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A decisão da presidenta Dilma de cancelar a viagem aos EUA é o tipo de gesto que distingue o estadista do chefe de estado vassalo; o mandatário que não abre mão da soberania do seu país do que curva a espinha diante do primeiro rosnar dos poderosos.
Noves fora a importância política do cancelamento, se levarmos em conta apenas os procedimentos inerentes ao jogo diplomático, a decisão de Dilma é impecável. A regra não escrita da reciprocidade, que rege a relação entre as nações, não só respalda a decisão brasileira como alça o nosso país a um patamar ainda mais alto na cena internacional.
É assim que procede quem almeja de fato uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Essa é a postura de quem cansou de desempenhar um papel subalterno no mundo e vai se firmando como interlocutor de respeito e liderança inconteste entre os países em desenvolvimento.
Vale notar que a resposta dos EUA à cobrança dura feita pelo Itamaraty à chancelaria norte-americana e depois, olho no olho, por Dilma a Obama foi um amontoado de evasivas, com base nos imperativos de segurança e combate ao terrorismo, mantra predileto dos EUA.
Nenhum pedido de desculpas pela espionagem das mensagens entre a presidenta e seus auxiliares, nem pela bisbilhotagem nos sistemas da Petrobras e tampouco pelo monitoramento dos cidadãos e das empresas e embaixadas brasileiras.
Na certa, a arrogância americana concebeu como tática para superar o imbróglio diplomático a tergiversação e a enrolação. O negócio era empurrar o máximo com a barriga que o Brasil cederia. Afinal, sempre foi assim em mais de 500 anos. Ou não teve até ministro de FHC que tirou o sapato para pisar em solo americano ?
Mas a diplomacia de Obama errou feio ao menosprezar a política externa soberana e independente que o Brasil adotou desde o primeiro governo Lula. Apostou suas fichas no cinismo e perdeu feio. O chanceler dos EUA, em visita ao Brasil, chegou a dizer que a arapongagem visava proteger os próprios países bisbilhotados do terrorismo.
Por sua vez, Obama emitiu nítidos sinais de que para os EUA é impossível deixar de espionar pessoas, empresas e governos ao redor do planeta. Está no DNA imperialista deles. É política de Estado, não de governo. Por fim, chegou a culpar, mais uma vez, os que vazaram a informação, responsáveis, segundo o presidente norte-americano, por amplificar e distorcer os fatos.
Embora a direita midiática vá seguir sua sina colonizada e entreguista e criticar a presidenta Dilma por "colocar em risco as relações com os EUA" e "criar embaraços diplomáticos com o nosso principal parceiro comercial",o Brasil só tem a agradecer à presidenta por essa decisão corajosa em defesa da nossa soberania.
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