Por Cris Rodrigues, no blog Somos andando:
Metade da capa de sábado, 10, dividindo espaço apenas com a manchete (que, diga-se de passagem, é uma mensagem de dúvida em relação ao governo do estado, na medida em que manda recortar e guardar a promessa de investimentos em escolas para cobrar depois). Ali está uma foto grande, ainda que, na minha opinião, não muito apropriada, sob o título “O Centro reinventado”. Só é preciso saber juntar dois com dois pra perceber a mensagem (in)direta. Quem é o responsável pelo Centro de Porto Alegre hoje e nos últimos anos?
Nada contra divulgar melhorias, se o que a gente visse nas ruas do nosso bairro histórico fosse de fato tudo isso que a matéria diz. Pois vamos a ela. Lá está, nas páginas 4 e 5, a primeira reportagem que se enxerga ao abrir o jornal, uma “Reportagem Especial” assinada por Erik Farina e Lara Ely. Lendo o que está escrito ali, eu teria ímpetos de largar tudo o que estou fazendo e ir correndo para esse lugar tão legal. Até porque me lembro bem de uma outra matéria, um tempo atrás, no mesmo jornal, que mostrava como os ricaços gaúchos estão voltando a investir na região, não só profissionalmente, mas também comprando seus apartamentos lá (não encontrei o link). E tenho que dizer que não tenho nada contra o Centro. Na verdade, gosto bastante de andar por lá, mas isso desde adolescente. Pena que agora cada vez menos se possa “andar” por lá. E, justamente por isso, fico triste com o que vejo acontecer.
Uma das citações da matéria diz que “O Centro deve se tornar o principal local de convívio social nos próximos anos, atraindo novos negócios”. Duas constatações:
1) como um lugar que cada vez tira mais espaço de pedestres para colocar carros pode ser um espaço de convívio social, se convívio implica em coletivo e carro é um incentivo ao individual? A liberação de algumas ruas antes exclusivas aos pedestres e de mais áreas de estacionamento, como o Largo Glênio Peres, não são sequer lembrados na matéria.
2) a ideia toda da matéria, e que o entrevistado corrobora pela última parte de sua frase (“atraindo novos negócios”), vai de encontro à ideia de convívio social.
Explico: a mensagem toda do texto é extremamente positiva. Mas é um positivo num sentido classe média capitalista. A Zero Hora exalta a ideia de que o Centro está virando um shopping. Oras, shopping não é lugar de convívio social, é lugar de compras. Quem conhece o vendedor da gigante Renner do shopping, como conhecia o da loja de tecidos da esquina? Ninguém interage com o outro no shopping. Não se ampliam as relações sociais nesse ambiente.
Isso sem falar na falácia criada por um texto ardiloso de que as classes A e B estão passando a investir no Centro. Elas frequentam o Iguatemi, o Moinhos, o Barra. Não que eu ache que a presença dos ricaços seja símbolo de recuperação e qualidade, mas enxerguemos a falta de verdade da publicação. Que, aliás, se preocupa em dizer que eles estão frequentando o Centro justamente porque, para ela, os ricaços são, sim, símbolo da recuperação e da qualidade. São eles que levam sofisticação. Se eles não frequentam, está ruim. Mas ruim pra quem, cara pálida?
Acontece que a Zero Hora faz é um jogo de palavras, pra não ser pega na mentira, mas não deixar clara a verdade. Ela diz que as classes A e B estão “voltando a investir no centro histórico”. Mais adiante, fala mais em classe média frequentando os novos empreendimentos. Quer dizer, o dono da Renner está abrindo mais uma loja, mas quem frequenta é o trabalhador do Centro. Está escrito lá, mas de tal forma que numa leitura rápida o leitor entende que os ricaços estão passeando pela Rua da Praia. E aí, fruto de uma sociedade que inverte valores, ele passa a achar o Centro bacana, porque passam a circular carrões.
Ainda no exemplo da Renner, a matéria diz que toda essa retomada do Centro se dá “em harmonia com as características históricas e culturais da região”, em que pese a inauguração da nova super loja de departamentos onde antes ficava a belíssima Livraria do Globo. A justificativa para a afirmação é de que o prédio, tombado, vai ser valorizado. Mas não enxergar que a mudança de uma livraria histórica para uma loja gigante de roupas (daquelas que ficam tocando música e lá pelas tantas gritam que o vendedor Fulano ganhou a meta de vendas do mês) muda tudo é um tanto mal-caráter.
E outra: se o Café à Brasileira, na rua Uruguai, “nunca parou de crescer”, há 15 anos, como ele pode ser exemplo dessa recuperação do Centro que se dá pelas “obras de melhoria dos últimos anos”?
Isso sem falar na contradição entre a cartola e o título, que, desde a última reforma gráfica do jornal, têm quase os mesmos tamanho e destaque. Sob a frase “A volta do charme”, ela diz “Um outro jeito de ir ao Centro”. Como consegue ao mesmo tempo voltar a como era e fazer tudo diferente?
Não fala em “Prefeitura”, mas não precisa. A ideia toda está em criar uma atmosfera positiva em torno da cidade. Foi dessa forma indireta que, durante muitos anos, a mesma empresa de comunicação destruiu a imagem dos movimentos sociais em grande parcela da sociedade. Ela vai, aos poucos, construindo ou desconstruindo ideias, que se colam no imaginário do leitor cotidiano.
