segunda-feira, 2 de maio de 2011
Como os EUA criaram Bin Laden
Reproduzo artigo de Antonio Martins, publicado no sítio Outras Palavras:
A ordem formal para detonar o último esconderijo de Bin Laden foi dada por Barack Obama na manhã de sexta-feira, informou nesta manhã (2/5) o New York Times. Antes de rumar para o Alabama, onde acompanhou o socorro às vítimas de tornados violentos, o presidente determinou que forças especiais da central de inteligência dos EUA – a CIA desencadeassem o ataque. Instalado numa casa em Abbottabad, a apenas 50 quilômetros da capital do Paquistão, o líder da Al Qaeda teria resistido ao comando que o localizou. Segundo fontes norte-americanas, foi ferido na cabeça e em seguida, estranhamente, sepultado no mar. As circunstâncias exatas da operação ainda são desconhecidas.
Ironicamente, a CIA, encarregada de conduzir a operação que liquidou Bin Laden, está estreitamente associada ao surgimento do terrorista. Pouco se falará a respeito, nos próximos dias, mas tanto o homem de barbas longas e olhar calmo quanto a própria Al Qaeda forma conscientemente criados pelos Estados Unidos, no contexto da disputa contra a União Soviética, na “guerra fria”.
Os fatos estão estão disponíveis em algumas publicações alternativas norte-americanas, entre as quais destacam-se, o site Z-Net, a revista The Nation. Para esta escreve Robert Fisk, um repórter veterano e especializado em questões de Oriente Médio. Ele fala com a autoridade de quem se encontrou várias vezes, na condição de jornalista, com Bin Laden.
A última delas, conta, foi em 1997, nas montanhas do Afeganistão. Avistou o saudita na pose e nos trajes em que aparece costumeiramente na imprensa ocidental. Roupas afegãs tradicionais, refestelado em sua caverna, ar tranqüilo. Bin Laden aparentou um conhecimento muito superficial sobre a situação do mundo. Atirou-se sobre o jornal que Fisk tinha consigo. Deu a entender que a leitura lhe trazia muitas novidades, mas abandonou a atividade depois de meia hora. Preferiu falar sobre sua crença na proteção que lhe seria assegurada por Alá.
Relatou os muitos episódios em que, ao enfrentar os ocupantes soviéticos do Afeganistão, salvou-se porque os foguetes que foram atirados sobre seus esconderijos deixaram de explodir. Afirmou não temer a morte, porque “como muçulmano, acredito que, quando morremos em combate, vamos para o Paraíso”. Mas não deixou, nem por um instante, o abrigo em que se encontrava. Fisk registra: era “uma relíquia dos dias em que combateu os soviéticos: um nicho de oito metros de altura escavado na rocha, à prova até mesmo de ataques de mísseis”.
Em nome da vitória sobre os soviéticos, acordo com os extremistas
Num outro texto — um artigo analítico assinado por Dilip Hiro, intitulado “O custo da ‘vitória’ afegã” - The Nation revive as circunstâncias da aliança que acabaria envolvendo Washington e Bin Laden. O cenário é o Afeganistão; a época, a última fase da Guerra Fria. Em 1979, um golpe militar havia levado ao poder grupos ligados à União Soviética (URSS). Anticomunista fervoroso, Zbigniew Brzezinsky, assessor de Segurança Nacional do então presidente Jimmy Carter, vislumbra uma oportunidade de passar da defesa ao ataque. Não quer apenas reinstalar em Kabul um governo aliado ao Ocidente. Pretende disseminar, entre as populações muçulmanas da URSS, um tipo de pensamento religioso capaz de incitá-las ao máximo contra o governo de Moscou.
The Nation frisa: havia alternativas, mesmo para os que, como o assessor de Segurança Nacional, estavam empenhados em promover a Guerra Fria. Exitiam no Afeganistão “diversos grupos seculares e nacionalistas opostos aos soviéticos”. Ao invés de apoiá-los, no entanto, a Casa Branca parte para o que julga ser uma cartada genial. Impulsiona as organizações afegãs mais fundamentalistas, reunidas, desde 1983, na Aliança Islâmica do Mujahedin Afegão (IAAM, em inglês).
Os instrutores valorizam ao máximo a guerra santa (Jihad) contra Moscou. A Casa Branca quer matar dois coelhos com uma só paulada. A suposta defesa do islamismo contra os ateus soviéticos serve para consolidar, no Paquistão, o poder de Zia ul-Haq, fiel aliado do Ocidente. O terceiro elo da coalizão é a Arábia Saudita, onde outro governo pró-americano, embora muito rico, necessita de reforço ideológico.
Ao longo de alguns anos, os príncipes sauditas serão convidados a “doar” 20 bilhões de dólares para a cruzada da IAAM. Através da CIA, os Estados Unidos comparecerão com mais US$ 20 bi. Os rios de dinheiro verde servirão para recurtar e formar guerrilheiros fanatizados e armá-los até os dentes. Fazem parte de seu arsenal mísseis anti-helicópteros que serão decisivos para enfrentar e vencer tanto o governo pró-URSS quanto as próprias tropas soviéticas, que, em favor de seu aliado, ocuparam o país em 1979.
Um milionário saudita adere a estranhos “lutadores da liberdade”
É esse clima de extremismo e intolerância suscitado por Washington que atrairá o saudita Osama bin Laden ao Afeganistão. No início dos anos 80, quando chegou ao país, ele era apenas o jovem herdeiro milionário de uma família de empresários do ramo da construção. Estava fascinado pela jihad patrocinada pelos EUA. Foi o primeiro saudita a aderir a ela, e levou consigo, ao longo do tempo, pelo menos 4 mil compatriotas.
Tornou-se líder dos “voluntários” no Afeganistão. Aproximou-se dos dirigentes do IAAM, que, graças ao apoio recebido da Casa Branca, constituiriam anos depois o governo Taliban. Construiu abrigos reforçados para depósito de armas, participou de ações guerrilheiras. Jamais lhe faltou apoio moral do Ocidente. O repórter Robert Fisk relata:
“Estava no Afeganistão em 1980, quando Laden chegou. Ainda tenho minhas notas de reportagem daqueles dias. Elas recordam que os guerrilheiros mujahedin queimavam escolas e cortavam as gargantas das professoras, porque o governo tinha decidido formar classes mistas, com meninos e meninas. O Times de Londres os chamava de ‘lutadores da liberdade’. Mais tarde, quando os mujahedins derrubaram (com um míssil inglês Blowpipe) um avião civil afegão com tripulação e 49 passageiros, o mesmo jornal os chamou de ‘rebeldes’. Estranhamente, a palavra ‘terroristas’ nunca foi usada para qualificá-los”
A partir de 1989, com o colapso do governo pró-soviético no Afeganistão e da própria União Soviética, os “voluntários” começaram a voltar a seus países. Ao retornarem ao mundo árabe, explica Dilip Hiro, formaram um grupo à parte, que se tornou conhecido como os “afegãos”. Tinham marcas muito características. A intolerância e o desprezo pela vida humana eram os mesmos cultivados sob comando e por determinação consciente dos Estados Unidos.
Haviam adquirido, nos anos da luta anti-soviética, alta capacitação em práticas terroristas. Eram, contudo, menos inexperientes do ponto de vista político. Passaram a observar que países como a Arábia Saudita e o Egito eram governados por elites tão submissas aos Estados Unidos quanto era subordinado aos soviéticos o governo afegão contra o qual lutaram.
A cobra volta-se contra o ninho em que se criou
A guerra do Golfo os voltou de vez contra Washington. Encerrada a campanha contra o Iraque, em 1991, a Casa Branca descumpriu a promessa de retirar da Arábia Saudita — país onde estão as cidades sagradas de Meca e Medina — as bases militares e os milhares de soldados mobilizados contra Saddan Hussein. Bin Laden e seus liderados lembraram que isso contraria a Sharia , lei islâmica.
Em 1993, o rei Fahd, talvez o mais fiel aliado dos EUA no mundo árabe, ainda cortejou o milionário, chegando a ponto de nomeá-lo para um Conselho Consultivo real. Em 94, depois de novos desentendimentos, Bin Laden foi expulso da Arábia Saudita. Em 96, declarou uma jihad contra a presença norte-americana no país. Afirmou então que “expulsar do ocupante americano é o mais importante dever dos muçulmanos, depois do dever da crença em Deus”.
Dois anos depois, uma declaração conjunta assinada por uma frente de organizações fundamentalistas formada por Bin Laden exortava: “A determinação de matar os americanos e seus aliados — civis e militares — é um dever individual para todo muçulmano que possa fazê-lo em qualquer país onde isso for possível, com objetivo de libertar de suas garras a Mesquita de Al-Aqsa [em Jerusalém] e a Mesquita Sagrada [Meca]. Isso está em consonância com as palavras de Deus todo poderoso”.
Em seu relato para The Nation, Robert Fisk lembra que Bin Laden não é o primeiro aliado com quem a Casa Branca se relaciona intimamente durante certo tempo, para mais tarde, quando já não necessita de seus serviços, acusá-lo — com ou sem motivos — de terrorista. Ele cita os casos de Saddan Hussein, visto como herói quando atacou com armas químicas o Irã; ou de Iasser Arafat, considerado “super-terrorista” quando liderava a luta pela libertação da Palestina e mais tarde “respeitável homem de Estado”, ao firmar com Israel acordos de paz jamais cumpridos.
Bastaria olhar para a América Latina para encontrar outros múltiplos exemplos de relações privilegiadas entre Washington e terroristas, praticantes de golpes de Estado, governantes tirânicos, corruptos, torturadores. Num outro sentido, menos direto, porém mais ameaçador, a aliança com o terror está, aliás, sendo reeditada neste exato momento. Bin Laden usa a opressão dos EUA e de Israel contra o mundo árabe como pretexto para justificar sua intolerância e atos criminosos.
Todas as declarações dos governantes norte-americanos feitas após os atentados de 11 de setembro indicam que a Casa Branca pretendem apoiar-se no risco real do terror para desencadear uma ofensiva militar e política que, se não for barrada, transformará o planeta num local muito mais violento, antidemocrático e desigual. Talvez por isso, as sociedades tenham o direito de dizer que, contra a barbárie dos extremistas e do Império, a única saída é a construção de um mundo novo.
A ordem formal para detonar o último esconderijo de Bin Laden foi dada por Barack Obama na manhã de sexta-feira, informou nesta manhã (2/5) o New York Times. Antes de rumar para o Alabama, onde acompanhou o socorro às vítimas de tornados violentos, o presidente determinou que forças especiais da central de inteligência dos EUA – a CIA desencadeassem o ataque. Instalado numa casa em Abbottabad, a apenas 50 quilômetros da capital do Paquistão, o líder da Al Qaeda teria resistido ao comando que o localizou. Segundo fontes norte-americanas, foi ferido na cabeça e em seguida, estranhamente, sepultado no mar. As circunstâncias exatas da operação ainda são desconhecidas.
Ironicamente, a CIA, encarregada de conduzir a operação que liquidou Bin Laden, está estreitamente associada ao surgimento do terrorista. Pouco se falará a respeito, nos próximos dias, mas tanto o homem de barbas longas e olhar calmo quanto a própria Al Qaeda forma conscientemente criados pelos Estados Unidos, no contexto da disputa contra a União Soviética, na “guerra fria”.
Os fatos estão estão disponíveis em algumas publicações alternativas norte-americanas, entre as quais destacam-se, o site Z-Net, a revista The Nation. Para esta escreve Robert Fisk, um repórter veterano e especializado em questões de Oriente Médio. Ele fala com a autoridade de quem se encontrou várias vezes, na condição de jornalista, com Bin Laden.
A última delas, conta, foi em 1997, nas montanhas do Afeganistão. Avistou o saudita na pose e nos trajes em que aparece costumeiramente na imprensa ocidental. Roupas afegãs tradicionais, refestelado em sua caverna, ar tranqüilo. Bin Laden aparentou um conhecimento muito superficial sobre a situação do mundo. Atirou-se sobre o jornal que Fisk tinha consigo. Deu a entender que a leitura lhe trazia muitas novidades, mas abandonou a atividade depois de meia hora. Preferiu falar sobre sua crença na proteção que lhe seria assegurada por Alá.
Relatou os muitos episódios em que, ao enfrentar os ocupantes soviéticos do Afeganistão, salvou-se porque os foguetes que foram atirados sobre seus esconderijos deixaram de explodir. Afirmou não temer a morte, porque “como muçulmano, acredito que, quando morremos em combate, vamos para o Paraíso”. Mas não deixou, nem por um instante, o abrigo em que se encontrava. Fisk registra: era “uma relíquia dos dias em que combateu os soviéticos: um nicho de oito metros de altura escavado na rocha, à prova até mesmo de ataques de mísseis”.
Em nome da vitória sobre os soviéticos, acordo com os extremistas
Num outro texto — um artigo analítico assinado por Dilip Hiro, intitulado “O custo da ‘vitória’ afegã” - The Nation revive as circunstâncias da aliança que acabaria envolvendo Washington e Bin Laden. O cenário é o Afeganistão; a época, a última fase da Guerra Fria. Em 1979, um golpe militar havia levado ao poder grupos ligados à União Soviética (URSS). Anticomunista fervoroso, Zbigniew Brzezinsky, assessor de Segurança Nacional do então presidente Jimmy Carter, vislumbra uma oportunidade de passar da defesa ao ataque. Não quer apenas reinstalar em Kabul um governo aliado ao Ocidente. Pretende disseminar, entre as populações muçulmanas da URSS, um tipo de pensamento religioso capaz de incitá-las ao máximo contra o governo de Moscou.
The Nation frisa: havia alternativas, mesmo para os que, como o assessor de Segurança Nacional, estavam empenhados em promover a Guerra Fria. Exitiam no Afeganistão “diversos grupos seculares e nacionalistas opostos aos soviéticos”. Ao invés de apoiá-los, no entanto, a Casa Branca parte para o que julga ser uma cartada genial. Impulsiona as organizações afegãs mais fundamentalistas, reunidas, desde 1983, na Aliança Islâmica do Mujahedin Afegão (IAAM, em inglês).
Os instrutores valorizam ao máximo a guerra santa (Jihad) contra Moscou. A Casa Branca quer matar dois coelhos com uma só paulada. A suposta defesa do islamismo contra os ateus soviéticos serve para consolidar, no Paquistão, o poder de Zia ul-Haq, fiel aliado do Ocidente. O terceiro elo da coalizão é a Arábia Saudita, onde outro governo pró-americano, embora muito rico, necessita de reforço ideológico.
Ao longo de alguns anos, os príncipes sauditas serão convidados a “doar” 20 bilhões de dólares para a cruzada da IAAM. Através da CIA, os Estados Unidos comparecerão com mais US$ 20 bi. Os rios de dinheiro verde servirão para recurtar e formar guerrilheiros fanatizados e armá-los até os dentes. Fazem parte de seu arsenal mísseis anti-helicópteros que serão decisivos para enfrentar e vencer tanto o governo pró-URSS quanto as próprias tropas soviéticas, que, em favor de seu aliado, ocuparam o país em 1979.
