Por Kiko Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
Essas mesmas pessoas também pagaram um mico sensacional: filas para comprar entradas, fila para entrar, para ir ao banheiro, para comprar comida e cerveja. Sem contar a lama, que vá lá, pode ser debitada em outra fatura. Tudo por 350 reais por dia. É um dos festivais mais caros do mundo.
350 para quê? A desorganização e a informalidade imperam. Perry Farrell, o criador do Lolla, chegou a ser barrado por engano. Os moradores das casas próximas ao Jockey, no Morumbi, ganham ingressos, à guisa de um calaboca para evitar reclamações. Gente que pagou meia-entrada, fingindo que era estudante, não precisou mostrar a carteirinha na bilheteria. A GEO, empresa de produção de eventos que se associou a Farrell, pertence à Globo. Quando a procura pelos ingressos ameaçava arrefecer no ritmo dos shows de Lady Gaga e Madonna (em que tíquetes foram distribuídos na faixa), a cobertura da emissora se intensificou.
Farrell falou sobre esses problemas à revista Rolling Stone. “Para ser sincero, foi por isso que o Lollapalooza desapareceu por uns três ou quatro anos. É preciso encontrar um modo para que as pessoas consigam comprar as entradas e possamos pagar esses cachês monstruosos. Eu gostaria de dizer que não são os artistas, são os empresários – mas são os artistas também. Os artistas poderiam dizer ‘não explorem tanto assim’. Mas não o fazem, na maior parte do tempo não o fazem. Claro que eles não o fazem porque é assim que eles se sustentam hoje, não é vendendo discos. A vida deles é baseada, equilibrada, no Lollapalooza, Glastonbury, Reading… Então, como fazer?”
Divulgou-se que o cachê total dos artistas chegou a 25 milhões de reais. No ano passado, o Foo Fighters recebeu 700 mil reais. Calcula-se que o mesmo foi desembolsado para ter o Pearl Jam neste ano. O líder do Pearl Jam, o engajadíssimo Eddie Vedder, proibiu o Multishow de transmitir o show.
O primeiro Lollapalooza é de 1991. A ideia de Farrell era comemorar a despedida de sua banda, Jane’s Addiction. Deu tão certo que o grupo não se dissolveu e ele acabou tirando da cartola essa empresa bem sucedida. Se, no início, o festival era voltado à música alternativa ou independente, hoje quem acredita nisso acredita também no coelho da Páscoa e em Marco Feliciano. Farrell, que gosta de se definir como ambientalista e chegou a se reunir com Tony Blair para falar do aquecimento global, culpa o capitalismo. “É um mundo fodido, meu filho”, disse à Rolling Stone. “O lado ruim é que dá origem a corrupção e ganância”.
Faz algum tempo que o rock é uma indústria como qualquer outra – só que em crise. O filme que capturou os últimos lampejos de “pureza” é Quase Famosos, passado em meados dos anos 70. A certa altura, a mãe do protagonista, um jovem jornalista musical, diz: “A adolescência é uma ferramenta de marketing”.
O Lollapalooza poderia cobrar o que fosse, desde que entregasse a mercadoria. Farrell saiu com seus milhões. Se a coisa engatar, volta no ano que vem. Agora, por 350 reais, como diz um amigo, você deveria ter o direito não apenas de participar de um festival organizado, mas de ganhar uma massagem de Perry Farrell.
Pensando bem, melhor não.
pagar 350 reais pra enfrentar filas pra tudo e ainda ficar na lama é coisa de abestado!
ResponderExcluirQue balela, é só fazer um festival com música de qualidade, rock, fusion, pop, que seja, de qualidade e não esse monte de lixo aí, então nada disso se diria e não haveria um texto tão bôbo quanto esse e quanto a música do festival.
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