Por Carlos Lopes, no jornal Hora do Povo:
A principal estrela dos 16 minutos que a Globo, no último "Fantástico", dedicou às ferrovias, portos e ao (suposto) terrível descaso de Lula e Dilma para com eles, foi o sr. Bernardo Figueiredo, presidente da Empresa de Planejamento de Logística (EPL).
O show (pois reportagem aquilo não foi) constituiu-se de mentiras, falsificações e estelionatos informativos, além de uma burrice indecente por parte da repórter – o que não é surpresa – e de uma senhora algo avantajada que apresentou o programa.
No entanto, dos entrevistados, o único que mostrou uma inequívoca satisfação foi Figueiredo. Os outros, até os capachos de fé, pareciam sentir uma úlcera ou um corpo estranho adentrando-lhes, supomos, a alma. Eles sabem quando estão mentindo. O ministro dos Portos parecia constrangido – tão constrangido que assinou em seguida uma nota apontando algumas mentiras.
O único que estava, não somente à vontade, mas alegre, contente, exibindo-se para a Globo - e nem se abalou em assinar a nota conjunta do governo - era o sr. Figueiredo. O que é muito interessante, porque ele é o principal responsável pela elevação do preço do transporte ferroviário para, em média, 103% do preço do transporte rodoviário (há quase um consenso que aquele é, normalmente, pelo menos 30% mais barato que o último; exceto quando há um mágico escondendo cobras e engolindo espadas...).
Currículo
Figueiredo tem um currículo miraculoso: sob Fernando Henrique Cardoso, chefe de gabinete do presidente da Rede Ferroviária Federal, realizou os "estudos" para a privatização das ferrovias; em seguida, tornou-se presidente da principal beneficiária da privatização, a Interférrea (posteriormente denominada ALL, da qual o sr. Figueiredo foi membro do Conselho de Administração) e presidente da entidade das ferrovias privadas, a Associação Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF); sabe-se lá como, tornou-se depois, sucessivamente, diretor da Valec, gerente de projeto do Programa de Parceria Público-Privada do Ministério do Planejamento, assessor especial da Casa Civil, e, logo, diretor-geral da ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres (todas essas informações foram fornecidas pelo próprio Figueiredo: v. Diário do Senado Federal, 11/03/2008, Mensagem nº 50/2008, Curriculum Vitae, "Bernardo José Figueiredo Gonçalves de Oliveira").
Dois dias depois de sua posse na ANTT, no dia 16/06/2008, Figueiredo entregou uma nova concessão ferroviária para a ALL, a Ferrovia Novoeste S.A. (Deliberação ANTT nº 258/08). Vinte e dois dias após, entregou à ALL outra concessão, a Ferronorte S.A. (Deliberação ANTT nº 289/08). Mais 33 dias, e ele entregou outra concessão para a ALL, a Ferroban, em São Paulo (Deliberação ANTT nº 359/08).
Mas não houve expansão da malha ferroviária. Pelo contrário, em seguida, a ANTT, sob a presidência de Figueiredo, "permitiu, sem nenhuma penalização, que as concessionárias desativassem, no todo ou em parte, o serviço de transporte ferroviário em 2/3 da malha concedida, sem realizar os diversos procedimentos relativos às solicitações de suspensão e supressão de serviços de transporte ferroviário e desativação de trechos" previstos pela própria ANTT (Resolução nº 44, 4/07/ 2002). Ou seja, sob a égide de Figueiredo, foram desativados, total ou parcialmente, 20 mil km de ferrovias, dos 29 mil km que constituem a malha ferroviária do país (ver a entrevista do próprio Figueiredo na Revista Ferroviária, março/2009, págs. 12 a 19).
Ao sabatiná-lo no Congresso, o senador Roberto Requião assim resumiu essa parte da carreira de Figueiredor:
"Com esses seus três atos relâmpagos (…), além dos 7.304 quilômetros de malha ferroviária, entregou 478 locomotivas, 14.371 vagões à ALL – da qual, através da Interférrea, o senhor foi presidente e depois membro do Conselho de Administração –, que já explorava a Malha Sul em decorrência do leilão de privatização. A ALL recebeu, não pelos bons serviços prestados, mais 4.446 quilômetros de ferrovias, 456 locomotivas, 13.548 vagões, o que representou colocar 11.750 quilômetros de linha, 934 locomotivas e 27.919 vagões nas mãos de um único operador logístico, ou seja, mais de 40% de todo o parque ferroviário nacional na empresa da qual anteriormente o senhor fazia parte como presidente da Interférrea e como membro do Conselho de Administração da ALL. (…) Essa concentração absurda de poder econômico, esse monopólio da ALL sobre 40% do parque ferroviário nacional nas regiões em que se concentra a maior parte do PIB brasileiro, ocorrida sob a sua gestão na ANTT, na minha opinião, é um escândalo. (…) É meu dever perguntar: o senhor considera ético que, durante a sua gestão na Diretoria Geral da ANTT e através de atos firmados pelo senhor, a ALL, empresa que o senhor estruturou, representou na concessão e dirigiu, cresça de modo incrível e ganhe essa dimensão gigantesca que hoje apresenta?"