Um milionário saudita adere a estranhos “lutadores da liberdade”
É esse clima de extremismo e intolerância suscitado por Washington que atrairá o saudita Osama bin Laden ao Afeganistão. No início dos anos 80, quando chegou ao país, ele era apenas o jovem herdeiro milionário de uma família de empresários do ramo da construção. Estava fascinado pela jihad patrocinada pelos EUA. Foi o primeiro saudita a aderir a ela, e levou consigo, ao longo do tempo, pelo menos 4 mil compatriotas.
Tornou-se líder dos “voluntários” no Afeganistão. Aproximou-se dos dirigentes do IAAM, que, graças ao apoio recebido da Casa Branca, constituiriam anos depois o governo Taliban. Construiu abrigos reforçados para depósito de armas, participou de ações guerrilheiras. Jamais lhe faltou apoio moral do Ocidente. O repórter Robert Fisk relata:
“Estava no Afeganistão em 1980, quando Laden chegou. Ainda tenho minhas notas de reportagem daqueles dias. Elas recordam que os guerrilheiros mujahedin queimavam escolas e cortavam as gargantas das professoras, porque o governo tinha decidido formar classes mistas, com meninos e meninas. O Times de Londres os chamava de ‘lutadores da liberdade’. Mais tarde, quando os mujahedins derrubaram (com um míssil inglês Blowpipe) um avião civil afegão com tripulação e 49 passageiros, o mesmo jornal os chamou de ‘rebeldes’. Estranhamente, a palavra ‘terroristas’ nunca foi usada para qualificá-los”
A partir de 1989, com o colapso do governo pró-soviético no Afeganistão e da própria União Soviética, os “voluntários” começaram a voltar a seus países. Ao retornarem ao mundo árabe, explica Dilip Hiro, formaram um grupo à parte, que se tornou conhecido como os “afegãos”. Tinham marcas muito características. A intolerância e o desprezo pela vida humana eram os mesmos cultivados sob comando e por determinação consciente dos Estados Unidos.
Haviam adquirido, nos anos da luta anti-soviética, alta capacitação em práticas terroristas. Eram, contudo, menos inexperientes do ponto de vista político. Passaram a observar que países como a Arábia Saudita e o Egito eram governados por elites tão submissas aos Estados Unidos quanto era subordinado aos soviéticos o governo afegão contra o qual lutaram.
A cobra volta-se contra o ninho em que se criou
A guerra do Golfo os voltou de vez contra Washington. Encerrada a campanha contra o Iraque, em 1991, a Casa Branca descumpriu a promessa de retirar da Arábia Saudita — país onde estão as cidades sagradas de Meca e Medina — as bases militares e os milhares de soldados mobilizados contra Saddan Hussein. Bin Laden e seus liderados lembraram que isso contraria a Sharia , lei islâmica.
Em 1993, o rei Fahd, talvez o mais fiel aliado dos EUA no mundo árabe, ainda cortejou o milionário, chegando a ponto de nomeá-lo para um Conselho Consultivo real. Em 94, depois de novos desentendimentos, Bin Laden foi expulso da Arábia Saudita. Em 96, declarou uma jihad contra a presença norte-americana no país. Afirmou então que “expulsar do ocupante americano é o mais importante dever dos muçulmanos, depois do dever da crença em Deus”.
Dois anos depois, uma declaração conjunta assinada por uma frente de organizações fundamentalistas formada por Bin Laden exortava: “A determinação de matar os americanos e seus aliados — civis e militares — é um dever individual para todo muçulmano que possa fazê-lo em qualquer país onde isso for possível, com objetivo de libertar de suas garras a Mesquita de Al-Aqsa [em Jerusalém] e a Mesquita Sagrada [Meca]. Isso está em consonância com as palavras de Deus todo poderoso”.
Em seu relato para The Nation, Robert Fisk lembra que Bin Laden não é o primeiro aliado com quem a Casa Branca se relaciona intimamente durante certo tempo, para mais tarde, quando já não necessita de seus serviços, acusá-lo — com ou sem motivos — de terrorista. Ele cita os casos de Saddan Hussein, visto como herói quando atacou com armas químicas o Irã; ou de Iasser Arafat, considerado “super-terrorista” quando liderava a luta pela libertação da Palestina e mais tarde “respeitável homem de Estado”, ao firmar com Israel acordos de paz jamais cumpridos.
Bastaria olhar para a América Latina para encontrar outros múltiplos exemplos de relações privilegiadas entre Washington e terroristas, praticantes de golpes de Estado, governantes tirânicos, corruptos, torturadores. Num outro sentido, menos direto, porém mais ameaçador, a aliança com o terror está, aliás, sendo reeditada neste exato momento. Bin Laden usa a opressão dos EUA e de Israel contra o mundo árabe como pretexto para justificar sua intolerância e atos criminosos.
Todas as declarações dos governantes norte-americanos feitas após os atentados de 11 de setembro indicam que a Casa Branca pretendem apoiar-se no risco real do terror para desencadear uma ofensiva militar e política que, se não for barrada, transformará o planeta num local muito mais violento, antidemocrático e desigual. Talvez por isso, as sociedades tenham o direito de dizer que, contra a barbárie dos extremistas e do Império, a única saída é a construção de um mundo novo.
As ligações dos Bush com os Bin Laden
Reproduzo artigo publicado no sítio português Resistir em maio de 2002:
A notícia chegou a 26 de outubro de 2001, em meio a indiferença geral, num despacho lacônico da agência Associated Press: a família Bin Laden retirava seus 2,02 milhões de dólares de investimentos da sociedade Carlyle Group. O anúncio seguia-se a um artigo de página inteira, publicado a 27 de setembro de 2001 no Wall Street Journal, referente a uma participação financeira da família Bin Laden neste grupo. Mas nenhum outro veículo da mídia interessou-se realmente por esta informação.
O que é o Carlyle Group?
Trata-se de uma companhia de investidores privados, pouco conhecida do grande público, que gere cerca de 13 mil milhões de dólares de investimentos em diferentes sociedades de armamento, de telecomunicações e de laboratórios farmacêuticos. Um complexo financeiro tentacular. Dentre as quatro sociedades mais importantes detidas por este grupo nebuloso, constam:
— Empi, Inc (atividade principal: medicamentos e produtos médicos. Faturamento em 2000: US$ 73 milhões);
— Medpointe, Inc (atividade principal: medicamentos e preservativos. Faturamento estimado em 2001: US$ 223 milhões);
— United Defense Industries, Inc (atividade principal: fabricação de tanques e de veículos blindados para o exército americano ou para exportação. Faturamento em 2000: US$ 1,18 mil milhões);
— United States Marine Repair, a maior companhia americana de navios de guerra não nucleares (faturamento em 2000: US$ 400 mil milhões) [1].
O conjunto destas atividades ligadas ao armamento ou à defesa torna o Carlyle Group um dos mais importantes fornecedores do Pentágono. Grande parte destas encomendas dependem entretanto da boa vontade da administração. Mas esta sociedade discreta não se limita apenas a atuar no armamento americano. Em 14 anos de existência ela estendeu seu poder financeiro a todo o mundo, onde os investimentos fossem lucrativos.
Hoje, o conglomerado Carlyle controla mais de 160 sociedades, em 55 países, e possui um escritório em França, localizado na Av. Kléber, 112, em Paris. Sua filial francesa salientou-se em Junho de 2000 ao tomar partes da holding financeira do Figaro, sob as barbas de Serge Dassault, que cobiçava o título para si próprio. Do outro lado do Atlântico, o patrão mor do Carlyle Group não é senão Franck Carlucci, antigo secretário de Estado da Defesa sob Ronald Reagan, entre 1987 e 1989 e embaixador em Lisboa em 1974-75, durante a Revolução Portuguesa. Mas esta familiaridade política não é o mais espantoso.
