quinta-feira, 3 de março de 2011

Emir Sader e o ódio da direita

Por Altamiro Borges

A decisão abrupta da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, de cancelar a nomeação de Emir Sader para a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa, gerou uma ofensiva histérica da mídia contra o renomado intelectual de esquerda. Alguns “calunistas”, como Josias de Souza (Folha), Ricardo Noblat (Globo) e Reinaldo Azevedo (Veja), tiveram orgasmos múltiplos. Os jornalões e seus sítios fazem de tudo para desqualificar o sociólogo.

A “vingança maligna”

O ódio da direita contra Emir Sader não é novidade. Ela nunca tolerou suas críticas ao “pensamento único” emburrecedor do neoliberalismo. Ela também nunca aceitou o papel ativo do intelectual, que não se enfurna na academia e procura transforma suas reflexões críticas em ação política transformadora. Mesmo com ressalvas a vários limites do governo Lula, o sociólogo teve papel destacado na mobilização da intelectualidade para evitar o retrocesso demotucano no país. A mídia nunca o perdoou.

Sua vingança maligna se dá agora com a decisão da ministra da Cultura. A mídia comemora, segundo Josias de Souza, carona de FHC, o fato de Emir Sader ter sido “defenestrado”. Tenta apresentar a conclusão do imbróglio como uma vitória dos setores mais “moderados” no interior do governo Dilma Rousseff, que isola as “abobrinhas” da esquerda. Elogia a postura “firme” de Ana de Hollanda, que mostrou que “não é autista”, ainda segundo Josias.

Cabeça erguida e muita disposição

Num texto publicado hoje, Emir Sader afirma que não se abala com a brutal perseguição da direita. Ele lembra que esta é a terceira vez é vitima da sua truculência:

“A primeira foi durante a ditadura. Buscado pela Oban (aquela para a qual a empresa dos Frias emprestou seus carros para disfarçar de jornalistas os agentes do terrorismo de Estado), casa invadida, mulher detida, biblioteca destruída, foto nos jornais e nos cartazes da ditadura como buscado por terrorista, execrado pela imprensa. Eu estava na clandestinidade, fui condenado, à revelia, a quatro anos e meio de prisão, depois anistiado”.

“A segunda, no processo movido pelo Jorge Bornhausen, quando eu lhe respondi com artigo na Carta Maior àquela declaração de que ia ‘acabar com essa raça por 20 anos’. Ele me moveu processo por injúria, calúnia e difamação, teve o apoio, uma vez mais, da empresa dos Frias, execrado pela imprensa. Foi desatado um amplíssimo movimento de solidariedade, com abaixo assinado encabeçado pelo Chico Buarque, Veríssimo, Antônio Candido, Eduardo Galeano, que recolheu mais de 20 mil assinaturas”.

“Agora há esta nova ofensiva da direita, de novo achando que podem me constranger, me calar, me isolar. De novo truculenta, de novo submetido à execração pela, agora, senil e velha mídia, mas a mesma da época da ditadura e do processo do Bornhausen. De novo a empresa dos Frias envolvida, mediante uma armadilha de usar em on o que era uma conversa em off, coisa típica desse jornalismo decadente e imoral. Saio também ileso, moral e politicamente, honrado com todos os apoios que recebo, assim como pela lista – esta sim, execrável, dos que atacam, do outro lado”.

“A sensação, nas três circunstâncias, é a de que me tornaram vítima ‘por boas razões’, como dizia o Brecht, porque estou do lado certo, no bom combate, que o que está em jogo não sou eu individualmente, mas causas justas que é preciso defender e a que tantos dedicam também suas vidas na defesa delas. Que a solidariedade imensa e emocionante que recebi nas três ocasiões se dirige às causas às quais dedico o melhor da minha energia e não a mim como pessoa.

“Portanto, me sinto bem nessas circunstâncias em que a direita me toma como vítima privilegiada, como que honrado por esse privilégio de ser considerado alguém que os incomoda, que afeta os seus interesses e os seus valores conservadores. De todas elas saí mais forte, com mais apoio, com mais amigos e companheiros, mais convencido de que essas são causas justas – tanto assim, que a direita as combate sempre, com todas suas armas, desde as metralhadoras e os carros da Oban-Folha, até o monopólio, enfraquecido e senil, da imprensa -, que vale a pena jogar a vida por elas”.


“Pegadinha” asquerosa da Folha

O motivo que teria levado Ana de Hollanda a cancelar a nomeação de Emir Sader foi uma entrevista concedida pelo sociólogo à Folha de S. Paulo, publicada no domingo (27), com o objetivo de apresentar seu plano de trabalho para a Casa de Rui Barbosa. Mas num golpe rasteiro, bem comum neste jornal de intrigas e futricas, a Folha preferiu destacar uma crítica à ministra, que seria “meio autista”, proferida já ao final da entrevista – em off, segundo o jargão jornalístico.

