais apesar da nossa unidade. Um governo deve saber conviver com as críticas dos jornais para ter um compromisso real com a democracia. Porque a democracia exige sobretudo este contraditório, e repito mais uma vez: o convívio civilizado, com a multiplicidade de opiniões, crenças, aspirações.
Este evento é também uma homenagem à obra e ao legado de um grande empresário. Um homem que é referência para toda a imprensa brasileira. Octavio Frias de Oliveira foi um exemplo de jornalismo dinâmico e inovador. Trabalhador desde os 14 anos de idade, Octavio Frias transformou a Folha de S.Paulo em um dos jornais mais importantes do nosso país. E foi responsável por revolucionar a forma de se fazer jornalismo no nosso Brasil.
Soube, por exemplo, levar o seu jornal a ocupar espaços decisivos em momentos marcantes da nossa história, como foi o caso da campanha das Diretas-Já. Soube também promover uma série de inovações tecnológicas, tanto nas versões impressas dos seus jornais, como nas novas fronteiras digitais da internet.
Reafirmo nessa homenagem aos 90 anos da Folha de S.Paulo meu compromisso inabalável com a garantia plena das liberdades democráticas, entre elas a liberdade de imprensa e de opinião.
Sei que o jornalismo impresso atravessa um momento especial na sua história. A revolução tecnológica proporcionada pela internet modificou para sempre os hábitos dos leitores e, principalmente, a relação desses leitores com seus jornais. Como oferecer um produto que acompanhe a velocidade tecnológica e não perca a sua profundidade? Como aceitar as críticas dos leitores e torná-las um ativo do jornal?
Sei que as senhoras e os senhores conhecem a dimensão do desafio que enfrentam, e que, com a mesma dedicação com que enfrentaram a censura, irão encontrar a resposta para esse novo desafio. E desejo a vocês o que nesse caminho sintetiza melhor o sucesso: que dentro de 90 anos a Folha continue sendo tão importante como agora para se entender o Brasil.
É nesse espírito que parabenizo a Folha pelos seus 90 anos. Parabenizo cada um daqueles que contribuem, e daquelas que contribuem, para que ela chegue à luz. A todos esses profissionais que lhe dedicam diariamente o melhor do seu talento e do seu trabalho.
Por fim, reitero sempre, que no Brasil de hoje, nesse Brasil com uma democracia tão nova, todos nós devemos preferir um milhão de vezes os sons das vozes críticas de uma imprensa livre ao silêncio das ditaduras.
Muito obrigada.
respeito seu ponto de vista mas discordo:
ResponderExcluir...não cabe à presidente(a) este embate contra a mídia, pelo contrário, ela tem mais é que ocupar os espaços até o último dia do seu mandato e, neste caso, fazer isso com respeito, foi o que ela fez.
Este combate contra a velha mídia tem que ser feito por nós sociedade, não cabe a ela(Dilma) nem a seus ministros este combate, eu pessoalmente achei bacana ver Dilma naquele encontro, ela foi lá e desarmou todo mundo, até FHC a bajulou para que ela(Dilma) marcasse uma audiência com um grupo de ex-presidentes amigos dele(FHC), é como se ela dissesse a esta gente "tá vendo, vocês me maltrataram, disseram inverdades a meu respeito, mas estou aqui, trago flores para você, no lugar da apunhalado trago um abraço". Este é o mínimo que ela, na condição de presidente(a) de todos, poderia fazer, claro, elogiar o anfitrião, porque não, será que pensam que o certo seria detonar o cara.
