quarta-feira, 11 de abril de 2012

A mídia nativa e o golpe na Venezuela

Por Altamiro Borges

“O que ocorreu na Venezuela não foi um simples golpe de Estado que tirou do poder o coronel Hugo Chávez Frias. Foi – assim como ocorreu no Brasil em 1964 – uma reação cívica a um governo que, eleito em pleito livre, se esmerou, uma vez no poder, em eliminar progressivamente todo e qualquer vestígio daquilo que se poderia chamar de institucionalidade democrática”. Editorial do jornal O Estado de S.Paulo de 13 de abril de 2002.
O livro “A Venezuela que se inventa”, do jornalista Gilberto Maringoni, descreve em detalhes como se deu o golpe na Venezuela em 11 de abril de 2002 – que completa hoje dez anos. Mostra como ele foi orquestrado nos bastidores pela elite burguesa racista do país vizinho, enraivecida com as propostas de reformas democráticas e populares do presidente eleito no final de 1998.

As tramas da conspiração midiática

Ele revela também o envolvimento direto do governo dos EUA, seu apoio imediato ao golpe. Num dos trechos mais emocionantes, Maringoni descreve a revolta popular, com os milhares de venezuelanos descendo dos morros e forçando a fuga, vergonhosa, de ricaços e madames do Palácio Miraflores. O povo derrotou os golpistas, um fato inédito na história recente do nosso continente.

O livro reforça a tese de que houve um “golpe midiático” em abril de 2002. Os principais monopólios de comunicação ajudaram a criar o clima para a conspiração. Várias reuniões dos golpistas civis e militares foram feitas em suas sedes. O próprio Hugo Chávez reconheceu, posteriormente, que havia subestimado o poder desestabilizador e golpista dos impérios midiáticos.

A festa no Jornal Nacional

O jornalista e blogueiro Renato Rovai, no livro “Midiático Poder”, também conclui que os meios de comunicação foram decisivos na orquestração do golpe de abril e do locaute patronal ocorrido entre dezembro de 2002 e janeiro de 2003. Os dados apresentados em sua pesquisa são impressionantes, revoltantes. Confirmam a urgência do debate sobre a democratização da comunicação.

Mas não foi só a mídia venezuelana que atentou contra a democracia. No mundo todo, os veículos monopolizados deram apoio ao truculento golpe. Num dos capítulos, Rovai descreve “como parte da mídia comercial do Brasil viu o golpe midiático-militar na Venezuela”. Ele registra a alegria dos âncoras do Jornal Nacional da TV Globo ao noticiarem a derrubada de Hugo Chávez e relata:

Jabor, Veja e as bananas

“Mas o momento mais espalhafatoso e hilariante do Jornal Nacional ainda estava por vir. O suposto comentarista Arnaldo Jabor, segurando uma banana, deleitava-se:

“Eu dizia que a America Latina estava se ‘rebananizando’, com o Hugo Chávez no seu delírio fidelista... Mas aí, hoje, Chávez caiu... Acho boa notícia a queda do Chávez. Acordamos mais fortes hoje e eu já posso ‘desbananizar’ a América Latina. Para termos respeito na América e no mundo, temos de ser democráticos. Tendo moral para dizer não”.

Extrair as lições do golpe midiático

Rovai também cita a revista Veja, que deu um tiro no pé. Ela chegou às bancas, comemorando “a queda do presidente fanfarão”, quando o povo já lotava as ruas para derrotar os golpistas. Na mesma linha, a revista Época, das Organizações Globo, noticiou que “Chávez foi derrubado depois que a população esgotou todas as reservas de paciência com o que julgava errado no governo”.

Ao comemorar os dez anos da derrota dos golpistas da Venezuela, vale a pena estudar o papel nefasto da mídia para extrair lições sobre os mecanismos de aperfeiçoamento da democracia no continente. Isto vale também para a presidenta Dilma Rousseff!

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