sábado, 12 de janeiro de 2013

Crise mundial deve se prolongar

Por Altamiro Borges

Nesta semana, os chamados “especialistas do mercado” – nome fictício dos porta-vozes do capital financeiro –, saudaram a aparente recuperação econômica dos países da União Europeia. Segundo os adoradores do credo neoliberal, os sinais “otimistas” revelariam o acerto das medidas de austeridade adotadas pelos governos rentistas. Em outras palavras: a explosão do desemprego, o arrocho salarial e a regressão dos direitos trabalhistas estariam alavancando novamente as economias do velho continente.

Segundo o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, a amarga receita neoliberal já estaria produzindo efeitos “positivos” no mercado financeiro e as bolsas de valores de vários países europeus voltaram a subir. Ele também citou a China, que retomou o crescimento da sua economia, como fator positivo para a superação da grave crise capitalista mundial. As importações chinesas, que não haviam crescido nada em novembro, registraram um aumento de 6% no último mês do ano passado.

Para o carrasco do Banco Central Europeu, “a economia da zona do euro vai continuar apresentando sinais de fraqueza em 2013. Mas, no fim do ano, a atividade econômica deve iniciar uma recuperação gradual. Vários indicadores se estabilizaram, ainda que a níveis baixos, e a confiança do mercado melhorou consideravelmente”. O tom aparentemente otimista de Mario Draghi serviu para justificar novas as medidas de austeridade fiscal, que tanto têm penalizado os povos da Europa.

O discurso do agiota, porém, não convence. No final do ano passado, a própria Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma espécie de clube dos países ricos, reduziu as projeções de crescimento de 31 dos seus 34 integrantes e voltou a alertar para o risco de nova recessão mundial. “Após cinco anos de crise, a economia global está se enfraquecendo novamente. O risco de uma nova grande contração não pode ser descartado”, alertou o economista-chefe da OCDE, Pier-Carlo Padoan.

A OCDE previu que o Produto Interno Bruto (PIB) combinado de seus 34 integrantes crescerá apenas 1,4% neste ano. Em maio passado, ele havia projetado um crescimento de 1,6%. Já no caso da Europa, ainda mais dramático, ele prevê que haverá contração de 0,1% em 2013. “A zona do euro, que passa por pressões significativas, pode estar em perigo”, afirmou Padoan. Diante da gravidade da crise, a OCDE recomendou aos bancos centrais maior estímulo as suas economias, bem diferente do que prega o carrasco Mario Draghi.

Seja qual for o diagnóstico e as receitas para a superação da grave crise capitalista, uma coisa é certa. Mesmo no caos, os banqueiros continuam lucrando e mantendo seus privilégios. Na semana passada, a ditadura do capital financeiro confirmou que está mais forte do que nunca. O Comitê de Basileia para Supervisão Bancária, composto pelas autoridades monetárias de 26 países, decidiu afrouxar ainda mais as regras de controle dos poderes públicos sobre a especulação rentista.

Até o Estadão, um ardoroso defensor do capitalismo, criticou as medidas por elas prolongarem ainda mais a agonia do próprio sistema. “Os bancos venceram mais uma parada e ganharam mais quatro anos, até 2017, para adotar novos padrões de segurança contra corridas aos depósitos e ondas de pânico. Passados mais de quatro anos da quebra do Lehman Brothers, banqueiros continuam resistindo às reformas necessárias para tornar o sistema financeiro menos perigoso para a economia global”.

2 comentários:

  1. Miro, seu texto está muito bom, como sempre. Mas veja aí, se são 4 anos é até 2017 e não 2019.

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