A firma também emprega, a tempo inteiro ou para operações temporárias de relações públicas, Georges Bush (antigo presidente dos EUA e pai do actual racha-talibans), John Major (ex-primeiro ministro da Grã Bretanha), Karl Otto Pohl (ex-presidente do Bundesbank), Fidel Ramos (ex-presidente das Filipinas), Arthur Levitt (ex-presidente da Security Exchange Commission), e James Baker (antigo secretário de Estado de Bush senior) [2]. Em suma, a nata mundial dos grandes decisores... E até 26 de outubro de 2001 a família do homem mais procurado do planeta também fazia parte deste alegre conjunto!
É evidente que não se poderia acusar todos os membros da família de financiar o terrorismo islâmico. Mas em contrapartida é certo que nem todos os membros cortaram os laços com Osama. Pode-se apostar que se o Carlyle Group emprega todas estas figuras de proa da geopolítica mundial (cujos salários são evidentemente mantidos secretos) é para aproveitar das suas vastas agendas de endereços, e assegurar os contactos internacionais necessários aos seus domínios de actividade a fim de alcançar uma bela facturação. Com o pretexto de esta ser uma época tormentosa, o exército americano acaba, por exemplo, de pedir ao Congresso uns 500 milhões de dólares a fim de encomendar o seu novo brinquedo: o tanque Crusader, de que tem necessidade para futuras operações terrestres.
E quem fabrica os tanques Crusader?
Adivinhou: a empresa United Defense Industries, Inc, e portanto o Carlyle Group! O Congresso americano está em vias de debater a oportunidade deste investimento pesado (pago pelos contribuintes) e as conversações estão em curso... Assim, graças a investimentos diversificados e muito sumarentos, os accionistas do Carlyle beneficiam de um retorno sobre o investimento de 34% ao ano. Algo nunca visto neste tipo de actividade.
Com uma tal rentabilidade, mantida desde a criação do grupo, esperar-se-ia ver todos os analistas financeiros do planeta aconselharem a compra de títulos Carlyle. Mas isso não acontece, e por uma razão muito simples: o Carlyle Group não está cotado em bolsa. Uma opção espantosa para uma entidade deste porte...
Mas só à primeira vista. Está fora de causa, para os grandes trutas do Carlyle, deixar o accionista médio aproveitar de um tal maná. Outra vantagem, que não é das menores: colocando-se fora do circuito bolseiro, o grupo não é obrigado a divulgar à Security Exchange Comission (a comissão americana encarregada de verificar a regularidade das operações bolsistas) o nome dos seus associados (e particularmente dos accionistas incómodos, como o clã Bin Laden) nem as suas fatias respectivas.
Esta atitude é também o melhor meio de dissimular o pormenor das atividades, que poderiam ofuscar muita gente. Com efeito, cada vez que Bush Junior passa a encomenda de um tanque ou de um navio a uma sociedade do grupo Carlyle, em nome da defesa americana, é Bush Senior que passa pela caixa, para receber outro punhado de dólares, bem como os Bin Laden, que durante todos esses anos embolsaram os seus 34% de dividendos anuais.
O Carlyle Group prosperava tranquilamente na sombra, até que dois organismos governamentais, o Judicial Watch e o Center for Public Integrity, insurgiram-se contra a situação. Estas duas associações, que vasculham as milhares de páginas entregues pelo Congresso todos os anos, bem como os documentos desclassificados da CIA ou do FBI, denunciaram o estado de coisas [3] relatado pelo Wall Street Journal e pela BBC. É claro que uma tal notícia fez o Carlyle sair do seu mutismo. A família Bin Laden (excepto o maldoso Ussama, naturalmente) é constituída por pessoas respeitáveis informaram com a mão no coração os dirigentes do Carlyle Group e também Arabella Burton, secretária particular de John Major, quando a notícia se tornou conhecida.
Então por que é que eles retiraram os seus investimentos no Carlyle? Georges Bush pai viajou pelo menos duas vezes, em outubro de 1998 e em 2000, a Jeddah, a sede familiar dos Bin Laden, na Arábia Saudita. Será que lhes pediu notícias de Osama, ou simplesmente um cheque? Após as revelações do Wall Street Journal , Jean Becker, porta-voz de Bush Senior, declarou primeiro que Bush Sr. havia encontrado a família Bin Laden uma vez, e a seguir, no dia seguinte: "Depois de ter visto as notas do ex-presidente" ... "O ex-presidente Bush não tem relação com a família Bin Laden. Ele encontrou-se com eles duas vezes". Somente duas? Segundo o Figaro de 31 de outubro de 2001, Osama Bin Laden foi internado no hospital americano de Dubai a 14 de Julho de 2001 para uma operação dos rins e recebeu a visita de um responsável da CIA e de vários membros da sua família (para a qual, recorde-se, ele é a ovelha negra e com a qual é suposto ter cortado todos os laços).
Estes membros da família seriam daqueles que possuíam fatias do Carlyle Group? Mistério, tão complexa é a família Bin Laden. Finalmente, a 7 de novembro de 2001, The Guardian revelava que certos responsáveis do FBI queixavam-se de que "por razões políticas, todas as suas investigações sobre a família Bin Laden haviam sido paralisadas, sobretudo desde que Georges W. Bush tornara-se presidente".
Estas investigações referiam-se a dois irmãos de Osama Bin Laden, Omar e Abdullah, devido à sua relação com a Assembleia Mundial da Juventude Muçulmana, que faz parte das associações suspeitas de financiar o terrorismo. Estariam eles entre os 24 membros da família Bin Laden residentes nos Estados Unidos, que desapareceram (sob a supervisão do FBI!) do aeroporto de Washington a 14 de setembro de 2001, três dias depois dos atentados [4]? Mistério, a lisa completa dos passageiros não foi publicada.
É preciso dizer que as ligações entre a família Bush e o Médio Oriente são antigas, profundas e lucrativas. Não foi a sociedade de Georges Bush Jr, Harken, que obteve a exploração exclusiva do gás e do petróleo do emirato do Bahrein por 35 anos, apesar de não ter nenhuma experiência em perfurações off-shore? Algumas grandes petroleiras (inclusive a Amocco, que estava na competição) perceberam então que Bush Senior, então presidente, não estava ali à toa.
A 22 de junho de 1990, algumas semanas antes que o papá Bush desencadeasse a Tempestade do Deserto, Bush Jr. liquidava sua participação na Harken por US$ 850 mil. Uma semana depois a Harken anunciava perdas recordes de US$ 23 milhões. A partir da invasão, o título caiu a pique... "Pura sorte", comentou Júnior [5], esquecendo-se a propósito de declarar à SEC esta cessão. Interrogado pela mesma SEC oito meses depois acerca do esquecimento ele precisa que a SEC havia certamente perdido a folha de declaração [6].
Dentre os associados de Georges Bush Júnior figurava um personagem enxofrado chamado Khalid Bin Mafhouz. Seu nome está associado ao escândalo do BCCI (bancarrota em que 12 mil milhões de dólares desapareceram como fumaça), do qual ele possuía 20% do capital. Ele foi reconhecido culpável de dissimulação fiscal e teve de pagar uma multa de US$ 225 milhões, além de uma interdição por toda a vida de exercer uma profissão bancária nos Estados Unidos.
Durante o inquérito efetuado para este processo, verificou-se que a CIA havia utilizado este banco para financiar certas operações obscuras, misturando droga e tráfico de armas, tudo evidentemente coberto pelo segredo de Estado. Em 1987, Khalid Bin Mahfouz adquiria 11,5% da Harken, a sociedade presidida por Georges Bush Jr. através do seu homem de negócios nos Estados Unidos, Abdullah Taha Bakksh [7].
