Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Um homem foi morto por ladrões na segunda-feira (3/6), em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo, diante do tradicional Colégio Sion, onde trabalhava. Um tiroteio na região da Avenida Paulista, que resultou em dois feridos, no começo da tarde de terça-feira (4/6), foi provocado por dois ladrões que seguiam um empresário à saída de um banco. O telejornal Hoje, da Rede Globo, informou que o número de latrocínios – assaltos seguidos de morte – em São Paulo aumentou 75% nos quatro primeiros meses de 2013, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Na quarta-feira (5/6), a imprensa segue fazendo a crônica da violência crescente na região metropolitana de São Paulo. Os jornais citam outros episódios de violência ocorridos recentemente na capital paulista, traçando um retrato no qual nem mesmo as chamadas áreas nobres da cidade, que contam com farto policiamento, escapam dos ataques.
Além do número espantoso de ocorrências, chama atenção a letalidade dos crimes. A proporção de assassinatos em relação ao total de assaltos já constitui um fenômeno que deveria estar mobilizando a imprensa: o risco de alguém levar um tiro por causa de um telefone celular ou de uma mochila aumentou consideravelmente, na capital paulista, e a imprensa não se mobiliza para cobrar explicações das autoridades.
As reportagens e análises, as entrevistas e notas oficiais do governo apenas recheiam aquilo que já é conhecido, ou seja, que nem mesmo o policiamento ostensivo, onde ele mais se concentra, é capaz de oferecer pelo menos o conforto de uma explicação, a certeza de que os estrategistas da segurança pública entendem o que está acontecendo e estão tomando providências.
No telejornal regional da Globo, ao meio-dia de terça-feira (4), o especialista convidado soltou um desabafo, dizendo que ninguém mais aguenta a criação de novas delegacias especializadas e as promessas de que os crimes de maior repercussão serão investigados: “O que as pessoas querem é que o crime não aconteça, não que o bandido seja preso”, afirmou.
O Estado de S.Paulo observa que o tema segurança será central na eleição para governador no ano que vem e a Folha de S.Paulo destaca a redução das mortes em conflito envolvendo policiais militares, mas nenhum dos dois grandes jornais paulistas se aprofunda nas possíveis causas da violência.
Se as autoridades parecem perdidas em meio ao tiroteio, a imprensa deveria mostrar que ainda tem inteligência: nos bancos de dados dos jornais há material de sobra para análises mais profundas, e as redações contam com profissionais capazes de montar infográficos esclarecedores. Por meio deles pode-se comparar, por exemplo, o aumento da violência com as mudanças recentes nos procedimentos policiais.
Ninguém está seguro
Por alguma razão que pode ser identificada pelos especialistas, os assaltantes estão se transformando em assassinos. Pode ser que o criminoso prefira atirar na vítima, ainda que ela não dê sinais de reação, para evitar ser reconhecido, para atrasar a polícia ou simplesmente porque, orientado por seu advogado, sabe que, se vier a ser preso sem o flagrante, tem grandes chances de escapar da Justiça.
Deve haver múltiplas causas, que podem aflorar com a análise dos perfis dos criminosos, seus registros criminais, seus vínculos sociais e outros dados. Na lista das vítimas dos casos de maior repercussão – aqueles que saem nos jornais de grande circulação – há uma variedade enorme de tipos sociais, em termos de gênero, idade, ocupação e circunstância em que o fato ocorreu.
Essa relação inclui estudantes, um jovem balconista de padaria, uma senhora de 62 anos, um executivo, dentistas, transeuntes que faziam compras ou levavam um filho à creche, numa diversidade tal que torna inócua qualquer tentativa do cidadão de pensar numa rotina que o mantenha menos vulnerável. Ninguém está seguro.
A impotência da polícia e a inoperância do esquema preventivo montado ao longo da Avenida Paulista ficam evidentes nas reportagens publicadas na quarta-feira (5/6) sobre o tiroteio que deixou dois feridos na Alameda Santos. Se o fato tivesse ocorrido um pouco mais cedo, quando milhares de pessoas deixam os escritórios e bancos da região para almoçar, o número de vítimas poderia ter sido maior.
Há diversos outros elementos a reforçar a tese de que alguma coisa muito importante está mudando o comportamento dos criminosos, como o fato de não se incomodarem com a fartura de câmeras nas duas regiões onde ocorreram os episódios mais recentes.
Se os assassinos não parecem preocupados com a possibilidade de serem reconhecidos, certamente a questão extrapola a área de atuação das forças policiais e alcança o Judiciário, passando pelo Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil.
A imprensa precisa se mexer, porque a guerra chegou aos bairros nobres, onde se concentram seus leitores tradicionais.
