Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:
Na última quarta-feira, eu estava na porta do Hospital Sírio-Libanês, cobrindo a morte de José Alencar para a TV Record. No mesmo horário, dois jornalistas (um da “Folha” e outro do “Agora” – diário que também pertence ao grupo “Folha”) trocavam impressões sobre a cobertura jornalística do fato. Ressalte-se: trocavam impressões usando contas particulares do twitter.
Foram demitidos!
Nesse domingo, a “ombudsman” da “Folha” tocou no assunto. Ela transcreveu o diálogo no twitter que acabou levando à demissão:
Repórter da Folha: ”Nunca um obituário esteve tão pronto. É só apertar o botão.”
Repórter do Agora: ”Mas na Folha.com nada ainda… esqueceram de apertar o botão. rs” (risos)
Repórter da Folha: ”Ah sim, a melhor orientação ever. O último a dar qualquer morte. É o preço por um erro gravíssimo.”
Suzana Singer, que foi minha chefe e a quem respeito, preferiu não dar os nomes dos jornalistas. Imaginou (presumo) que assim os “preservaria”. Como se a história já não estivesse na internet…
Na mesma coluna, a “ombudsman” dá a opinião sobre o caso:
"Um diálogo ruim, de todos os pontos de vista. É insensível jogar na cara do leitor que há obituários prontos à espera do momento de publicação. Não faz sentido um jornalista criticar, publicamente, um site da mesma empresa. E não deixa de ser desagradável lembrar um problema recente - a divulgação errada, pela Folha.com, da morte do senador Romeu Tuma".
Êpa! Peraí. Desde quando a “Folha está preocupada com a “sensibilidade” do leitor. A “Folha” é o jornal que publica ficha falsa em primeira página, e que abre espaço para relato sem provas de que Lula teria falado em “currar” um garoto na prisão. E a Suzana acha que os leitores ficariam “sensíveis” se soubessem que jornalistas preparam obituários com antecedência?
Outra coisa: a Suzana acha “desagradável” lembrar um “problema” recente? Desagradável pra quem? Pros leitores? Ou pro jornal? O mundo jornalístico sabe que o jornal ”matou” o Tuma antes da hora, ajudando assim a eleger o Aloysio.
Na verdade, na crítica de Suzana, a única justificatica plausível é essa: “Não faz sentido um jornalista criticar, publicamente, um site da mesma empresa.”
É isso que interessa na demissão: um recado para outros jornalistas – calem a boca! É atitude de velhos senhores de engenho. Se os empregados se reúnem para reivindicar melhores condições de trabalho, o “patrão” nem discute. Chama o capataz e manda dar uma surra nos líderes da “baderna”. Pra servir de exemplo!
Sob todos os aspectos, a demissão dos jornalistas parece-me absurda: os dois foram “punidos” por expressar, em perfis no twitter, a opinião pessoal. Ok, eles trabalham na “Folha”. Mas a relação não é (ou não deveria ser) do servo com o senhor proprietário da gleba. O jornalista, fora do horário de serviço, e longe das páginas que pertencem à família Frias, é um cidadão que pode e deve expressar suas opiniões e impressões. O jornalista vende sua força de trabalho, não o cérebro!
E há mais um ponto estranho. A ombudsman parece incomodada com o fato de a troca de tuitadas ter revelado um “segredo”: jornais, revistas, TVs e sites de internet preparam previamente obituários de personalidades importantes.
Ora, isso é tratar o leitor feito débil mental. É evidente que os jornais preparam isso tudo com antecedência. O leitor minimamente esclarecido sabe – ou intui – essa verdade. Ou alguém acha que tudo se materializa minutos depois da morte (na TV e nos sites) por mágica? Além do mais, se havia leitores que não sabiam, agora eles já sabem: jornais, sites, TVs e rádios preparam obituários – mas não querem que você, leitor, saiba disso!
O jornal que tenta calar a “Falha” (site de paródias da “Folha”, tirado do ar por medida judicial), o jornal que chamou ditadura de “ditabranda”, o jornal que é o mais vendido do país, é um jornal que demite profissionais que dão opinião no twitter.
A “Folha” acha que jornalista é servo da gleba? Não chega a espantar.
Aqui, você lê a versão de Carol Rocha – uma das jornalistas demitidas. O outro demitido foi Alec Duarte, da “Folha”.
Na última quarta-feira, eu estava na porta do Hospital Sírio-Libanês, cobrindo a morte de José Alencar para a TV Record. No mesmo horário, dois jornalistas (um da “Folha” e outro do “Agora” – diário que também pertence ao grupo “Folha”) trocavam impressões sobre a cobertura jornalística do fato. Ressalte-se: trocavam impressões usando contas particulares do twitter.
Foram demitidos!
Nesse domingo, a “ombudsman” da “Folha” tocou no assunto. Ela transcreveu o diálogo no twitter que acabou levando à demissão:
Repórter da Folha: ”Nunca um obituário esteve tão pronto. É só apertar o botão.”
