Por Marco Aurélio Mello, no blog DoLaDoDeLá:
Depois que ficamos adultos passamos a sonhar menos. E raramente nos lembramos do que aconteceu durante a noite. Pelo menos comigo é assim. Se sonhar tem a finalidade de organizar as "pastas de arquivo" do nosso inconsciente, ou de revelar algum conteúdo reprimido, sei lá... Também não sei se os sonhos podem ser premonitórios, como muitos místicos asseguram. Considero-os apenas curiosos, como o desta noite:
Saímos num carro alugado. Estava com um casal de negros, que parecia conhecer o destino como a palma da mão. No banco de trás, a filha e o neto deles seguiam ao meu lado. Nosso destino era um bairro muito distante na zona norte da cidade, encravado nas montanhas da serra que contorna aquela região. Ziguezagueávamos entre casas que foram preenchendo vales e escalando morros.
Do alto a vista era sem igual. É como se todos tivessem conquistado o direito de ver o sol nascer ao olhar para um lado, e se por, ao olhar para o outro. Mas eram todos pobres, sem distinção. Chegamos a uma escola, onde as crianças brincavam em oficinas espalhadas pelo páteo interno? Meu sonho não me dava pistas do que eu tinha ido fazer ali. Sentia-me confortável e acolhido, ainda que curioso.
Uma movimentação de adultos revelou o início de um churrasco. Quando as barracas começaram a ser montadas, percebi que meu sonho me levara a esse compromisso que não assumi, pelo menos conscientemente. O motorista do carro que me trouxe era uma espécie de faz-tudo. Tinha as ferramentas certas e carregava rolos de fios com "bicos de luz".
Sentei-me ao lado de uma das barracas com um pãozinho na mão e vi um amontoado de formas bem à minha frente. O cheiro era espetacular. Quando suspendi o pano de prato, constatei que eram fatias de pernil assado ao molho, ainda quente, cujo aspecto era irresistível. Alcancei uma faca, espetei duas fatias e fiz meu lanche. O aroma e o sabor eram tão intensos, que a salivação aumentou na medida exata para preencher toda a boca. Comi devagar, apreciando cada pedaço.
Fiquei a imaginar se aquele espaço não seria um CEU, Centro Educacional Unificado, concebido pela ex-prefeita, apelidada depois pelos ricos de Martaxa, e impedida de entrar em um deles depois de deixar o cargo. Naquele instante anunciaram a chegada de alguém, mas de súbito o local começou a esvaziar.
Quando viro-me para trás vejo José Serra, acompanhado por uma mulher jovem, seria a Soninha? Ele se esforça para sorrir e cumprimentar a todos (os restantes). Neste mesmo instante levanto-me. Sou chamado pelo motorista, que diz que é hora de partirmos. Ele seguirá numa moto com o bebê (?) e eu com as duas mulheres no carro. Coisas malucas de sonhos...
A motorista era ainda mais firme e segura que o marido e falava com desenvoltura da história daquele povoado. Mas ela não tinha mais minha atenção. Estava perturbado com a presença daquele candidato em meu sonho e... acordei. Fiquei alguns minutos tentando entender o porquê disso tudo. Estabeleci relações com meu atual momento, minha profissão, minhas idéias e meus desejos e concluí que tudo faz sentido:
Ir à periferia tem despertado em mim a urgência para as causas sociais; O casal de negros pode ter relação com o documentário que assisti ontem à noite na internet, que me deixou muito emocionado (este); O prazer pelo alimento está relacionado à minha preocupação com o ganho de peso. Na idade em que estou comecei a achar que tudo tem muito sabor e tenho comido mais do que devo, hehehe...
Quanto à chegada do Serra e o esvaziamento do lugar são fatos concretos: o sonho (dele) acabou!
Depois que ficamos adultos passamos a sonhar menos. E raramente nos lembramos do que aconteceu durante a noite. Pelo menos comigo é assim. Se sonhar tem a finalidade de organizar as "pastas de arquivo" do nosso inconsciente, ou de revelar algum conteúdo reprimido, sei lá... Também não sei se os sonhos podem ser premonitórios, como muitos místicos asseguram. Considero-os apenas curiosos, como o desta noite:
Saímos num carro alugado. Estava com um casal de negros, que parecia conhecer o destino como a palma da mão. No banco de trás, a filha e o neto deles seguiam ao meu lado. Nosso destino era um bairro muito distante na zona norte da cidade, encravado nas montanhas da serra que contorna aquela região. Ziguezagueávamos entre casas que foram preenchendo vales e escalando morros.
Do alto a vista era sem igual. É como se todos tivessem conquistado o direito de ver o sol nascer ao olhar para um lado, e se por, ao olhar para o outro. Mas eram todos pobres, sem distinção. Chegamos a uma escola, onde as crianças brincavam em oficinas espalhadas pelo páteo interno? Meu sonho não me dava pistas do que eu tinha ido fazer ali. Sentia-me confortável e acolhido, ainda que curioso.
Uma movimentação de adultos revelou o início de um churrasco. Quando as barracas começaram a ser montadas, percebi que meu sonho me levara a esse compromisso que não assumi, pelo menos conscientemente. O motorista do carro que me trouxe era uma espécie de faz-tudo. Tinha as ferramentas certas e carregava rolos de fios com "bicos de luz".
Sentei-me ao lado de uma das barracas com um pãozinho na mão e vi um amontoado de formas bem à minha frente. O cheiro era espetacular. Quando suspendi o pano de prato, constatei que eram fatias de pernil assado ao molho, ainda quente, cujo aspecto era irresistível. Alcancei uma faca, espetei duas fatias e fiz meu lanche. O aroma e o sabor eram tão intensos, que a salivação aumentou na medida exata para preencher toda a boca. Comi devagar, apreciando cada pedaço.
Fiquei a imaginar se aquele espaço não seria um CEU, Centro Educacional Unificado, concebido pela ex-prefeita, apelidada depois pelos ricos de Martaxa, e impedida de entrar em um deles depois de deixar o cargo. Naquele instante anunciaram a chegada de alguém, mas de súbito o local começou a esvaziar.
Quando viro-me para trás vejo José Serra, acompanhado por uma mulher jovem, seria a Soninha? Ele se esforça para sorrir e cumprimentar a todos (os restantes). Neste mesmo instante levanto-me. Sou chamado pelo motorista, que diz que é hora de partirmos. Ele seguirá numa moto com o bebê (?) e eu com as duas mulheres no carro. Coisas malucas de sonhos...
A motorista era ainda mais firme e segura que o marido e falava com desenvoltura da história daquele povoado. Mas ela não tinha mais minha atenção. Estava perturbado com a presença daquele candidato em meu sonho e... acordei. Fiquei alguns minutos tentando entender o porquê disso tudo. Estabeleci relações com meu atual momento, minha profissão, minhas idéias e meus desejos e concluí que tudo faz sentido:
Ir à periferia tem despertado em mim a urgência para as causas sociais; O casal de negros pode ter relação com o documentário que assisti ontem à noite na internet, que me deixou muito emocionado (este); O prazer pelo alimento está relacionado à minha preocupação com o ganho de peso. Na idade em que estou comecei a achar que tudo tem muito sabor e tenho comido mais do que devo, hehehe...
Quanto à chegada do Serra e o esvaziamento do lugar são fatos concretos: o sonho (dele) acabou!
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