Na quarta-feira (5/6), a imprensa segue fazendo a crônica da violência crescente na região metropolitana de São Paulo. Os jornais citam outros episódios de violência ocorridos recentemente na capital paulista, traçando um retrato no qual nem mesmo as chamadas áreas nobres da cidade, que contam com farto policiamento, escapam dos ataques.
Além do número espantoso de ocorrências, chama atenção a letalidade dos crimes. A proporção de assassinatos em relação ao total de assaltos já constitui um fenômeno que deveria estar mobilizando a imprensa: o risco de alguém levar um tiro por causa de um telefone celular ou de uma mochila aumentou consideravelmente, na capital paulista, e a imprensa não se mobiliza para cobrar explicações das autoridades.
As reportagens e análises, as entrevistas e notas oficiais do governo apenas recheiam aquilo que já é conhecido, ou seja, que nem mesmo o policiamento ostensivo, onde ele mais se concentra, é capaz de oferecer pelo menos o conforto de uma explicação, a certeza de que os estrategistas da segurança pública entendem o que está acontecendo e estão tomando providências.
No telejornal regional da Globo, ao meio-dia de terça-feira (4), o especialista convidado soltou um desabafo, dizendo que ninguém mais aguenta a criação de novas delegacias especializadas e as promessas de que os crimes de maior repercussão serão investigados: “O que as pessoas querem é que o crime não aconteça, não que o bandido seja preso”, afirmou.
O Estado de S.Paulo observa que o tema segurança será central na eleição para governador no ano que vem e a Folha de S.Paulo destaca a redução das mortes em conflito envolvendo policiais militares, mas nenhum dos dois grandes jornais paulistas se aprofunda nas possíveis causas da violência.
Se as autoridades parecem perdidas em meio ao tiroteio, a imprensa deveria mostrar que ainda tem inteligência: nos bancos de dados dos jornais há material de sobra para análises mais profundas, e as redações contam com profissionais capazes de montar infográficos esclarecedores. Por meio deles pode-se comparar, por exemplo, o aumento da violência com as mudanças recentes nos procedimentos policiais.
Ninguém está seguro
Por alguma razão que pode ser identificada pelos especialistas, os assaltantes estão se transformando em assassinos. Pode ser que o criminoso prefira atirar na vítima, ainda que ela não dê sinais de reação, para evitar ser reconhecido, para atrasar a polícia ou simplesmente porque, orientado por seu advogado, sabe que, se vier a ser preso sem o flagrante, tem grandes chances de escapar da Justiça.
Deve haver múltiplas causas, que podem aflorar com a análise dos perfis dos criminosos, seus registros criminais, seus vínculos sociais e outros dados. Na lista das vítimas dos casos de maior repercussão – aqueles que saem nos jornais de grande circulação – há uma variedade enorme de tipos sociais, em termos de gênero, idade, ocupação e circunstância em que o fato ocorreu.
Essa relação inclui estudantes, um jovem balconista de padaria, uma senhora de 62 anos, um executivo, dentistas, transeuntes que faziam compras ou levavam um filho à creche, numa diversidade tal que torna inócua qualquer tentativa do cidadão de pensar numa rotina que o mantenha menos vulnerável. Ninguém está seguro.
A impotência da polícia e a inoperância do esquema preventivo montado ao longo da Avenida Paulista ficam evidentes nas reportagens publicadas na quarta-feira (5/6) sobre o tiroteio que deixou dois feridos na Alameda Santos. Se o fato tivesse ocorrido um pouco mais cedo, quando milhares de pessoas deixam os escritórios e bancos da região para almoçar, o número de vítimas poderia ter sido maior.
Há diversos outros elementos a reforçar a tese de que alguma coisa muito importante está mudando o comportamento dos criminosos, como o fato de não se incomodarem com a fartura de câmeras nas duas regiões onde ocorreram os episódios mais recentes.
Se os assassinos não parecem preocupados com a possibilidade de serem reconhecidos, certamente a questão extrapola a área de atuação das forças policiais e alcança o Judiciário, passando pelo Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil.
A imprensa precisa se mexer, porque a guerra chegou aos bairros nobres, onde se concentram seus leitores tradicionais.
E o Secretário de Segurança de SP ainda soltou a seguinte frase numa das entrevistas da semana: o Latrocínio (roubo seguido de morte), é o roubo "mal sucedido"! Alguém poderia me traduzir esta pérola? Temos que sair as ruas e rezar para que o roubo seja "bem sucedido"?
ResponderExcluirLatrocínio continua representando menos de 3% dos homicídios em São Paulo. E os outros?
ResponderExcluirTemos uma otima Policia em SP. Impossível vigiar cada canto da cidade.A culpa é do juduciario moroso,condescendente e arrogante.Indulto de dia não-sei-do-que para assassinos e estupradores?Só nosso BRASIL.Se nossas leis são ruins,quem as aplica consegue ser pior ainda...
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