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A grande onda da mídia de mercado nestes dias tem sido criticar com extrema dureza a presidenta argentina Cristina Kirchner. O Globo e outros dez jornais da América Latina publicaram durante vários dias uma série de reportagens sob o título Liberdade Ameaçada. Cristina e o já falecido Nestor Kirchner foram acusados de tudo que se possa imaginar em matéria de corrupção e de ações visando restringir a liberdade de imprensa.
Pelo que foi dado a conhecer, a Argentina está a beira do caos, mas o ódio maior da mídia de mercado sem dúvida é a lei dos meios de comunicação, discutida por mais de três anos pelos movimentos sociais, aprovada pelo Congresso e sancionada pela Presidenta atual. A reforma da Justiça também foi criticada com veemência.
Na verdade, como se trata de uma campanha sistemática com o visível intuito de desprestigiar o projeto de Cristina Kirchner e debilitar seus seguidores nas próximas eleições legislativas (as reportagens foram divulgadas também pelo jornal Clarin), as matérias deram pouco ou quase nenhum espaço para os defensores da presidenta.
Apesar das críticas diárias, que continuarão, outras matérias acusam os seguidores dos Kirchner de estarem preparando um projeto que permita a Cristina concorrer a um terceiro mandato. Nesse ponto, a mídia de mercado cai em contradição. Ao mesmo tempo em que revela um grande desgaste da imagem da presidenta, fica visível a preocupação por ela aspirar nova reeleição. Mas se Cristina está tão desgastada, qual o motivo do temor?
Na verdade, além da lei dos meios de comunicação e da reforma da Justiça, a mídia de mercado nunca se conformou com o fato do atual governo não seguir o receituário do capital financeiro internacional. Nesse sentido, tudo precisa ser feito em matéria de desgaste de Cristina.
O mesmo raciocínio vale para presidentes como Rafael Correa, do Equador, Evo Morales, da Bolívia e o mais recente, Nicolás Maduro, da Venezuela. Todos eles são duramente criticados diariamente nas publicações dos integrantes do chamado Grupo de Diários América (GDA), que na verdade se comportam muito mais como partidos políticos defensores de projetos favoráveis ao Estado mínimo do que órgãos de imprensa propriamente ditos.
Os meios de comunicação de mercado citados dificilmente informarão aos seus leitores, ouvintes e telespectadores sobre o fato de as políticas do governo da República Bolivariana da Venezuela terem reduzido o indicador de fome em 86% nos últimos 14 anos, exatamente desde a ascensão do Presidente Hugo Chávez.
Quem reconhece esse índice na Venezuela é a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Vale ressaltar também que a mesma FAO estabelece como meta para 2015 que os governos dos países reduzam os índices de desnutrição à metade do que tinham em 1990. A Venezuela naquele ano apresentava o índice de 11% e mesmo em 2010 alcançou 2%, ou seja, menor até do que o estipulado pelo organismo da ONU.
Mas em matéria de Venezuela, o espaço da mídia de mercado fica por conta de Henrique Capriles Radonsky, que segue deslegitimando a eleição de Nicolás Maduro no pleito presidencial de 14 de abril último com a acusação, sem provas, de fraude. O candidato derrotado, por pouca margem (pouco mais de 1,5%), mas derrotado, conta com o apoio do governo estadunidense. Capriles andou circulando pelo exterior sendo recebido pelo Presidente colombiano Juan Manuel Santos.
Já os seguidores de Capriles, como a deputada Maria Corina Machado, estiveram recentemente no Chile. A parlamentar se entendeu muito bem com pinochetistas eméritos, entre os quais Hernán Felipe Errázuriz Correa, ex-Ministro do Exterior e também de Minas, além de presidente do Banco Central, durante o regime sanguinário chileno.
A divulgação do encontro entre correligionários foi noticiado pelo jornal El Mercurio, que integra o tal Grupo de Diários América e que antes do golpe contra o presidente Salvador Allende foi contemplado pela CIA com 1,5 milhão de dólares.
Outra importante informação também praticamente ignorada pela mídia de mercado brasileira foi a criação pela Unasur (União das Nações Sul Americanas) da primeira Escola Sul Americana de Defesa (Efuse) com o objetivo de formar militares dos 12 países integrantes da instituição. O ensino da Efuse será no contexto do pensamento estratégico essencialmente sul americano e promoverá intercâmbio de professores e alunos, civis e militares nos programas.
Mas os questionadores do comportamento partidário dos meios de comunicação de mercado são acusados de ferir a liberdade de expressão e de imprensa, quando acontece exatamente o contrário.
Por estas e muitas outras, as ferozes críticas a Cristina Kirchner, Rafael Correa, Evo Morales e Nicolás Maduro devem ser entendidas como campanhas contrárias a quem não segue o receituário do pensamento único, defensores do estado mínimo.
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