Repórter do Agora: ”Mas na Folha.com nada ainda… esqueceram de apertar o botão. rs” (risos)
Repórter da Folha: ”Ah sim, a melhor orientação ever. O último a dar qualquer morte. É o preço por um erro gravíssimo.”
Suzana Singer, que foi minha chefe e a quem respeito, preferiu não dar os nomes dos jornalistas. Imaginou (presumo) que assim os “preservaria”. Como se a história já não estivesse na internet…
Na mesma coluna, a “ombudsman” dá a opinião sobre o caso:
"Um diálogo ruim, de todos os pontos de vista. É insensível jogar na cara do leitor que há obituários prontos à espera do momento de publicação. Não faz sentido um jornalista criticar, publicamente, um site da mesma empresa. E não deixa de ser desagradável lembrar um problema recente - a divulgação errada, pela Folha.com, da morte do senador Romeu Tuma".
Êpa! Peraí. Desde quando a “Folha está preocupada com a “sensibilidade” do leitor. A “Folha” é o jornal que publica ficha falsa em primeira página, e que abre espaço para relato sem provas de que Lula teria falado em “currar” um garoto na prisão. E a Suzana acha que os leitores ficariam “sensíveis” se soubessem que jornalistas preparam obituários com antecedência?
Outra coisa: a Suzana acha “desagradável” lembrar um “problema” recente? Desagradável pra quem? Pros leitores? Ou pro jornal? O mundo jornalístico sabe que o jornal ”matou” o Tuma antes da hora, ajudando assim a eleger o Aloysio.
Na verdade, na crítica de Suzana, a única justificatica plausível é essa: “Não faz sentido um jornalista criticar, publicamente, um site da mesma empresa.”
É isso que interessa na demissão: um recado para outros jornalistas – calem a boca! É atitude de velhos senhores de engenho. Se os empregados se reúnem para reivindicar melhores condições de trabalho, o “patrão” nem discute. Chama o capataz e manda dar uma surra nos líderes da “baderna”. Pra servir de exemplo!
Sob todos os aspectos, a demissão dos jornalistas parece-me absurda: os dois foram “punidos” por expressar, em perfis no twitter, a opinião pessoal. Ok, eles trabalham na “Folha”. Mas a relação não é (ou não deveria ser) do servo com o senhor proprietário da gleba. O jornalista, fora do horário de serviço, e longe das páginas que pertencem à família Frias, é um cidadão que pode e deve expressar suas opiniões e impressões. O jornalista vende sua força de trabalho, não o cérebro!
E há mais um ponto estranho. A ombudsman parece incomodada com o fato de a troca de tuitadas ter revelado um “segredo”: jornais, revistas, TVs e sites de internet preparam previamente obituários de personalidades importantes.
Ora, isso é tratar o leitor feito débil mental. É evidente que os jornais preparam isso tudo com antecedência. O leitor minimamente esclarecido sabe – ou intui – essa verdade. Ou alguém acha que tudo se materializa minutos depois da morte (na TV e nos sites) por mágica? Além do mais, se havia leitores que não sabiam, agora eles já sabem: jornais, sites, TVs e rádios preparam obituários – mas não querem que você, leitor, saiba disso!
O jornal que tenta calar a “Falha” (site de paródias da “Folha”, tirado do ar por medida judicial), o jornal que chamou ditadura de “ditabranda”, o jornal que é o mais vendido do país, é um jornal que demite profissionais que dão opinião no twitter.
A “Folha” acha que jornalista é servo da gleba? Não chega a espantar.
Aqui, você lê a versão de Carol Rocha – uma das jornalistas demitidas. O outro demitido foi Alec Duarte, da “Folha”.
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ResponderExcluirI° Encontro de Blogueiros do MATO GROSSO!
Dias 08/09 de abril de 2011
Local: Escola de Contas do TCMato Grosso
Inscrições: http://www.vgnews.com.br
Saroba
Não sou uma defensora da Folha. Aliás, longe de mim ser uma pessoa assim. Mas a atuação dos jornalistas foi errada, mesmo que estivessem num perfil pessoal. Eles colocaram o nome da "Folha" na conversa, o que agrava a situação. É o mesmo que eu reclamar do meu trabalho no Twitter, citando o nome da empresa. Mesmo sem citar, já fica "feio" pra imagem da empresa, citando então, é algo bem grave.
ResponderExcluirSou estudante de Relações Públicas e uma "aprendiz" das redes sociais e tenho lido bastante sobre o tema, em especial sobre condutas e legislação na internet (apesar de ainda não termos nada muito sólido, infelizmente). Tenho, inclusive, um texto um pouco antigo, de quando o diretor da Locaweb foi demitido após fazer comentários sobre o São Paulo Futebol Clube: http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/05/11/advogados-afirmam-que-empresas-podem-demitir-em-funcao-de-comentario-no-twitter/
Abraços.
Acho q a premissa é a mesma para qualquer empresa jornalistica ou não - "roupa suja se lava em casa". E jamais publicamente no Twitter. Sem noção o empregado que critica a propria empresa em redes sociais.
ResponderExcluirBravo, Rodrigo. Coragem e ruptura dos grilhões.
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