Metade da capa de sábado, 10, dividindo espaço apenas com a manchete (que, diga-se de passagem, é uma mensagem de dúvida em relação ao governo do estado, na medida em que manda recortar e guardar a promessa de investimentos em escolas para cobrar depois). Ali está uma foto grande, ainda que, na minha opinião, não muito apropriada, sob o título “O Centro reinventado”. Só é preciso saber juntar dois com dois pra perceber a mensagem (in)direta. Quem é o responsável pelo Centro de Porto Alegre hoje e nos últimos anos?
Nada contra divulgar melhorias, se o que a gente visse nas ruas do nosso bairro histórico fosse de fato tudo isso que a matéria diz. Pois vamos a ela. Lá está, nas páginas 4 e 5, a primeira reportagem que se enxerga ao abrir o jornal, uma “Reportagem Especial” assinada por Erik Farina e Lara Ely. Lendo o que está escrito ali, eu teria ímpetos de largar tudo o que estou fazendo e ir correndo para esse lugar tão legal. Até porque me lembro bem de uma outra matéria, um tempo atrás, no mesmo jornal, que mostrava como os ricaços gaúchos estão voltando a investir na região, não só profissionalmente, mas também comprando seus apartamentos lá (não encontrei o link). E tenho que dizer que não tenho nada contra o Centro. Na verdade, gosto bastante de andar por lá, mas isso desde adolescente. Pena que agora cada vez menos se possa “andar” por lá. E, justamente por isso, fico triste com o que vejo acontecer.
Uma das citações da matéria diz que “O Centro deve se tornar o principal local de convívio social nos próximos anos, atraindo novos negócios”. Duas constatações:
1) como um lugar que cada vez tira mais espaço de pedestres para colocar carros pode ser um espaço de convívio social, se convívio implica em coletivo e carro é um incentivo ao individual? A liberação de algumas ruas antes exclusivas aos pedestres e de mais áreas de estacionamento, como o Largo Glênio Peres, não são sequer lembrados na matéria.
2) a ideia toda da matéria, e que o entrevistado corrobora pela última parte de sua frase (“atraindo novos negócios”), vai de encontro à ideia de convívio social.
Explico: a mensagem toda do texto é extremamente positiva. Mas é um positivo num sentido classe média capitalista. A Zero Hora exalta a ideia de que o Centro está virando um shopping. Oras, shopping não é lugar de convívio social, é lugar de compras. Quem conhece o vendedor da gigante Renner do shopping, como conhecia o da loja de tecidos da esquina? Ninguém interage com o outro no shopping. Não se ampliam as relações sociais nesse ambiente.
Isso sem falar na falácia criada por um texto ardiloso de que as classes A e B estão passando a investir no Centro. Elas frequentam o Iguatemi, o Moinhos, o Barra. Não que eu ache que a presença dos ricaços seja símbolo de recuperação e qualidade, mas enxerguemos a falta de verdade da publicação. Que, aliás, se preocupa em dizer que eles estão frequentando o Centro justamente porque, para ela, os ricaços são, sim, símbolo da recuperação e da qualidade. São eles que levam sofisticação. Se eles não frequentam, está ruim. Mas ruim pra quem, cara pálida?
Acontece que a Zero Hora faz é um jogo de palavras, pra não ser pega na mentira, mas não deixar clara a verdade. Ela diz que as classes A e B estão “voltando a investir no centro histórico”. Mais adiante, fala mais em classe média frequentando os novos empreendimentos. Quer dizer, o dono da Renner está abrindo mais uma loja, mas quem frequenta é o trabalhador do Centro. Está escrito lá, mas de tal forma que numa leitura rápida o leitor entende que os ricaços estão passeando pela Rua da Praia. E aí, fruto de uma sociedade que inverte valores, ele passa a achar o Centro bacana, porque passam a circular carrões.
Ainda no exemplo da Renner, a matéria diz que toda essa retomada do Centro se dá “em harmonia com as características históricas e culturais da região”, em que pese a inauguração da nova super loja de departamentos onde antes ficava a belíssima Livraria do Globo. A justificativa para a afirmação é de que o prédio, tombado, vai ser valorizado. Mas não enxergar que a mudança de uma livraria histórica para uma loja gigante de roupas (daquelas que ficam tocando música e lá pelas tantas gritam que o vendedor Fulano ganhou a meta de vendas do mês) muda tudo é um tanto mal-caráter.
E outra: se o Café à Brasileira, na rua Uruguai, “nunca parou de crescer”, há 15 anos, como ele pode ser exemplo dessa recuperação do Centro que se dá pelas “obras de melhoria dos últimos anos”?
Isso sem falar na contradição entre a cartola e o título, que, desde a última reforma gráfica do jornal, têm quase os mesmos tamanho e destaque. Sob a frase “A volta do charme”, ela diz “Um outro jeito de ir ao Centro”. Como consegue ao mesmo tempo voltar a como era e fazer tudo diferente?
Não fala em “Prefeitura”, mas não precisa. A ideia toda está em criar uma atmosfera positiva em torno da cidade. Foi dessa forma indireta que, durante muitos anos, a mesma empresa de comunicação destruiu a imagem dos movimentos sociais em grande parcela da sociedade. Ela vai, aos poucos, construindo ou desconstruindo ideias, que se colam no imaginário do leitor cotidiano.
Tudo bem. Essa atual administração da prefeitura é péssima comparada ao tempo do PT. No tempo do PT a cidade aos menos era um canteiro de obra. Tinha obra em todo canto da cidade. Mas não dá pra esquecer que o Centro já era bem caído no tempo do PT e o PT pouco fez também.
ResponderExcluirParece que a Cris gosta da ZH pois leu toda a matéria...
ResponderExcluirCredo, como comunista escreve besteira!
ResponderExcluirÉ pra matar.