No Conselho de Administração do Carlyle encontrava-se até ao ano passado Sami Baarma, director da Prime Commercial Bank do Paquistão, do qual Bin Mahfouz é o patrão. Melhor ainda, James Bath, amigo do mesmo regimento de Georges W. Bush Júnior e filho de uma grande família petroleira texana, foi um dos primeiros investidores no negócios petroleiro de Bush Júnior, uma vez que detinha 5% das suas duas primeiras sociedades, Arbusto 79 e Arbusto 80.
Ora, desde 1976 James Bath era o representante nos EUA de Salem Bin Laden, o irmão mais velho de Osama, que morrerá num acidente de avião tal como o seu pai, o fundador da dinastia! Processado por um antigo sócio, ele testemunhou sob juramento em 1992 e confirmou estes factos. O FINCEN (Financial Crime Enforcement Network) investigava então a sociedade de Bath, Ventures Corp, Inc e supeitava que ela facilitasse tomadas de controlo de companhias a fim de influenciar a política externa americana [8].
Depois de negar tê-lo conhecido, Georges W. Bush finalmente reconheceu que ambos haviam efetuado vagos negócios conjuntos. Isto foi divulgado durante as primárias republicanas para a eleição presidencial que Bush ganhou na Florida nas condições que se sabe [9]. Quanto a Khalid Bin Mafhouz, foi preso em 3 de agosto de 2000, a pedido da Administração Clinton, e colocado sob mandato de prisão no hospital militar de Taef, na Arábia Saudita. Desde então, ninguém sabe o que se passou. Bin Mahfouz, é preciso dizer, faz parte das pessoas procuradas por apoio à organização Al Qaeda, através de organizações humanitárias islâmicas.
O que resulta de tudo isto? Na operação liberdade imutável, quem são os bons e quem são os maus? Os mariners americanos que desembarcam no Afeganistão saberão quais os interesses porque arriscam a sua pele? Têm os governos europeus conhecimento destas informações? Por que Bush Jr, como exigem com insistência o Judicial Watch e o Center for Public Integrity, não pede ao seu pai para acabar com todos os contactos com a Carlyle? Khalid Bin Mahfouz já estará no fundo do Mar Vermelho? Por que George W. Bush esperou quinze dias para levantar a lista das organizações suspeitas cujos haveres deveriam ser congelados nos Estados Unidos e alhures? Na era das transações bancárias e anónimas instantâneas, estes quinze dias são uma eternidade.
Grosso modo, por uma única razão: neste nível de imbricação de interesses privados e pessoais, Bush nada pode fazer ou dizer. Ele não pode senão pregar uma cruzada do mundo livre contra os infames integristas barbudos, que impedem os grupos petroleiros de contruir o oleoduto vital que encaminharia o petróleo das imensas reservas do Cáspio para o Mar Vermelho. Basta olhar um mapa da região para ficar convencido.
E para o caso altamente improvável de se capturar Bin Laden vivo, George W. Bush acaba de inventar um tribunal militar de excepção, ao abrigo da imprensa e dos curiosos, evidentemente por razões de segurança nacional. Osama poderia mostrar fotos do churrasco de carneiro familiar, com Bush Sénior sentado no tapete. Que fazer? Que fazer para que o mais influente país do mundo deixe de ser dirigido por pessoas cuja carteira de acções engorda cada vez que arrebenta uma guerra no planeta?
Até o 11 de setembro, tudo era perfeito. A guerra desenrolava-se em casa dos outros, aos quais bastava armar, direta ou indiretamente, embolsando pelo caminho as comissões das vendas de armas. A partir do 11 de setembro, pela primeira vez desde 1865, o conflito pode desenrolar-se também no solo dos EUA. O povo americano, particularmente as famílias das vítimas dos atentados, tem o direito de perguntar o porque ao seu presidente.
Notas
[1] Ver Hoover's Online.
[2] The Guardian.
[3] Voir Judicial Watch et Center for Public Integrity.
[4] Scoop, agencia de imprensa da Nova Zelândia, com sede em Wellington.
[5] US News and World Report, 1992.
[6] The Nation, 26 avril 1999.
[7] Intelligence News Letter, 2 mars 2000.
[8] Houston Chronicle, 4 juin 1992.
[9] Time Magazine.
A notícia chegou a 26 de outubro de 2001, em meio a indiferença geral, num despacho lacônico da agência Associated Press: a família Bin Laden retirava seus 2,02 milhões de dólares de investimentos da sociedade Carlyle Group. O anúncio seguia-se a um artigo de página inteira, publicado a 27 de setembro de 2001 no Wall Street Journal, referente a uma participação financeira da família Bin Laden neste grupo. Mas nenhum outro veículo da mídia interessou-se realmente por esta informação.
O que é o Carlyle Group?
Trata-se de uma companhia de investidores privados, pouco conhecida do grande público, que gere cerca de 13 mil milhões de dólares de investimentos em diferentes sociedades de armamento, de telecomunicações e de laboratórios farmacêuticos. Um complexo financeiro tentacular. Dentre as quatro sociedades mais importantes detidas por este grupo nebuloso, constam:
— Empi, Inc (atividade principal: medicamentos e produtos médicos. Faturamento em 2000: US$ 73 milhões);
— Medpointe, Inc (atividade principal: medicamentos e preservativos. Faturamento estimado em 2001: US$ 223 milhões);
— United Defense Industries, Inc (atividade principal: fabricação de tanques e de veículos blindados para o exército americano ou para exportação. Faturamento em 2000: US$ 1,18 mil milhões);
— United States Marine Repair, a maior companhia americana de navios de guerra não nucleares (faturamento em 2000: US$ 400 mil milhões) [1].
O conjunto destas atividades ligadas ao armamento ou à defesa torna o Carlyle Group um dos mais importantes fornecedores do Pentágono. Grande parte destas encomendas dependem entretanto da boa vontade da administração. Mas esta sociedade discreta não se limita apenas a atuar no armamento americano. Em 14 anos de existência ela estendeu seu poder financeiro a todo o mundo, onde os investimentos fossem lucrativos.
Hoje, o conglomerado Carlyle controla mais de 160 sociedades, em 55 países, e possui um escritório em França, localizado na Av. Kléber, 112, em Paris. Sua filial francesa salientou-se em Junho de 2000 ao tomar partes da holding financeira do Figaro, sob as barbas de Serge Dassault, que cobiçava o título para si próprio. Do outro lado do Atlântico, o patrão mor do Carlyle Group não é senão Franck Carlucci, antigo secretário de Estado da Defesa sob Ronald Reagan, entre 1987 e 1989 e embaixador em Lisboa em 1974-75, durante a Revolução Portuguesa. Mas esta familiaridade política não é o mais espantoso.
A firma também emprega, a tempo inteiro ou para operações temporárias de relações públicas, Georges Bush (antigo presidente dos EUA e pai do actual racha-talibans), John Major (ex-primeiro ministro da Grã Bretanha), Karl Otto Pohl (ex-presidente do Bundesbank), Fidel Ramos (ex-presidente das Filipinas), Arthur Levitt (ex-presidente da Security Exchange Commission), e James Baker (antigo secretário de Estado de Bush senior) [2]. Em suma, a nata mundial dos grandes decisores... E até 26 de outubro de 2001 a família do homem mais procurado do planeta também fazia parte deste alegre conjunto!
É evidente que não se poderia acusar todos os membros da família de financiar o terrorismo islâmico. Mas em contrapartida é certo que nem todos os membros cortaram os laços com Osama. Pode-se apostar que se o Carlyle Group emprega todas estas figuras de proa da geopolítica mundial (cujos salários são evidentemente mantidos secretos) é para aproveitar das suas vastas agendas de endereços, e assegurar os contactos internacionais necessários aos seus domínios de actividade a fim de alcançar uma bela facturação. Com o pretexto de esta ser uma época tormentosa, o exército americano acaba, por exemplo, de pedir ao Congresso uns 500 milhões de dólares a fim de encomendar o seu novo brinquedo: o tanque Crusader, de que tem necessidade para futuras operações terrestres.
