domingo, 25 de setembro de 2011

A esquerda triunfou na Líbia?

Por Carlos Martínez, no sítio espanhol Rebelión:

É possível que a Otan seja aliada de uma revolução? A esquerda pode compartilhar lutas e objetivos junto com os fundamentalistas islâmicos implicados nos atentados de 11-M de Madri?


É um ato revolucionário e espontâneo cortar as cabeças dos inimigos rendidos ou executá-los sem julgamento prévio? Onde estão as fotos ou vídeos de ataques militares às manifestações da Líbia? Por que há dos cidadãos de Bahrain?

Desde quando a Otan tem o objetivo de proteger à população civil? É a primeira vez ou já utilizou esta desculpa anteriormente? Os bombardeios aéreos são uma proteção? Por acaso os ataques aéreos não são um modo de intervenção covarde e impune?

É possível bombardear, destruir e assassinar parte de sua população civil pelo fato de um país ser governado por um ditador? Por um acaso o povo espanhol pediu que a OTAN bombardeasse o país durante a ditadura genocida de Francisco Franco? Defenderíamos essa guerra se vivêssemos em Tripoli?

A monarquia e a imposição da lei islâmica são revolucionárias? Por que muitos rebeldes utilizam símbolos nazistas? Onde estão as bandeiras e os sinais revolucionários que vimos na Tunísia e no Egito?

Os governos de Venezuela, Cuba, Equador, Bolívia e Nicarágua poderiam ter se equivocado ao mesmo tempo, quando pediram uma saída negociada e pacífica?

Por que não se optou pela mediação proposta pela União Africana? Qual país africano apoiou a intervenção da Otan na Líbia? Por que então dizem que somente Hugo Chávez apoiou Kadafi?

É possível afirmar que a intervenção da Otan estava protegida pela ONU? Não é correto que o Conselho de Segurança concordou com a intervenção para “impor uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia e dar assistência e proteção à população civil desse país? Não foi a Otan a força armada que desequilibrou a guerra civil na Líbia?

A esquerda na Europa está em condição de ensinar à esquerda que tomou o poder na América Latina? Esta esquerda se distanciará definitivamente da esquerda revolucionária da América Latina? É possível ser ecologista e pacifista e apoiar os ataques da Otan a alvos civis?

É lógico que uma revolução comece repartindo os recursos naturais entre as multinacionais estrangeiras?

É lógico que meios de comunicação como a Fox, CNN, Intereconomia, El Mundo, La Razón, ABC, o grupo Prisa e Vocento retransmitam e apóiem uma revolução com tanta unanimidade somente pela defesa de interesses comuns?

Kadafi causou mais mortes que Sadam Hussein? Não foi Sadam por acaso um representante do império na guerra contra o Irã? Por que a resistência armada de curdos e xiitas no Iraque não é qualificada de “revolta popular”?

Só há valentes em um dos lados? Por um acaso são covardes o que continuam lutando contra a intervenção na Líbia?

Pode uma revolução ser modelo para o presidente dos Estados Unidos?

Por que pessoas da esquerda que renegam (merecidamente) a transição espanhola, qualificam de revolução o que está ocorrendo na Líbia? Há alguma possibilidade de que na Líbia o povo tome o poder e se constitua um governo revolucionário? A nova Líbia será mais igualitária?

Em resumo, para derrotar Kadafi, justifica-se a morte de milhares de civis inocentes, tanto horror e sofrimento?

Em caso de dúvidas – e se forem sérias – deveria ter prevalecido o princípio “Não à guerra”.

Sinceramente, oxalá à nova Líbia seja um país mais justo que a ditadura anterior de Kadafi. No entanto, a experiência do Iraque e Afeganistão demonstrou o contrário. Serão as mulheres, como quase sempre, as principais e as mais prejudicadas por um sistema mais machista e reacionário, como ocorreu onde os EUA intervieram para implantar a democracia.

Espero também, no pior dos casos, que a esquerda que apoiou tão veemente a guerra da Líbia tenha a capacidade de fazer autocrítica assim que esteja consolidado o novo regime no país norte africano.

* Tradução de Sandra Luiz Alves.

Um comentário:

  1. Miro, muito oportuna a postagem deste texto. Dia destes entrei no site do PSTU só para me certificar de que eles ainda existiam, e qual não foi minha surpresa ao ver por lá uma penca de textos apoiando a intervenção na Líbia, como se a queda de Kadafi fosse sinal de uma revolução popular iminente. Esse pessoal do PSTU está tomando drogas demais. Só pode. E agora vejo que eles não estão sozinhos. Parte da esquerda européia também vê sinais de revolução nas bombas da OTAN. Lunáticos.

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