A luta pela democratização da mídia, que acompanho desde o seu nascedouro na internet, continua, vai ter encontro no Barão de Itararé, o Nassif estará lá, força amigos e amigas. Não estou criticando de forma alguma quem teceu críticas a Dilma por ter ido à Folha, refiro-me ao Azenha, Eduardo Guimarães, Leandro Fortes, Antônio Mello, pessoas a quem respeito e muito, esta gente vem carregando o piano a muito tempo, daí ser compreensível a indignação, o desalento mas, é claro, passado o impacto, as coisas se encaminharão novamente, já está sendo encaminhando, o Edu acabou um ótimo texto sobre o assunto mídia, é isso aí, boa noite
Querido Miro, entendo sua indignação, e concordo com quase tudo que vc diz. A Folha é uma excrecência! Mas não posso concordar que a decisão da presidente Dilma seja uma sinalização de quem vai pegar leve. Creio que faz parte do jogo de cintura política ir até lá "desarmada". Mas esse jogo de cena não é para a Folha e sim para a sociedade, e de certa forma esvazia, ou no mínimo diminui os possíveis ataques. Não porque a Folha vai ficar constrangida, mas porque ela não poderá falar em autoritarismo por parte da presidência.
ResponderExcluirGrande abraço!
Miro,
ResponderExcluirImagine como seria se a Dilma não aceitasse o convite: o Serra seria a estrela, todos os discursantes aproveitariam para criticar e/ou ridicularizar a Dilma, os repórteres eriam o prato feito sobre "Dilma odeia imprensa livre" etc e tal. Em suma o evento seria um grande trunfo para os inimigo da Dilma.
Quando tive um cargo de direção eu enfrentei váras situações assim. Entendo bem a escolha da Dilma. Cidadãos comuns como você ou eu tem a opção de evitar pessoas que a gente detesta. Mas quem está em posição de liderança não pode se deixar enxotar pelos adversários; tem que ir lá e mostrar que existe e não pode ser deixada de fora da equação. Quem está no papel de herói não pode ficar longe da toca do dragão; tem que se forçar a entrar na toca e fingir que não tá nem aí para ele.
Relendo o discurso da presidenta Dilma, percebo que ela andou sobre ovos. Não foi grosseira a ponto de cobrar o golpismo e a desonestidade do jornal durante oito anos de Lula e, especialmente, na recente campanha; tampouco enalteceu a linha editorial do jornal pautado pelo Serra.
ResponderExcluirMelhor seria não ter comparecido e mandado um ministro para ler seu discurso. Agora, fica obrigada a estar nas festas da veja, da Globo e de todo o PIG: o contrário seria discriminação.
Ao mesmo tempo, acho que ela tirou o foco que seria dedicado à tucanalha presente. Ela foi a estrela, bajulada por todos. É um jogo.
Dilma precisa lembrar-se que não havia ali cavalheiros, mas golpistas do mais baixo nível. Sua ficha "nem verdadeira, nem falsa", segundo Otavinho, mostrou a que nível chega essa gente. E, em breve, ela sentirá isso na carne: tentarão derrubá-la na primeira oportunidade. O lobo perde o pelo, mas...
Um episódio lamentável e inesquecível, que mostra fraqueza ou desejo de cair nos braços da elite. Fico com a segunda opção.
ResponderExcluirTanta lamúria sem sentido, deixem a mulher trabalhar, trazer a banda larga, educação, reforma agrária,
ResponderExcluirTodos ao Congresso Nacional, lá sim, é a casa do povo, é a quem devemos cobrar uma nova comunicação, o Exetutivo não tem ficar fechando porta prá imprensa, batento porta na cara,etc.
Leiam, é sobre o assunto mídia no Congresso, repito, faça com que o deputado no qual vc votou participe desta luta:
Frente parlamentar vai debater e propor novo marco regulatório da comunicação
O deputado Emiliano José (PT-BA) e a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), em articulação conjunta, estão organizando a “Frente Parlamentar em Defesa da comunicação”. A principal missão do agrupamento parlamentar será a discussão e proposição de um novo marco regulatório para o setor de comunicação no país. Os principais objetivos são: democratização da comunicação, a liberdade de expressão e o fim do monopólio dos meios de comunicação no Brasil.
