quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Manobras de Kassab e inferno dos demos

Por Altamiro Borges

Em sua coluna na Folha desta segunda-feira (7), Mônica Bergamo noticiou uma ousada manobra do prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab. O demo, que está de malas prontas para abandonar o seu decrépito partido, teria procurado interlocutores do PT com um plano para “varrer” os tucanos do Estado. O seu objetivo maior seria disputar o governo paulista em 2014.

Segundo a jornalista, Kassab indicaria o vice na chapa do PT na eleição para a prefeitura da capital, em 2012; em troca, ocuparia um ministério no governo Dilma e receberia o apoio dos petistas nas eleições para o governo estadual em 2014. O plano, porém, esbarraria em dificuldades. “Se o Lula e a [presidente] Dilma Rousseff participarem desse acordo, ainda assim ele tem chance de fracassar. O PT é complicado”, antecipou um dirigente do próprio partido.

Articulações intensas e dispares

Ainda é difícil prever qual será o futuro do atual prefeito de São Paulo, uma das poucas referências nacionais que ainda sobraram do falido DEM. Mas, com brinca José Simão, “quem fica parado é poste”. Kassab está em plena articulação, conversando com os mais dispares agentes políticos. Ele não esconde que deixará os demos, mas ainda não definiu para onde migrará.

O centrista PMDB, “partido-ônibus” que hoje goza de maior poder no executivo federal, já ofereceu uma vaguinha. Mas Kassab ainda calcula se é a melhor aposta para o seu futuro, já que não tem garantido o apoio partidário ao projeto para o governo paulista. Segundo o sítio Terra Magazine, o prefeito não descartaria inclusive a possibilidade de ingressar no PSB.

Futuro partidário ainda indefinido

“Em meio a flertes com o PMDB, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), estreitou o diálogo com um segundo partido da base governista de Dilma Rousseff (PT). Segundo aliados de Kassab, o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, entrou em contato com ele, neste final de semana, e com o também governador Raimundo Colombo (DEM-SC)”.

Muita água ainda vai rolar debaixo da ponte. A saída do DEM é uma operação de alto risco. Por enquanto, os caciques do partido ainda tentam evitar a sangria. No caso do governador de Santa Catarina, o próprio líder dos demos na Câmara Federal, o baiano ACM Neto, viajou ao estado para “conversar com o colega que está sendo assediado”, informou o portal Terra.

DEM ameaça com "guerra jurídica"

Já no que se refere ao prefeito paulista, parece que não há mais margem para a negociação. Neste sentido, o DEM esbraveja que partirá para a retaliação. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, o partido “ameaça uma guerra jurídica se Kassab sair”. Já estaria em estudo um pedido à Justiça Eleitoral para a devolução do mandato do prefeito.

O partido alega não existir nenhuma brecha que facilite a sua saída na resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de 2008, que trata da fidelidade partidária. "O partido não vai assistir à saída injustificada da agremiação de forma impune", disse um dirigente ao Estadão. Neste sentido, a eleição de ACM Neto para líder dos demos complicou a vida de Kassab, que articulou um candidato mais “maleável”.

“Um resquício marginal e periférico”

Esta novela tende a ser resolvida até 15 de março, quando o DEM realiza a sua convenção nacional. Uma coisa, porém, é certa. Os demos já estão no inferno. Na eleição do ano passado, a legenda perdeu nove de seus 52 deputados federais e oito de seus 13 senadores - ficou com a bancada na Câmara reduzida a 43 parlamentares e com apenas cinco integrantes no Senado.

Para Vinícius Torres Freire, colunista da Folha, a situação do partido é melancólica. “Kassab era uma extravagância pefelista, do DEM, plantada exoticamente em São Paulo pelas conveniências de José Serra, do PSDB”. Com sua saída, “o DEM subsiste quase apenas como resquício acidental, marginal e periférico de uma forma de fazer política falecida nos anos 1990, uma sobrevivência do atraso autoritário, de caciques, familismos localizados e heranças de coronéis da ditadura”.

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