Em sua resposta, Figueiredo tergiversou: por exemplo, disse que não formatou a privatização – mas isso estava em seu currículo, apresentado por ele quando foi conduzido pela primeira vez para a ANTT. O Senado recusou-se a reconduzi-lo para a ANTT, por faltar-lhe os requisitos de reputação ilibada e competência técnica.
Esse é o herói da Globo. A questão é: por que Figueiredo estava tão satisfeito, no meio de um programa que era uma mentirada contra o governo – em especial contra a presidente Dilma? Teria sido ele a fonte de tão sábios dados para a Globo?
Por exemplo: "Este ano o Brasil teve uma supersafra de grãos. E a comida ficou mais barata? Não. Porque o preço do transporte fica mais caro ano a ano".
O peso dos transportes no aumento de preços dos alimentos que houve de agosto a dezembro do ano passado, foi, a bem dizer, insignificante. Tanto assim que os transportes continuam os mesmos e o preço dos alimentos está caindo desde janeiro. O que pesou nos preços foi a especulação financeira com papéis ancorados na produção de alimentos, promovida nas bolsas de mercadorias de Chicago e Nova Iorque (hoje aNew York Mercantile Exchange – a bolsa de mercadorias de Nova Iorque – é uma filial da Chicago Mercantile Exchange. Um único grupo, com o seu entrelaçamento com os grandes bancos dos EUA, dirige a especulação mundial das commodities, com as inevitáveis consequências).
Públicos
No Brasil, os portos públicos permitiram que nossa corrente de comércio (exportações e importações) aumentasse de US$ 121,344 bilhões (2003) para US$ 482,285 bilhões (2011). O pequeno recuo de 2012 (US$ 465,728 bilhões) nada teve a ver com os portos, mas com a primarização das exportações, diminuindo a parcela de manufaturados e aumentando a parcela de bens primários (commodities).
Evidentemente, isso não quer dizer que não haja problemas: na própria matéria da Globo, o único dado real é um viaduto, obra do PAC, que encontra-se paralisado. O problema é falta de investimentos públicos – mas a Globo e o sr. Figueiredo preferem doar o patrimônio público a monopólios estrangeiros.
E, como é claro na lavagem de porco (nos perdoem os suínos) servida no "Fantástico", não é para exportar manufaturados que eles querem privatizar os portos, mas para escalpelar o país dos seus minérios e da sua fenomenal produção de alimentos.
Pela privatização anterior do sr. Figueiredo, já sabemos onde isso acaba: ferrovias desativadas, portos abandonados, o país em crise pelo estrangulamento da infraestrutura e logística, e algumas multinacionais fazendo a farra às nossas custas.
A principal estrela dos 16 minutos que a Globo, no último "Fantástico", dedicou às ferrovias, portos e ao (suposto) terrível descaso de Lula e Dilma para com eles, foi o sr. Bernardo Figueiredo, presidente da Empresa de Planejamento de Logística (EPL).
O show (pois reportagem aquilo não foi) constituiu-se de mentiras, falsificações e estelionatos informativos, além de uma burrice indecente por parte da repórter – o que não é surpresa – e de uma senhora algo avantajada que apresentou o programa.
No entanto, dos entrevistados, o único que mostrou uma inequívoca satisfação foi Figueiredo. Os outros, até os capachos de fé, pareciam sentir uma úlcera ou um corpo estranho adentrando-lhes, supomos, a alma. Eles sabem quando estão mentindo. O ministro dos Portos parecia constrangido – tão constrangido que assinou em seguida uma nota apontando algumas mentiras.