E quem fabrica os tanques Crusader?
Adivinhou: a empresa United Defense Industries, Inc, e portanto o Carlyle Group! O Congresso americano está em vias de debater a oportunidade deste investimento pesado (pago pelos contribuintes) e as conversações estão em curso... Assim, graças a investimentos diversificados e muito sumarentos, os accionistas do Carlyle beneficiam de um retorno sobre o investimento de 34% ao ano. Algo nunca visto neste tipo de actividade.
Com uma tal rentabilidade, mantida desde a criação do grupo, esperar-se-ia ver todos os analistas financeiros do planeta aconselharem a compra de títulos Carlyle. Mas isso não acontece, e por uma razão muito simples: o Carlyle Group não está cotado em bolsa. Uma opção espantosa para uma entidade deste porte...
Mas só à primeira vista. Está fora de causa, para os grandes trutas do Carlyle, deixar o accionista médio aproveitar de um tal maná. Outra vantagem, que não é das menores: colocando-se fora do circuito bolseiro, o grupo não é obrigado a divulgar à Security Exchange Comission (a comissão americana encarregada de verificar a regularidade das operações bolsistas) o nome dos seus associados (e particularmente dos accionistas incómodos, como o clã Bin Laden) nem as suas fatias respectivas.
Esta atitude é também o melhor meio de dissimular o pormenor das atividades, que poderiam ofuscar muita gente. Com efeito, cada vez que Bush Junior passa a encomenda de um tanque ou de um navio a uma sociedade do grupo Carlyle, em nome da defesa americana, é Bush Senior que passa pela caixa, para receber outro punhado de dólares, bem como os Bin Laden, que durante todos esses anos embolsaram os seus 34% de dividendos anuais.
O Carlyle Group prosperava tranquilamente na sombra, até que dois organismos governamentais, o Judicial Watch e o Center for Public Integrity, insurgiram-se contra a situação. Estas duas associações, que vasculham as milhares de páginas entregues pelo Congresso todos os anos, bem como os documentos desclassificados da CIA ou do FBI, denunciaram o estado de coisas [3] relatado pelo Wall Street Journal e pela BBC. É claro que uma tal notícia fez o Carlyle sair do seu mutismo. A família Bin Laden (excepto o maldoso Ussama, naturalmente) é constituída por pessoas respeitáveis informaram com a mão no coração os dirigentes do Carlyle Group e também Arabella Burton, secretária particular de John Major, quando a notícia se tornou conhecida.
Então por que é que eles retiraram os seus investimentos no Carlyle? Georges Bush pai viajou pelo menos duas vezes, em outubro de 1998 e em 2000, a Jeddah, a sede familiar dos Bin Laden, na Arábia Saudita. Será que lhes pediu notícias de Osama, ou simplesmente um cheque? Após as revelações do Wall Street Journal , Jean Becker, porta-voz de Bush Senior, declarou primeiro que Bush Sr. havia encontrado a família Bin Laden uma vez, e a seguir, no dia seguinte: "Depois de ter visto as notas do ex-presidente" ... "O ex-presidente Bush não tem relação com a família Bin Laden. Ele encontrou-se com eles duas vezes". Somente duas? Segundo o Figaro de 31 de outubro de 2001, Osama Bin Laden foi internado no hospital americano de Dubai a 14 de Julho de 2001 para uma operação dos rins e recebeu a visita de um responsável da CIA e de vários membros da sua família (para a qual, recorde-se, ele é a ovelha negra e com a qual é suposto ter cortado todos os laços).
Estes membros da família seriam daqueles que possuíam fatias do Carlyle Group? Mistério, tão complexa é a família Bin Laden. Finalmente, a 7 de novembro de 2001, The Guardian revelava que certos responsáveis do FBI queixavam-se de que "por razões políticas, todas as suas investigações sobre a família Bin Laden haviam sido paralisadas, sobretudo desde que Georges W. Bush tornara-se presidente".
Estas investigações referiam-se a dois irmãos de Osama Bin Laden, Omar e Abdullah, devido à sua relação com a Assembleia Mundial da Juventude Muçulmana, que faz parte das associações suspeitas de financiar o terrorismo. Estariam eles entre os 24 membros da família Bin Laden residentes nos Estados Unidos, que desapareceram (sob a supervisão do FBI!) do aeroporto de Washington a 14 de setembro de 2001, três dias depois dos atentados [4]? Mistério, a lisa completa dos passageiros não foi publicada.
É preciso dizer que as ligações entre a família Bush e o Médio Oriente são antigas, profundas e lucrativas. Não foi a sociedade de Georges Bush Jr, Harken, que obteve a exploração exclusiva do gás e do petróleo do emirato do Bahrein por 35 anos, apesar de não ter nenhuma experiência em perfurações off-shore? Algumas grandes petroleiras (inclusive a Amocco, que estava na competição) perceberam então que Bush Senior, então presidente, não estava ali à toa.
A 22 de junho de 1990, algumas semanas antes que o papá Bush desencadeasse a Tempestade do Deserto, Bush Jr. liquidava sua participação na Harken por US$ 850 mil. Uma semana depois a Harken anunciava perdas recordes de US$ 23 milhões. A partir da invasão, o título caiu a pique... "Pura sorte", comentou Júnior [5], esquecendo-se a propósito de declarar à SEC esta cessão. Interrogado pela mesma SEC oito meses depois acerca do esquecimento ele precisa que a SEC havia certamente perdido a folha de declaração [6].
Dentre os associados de Georges Bush Júnior figurava um personagem enxofrado chamado Khalid Bin Mafhouz. Seu nome está associado ao escândalo do BCCI (bancarrota em que 12 mil milhões de dólares desapareceram como fumaça), do qual ele possuía 20% do capital. Ele foi reconhecido culpável de dissimulação fiscal e teve de pagar uma multa de US$ 225 milhões, além de uma interdição por toda a vida de exercer uma profissão bancária nos Estados Unidos.
Durante o inquérito efetuado para este processo, verificou-se que a CIA havia utilizado este banco para financiar certas operações obscuras, misturando droga e tráfico de armas, tudo evidentemente coberto pelo segredo de Estado. Em 1987, Khalid Bin Mahfouz adquiria 11,5% da Harken, a sociedade presidida por Georges Bush Jr. através do seu homem de negócios nos Estados Unidos, Abdullah Taha Bakksh [7].
No Conselho de Administração do Carlyle encontrava-se até ao ano passado Sami Baarma, director da Prime Commercial Bank do Paquistão, do qual Bin Mahfouz é o patrão. Melhor ainda, James Bath, amigo do mesmo regimento de Georges W. Bush Júnior e filho de uma grande família petroleira texana, foi um dos primeiros investidores no negócios petroleiro de Bush Júnior, uma vez que detinha 5% das suas duas primeiras sociedades, Arbusto 79 e Arbusto 80.
Ora, desde 1976 James Bath era o representante nos EUA de Salem Bin Laden, o irmão mais velho de Osama, que morrerá num acidente de avião tal como o seu pai, o fundador da dinastia! Processado por um antigo sócio, ele testemunhou sob juramento em 1992 e confirmou estes factos. O FINCEN (Financial Crime Enforcement Network) investigava então a sociedade de Bath, Ventures Corp, Inc e supeitava que ela facilitasse tomadas de controlo de companhias a fim de influenciar a política externa americana [8].
