Por Altamiro Borges
Nesta semana, a presidenta anunciou que vai endurecer com os
grevistas, cortando o ponto e promovendo descontos nos salários pelos dias de
paralisação. A atitude não resolve o impasse e só radicaliza o confronto. No próximo
dia 18, os servidores públicos irão realizar uma marcha de protesto na
Esplanada dos Ministérios, reafirmando as suas reivindicações por reajuste
salarial, adoção de um plano de carreira que valorize os profissionais e por maiores
investimentos no setor público.
Deflagrada em 11 de junho, a paralisação dos servidores de
várias repartições públicas completou um mês nesta quarta-feira. Já a greve das
universidades federais, aprovada em 17 de maio, completará dois meses na
próxima semana. Apesar da prolongada duração, o que evidencia a insatisfação do
funcionalismo, o governo Dilma Rousseff se mantém insensível às reivindicações das
categorias e aposta no desgaste dos movimentos grevistas e na sua invisibilidade
na mídia.
Herança neoliberal de FHC
O protesto é liderado pelo Fórum das Entidades Nacionais dos
Servidores Federais, que reúne sindicatos filiados a várias centrais sindicais –
CUT, CTB e Conlutas. Além de reafirmar as reivindicações das categorias e
exigir negociações sérias, a marcha servirá para denunciar a absurda política
fiscal do governo federal, pomposamente batizada de superávit primário. Esta
política, herança do reinado neoliberal de FHC, privilegia os banqueiros em
detrimento dos serviços públicos e dos investimentos do estado.
O superávit primário é uma reserva de caixa para pagar os
juros da dívida pública. O governo entesoura o dinheiro dos impostos pagos por
milhões de brasileiros para garantir a segurança e a tranquilidade dos parasitários
rentistas. Enquanto o pagamento de juros aos agiotas e especuladores do mercado
financeiro beira os 47% de toda a riqueza produzida no país, o total de gastos
com os servidores da União é de apenas 4% do PIB. E ele ainda encolheu no
último período – era de 4,8% no governo Lula.
Ativa solidariedade às greves
Em 1995, a folha de pagamento do funcionalismo público
consumia 56,2% da Receita Corrente Líquida (RCL) do governo federal. No ano
passado, a proporção beirava os 32,1%. Já no primeiro semestre deste ano, os
gastos com os encargos da dívida interna somaram mais de R$ 383 bilhões. Esta
política fiscal de viés neoliberal, que serve aos interesses dos banqueiros, é o que explica a crescente revolta do funcionalismo – mesmo que alguns tentem se
aproveitar da insatisfação para fazer palanque eleitoral.
Como afirma Wagner Gomes, presidente da CTB, “a política
econômica conservadora, orientada para a realização de elevados superávits
fiscais, é o grande obstáculo ao atendimento das demandas trabalhistas... O
governo economiza para pagar a dívida pública sacrificando verbas que deveriam
ser destinadas à saúde, educação, previdência, investimentos em infraestrutura,
além de salários e emprego dos trabalhadores”. Nesse sentido, “a greve do
funcionalismo merece total apoio e ativa solidariedade”.
O mais grave desta situação é a flagrante invisibilidade na mídia do drama dos servidores públicos.
ResponderExcluirNão chega para o cidadão comum a explicação do nexo existente entre a política econômica e a penúria dos servidores públicos.
Escrito por José Carlos.
Eu só não consigo entender bem essa "invisibilidade na mídia". É sabido que qualquer rumor contra o governo ganha ares de escândalo catastrofista nas páginas e telas da grande imprensa, contudo, nada aparece além de pequenos muxoxos... Seria uma forma de defender o status quo do rentismo, tentando segurar as taxas de juros como estão, além de uma forma de regalar-se com a crise da educação pública, já que a herança neoliberal sempre cuidou de seu sucateamento em benefício da educação privada? Confesso que essa conta midiática não fecha muito redonda pra mim... abç!
ResponderExcluirParabéns, Miro por ter colocado o dedo na ferida. Lula fez algumas negociações com o funcionalismo mas não seguiu a lei, i. é, a Constituição Federal, art. 37, X, que prevê a reposição anual dos vencimentos/subsídios salariais do funcionalismo federal.
ResponderExcluirDilma simplesmente ignora a situação, isso está levando a medidas mais drásticas. Está em andamento no Congresso proposta de emenda constitucional que entre outras coisas, dispensará a aprovação do executivo. O judiciário continua como teto mas ao se auto-conceder um reajuste (sem precisar de beija-mão com o executivo)automaticamente aumenta nos outros poderes.
Veja que a coisa complica e muito.
O pior de tudo é que tem petista querendo dizer que a greve dos profs. federais está sendo promovida pelo PSOL e PSTU, que seriam aliados do PSDB, justamente porque estão fazendo a greve antes de o orçamento ser encaminhado .
Oras, se os funcionários não se mobilizam agora, depois não tem mais jeito. A resposta será: não tem espaço para reajuste. Carlos Latuff, cartunista e ativista, lançou um cartoon sobre esse ponto. Perfeito: Dilma lendo o livro “Como lidei com o servidor público” por FHC.
A toda ação corresponde uma reação.
Outro porém e que vc. abordou é a questão da dívida pública. Apesar de constar dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias a previsão de uma auditoria da dívida. Por que a falta de interesse do governo?
O único que topou faer e saiu ganhando foi Rafael Correa, cuja dívida do país sofreu uma redução de 30%.
Já pensou se a nossa diminuísse no mesmo percentual ou quiçá maior?
Mas não se vê o menor interesse.É como uma persona non grata.
Corroborando com seu artigo, um outro, de lavra da maior autoridade em auditoria da dívida no Brasil.
ResponderExcluirhttp://www.sitraemg.org.br/noticia/exibir/21240/artigo---maria-lucia-fattorelli:-%22nao-ao-terrorismo-contra-os-servidores%22
Tem como piorar o quadro
ResponderExcluirO Brasil aplica no Tesouro do império terrorista a juros quase que zerados.