quinta-feira, 21 de junho de 2012

Direita tenta dar golpe no Paraguai

Por Altamiro Borges

A Câmara dos Deputados do Paraguai, controlada pela oposição de direita, aprovou na manhã desta quinta-feira (21) a abertura de processo de impeachment contra o presidente Fernando Lugo. O motivo alegado é o confronto ocorrido em Curuguaty, a 350 km de Assunção, que resultou na morte de onze camponeses e seis policiais. A proposta golpista agora será votada no Senado.

O clima no país vizinho, vítima de longos anos da ditadura militar de Alfredo Stroessner, é de forte tensão. Organizações camponesas e de esquerda agendaram para hoje protestos em Assunção contra o golpe. O comércio e as escolas na capital, segundo as agências de notícias, estão fechados e a polícia já ocupou o centro da capital. A direita também acionou os partidários do impeachment. Há risco de choques violentos.

Dilma e Unasul apreensivas

Diante do grave perigo de retrocesso na região, a União das Nações Sul-americanas (Unasul) convocou uma reunião emergencial no Rio de Janeiro, onde se encontram vários presidentes em função da Rio+20. A presidente Dilma Rousseff também já manifestou a sua “apreensão” com a situação do Paraguai. Em Brasília há consenso de que se trata de uma tentativa de golpe de estado.

A própria direita paraguaia não esconde o seu intento golpista. O conflito agrário é apenas um pretexto. Há muito que os partidos conservadores, controlados por saudosos da ditadura e poderosos ruralistas, sabotam o governo. Numa tentativa de conciliação, Fernando Lugo até cedeu em várias propostas de mudanças, o que só atiçou a direita e gerou frustração no campo popular.

Apesar das dificuldades, o presidente garante que não cederá. Em nota oficial, Lugo afirmou que não apresentará a sua renúncia e que aguarda a manifestação da sociedade, que o elegeu democraticamente. Ele garantiu que vai “honrar a vontade das urnas” para evitar que “mais uma vez na história da República um fato político tire privilégio e soberania da suprema decisão do povo”.

Ruralistas violentos e golpistas

A elite paraguaia é uma das mais reacionárias da América Latina. Durante décadas, ela comandou o país, que tem 6,3 milhões de habitantes e um PIB cem vezes menor que o brasileiro. No cruel reinado de Alfredo Stroessner (1954-1989), ela acumulou ainda mais riquezas. Terras públicas foram doadas aos latifundiários, incluindo o ex-senador Blás Riquelme, do Partido Colorado, grileiro da área onde ocorreram os conflitos sangrentos da semana passada.

Atualmente, 2% dos proprietários controlam 78% das terras agricultáveis no país. Com a exploração do gado e da soja, inclusive por empresários brasileiros, o Paraguai teve um forte crescimento econômico. Em 2010, ele registrou uma alta de 15,4%. Mas a concentração nas mãos dos ruralistas só agravou os problemas sociais no Paraguai, com milhares de famílias de sem terra.

Paraíso do estado mínimo neoliberal

Como explica o jornalista César Felício, do jornal Valor, “o Paraguai é o paraíso do Estado mínimo” neoliberal. As elites não pagam impostos – a carga tributária atual é de 13% sobre o PIB, a mais baixa da América do Sul, e o imposto de renda da pessoa jurídica só foi criado em 2004. O Estado só é máximo para os ricaços, com todos seus privilégios. Os pobres vegetam na miséria.

Segundo estudo da Cepal divulgado no ano passado, 69% dos lares paraguaios não contam atualmente com nenhum mecanismo de proteção social, nem mesmo da previdência. É o mais alto percentual entre os 13 países pesquisados, que não inclui o Brasil. Um terço da população está abaixo da linha de pobreza.

Tentativa de castrar a mudança

Fernando Lugo, um ex-bispo católico seguidor da Teologia da Libertação, foi eleito presidente em 2008 como expressão do desejo de mudança deste sofrido povo – no rastro da guinada à esquerda na América Latina. Ele não possuía forte estrutura partidária e nem contava com um sólido movimento social, vitima dos cruéis anos da ditadura. Minoritário no Congresso Nacional, Lugo não conseguiu aprovar sequer um projeto social similar ao Bolsa Família, o “Tekoporá”, que beneficiaria apenas 83 mil famílias carentes.

O seu governo também patinou na promessa de promover uma limitada reforma agrária no país, que previa inclusive o pagamento de indenizações aos grileiros. “Os conflitos rurais, que caíram entre 2008 e 2010, voltaram a crescer no ano passado. Sem ter o que oferecer aos movimentos organizados, Lugo não os atende e não os reprime”, relata César Felício. O sangrento confronto em Curuguaty foi fruto desta situação tão complexa e contraditória e agora serve de pretexto para uma nova tentativa de golpe das elites. 

2 comentários:

  1. É URGENTE que o Governo brasileiro deixe claro que não reconhecerá qualquer "governo" resultante deste golpe imundo e covarde. Tratados regionais nos obrigam a reagir; e a solidariedade ao povo-irmão nos impõe este dever.
    O Brasil tem peso diplomático, econômico e militar para evitar que no coração da América do Sul volte a existir um tipo de regime ilegítimo que tanta opressão já trouxe ao nobre Paraguay.
    Conclamo os cidadãos, partidos, autoridades, organizações sindicais e sociais em geral, a repudiarem de plano esta tentativa de golpe fascista. Toda solidariedade ao Presidente Fernando Lugo e ao povo paraguaio!
    SOMOS TODOS PARAGUAYOS, CARAJO!

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  2. Miro, ainda ontem coloquei aqui umas considerações falando do impacto na Mídia Latina com a vinda do Assange para o Equador. Pois é, conforme eu disse, olhe só o olhos do Mundo começando a se virar para a Máfia Midiática que aqui se encontra. Vem da BBC de Londres, aquela que adora fazer documentário de temas controversos como este. Espero que aceitem o convite de Correa para uma visita e umas filmagens. (Hehehe)

    Imagine, no futuro, fotos dos "terroristas democraticos" Chavez e Kirchner tomando um café com o Assange no Equador. É de dar nó na cabeça do povão.

    Parece que a Ley de Medios em toda a América do Sul ganhará um novo e forte combatente.

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    Liberdade de imprensa no Equador

    Correa riu quando a BBC Mundo lhe colocou que o pedido de asilo de Assange ocorre quando o próprio presidente do Equador é acusado de promover uma ofensiva contra os meios de comunicação de seu país e de limitar a liberdade de imprensa.

    "É engraçado como sempre derrubam as mentiras da imprensa corrupta (do Equador)", respondeu. "Vocês não imaginam o que é a imprensa latino-americana. Quando uma pessoa não se submete a seus interesses, seus privilégios, seus abusos, dizem que somos ditadores, que não há liberdade de expressão."

    Correa declarou que o pedido de asilo de Assange é "a melhor resposta" a essas acusações. "(Assange) disse claramente que gostaria de seguir com sua missão de liberdade de expressão sem limites, num território de paz comprometido com a justiça e a verdade, como é o Equador."

    Questionado se pode-se deduzir que ele defende a liberdade de expressão de Assange, mas limita a liberdade da imprensa equatoriana, Correa respondeu: "Convido você ao meu país para ver se de alguma forma se limita a liberdade de expressão. O que certa imprensa quer é a liberdade de extorsão, liberdade de manipulação sem responsabilidade".

    http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5849907-EI8140,00-E+preciso+ver+se+Assange+corre+risco+de+morte+diz+Correa.html

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