Emir Sader tem consciência de que a entrevista foi uma armadilha para inviabilizar sua nomeação para este importante instituto de debate de idéias. A provocação da Folha já aparece no título da matéria: “Um emirado para Emir”. No seu início, a bravata direitista de que “o espectro do comunismo” ronda o Ministério da Cultura. Na sequência, os jornalistas Marcelo Bortoloti e Paulo Werneck, que mais se parecem militantes do DEM, ainda ironizam a nomeação de Emir Sader para a Casa Rui Barbosa, afirmando que os intelectuais teriam que “entoar a Internacional Comunista” e seriam enviados para o “corte de cana” em Cuba.

“A entrevista é editorializada desde o título até o final. Não tem nem a generosidade de te dar a palavra e depois, no final, dizer o que acha. É tudo editorializado”, lamentou Emir Sader numa entrevista à Rede Brasil Atual. Segundo explicou, parte da conversa com os repórteres da Folha foi feita em off, prática jornalística pela qual se publica o conteúdo sem citar a fonte. “O sociólogo entende que a intenção por trás da reportagem vai muito além de sua posse na fundação. ‘O problema não é comigo. É tentar inviabilizar um espaço de pluralismo intelectual, teórico, político. Isso é o que os assusta porque são do pensamento único’”.

Início conturbado no MinC

Com base nesta “pegadinha” é que Ana de Hollanda teria cancelado a nomeação, segundo afirmam os jornalões. Mas esta decisão intempestiva ainda deve ter desdobramentos. Há um forte clima de descontentamento, inclusive em áreas do PT, com o início de gestão, bastante conturbado, da nova ministra. De cara, em janeiro, ela desagradou os ativistas ligados à cultura digital ao retirar a licença Creative Commons do sítio oficial do Ministério da Cultura.

Na sequência, ela indicou um advogado do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) para a Diretoria de Direitos Intelectuais (DDI). Os Pontos de Cultura, uma iniciativa inovadora do ministério no governo Lula, também reclamam da falta de repasses de recursos do programa Cultura Viva. Tampouco foram abertos novos editais para pontos, prêmios e outras formas de financiamento cultural que caracterizaram os oito anos anteriores no Ministério da Cultura (MinC).

Clima de insatisfação e autismo

Segundo Renato Rovai, um dos jornalistas mais bem informados sobre o que rola na área cultural, “a avaliação que circula no Planalto é que o troféu ‘ministério problema’ dos primeiros 100 dias do governo Dilma dificilmente escapará das mãos do MinC. Na bancada de deputados petistas, há uma insatisfação quase generalizada com as ações do ministério; na blogosfera, o MinC se tornou pauta negativa todos os dias; nos movimentos sociais, há uma crise instalada por conta dos sinais que vem sendo emitidos em relação às novas políticas para os Pontos de Cultura; entre os intelectuais que apoiaram Dilma, a decepção com a nova agenda tem levado alguns a dizer que vão desembarcar do apoio ao governo”.

Para ele, a situação é preocupante. “O governo Dilma ainda está começando e há tempo para o MinC mudar o sinal desses primeiros meses, saindo do noticiário a partir de pautas negativas e buscando um novo tipo de relacionamento com os setores que defenderam a candidatura de Dilma e que fazem parte da base histórica do PT e do PCdoB, por exemplo, na área. Mas para isso é preciso descer do salto. Não parece ser essa opção da nova equipe. Os recados que chegam do bloco A da Esplanada é de que certos temas são proibidos. E que na nova equipe se instalou um clima de que todas as críticas são parte de uma tentativa de desestabilizar Ana de Hollanda. Política não se faz procurando inimigos embaixo da mesa de trabalho. Quando isso acontece, o resultado costuma ser desastroso”.

11 comentários:

  1. Fiquei muito chateado com o veto a Emir Sader, porém o que me confortou é que o PIG gastou todos os cartuchos contra Sader, nem deu tempo para que o tiroteio recomessasse e, assim, impedisse a nomeação de Wanderelei Santos, outro combatente anti-PIG
    Os dois são ótimos, tem espírito elevado, Sader não deixará se abater por isso, com certeza

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  2. Não tenho procuração para defender a Ana de Holanda, mas desafio qualquer crítico: você nomearia para um cargo de confiança um cara que, na primeira entrevista após a indicação, te chama de autista?

    Ah, mas foi em off!
    Não, o Emir Sader não é ingênuo o suficiente para dizer uma barbaridade dessas em off para um repórter da Folha. Nem eu - que não tenho a metade da estrada do genial sociólogo - faria uma besteira dessas.