Depois de negar tê-lo conhecido, Georges W. Bush finalmente reconheceu que ambos haviam efetuado vagos negócios conjuntos. Isto foi divulgado durante as primárias republicanas para a eleição presidencial que Bush ganhou na Florida nas condições que se sabe [9]. Quanto a Khalid Bin Mafhouz, foi preso em 3 de agosto de 2000, a pedido da Administração Clinton, e colocado sob mandato de prisão no hospital militar de Taef, na Arábia Saudita. Desde então, ninguém sabe o que se passou. Bin Mahfouz, é preciso dizer, faz parte das pessoas procuradas por apoio à organização Al Qaeda, através de organizações humanitárias islâmicas.
O que resulta de tudo isto? Na operação liberdade imutável, quem são os bons e quem são os maus? Os mariners americanos que desembarcam no Afeganistão saberão quais os interesses porque arriscam a sua pele? Têm os governos europeus conhecimento destas informações? Por que Bush Jr, como exigem com insistência o Judicial Watch e o Center for Public Integrity, não pede ao seu pai para acabar com todos os contactos com a Carlyle? Khalid Bin Mahfouz já estará no fundo do Mar Vermelho? Por que George W. Bush esperou quinze dias para levantar a lista das organizações suspeitas cujos haveres deveriam ser congelados nos Estados Unidos e alhures? Na era das transações bancárias e anónimas instantâneas, estes quinze dias são uma eternidade.
Grosso modo, por uma única razão: neste nível de imbricação de interesses privados e pessoais, Bush nada pode fazer ou dizer. Ele não pode senão pregar uma cruzada do mundo livre contra os infames integristas barbudos, que impedem os grupos petroleiros de contruir o oleoduto vital que encaminharia o petróleo das imensas reservas do Cáspio para o Mar Vermelho. Basta olhar um mapa da região para ficar convencido.
E para o caso altamente improvável de se capturar Bin Laden vivo, George W. Bush acaba de inventar um tribunal militar de excepção, ao abrigo da imprensa e dos curiosos, evidentemente por razões de segurança nacional. Osama poderia mostrar fotos do churrasco de carneiro familiar, com Bush Sénior sentado no tapete. Que fazer? Que fazer para que o mais influente país do mundo deixe de ser dirigido por pessoas cuja carteira de acções engorda cada vez que arrebenta uma guerra no planeta?
Até o 11 de setembro, tudo era perfeito. A guerra desenrolava-se em casa dos outros, aos quais bastava armar, direta ou indiretamente, embolsando pelo caminho as comissões das vendas de armas. A partir do 11 de setembro, pela primeira vez desde 1865, o conflito pode desenrolar-se também no solo dos EUA. O povo americano, particularmente as famílias das vítimas dos atentados, tem o direito de perguntar o porque ao seu presidente.
Notas
[1] Ver Hoover's Online.
[2] The Guardian.
[3] Voir Judicial Watch et Center for Public Integrity.
[4] Scoop, agencia de imprensa da Nova Zelândia, com sede em Wellington.
[5] US News and World Report, 1992.
[6] The Nation, 26 avril 1999.
[7] Intelligence News Letter, 2 mars 2000.
[8] Houston Chronicle, 4 juin 1992.
[9] Time Magazine.
Bin Laden e o espetáculo da mesmice
Reproduzo artigo de Antonio Lassance, publicado no sítio Carta Maior:
O assassinato de Osama Bin-Laden foi planejado há quase uma semana, quando já havia informações seguras do paradeiro do terrorista saudita que aprendeu muito do que sabia, em termos militares, graças ao treinamento que recebeu da CIA, quando era um guerrilheiro lutando no Afeganistão ao lado dos Mujahideen, contra a ocupação soviética.
Após um “breaking news” (“notícia de última hora”) da TV comercial mais oficial do Planeta, a CNN (a preferida por Obama, que trava guerra com a emissora rival, Fox News, reduto da ultradireita), seguiu-se um imediato pronunciamento do presidente. Poucas horas depois, o corpo do terrorista já estava debaixo d’água.
O furor causado pela morte de Bin Laden pode ofuscar o essencial: trata-se apenas de mais um ponto na longa lista de tarefas que Obama herdou da agenda republicana, e que a tem cumprido de bom grado.
Analistas de todas as áreas de políticas públicas apontam para a falta de uma agenda distinta, do governo Obama, capaz de honrar o compromisso de mudança apregoado em 2008. Paul Krugman, economista laureado com o Nobel, desde 2009 reclama da obsessão do atual governo com o tamanho do déficit público, a seu ver, exagerada, contraproducente e inadministrável no curto prazo. Não que a dívida não seja grande, mas em 2009 e 2010 ela esteve longe de ser o principal problema, diante da crise que se atravessava e suas consequências mais graves, como o desemprego em massa e o aumento extraordinário da pobreza naquele país.
Mesmo em termos da regulação econômica sobre o mercado financeiro se fez pouco. Apesar de toda a ousadia do discurso de campanha, feito sob medida para Obama conquistar fatias do eleitorado desesperadas com a crise, o que se fez saiu a fórceps, sob pressão da opinião pública. Há indícios de que o mercado financeiro continua cheio de novidades vendidas com a promessa de ganhos fáceis e rápidos.
Na saúde, sua reforma aprovada é um avanço em relação ao governo Bush, mas, cá entre nós, se Obama estivesse em coma, já estaria em vantagem quanto a Bush. O plano de saúde organizado pelo governo federal funciona com base nas mesmas regras do sistema privado. O cidadão norte-americano passa agora a ser obrigado a ter um plano de saúde, quer queira, quer não, e terá auxílios ou descontos no imposto de renda para mantê-los. A obrigação é fixa. O apoio do governo, variável, conforme o presidente de plantão.
Parece ótimo quando se vê que o custeio desta ampliação da cobertura de saúde está previsto para ser feito com impostos sobre “os mais ricos”. Mas os ainda mais ricos podem se beneficiar bastante. Lembre-se que a General Motors, um dos símbolos da crise recente, gasta mais com planos de saúde para seus funcionários do que com a compra de chapas metálicas para a fabricação de seus carros. Enquanto isso, a questão mais importante, que é a ausência de um sistema público de saúde, continua fora do debate.
Na educação, meio-ambiente, energia, dentre tantas outras, Obama tem seguido duas estratégias fundamentais. A primeira é priorizar agendas que por lá são chamadas de “bipartidárias”, ou seja, que podem contar com apoio também dos republicanos. A segunda, mesmo quando não há consenso, é enfrentar o debate com os conservadores com argumentos feitos para liberal algum botar defeito, ou seja, utilizando-se de soluções orientadas pelo mercado.
Com isso, Obama tem aprofundado uma tendência crucial no quadro político dos EUA. Os republicanos, para se diferenciarem, tornam-se cada vez mais ultradireitistas, ultraelitistas, ultramoralistas, ultranacionalistas e mais uma série de atributos começados com “ultra” e terminados com “istas”.
O partido se apegou aos extremamente ricos, que financiam o núcleo duro do movimento de ultradireita (“Tea Party”), e à classe média alta, que está insatisfeita em ter que pagar as cortesias feitas por Obama. Os republicanos têm se valido inclusive da ajuda de empresas que intimidam seus empregados a votarem em candidatos por ela indicados, como recentemente a revista “The Nation” reportou, em acusação às Indústrias Koch .
Os Democratas se fixam na classe média que luta para se manter enquanto tal, ou na ex-classe média, que viu sua renda despencar e quer retornar à posição que ostentava antes da crise. Tudo isso sem desagradar aos muito ricos que financiam suas campanhas eleitorais. Tornaram-se, como se tem dito, republicanos moderados, cumpridores da agenda que seus adversários deixaram pelo meio do caminho.
O debate político gira em torno de quem consegue fazer mais do mesmo.
