sábado, 29 de setembro de 2012

SIP é um antro da mídia golpista

Por Altamiro Borges

O texto “Dilma irá ao antro midiático da SIP?” gerou certa polêmica. Alguns amigos argumentaram que, como presidenta da República, ela não teria como se ausentar de um fórum de empresários da mídia do continente. Uma atitude deste tipo seria encarada como um “desrespeito à liberdade de expressão”. Os mais otimistas chegaram a dizer que até seria positiva a sua participação na 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa, que ocorrerá em outubro na capital paulista, para “dizer umas verdades”.

Respeito os argumentos, mas discordo. A SIP não é uma entidade empresarial, mas sim um antro golpista. Na semana retrasada, a própria presidenta Dilma arrumou uma desculpa para não participar de um evento do Grupo Abril, após saber de uma reportagem asquerosa da Veja contra o ex-presidente Lula [vale insistir: cadê a entrevista com o Marcos Valério?]. No caso da SIP, não há diferença nas ações asquerosas. Não precisa nem inventar desculpa. Exponho abaixo um pouco da sinistra história desta entidade “empresarial”.

Jules Dubois, o homem da CIA

A Sociedade Interamericana de Imprensa não tem nada a ver com liberdade de expressão e, muito menos, com democracia. Ela reúne os barões da mídia do continente que apoiaram golpes militares e sustentaram ditaduras sanguinárias – alguns destes grupos, como a Globo e o Clarín, inclusive construíram seus impérios neste período com as mãos sujas de sangue. Com a redemocratização na região, estes mesmos barões da mídia foram os difusores do receituário neoliberal de desmonte de estado, da nação e do trabalho.

Sediada em Miami, a SIP defende os interesses das megacorporações capitalistas e as políticas imperiais dos EUA. Ela até tenta se travestir de “independente”, mas a sua direção sempre foi hegemonizada pelos empresários mais ricos e reacionários do continente.  Num estudo intitulado “Os amos da SIP”, o jornalista Yaifred Ron ainda apresenta inúmeros documentos que comprovam os vínculos da entidade com a central de “inteligência” dos EUA, a famigerada CIA.

A SIP foi fundada em 1943 numa conferência em Havana, durante a ditadura de Fulgencio Batista. Num primeiro momento, devido à aliança contra o nazi-fascimo, ela ainda reuniu alguns veículos progressistas. Mas isto durou pouco tempo. Com a onda macartista nos EUA, ela foi tomada de assalto pela CIA. Em 1950, na conferência de Quito, dois serviçais da agência, Joshua Powers e Jules Dubois, passam a dirigir a entidade. Dubois comandou a SIP por 15 anos e tem seu nome gravado no edifício da entidade em Miami.

Desestabilizar governos progressistas

Neste período, a SIP se tornou um instrumento da CIA para desestabilizar os governos progressistas da América Latina. Para isso, os estatutos foram adulterados, garantindo maioria às publicações empresariais dos EUA; a sede foi deslocada para os EUA; e as vozes críticas foram alijadas. “Em resumo, eles destruíram a SIP como entidade independente, transformado-a num aparato político a serviço dos objetivos internacionais dos EUA”, afirma Yaifred.

Na década de 50, ela fez oposição ao governo nacionalista de Juan Perón e elegeu o ditador nicaragüense Anastácio Somoza como “anjo tutelar da liberdade de pensamento”. Nos anos 60, seu alvo foi a revolução cubana; nos anos 70, ela bombardeou o governo de Salvador Allende, preparando o clima para o golpe no Chile. “A ligação dos donos da grande imprensa com regimes ditatoriais latino-americanos tem sido suficientemente documentada e citada em várias ocasiões para demonstrar que as preocupações da SIP não se dirigem a defesa da liberdade, mas sim à preservação dos interesses empresariais e oligárquicos”.

Contra a regulação da mídia

Na fase mais recente, a SIP foi cúmplice do golpe midiático na Venezuela, em abril de 2002, difundido todas as mentiras contra o governo democrático de Hugo Chávez. Este não vacilou e considerou os seus representantes como personas non gratas no país. Ela também tem feito ataques sistemáticos aos governos de Evo Morales, Rafael Correa e Cristina Kirchner. Atualmente, o maior temor da SIP decorre das mudanças legislativas que objetivam democratizar os meios de comunicação na América Latina.

Qualquer iniciativa que vise regulamentar o setor e diminuir o poder dos monopólios é taxada de “atentado à liberdade de expressão”. Como aponta Yaifred, o maior esforço da entidade na atualidade é “para frear as ações governamentais que favoreçam a democratização da mídia". A 68ª Assembleia Geral deverá, apenas, ratificar esta linha golpista. Ou seja: nada justifica a participação da presidenta Dilma Rousseff!

10 comentários:

  1. O que faria a Dilma num congresso do pig(no caso "a internacional piguista")? Convence-los a serem "bonzinhos" ?

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  2. Eu acredito que ela deve ir. Se curvar ao pig ela não vai. Isto é o que importa...

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  3. Concordo, Dilma não deve ir a essa assembleia, não.
    Espero que ela fique longe desse antro.

    Elisa

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  4. Concordo em gênero, número e gráu. Até demonstra uma subserviência da presidenta a esses grupos de mercenários!...

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  5. Benjamin Eurico Malucelli29 de setembro de 2012 às 23:03

    Depois de ler o artigo do Miro, concordo que a presidenta Dilma não deve participar dessa tal SIP que eu nem sabia que existia. Já não basta a Veja, Globo, Folha, Estadão, Rede Globo?

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  6. Quem gosta de confundir é o pig e não quem sempre apoiou a Dilma, esta muito estranha esta colocação, sobre a ida de Dilma neste evento

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  7. Miro, eu ainda acho que a Dilma deveria ir.

    Acho que a Dilma poderia fazer um pronunciamento enaltecendo o papel da SIP ao apoiar a Ley de Medios na Argentina e assim trabalhar a favor da pluralização das informação por lá. Também acho que a Dilma devesse conclamar a SIP para que, assim como na Argentina, ela ajude o presidente Rafael Correa do Equador a também levar à frente o mesmo pacote da Ley de Medios. Isto poderia começar por uma carta da SIP em apoio a Correa.

    Para terminar, a Dilma poderia também conclamar o apoio da SIP para a liberação de um ícone mundial da liberdade de informação: Julian Assange. Acredito que a presença de Assange no próximo evento da SIP seja de total interesse da entidade.

    Dilma, para quem na ONU criticou a politica cambial dos EUA, Europa e Japão tentando nos exportar a miséria deles, para quem falou a favor da criação do Estado Palestino frente aos olhos esbugalhados dos representantes Israelenses, para quem enfiou o dedo na ferida da crescente islamofobia ocidental e do embargo a Cuba, o texto proposto por mim é fichinha, é moleza para a senhora.

    Seria pedir muito? Ou a senhora tem mais medo da SIP do que do peso dos EUA, Europa e Israel?

    Segue vídeo mostrando a verdadeira face da SIP. http://www.youtube.com/watch?v=VD9f8DgA1iU

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  8. Implícita questão, Evo, Correa ou Cristina iriam?

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  9. A presença de Dilma funcionaria como uma espécie de credibilidade à SIP que no momento, não merece. Lembrando que sua presença ali, não necessariamente denegriria a sua imagem, já solidificada como íntegra.

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