quarta-feira, 1 de junho de 2011

A "diogomainardização" da mídia

Por Marcelo Rubens Paiva, em seu blog:

Como comentou uma leitora, Natália, no post anterior:

Cara, acho tão engraçada essa mania das pessoas de falarem com orgulho que são “politicamente incorretas” quando dizem absurdos… o sujeito vem, fala um monte de merda e diz que faz isso porque é inteligente (é um livre pensador, não segue o pensamento burro e dirigido das massas, etc) e porque não liga de ser “politicamente incorreto” porque afinal esse é o certo, a sociedade de hoje que está deturpada.

Coincidência. Eu pensava na mesma coisa.

O governador e o secretário municipal de segurança reconheceram que tanto a PM quanto a GCM exageraram na repressão à Marcha da maconha, que virou Marcha pela Liberdade de Expressão.

Alckmin chegou a dizer que não compactua com a ação violenta da PM.

Mas muitos leitores e alguns blogueiros continuam acreditando que a polícia estava certa: enfiar o cacete nos manifestantes.

Como os PMs que tiraram a identificação, para baterem numa boa.

A onda agora é ser bem REAÇA.

Se é humorista, e uma piada ultrapassa o limite do bom gosto, diz ser adepto do politicamente incorreto.

Que babaca agora é fazer censura contra intolerância.

Podemos zoar com judeu, gay, falar palavrão. É isso, que se foda, viva a liberdade!

Se alguém defende a Marcha da Maconha, faz apologia, é vagabundo.

Se defende a descriminalização do aborto, é contra a vida.

Se aplaude a iniciativa da aprovação da união homossexual, quer enviadar o Brasil todo- país que se orgulha de ser bem macho, bem família!

Se defende a punição de torturadores, é porque pactua com terroristas que só queriam implodir o estado de direito e instituir a ditadura do proletariado.

Deu, né?

Esta DiogoMainardização da imprensa e da pequena burguesia brasileira tem um nome na minha terra: má educação.

Esta recusa ao pensamento humanista que ressurgiu após a leva de ditaduras que caiu como um dominó a partir dos anos 80 tem outro nome: neofascismo.

É legal ser de direita?

Tá bacana desprezar os movimentos sociais, aplaudir a repressão contra eles?

Eu não acho.

Apesar de considerar o termo “politicamente correto”, do começo dos anos 90, a coisa mais fora de moda que existe, afirmo diante do que vejo e leio: eu, aleijado com tendências esquerdizantes, não era, mas agora sou TOTALMENTE politicamente correto.

*****

Foi uma semana marcada pelo protesto da gente diferenciada e gafes nas redes sociais, que têm 600 milhões de vigilantes no Facebook e 120 milhões no Twitter. Postaram:

Rafinha Bastos, no dia das mães: “Ae órfãos! Dia triste hoje, hein?”

Danilo Gentili, sobre os “velhos” de Higienópolis que temem uma estação de metrô: “A última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz.”

Amanda Régis, torcedora do Flamengo, time eliminado da Copa do Brasil pelo Ceará: “Esses nordestinos pardos, bugres, índios acham que têm moral, cambada de feios. Não é à toa que não gosto desse tipo de raça.”

Ed Motta, ao chegar em Curitiba: “O Sul do Brasil como é bom, tem dignidade isso aqui. Sim porque ooo povo feio o brasileiro rs. Em avião dá vontade de chorar rs. Mas chega no Sul ou SP gente bonita compondo o ambiance rs.”

Quando um leitor replicou que Motta não era “um arquétipo de beleza”, ele respondeu que estava “num plano superior”. “Eu tenho pena de ignorantes como vc… Brasileiros…”, escreveu. “A cultura que eu vivo é a CULTURA superior. Melhor que a maioria ya know?”

E na MTV, a Casa dos Autistas, quadro humorístico, chocou pelo mau gosto.

Todos pediram desculpas depois. Danilo, um dos maiores humoristas de stand-up que já vi, recebeu
telefonema do departamento comercial da Band, pedindo para tirar o comentário. Ed Motta se revoltou contra a imprensa. Pergunta se temos o direito de reproduzir seus escritos particulares.

A internet trouxe a incrível rapidez na troca de informações e espaço para exposição de ideias.

Alguns se lambuzam. Dizem que são contra as patrulhas do politicamente correto.

Mas como ficam as domésticas ofendidas por Delfim Netto, os órfãos recentes, aqueles que perderam parentes em Auschwitz, os nordestinos e os pais de autistas?

Tomara que, depois do pensamento grego, democracia, Renascença, a revolução industrial e tecnológica nos iluminem.

O preconceito não é apenas sintoma de ignorância, mas lapsos de um narcisista.

Ele nunca vai acabar?

*****

Enquanto no Itaú Cultural, um símbolo de excelência em apoio às artes e alta tecnologia, em plena Avenida Paulista, uma mãe foi expulsa por amamentar o filho em público na exposição do Leonilson, artista que sofreu inúmeros preconceitos, morto vítima da Aids.

Ou melhor, viadão que morreu da peste gay, porque era promíscuo, diriam os reaças.

Os ânimos estão acirrados.

5 comentários:

  1. Excelente texto, ainda há vida inteligente no Brasil, açodado e vitimizado pelos 500 anos de exploração contínua da miséria, e pela recente Ditadura que extirpou a glândula da sensibilidade dessa geração.

    ResponderExcluir
  2. Parabéns Altamiro!

    Seu blog é um oásis incomparável de lucidez no meio desse deserto de cultura e ética.
    Foram-se os valores... somos reféns dessa visão de mundo altamente deturpada, propagada pelos grandes meios de comunicação.

    Sigua sempre firme e forte nessa luta!

    ResponderExcluir
  3. Vou entrar no espírito do artigo, exagerando um pouco, mas nem tanto diogomainardizado assim; a lógica me ajuda(para ele falta).

    "No caso do Ed Motta, falar merda até que não é um grande problema; com aquele tamanho e barriga, não deve faltar o produto, ainda que o mesmo seja de 'outro nível cultural'."

    ResponderExcluir
  4. A direita é contraditória em essência. Tudo o que os reacionários afirmar, "contraarfirmam" em outros argumentos. Não existe nada mais tosco. Um exemplo:

    "Criminalizar a homofobia é preconceito contra os heterossexuais!"

    "Eu sou homofóbico mesmo!"

    Em resumo: afirmam-se contra o preconceito de opção sexual, e depois afirmam ter o mesmo preconceito. E fica a pergunta... Por que, segundo eles, o preconceito contra heterossexuais é inadmissível, mas o preconceito contra homossexuais é perfeitamente aceitável? Qual a lógica do pensamentos da direita política?

    ResponderExcluir
  5. Parece que muita gente confunde inteligência com ser politicamente incorreto. Coisa de criança incapaz de qualquer tipo de análise e que faz birra para chamar a atenção. Sempre tivemos esses tipinhos por aí, mas o problema é que esse povo anda cada vez mais sem noção. Por isso gostei do seu texto, mostra isso de forma bem clara. Só seria melhor se fosse um desenho (kk)

    ResponderExcluir

Comente: