segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pinheirinho e o direito de brincar

Por Paulo Cezar Pastor Monteiro, na revista Fórum:

Toda criança gosta de brincar, de ganhar brinquedos. O próprio Estatuto da Criança e do Adolescente assegura o direito de se aproveitar plenamente a sua infância. Mas como pensar em brinquedos quando sua família acabou de perder a casa onde mora?

Algumas pessoas em São José dos Campos, interior de São Paulo, tentam responder essa pergunta e garantir o direito “básico” que toda criança tem de brincar. Nesse último domingo (12/02), esses voluntários organizaram o “Pinheirinho Existe”, um dia de shows que teve como objetivo a arrecadação de brinquedos e material escolar para o (agora) ex-bairro do Pinheirinho.
Exatamente há três semanas, a Polícia Militar do Estado de São Paulo cumpriu a ordem de reintegração de posse de um terreno de 1 milhão de m² que, desde de 2004, após uma ocupação realizada por sem-tetos, se transformou no bairro conhecido como Pinheirinho. Os dados mais recentes, de acordo com os moradores, apontavam que viviam no local cerca de 2 mil famílias, totalizando quase 10 mil pessoas.

O “Pinheirinho Existe” contou com diversos shows de rap e hardCore, grafitagem, diversas gincanas e jogos para as crianças que viviam na ocupação e também para as que moravam nos bairros vizinhos. As apresentações ocorreram na escola Edgar de Mello, de onde é possível enxergar o pouco que sobrou do bairro.

Fernando Santos - o “Fhero” – um dos organizadores do evento, explica que a ideia surgiu da conversa entre amigos e pessoas sensibilizadas com a situação dos moradores, os quais, após a desocupação, foram levados para abrigos improvisados.

“Fomos vendo o que cada um podia fazer, como dava para ajudar. Foi assim que surgiu a mistura de rap, hardcore e grafitagem. Tudo o que foi feito aqui, hoje, saiu do esforço e da disponibilidade de quem se propôs a ajudar”, conta Fhero.

“Tio, vai ter mais rock?”

Logo após a “Sistema Sangria” terminar o seu último acorde na guitarra, uma das crianças que acompanhava o show correu até um dos organizadores e perguntou animada: “Tio, vai ter mais rock, tio?”
No palco intercalaram-se os rappers e as bandas de hardcore, ao todo foram mais de dez apresentações de artistas que serviram como um dos principais atrativos para o público que pagava a entrada com brinquedos e material escolar.

Outra organizadora, a estudante de Direito Ana Sanchez, comemora a participação “que foi maior do que a esperada” e a quantidade de brinquedos doados, mas, mesmo assim, deixa transparecer um certo descontentamento com a situação dos ex-moradores

“A gente queria trazer mais crianças que eram do Pinheirinho, mas os alojamentos ficam longe, boa parte das famílias não tem como vir para cá. O legal é que vamos poder alegrar um pouco essas pessoas”, comenta Ana.

Incertezas

Desde a operação, que contou com um efetivo de 2 mil políciais, os antigos moradores passaram a morar nos abrigos criados pela prefeituras ( em escolas e ginásios) ou nas casas de familiares e amigos.
A prefeitura, em parceria com o governo do estado, se comprometeu a pagar um auxílio-aluguel no valor de R$ 500. No entanto, há reclamações quanto à falta de estrutura nos alojamentos e de que o auxílio não é suficiente para pagar alugueis na região, que seriam em torno de R$ 700.

Advogados e ativistas de movimentos sociais têm buscado alternativas como a criação de programas de habitacionais voltados à população do Pinheirinho, além de realizarem campanhas para arrecadar alimentos e roupas.

Próximos eventos

Ana e Fhero explicam que eles e os outros organizadores planejam continuar buscando alternativas para oferecer algum tipo de ajuda para os moradores. A estudante diz lamentar a situação dos abrigos que não oferecem o mínimo conforto para as famílias. “Os moradores do Pinheirinho continuam precisando de auxílio, eles perderam tudo”, sustenta.

Fhero lembra que o planejamento do “Pinheirinho Existe” foi pensado desde o dia da desocupação da área. “Moro em São José, mas estava no Rio de Janeiro no dia, desde então eu e o pessoal que está aqui tem pensando em uma forma de organizar isso. Deu trabalho, mas vamos fazer um esforço para continuar nessa luta”, afirma.

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