Neste sentido, Obama acaba de ganhar um belo troféu no quesito “guerra ao terror”, com a morte de Bin Laden. O alerta sobre possíveis atentados que se podem seguir recoloca o tema no centro das preocupações dos americanos, o que minimiza os resultados pífios da administração Obama em várias áreas. E tudo aconteceu no momento certo para aumentar o favoritismo do presidente para as próximas eleições. Tudo com uma ajuda involuntária dos candidatos da oposição, que são pouco competitivos, se metem em encrencas banais, e seu discurso muitas vezes assusta, de tão raivoso.
Ou seja, tudo vai bem no país onde esquecer o povão é, há muitos anos, o principal programa de governo de ambos os partidos.
O assassinato de Osama Bin-Laden foi planejado há quase uma semana, quando já havia informações seguras do paradeiro do terrorista saudita que aprendeu muito do que sabia, em termos militares, graças ao treinamento que recebeu da CIA, quando era um guerrilheiro lutando no Afeganistão ao lado dos Mujahideen, contra a ocupação soviética.
Após um “breaking news” (“notícia de última hora”) da TV comercial mais oficial do Planeta, a CNN (a preferida por Obama, que trava guerra com a emissora rival, Fox News, reduto da ultradireita), seguiu-se um imediato pronunciamento do presidente. Poucas horas depois, o corpo do terrorista já estava debaixo d’água.
O furor causado pela morte de Bin Laden pode ofuscar o essencial: trata-se apenas de mais um ponto na longa lista de tarefas que Obama herdou da agenda republicana, e que a tem cumprido de bom grado.
Analistas de todas as áreas de políticas públicas apontam para a falta de uma agenda distinta, do governo Obama, capaz de honrar o compromisso de mudança apregoado em 2008. Paul Krugman, economista laureado com o Nobel, desde 2009 reclama da obsessão do atual governo com o tamanho do déficit público, a seu ver, exagerada, contraproducente e inadministrável no curto prazo. Não que a dívida não seja grande, mas em 2009 e 2010 ela esteve longe de ser o principal problema, diante da crise que se atravessava e suas consequências mais graves, como o desemprego em massa e o aumento extraordinário da pobreza naquele país.
Mesmo em termos da regulação econômica sobre o mercado financeiro se fez pouco. Apesar de toda a ousadia do discurso de campanha, feito sob medida para Obama conquistar fatias do eleitorado desesperadas com a crise, o que se fez saiu a fórceps, sob pressão da opinião pública. Há indícios de que o mercado financeiro continua cheio de novidades vendidas com a promessa de ganhos fáceis e rápidos.
Na saúde, sua reforma aprovada é um avanço em relação ao governo Bush, mas, cá entre nós, se Obama estivesse em coma, já estaria em vantagem quanto a Bush. O plano de saúde organizado pelo governo federal funciona com base nas mesmas regras do sistema privado. O cidadão norte-americano passa agora a ser obrigado a ter um plano de saúde, quer queira, quer não, e terá auxílios ou descontos no imposto de renda para mantê-los. A obrigação é fixa. O apoio do governo, variável, conforme o presidente de plantão.
Parece ótimo quando se vê que o custeio desta ampliação da cobertura de saúde está previsto para ser feito com impostos sobre “os mais ricos”. Mas os ainda mais ricos podem se beneficiar bastante. Lembre-se que a General Motors, um dos símbolos da crise recente, gasta mais com planos de saúde para seus funcionários do que com a compra de chapas metálicas para a fabricação de seus carros. Enquanto isso, a questão mais importante, que é a ausência de um sistema público de saúde, continua fora do debate.
Na educação, meio-ambiente, energia, dentre tantas outras, Obama tem seguido duas estratégias fundamentais. A primeira é priorizar agendas que por lá são chamadas de “bipartidárias”, ou seja, que podem contar com apoio também dos republicanos. A segunda, mesmo quando não há consenso, é enfrentar o debate com os conservadores com argumentos feitos para liberal algum botar defeito, ou seja, utilizando-se de soluções orientadas pelo mercado.
Com isso, Obama tem aprofundado uma tendência crucial no quadro político dos EUA. Os republicanos, para se diferenciarem, tornam-se cada vez mais ultradireitistas, ultraelitistas, ultramoralistas, ultranacionalistas e mais uma série de atributos começados com “ultra” e terminados com “istas”.
O partido se apegou aos extremamente ricos, que financiam o núcleo duro do movimento de ultradireita (“Tea Party”), e à classe média alta, que está insatisfeita em ter que pagar as cortesias feitas por Obama. Os republicanos têm se valido inclusive da ajuda de empresas que intimidam seus empregados a votarem em candidatos por ela indicados, como recentemente a revista “The Nation” reportou, em acusação às Indústrias Koch .
Os Democratas se fixam na classe média que luta para se manter enquanto tal, ou na ex-classe média, que viu sua renda despencar e quer retornar à posição que ostentava antes da crise. Tudo isso sem desagradar aos muito ricos que financiam suas campanhas eleitorais. Tornaram-se, como se tem dito, republicanos moderados, cumpridores da agenda que seus adversários deixaram pelo meio do caminho.
O debate político gira em torno de quem consegue fazer mais do mesmo.
Neste sentido, Obama acaba de ganhar um belo troféu no quesito “guerra ao terror”, com a morte de Bin Laden. O alerta sobre possíveis atentados que se podem seguir recoloca o tema no centro das preocupações dos americanos, o que minimiza os resultados pífios da administração Obama em várias áreas. E tudo aconteceu no momento certo para aumentar o favoritismo do presidente para as próximas eleições. Tudo com uma ajuda involuntária dos candidatos da oposição, que são pouco competitivos, se metem em encrencas banais, e seu discurso muitas vezes assusta, de tão raivoso.
Ou seja, tudo vai bem no país onde esquecer o povão é, há muitos anos, o principal programa de governo de ambos os partidos.
Osama Bin Laden: uma história sinistra
Por Altamiro Borges
“Darei uma razão propagandística para começar a guerra, não importa se é ela plausível ou não. Ao vencedor não se pergunta depois se ele disse ou não a verdade”. Discurso de Adolf Hitler, em 25 de outubro de 1939, poucos dias antes da invasão da Polônia.
Até hoje persistem dúvidas sobre o que de fato aconteceu na manhã de 11 de setembro de 2001. Naquele fatídico dia, dois aviões atingiram as “torres gêmeas” do World Trade Center, em Nova York, símbolo da ostentação capitalista; um outro destruiu parte do prédio do Pentágono, em Washington, símbolo do poder imperial; e um quarto caiu na Pensilvânia.
“Darei uma razão propagandística para começar a guerra, não importa se é ela plausível ou não. Ao vencedor não se pergunta depois se ele disse ou não a verdade”. Discurso de Adolf Hitler, em 25 de outubro de 1939, poucos dias antes da invasão da Polônia.
Até hoje persistem dúvidas sobre o que de fato aconteceu na manhã de 11 de setembro de 2001. Naquele fatídico dia, dois aviões atingiram as “torres gêmeas” do World Trade Center, em Nova York, símbolo da ostentação capitalista; um outro destruiu parte do prédio do Pentágono, em Washington, símbolo do poder imperial; e um quarto caiu na Pensilvânia.
Osama Bin Laden, uma invenção dos EUA
Por Altamiro Borges
Na madrugada desta segunda-feira, o presidente dos EUA anunciou, em tom eufórico, a morte de Osama Bin Laden, líder da rede Al Qaeda, acusada de ser a responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. “Digo às famílias que perderam seus parentes que a justiça foi feita”, afirmou Barack Obama em cadeia nacional de rádio e televisão.
Na madrugada desta segunda-feira, o presidente dos EUA anunciou, em tom eufórico, a morte de Osama Bin Laden, líder da rede Al Qaeda, acusada de ser a responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. “Digo às famílias que perderam seus parentes que a justiça foi feita”, afirmou Barack Obama em cadeia nacional de rádio e televisão.