    O episódio pode ter levado a uma ofensiva da direita contra o Sader. Não tenho paciência para ler esses caras, só o faço quando é inevitável. Mas também levou a uma ofensiva da esquerda contra a ministra, que teria DEMITIDO Sader de forma autoritária.

    Há que ter cuidado, muito cuidado com os interesses que cercam a área cultural e a autoproclamada "classe artística".

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  3. Enquanto a moça do MinC faz os atrapalhos dela, ninguém presta atenção no que o Palocci anda fazendo. E isso não é bom.

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  4. O povo brasileiro elegeu a Dilma apesar da "Folha", "Veja", "Estado" e "Globo". Agora uma ministra da Dilma exclui sumariamente do governo um dos intelectuais mais importantes do país por causa de uma reportagem da "Folha"? O cargo de ministro de estado precisa de alguém com uma estatura adequada ao cargo, que saiba ler entre as linhas dos jornais, que saiba dar o peso certo as fontes certas. Mesmo porque, se fosse pela "Folha", a Dilma não teria sido eleita, logo o ministério atual não existiria... Emir Sader deveria ser o ministro de estado da cultura, por sua competência, sua trajetória, e, vontade política de transformar o Brasil em uma potência artística mundial, de fato, democratizando os espaços públicos de cultura no país.

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  5. Seria Emir "ingênuo" a ponto de acreditar que os jornalões como a folha teriam algum pudor em publicar algo que seria off? Pelo seu histórico e de todas as pancadas que levou desse tipo de mídia, everia aceitar ser entrevistado por antigos algozes?

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  6. muito bom, assino em baixo, vou compartilhar!

    abraços

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  7. Joel, de defenestradores de superiores, antes e depois de assumirem, o governo Dilma está cheio. Veja os ex. do Jonhbim e do Gal. Elito e verais que o problema não foi a opinião do Emir sobre a Ministra. Pelo inegualavel papel que ele cumpriu e vem cumprindo na arena política e intelectual brasileira deveria ter recebido mais respeito e tolerância do governo. Mas, como é do próprio govrno que vem toda uma gama de iniciativas decepcionantes para se desfazer da máscara de esquerda que lhe rendeu vitória eleitoral, a forma torpe de "se livrar" do Emir é café pequeno.

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  8. Eu não acredito que o PIG agora está em peso comentando na blogosfera... Aos dois primeiros comentaristas: Se o que a Folha (que agora passou a ser considerado um "grande" jornal pela Dilma) deu como sendo entrevista do Emir Sader é suficiente para derrubá-lo, então a ministra de Holanda tem que cair junto. É que ela mesma publicou no site do Minc um artigo do "grande" Caetano detonando o Lula, ai não pode né, falou mal tem que sair. Só pra concluir, vale lembrar que a Folha é o jornal que publicou a ficha falsa da Dilma, disse que o Lula era estuprador com base em entrevistas também, noticiou o surto de febre amarela que matou várias pessoas por dupla vacinação, noticiou o acidente da TAM como sendo culpa do Lula, e inventou o termo ditabranda. É esse o jornalzão que vem pautando as decisões do Minc e sendo frequentado pelo governo. Bonito...

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  9. Todo golpismo precisa de uma narrativa linear, simples, direta, automática.

    "Battisti é terrorista porque assim foi condenado pela justiça italiana, um país europeu democrático, e fugiu pra não cumprir a pena, logo devemos extraditá-lo."

    "Gaddafi, que é incontrolável, bombardeou populações civis e está causando um desastre humanitário, logo temos que intervir para salvar vidas."

    "Sou incondicionalmente a favor da vida, logo, sou contra o aborto."

    E assim por diante.

    Da mesma forma:

    "Emir Sader xingou publicamente a superior de autista, logo, deve ser exonerado".

    E ponto final.

    Eis aí a grande imprensa desinformando, vendendo sua verdade nua, sua fé nos fatos, seu regime de autoridade editorial.

    Demitiram alguém que se propunha a fazer algo inédito no grupo corporativo que manda no MinC: pensar.

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  10. Não moro de amor pelo Sader, pelo contrário o acho muito babaca e contraditório, e isso se deu muito antes dos anos Lulla no governo.

    Só acho que um dos responsáveis indiretamente é o líder de porra-nehuma do Demétrio Magnoli, o comentário que o mesmo fez ao saber da nomeação do Sader no jornal do Serra (Jornal da Cultura), já me dizia que algo aconteceria.

    Tiraram um crítico e agora vão colocar o cara que descobriu o PIG!

    Provos Brasil

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  11. Sobrou pra Folha, esta foi boa !!!!
    sempre tem um bod esxpiatório

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