"Estamos muito atrasados nos aspectos da comunicação no Brasil. Temos uma legislação que data de 1962. Desde então, ocorreram profundas transformações no campo das comunicações no Brasil e no mundo. Precisamos atualizar a nossa legislação para assegurar a liberdade de expressão e a democratização do direito à comunicação", afirmou o deputado Emiliano José. A primeira reunião foi feita nesta terça-feira (22) e outra já está prevista para a próxima semana.
De acordo com o deputado Francisco Praciano (PT-AM), o tema da comunicação deverá estar no centro dos debates do Congresso Nacional nesta legislatura. O petista criticou o monopólio da comunicação no país e disse que irá trabalhar, no âmbito da frente, para atualizar a legislação da comunicação no Brasil. "A frente tem que funcionar como um impulso à construção de um novo marco regulatório para o setor", defendeu. O deputado Luiz Couto (PT-PB) também participou da reunião de trabalho.
Uma das principais articuladoras, a deputada Luiza Erundina (PSB- SP) explicou que a Frente Parlamentar fará uma ponte permanente entre os interesses da sociedade civil organizada e o parlamento no que diz respeito à democratização da comunicação no país. "Vamos trazer para este debate todas as entidades que militam em prol da democratização da comunicação e da liberdade de expressão no país. Queremos acompanhar e influenciar o processo de debate dentro da Câmara sobre o novo marco legal das comunicações", defendeu.
Para o deputado federal baiano, Emiliano José, escolhido como principal interlocutor do PT para assuntos de comunicação, o debate tem também como objetivo aumentar o número de pessoas que produzem conteúdos de informação, além de ampliar a diversidade de canais de comunicação, gerando assim, mais opções para a população. "Hoje com o advento da internet, não há jeito de a produção ser exclusividade da mídia hegemônica. Nós queremos ampliar ao máximo a propriedade, queremos criar milhares de produtores de conteúdo. É preciso ter diversidade de informações, dando mais respeito a produção regional, só assim poderemos democratizar efetivamente a comunicação no Brasil".
Segundo informações do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ainda este ano, o governo federal deve enviar, ao Congresso Nacional, a Lei da Comunicação. Diante disso, membros da Frente Parlamentar buscam informações sobre o projeto e antecipam os debates sobre o marco regulatório.
http://bahiadefato.blogspot.com/2011/02/frente-parlamentar-vai-debater-e-propor.html
Miro, permita-me discordar de você (pela primeira vez!).
ResponderExcluirNa minha opinião, ao aceitar ir ao evento e ser a principal oradora, Dilma dá uma estocada de mestre em toda aquela corja de papagaios e capachos que tanto a agrediram só para agradar o chefinho deles. E uma estocada ainda maior no próprio chefinho!
Afinal, todos tiveram que engolir a presença dela na festa deles como a PRESIDENTA DA REPÚBLICA, eleita democraticamente, a despeito de TUDO que fizeram para impedir tal ato.
Eu, se estivesse no lugar dela e com a experiência que tenho hoje, faria EXATAMENTE a mesma coisa. E sairia de lá gargalhando. Muito melhor do que dar uma de orgulhoso e não ir ao tal evento, só para no dia seguinte ser chamado de "pequeno", "mesquinho", "indigno de ocupar a Presidência da República" e outras ofensas que eles estavam loucos para escrever ao meu respeito, não?
A Dilma agora eleita não precisa mais dos blogs sujos.
ResponderExcluirFoi bom o que ocorreu, as pessoas estão entendendo que o palco onde se dará a luta pela democratização da mídia deve ser mais o Congresso Nacional do que em específico o Palácio do Planalto
ResponderExcluirhttp://www.redebrasilatual.com.br/multimidia/blogs/blog-na-rede/deputados-articulam-criacao-de-frente-parlamentar-para-debater-marco-regulatorio-da-comunicacao/view
Dilma "Um governo deve saber conviver com as críticas dos jornais para ter um compromisso real com a democracia. Porque a democracia exige sobretudo este contraditório, e repito mais uma vez: o convívio civilizado, com a multiplicidade de opiniões, crenças, aspirações."