O único que estava, não somente à vontade, mas alegre, contente, exibindo-se para a Globo - e nem se abalou em assinar a nota conjunta do governo - era o sr. Figueiredo. O que é muito interessante, porque ele é o principal responsável pela elevação do preço do transporte ferroviário para, em média, 103% do preço do transporte rodoviário (há quase um consenso que aquele é, normalmente, pelo menos 30% mais barato que o último; exceto quando há um mágico escondendo cobras e engolindo espadas...).
Currículo
Figueiredo tem um currículo miraculoso: sob Fernando Henrique Cardoso, chefe de gabinete do presidente da Rede Ferroviária Federal, realizou os "estudos" para a privatização das ferrovias; em seguida, tornou-se presidente da principal beneficiária da privatização, a Interférrea (posteriormente denominada ALL, da qual o sr. Figueiredo foi membro do Conselho de Administração) e presidente da entidade das ferrovias privadas, a Associação Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF); sabe-se lá como, tornou-se depois, sucessivamente, diretor da Valec, gerente de projeto do Programa de Parceria Público-Privada do Ministério do Planejamento, assessor especial da Casa Civil, e, logo, diretor-geral da ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres (todas essas informações foram fornecidas pelo próprio Figueiredo: v. Diário do Senado Federal, 11/03/2008, Mensagem nº 50/2008, Curriculum Vitae, "Bernardo José Figueiredo Gonçalves de Oliveira").
Dois dias depois de sua posse na ANTT, no dia 16/06/2008, Figueiredo entregou uma nova concessão ferroviária para a ALL, a Ferrovia Novoeste S.A. (Deliberação ANTT nº 258/08). Vinte e dois dias após, entregou à ALL outra concessão, a Ferronorte S.A. (Deliberação ANTT nº 289/08). Mais 33 dias, e ele entregou outra concessão para a ALL, a Ferroban, em São Paulo (Deliberação ANTT nº 359/08).
Mas não houve expansão da malha ferroviária. Pelo contrário, em seguida, a ANTT, sob a presidência de Figueiredo, "permitiu, sem nenhuma penalização, que as concessionárias desativassem, no todo ou em parte, o serviço de transporte ferroviário em 2/3 da malha concedida, sem realizar os diversos procedimentos relativos às solicitações de suspensão e supressão de serviços de transporte ferroviário e desativação de trechos" previstos pela própria ANTT (Resolução nº 44, 4/07/ 2002). Ou seja, sob a égide de Figueiredo, foram desativados, total ou parcialmente, 20 mil km de ferrovias, dos 29 mil km que constituem a malha ferroviária do país (ver a entrevista do próprio Figueiredo na Revista Ferroviária, março/2009, págs. 12 a 19).
Ao sabatiná-lo no Congresso, o senador Roberto Requião assim resumiu essa parte da carreira de Figueiredor:
"Com esses seus três atos relâmpagos (…), além dos 7.304 quilômetros de malha ferroviária, entregou 478 locomotivas, 14.371 vagões à ALL – da qual, através da Interférrea, o senhor foi presidente e depois membro do Conselho de Administração –, que já explorava a Malha Sul em decorrência do leilão de privatização. A ALL recebeu, não pelos bons serviços prestados, mais 4.446 quilômetros de ferrovias, 456 locomotivas, 13.548 vagões, o que representou colocar 11.750 quilômetros de linha, 934 locomotivas e 27.919 vagões nas mãos de um único operador logístico, ou seja, mais de 40% de todo o parque ferroviário nacional na empresa da qual anteriormente o senhor fazia parte como presidente da Interférrea e como membro do Conselho de Administração da ALL. (…) Essa concentração absurda de poder econômico, esse monopólio da ALL sobre 40% do parque ferroviário nacional nas regiões em que se concentra a maior parte do PIB brasileiro, ocorrida sob a sua gestão na ANTT, na minha opinião, é um escândalo. (…) É meu dever perguntar: o senhor considera ético que, durante a sua gestão na Diretoria Geral da ANTT e através de atos firmados pelo senhor, a ALL, empresa que o senhor estruturou, representou na concessão e dirigiu, cresça de modo incrível e ganhe essa dimensão gigantesca que hoje apresenta?"
Em sua resposta, Figueiredo tergiversou: por exemplo, disse que não formatou a privatização – mas isso estava em seu currículo, apresentado por ele quando foi conduzido pela primeira vez para a ANTT. O Senado recusou-se a reconduzi-lo para a ANTT, por faltar-lhe os requisitos de reputação ilibada e competência técnica.
