Fernando Botero/Abu Ghraib |
A invasão e a barbárie no Iraque completaram 10 anos na
semana passada. Os Estados Unidos evitaram festejar a fatídica data. Neste
longo período, segundo dados oficiais, mais de 120 mil iraquianos foram
assassinados e os EUA gastaram nas operações militares mais do que o PIB
brasileiro (cerca de US$ 2,2 trilhões). Outras fontes afirmam que a “guerra” causou
mais de meio milhão de mortos e que os tais “prejuízos” foram bem superiores.
De qualquer forma, o saldo é extremamente negativo. Um desastre completo!
Uma reportagem do jornal britânico “The Guardian” também
trouxe novos elementos que comprovam que os EUA praticaram torturas nos centros
de detenção do país. O coronel James Steele, um veterano das intervenções ianques
na América Central nos anos de 1980, teria supervisionado diretamente os
comandos policiais que instalaram masmorras secretas. Segundo o jornal, as
unidades militares dos EUA conduziram alguns dos piores atos de tortura durante
a ocupação e aceleraram a entrada do país na atual guerra civil.
Segundo o jornalista estadunidense Seymour Hersh, que
revelou torturas em Abu Ghraib, o conflito no Iraque desmoralizou totalmente os
EUA. As torturas e humilhações contra os prisioneiros revelaram toda a
crueldade do império. Numa série de reportagens publicadas entre abril e maio
de 2004 na revista "New Yorker", ele detalhou, inclusive com fotos,
as práticas do então presidente George W. Bush. Dez anos após as primeiras bombas
caírem sobre Bagdá, Hersh afirma que a invasão do Iraque “não foi apenas
errada, mas foi imoral”.
Eleitor de Barack Obama, o jornalista se mostra bem
pessimista sobre a política externa dos EUA. “Obama é melhor e mais inteligente
do que Bush, mas tudo continua muito difícil”. Ele lembra que muitos iraquianos
ainda permanecem presos, em condições desumanas, em Abu Ghraib e em Guantánamo,
em Cuba. “A prisão continua em funcionamento. Alguns presos estão em Guantánamo
há 11, 12 anos, isso tem um custo. Os americanos estão preocupados? Talvez uma
parte muito pequena, mas a grande maioria não se importa”.
Como argumenta o professor de relações internacionais
Reginaldo Mattar Nasser, em artigo no sítio Carta Maior, o saldo da invasão do Iraque
é um desastre. “O ataque completou dez anos com a constatação por grande parte
dos analistas de que a estratégia do governo Bush foi um fracasso: os Estados
Unidos e seus aliados não conseguiram alcançar os objetivos anunciados e as
consequências da operação militar foram desastrosas, seja do ponto de vista
moral, econômico ou militar”.
Mas, para ele, o que o discurso sobre a derrota dos EUA não
revela é que a guerra foi e continua sendo uma grande vitória para alguns. “O ataque
ao Iraque impactou consideravelmente o comércio mundial de petróleo, pois além
de interromper a produção iraquiana, a instabilidade política no Oriente Médio
fez com que o preço do produto disparasse. Em 2003, quando os EUA chegaram à
região, o preço do barril estava ao redor de US$25. Cinco anos depois, em 2008,
ele chegou a US$ 140”. A indústria do setor obteve altos lucros.
Outro setor que auferiu altos lucros foi o da indústria de
armamentos. “A percepção de insegurança no mundo proporcionada pela chamada
Guerra contra o Terror conduzida pelos EUA, após 2001, propiciou aumento
considerável na venda de armas aos países em todo o mundo. As 100 maiores
empresas produtoras do mundo venderam US$ 410 bilhões em armas e serviços
militares em 2011. Um estudo do Sipri mostra que a despesa militar no mundo, em
2011, foi de 1,6 trilhão de dólares, um aumento de 40% em 10 anos”.
Reginaldo Mattar Nasser também cita a indústria de “reconstrução”,
que cuidou da infraestrutura do Iraque devastado, dos serviços de segurança e do
treinamento das forças policiais. “A maior parte dos recursos foi alocada na
contratação das empresas privadas de segurança. Em 2008, os dez principais
fornecedores de serviços militares receberam cerca de US$ 150 bilhões em
contratos”. Em síntese: a guerra no Iraque resultou em milhares de mortos e na
destruição do país. Mas garantiu lucros recordes aos capitalistas.
“Ou seja, a suposta irracionalidade das ações
contraproducentes no terreno militar, durante esses 10 anos no Iraque, é mais
aparente do que real e não se trata, como querem ver alguns críticos da ação
dos EUA, de uma guerra interminável no sentido de carecer de objetivos
claramente definidos ou mal executados. A elite no poder sabe bem o que se espera
desse estado de guerra permanente: a expansão dos negócios, domínio de
territórios e influencia política”, conclui o professor Reginaldo Mattar Nasser.
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