ResponderExcluirCésar Augusto
Altamiro,
ResponderExcluirTem uma terceira hipótese do qual vocês de SP ainda não conseguiram enxergar.
Já disse em vários lugares e o primeiro deles foi no blog do Eduardo Guimarães há uma tempo atrás. Aqui em Brasília e nos outros estados federados não percebemos a existência dos jornais de SP, a Veja tem uma influencia nos consultórios médicos de resto não influencia ninguém por aqui e nem no resto do país. O meu temor sempre foi a Globo com o seu JN, depois da Dilma o temor acabou. Conheço uma pá de gente aqui em Brasília que mudou de canal depois da entrevista com a Dilma. Posso dar seus nomes não sou mulher de blefar. Quero que o PSDB morra, politicamente é claro, por isso tento ser o mais realista possível, não vou me iludir com discursos ou gestos de mãos, sei que o melhor é feito nos bastidores.
Quando Dilma aceitou o convite, depois do seu discurso e tudo o mais eu fiquei matutando, por que ela fez isso? Todo governo Dilma sabe que esse jornaleco não mete mede a ninguém e ela, me desculpem os analistas políticos, não está com nenhum medo desse jornaleco coisa nenhum, ela passou no teste do fogo e recebeu nota 10, eles perderam ela ganhou, por que ela teria medo deles?
Voltando a pergunta, por que Dilma uma mulher antenada, esperta, inteligente de uma paciência quase budista foi àquele evento? Porque esses jornais ainda fazem um grande estrago no território de SP, o PT não ganha a prefeitura da capital e o governo de estado há anos, nós aqui em Brasília sabemos o que é isso, Roriz ficou aqui por 14 anos , colocou Brasília no centro de todo tipo de ilícito, fez alianças com o crime organizado de SP, hoje Brasília com SP são o centro do crime organizado internacional.
Dilma, a mulher coragem, vai fazer tudo que for possível para melhorar a imagem do PT em SP, para aqueles que tem aversão ao partido passem a não ter. Eu sei o que é isso, em 1994 eu pensei em me filiar ao PT, quando fazia minha militância percebi que muitas pessoas aqui odiavam o partido, tomei a decisão de não fazê-lo para atingir aqueles que assim se comportavam. Antes de distribuir meus panfletos sempre digo não sou filiada sou apenas simpatizante e com isso desarmo o eleitor pelo menos a me ouvir. Hoje faço doações ao partido de maneira indireta, usando minha voz, meu carro, minha casa, meu computador, minhas pernas, Dilma está fazendo algo muito maior, entregando sua reputação de mulher corajosa apenas para ajudar os paulistas e paulistanos, pensem nisso antes de jogarem pedras nessa dama ou levantarem dúvidas sobre de que lado Dilma está.
Que alguns navegantes me perdoem, mas esquecem que a Dilma é inteligente, corajosa e sagaz. A Dilma continuará transformando este país, democratizando-o ainda mais.Quem viver, verá !
ResponderExcluirCara, não sei o que é que acontece com a pessoa quando é eleita presidente/a depois que sobe aquela subidinha da rampa do palácio. O FH mandou esquecer o que escrevera, pois não era o que dizia. O Lula virou capitalista. A presidenta vai tomar uma aguinha na Folha, dá 70% para os políticos, só recebe gente bacana no escritório. Sei não, aquela rampa tem alguma trampa, a pessoa pisa ali e rampeia, derrampeia. Ô Niemayer, o que tem naquela rampa? Já sei, sempre há o discurso vou governar para todos, quer dizer, o cara é eleito pelo eleitor de esquerda, mas os ‘todos’ são a direita.
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