Esse é o herói da Globo. A questão é: por que Figueiredo estava tão satisfeito, no meio de um programa que era uma mentirada contra o governo – em especial contra a presidente Dilma? Teria sido ele a fonte de tão sábios dados para a Globo?
Por exemplo: "Este ano o Brasil teve uma supersafra de grãos. E a comida ficou mais barata? Não. Porque o preço do transporte fica mais caro ano a ano".
O peso dos transportes no aumento de preços dos alimentos que houve de agosto a dezembro do ano passado, foi, a bem dizer, insignificante. Tanto assim que os transportes continuam os mesmos e o preço dos alimentos está caindo desde janeiro. O que pesou nos preços foi a especulação financeira com papéis ancorados na produção de alimentos, promovida nas bolsas de mercadorias de Chicago e Nova Iorque (hoje aNew York Mercantile Exchange – a bolsa de mercadorias de Nova Iorque – é uma filial da Chicago Mercantile Exchange. Um único grupo, com o seu entrelaçamento com os grandes bancos dos EUA, dirige a especulação mundial das commodities, com as inevitáveis consequências).
Públicos
No Brasil, os portos públicos permitiram que nossa corrente de comércio (exportações e importações) aumentasse de US$ 121,344 bilhões (2003) para US$ 482,285 bilhões (2011). O pequeno recuo de 2012 (US$ 465,728 bilhões) nada teve a ver com os portos, mas com a primarização das exportações, diminuindo a parcela de manufaturados e aumentando a parcela de bens primários (commodities).
Evidentemente, isso não quer dizer que não haja problemas: na própria matéria da Globo, o único dado real é um viaduto, obra do PAC, que encontra-se paralisado. O problema é falta de investimentos públicos – mas a Globo e o sr. Figueiredo preferem doar o patrimônio público a monopólios estrangeiros.
E, como é claro na lavagem de porco (nos perdoem os suínos) servida no "Fantástico", não é para exportar manufaturados que eles querem privatizar os portos, mas para escalpelar o país dos seus minérios e da sua fenomenal produção de alimentos.
Pela privatização anterior do sr. Figueiredo, já sabemos onde isso acaba: ferrovias desativadas, portos abandonados, o país em crise pelo estrangulamento da infraestrutura e logística, e algumas multinacionais fazendo a farra às nossas custas.
Todos sabemos, inclusive elles que quem entregou as rodovias para a iniciativa privada foi a direita, foi fhc e aliados e que estes só ocuparam o file das redes e abandonaram o resto e não investiram em nada.
ResponderExcluirVamos esclarecer que isso tudo são alguns dos danos periféricos causados pelo Agronegócio e que "grãos" produzidos pelo Agronegócio não são alimentos.
ResponderExcluirNo Jornal Nacional da noite de quarta feira, o Bonner caprichou na chamada sobre o programa de vacinação contra a grie A, segundo informou a campanha de vacinaçãofoi um fracasso, tanto o governo teve que extender o prazo para mais tempo.Não sei qual foi o resultado nos outros estados mas em santa catarina , por ex, deu em manchete na RBS(filiada da globo) que a Campanha foi um sucesso, superou as expcetativas com elavado numero de vacinados. para isto é que existe controle remoto,desliga-se a tv no ato.
ResponderExcluirO PT, DESCULPE-ME, PB -PARTIDO DA BURGUESIA, VIA DILMA É QUE DEVE EXPLICAÇÕES DA INDICAÇÃO DE BERNARDO FIGUEREDO, RECHAÇADO PARA ANTT PELO SENADO.
ResponderExcluirALIÁS DILMA É UM ESTRAGO QUE DÁ DÓ. TEMOS BOLSA EMPREITEIRA, BOLSA MONTADORA, BOLSA TELEFÔNICA, BOLSA USINEIRO, BOLSA AGRONEGÓCIO E.... FERRO NA REFORMA ÁGRÁRIA, FERRO NO MEIO AMBIENTE, FERRO NOS INDÍGENAS, FERRO NAS UNINVERSIDADES PÚBLICAS, FERRO NA REGULAÇÃO DA MÍDIA...OU SEJA, FERRO EM NÓS...
Acorda Tia Dilma!!! Acorda PT!
ResponderExcluirO que mais me impressiona é saber que tudo isso acontece e ninguém toma uma providência.É sobotagem em cima de sabotagem.É orquestrado,tramado ontem para acontecer amanhã.Onde está o pensamento estratégico do governo.
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