quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A queda de confiança nas instituições

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa

O Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em sua sétima versão, ganha repercussão na quarta-feira (6/11) por conta de um dado preocupante: a confiança nas instituições públicas caiu em todo o país entre o primeiro semestre de 2012 e o mesmo período deste ano.

 A imprensa destaca a polícia e os partidos políticos entre as entidades de menor credibilidade, mas a própria mídia não tem do que se orgulhar e o descrédito aumentou também em relação às forças armadas e à igreja católica – embora os militares mantenham uma posição discreta e a igreja esteja fazendo um esforço de relações públicas com o novo papa.

Os dados foram retirados da pesquisa Índice de Confiança na Justiça Brasileira, realizada pela Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, com levantamentos em oito estados e uma amostragem de 3.300 brasileiros. De modo geral, o levantamento apresenta indícios de um processo de distanciamento entre a população e as instituições que deveriam representar seus interesses.

Os partidos políticos estão no fundo do poço da credibilidade, com 95,1% de pessoas afirmando que não confiam nas agremiações. Esse número se reflete na reputação do Congresso Nacional, que não merece a confiança de 81,5% dos consultados. Logo abaixo, na lista de instituições avaliadas, vem a polícia, que não merece o crédito de 70,1% da população.

Analistas observam que as causas da falta de confiança na polícia são a baixa taxa de resolução dos crimes, a burocracia no atendimento ao cidadão e a imagem de violência, principalmente associada à Polícia Militar. A percepção pode ter sido influenciada pelos constantes confrontos nas manifestações que ocorrem desde junho, com a truculência da PM contribuindo para aumentar essa imagem negativa da instituição.

Os indicadores caíram em todos os itens pesquisados, mas há diferenças conforme a região do país: na Bahia, por exemplo, o índice de satisfação com a atuação das polícias civil e militar é muito superior ao dos demais estados. Surpreendentemente, o Rio de Janeiro vem em segundo lugar, juntamente com o Amazonas, com a Polícia Militar exibindo um grau de confiabilidade mais alto do que a média.

Ainda as diferenças sociais

O estudo, que deve causar preocupações pela evidência de que o Estado não parece cumprir suas funções básicas diante da sociedade, revela uma circunstância que merece análises mais acuradas: os brasileiros mais velhos, aqueles com renda mais alta e mais anos de educação formal, compõem a parcela da população que mais confia na Justiça e na polícia.

Os ricos e com maior escolaridade também são aqueles que em maior quantidade declararam já terem sido demandados em processos judiciais; da mesma forma, compõem a camada da população que mais aciona a Justiça e também a mais disposta a buscar acordos extrajudiciais em caso de conflito.

Os números apontam para um aspecto das diferenças sociais a evidenciar que os brasileiros em melhor situação tendem a se beneficiar mais dos serviços do Estado, enquanto os mais pobres ficam sem solução para suas pendências, ou se valem de recursos que não podem ser mensurados pelo estudo.

Sabe-se que têm crescido os serviços de conciliação em fóruns das grandes cidades, mas a pesquisa precisaria ser cruzada com outras fontes para produzir uma análise sobre como os cidadãos de classe média e os mais pobres obtém justiça quando seus direitos são ameaçados.

A falta de confiança nas instituições públicas reflete um sentimento difuso de vulnerabilidade, que muito provavelmente também se inclui entre as causas das manifestações de protesto. A oscilação para pior, entre o primeiro semestre de 2012 e o mesmo período de 2013, pode estar relacionada à exposição das falhas do sistema de representação política, mas algumas análises apontam o noticiário intenso sobre corrupção, violência policial e persistência de problemas sociais como causas possíveis do descontentamento com as instituições.

Mas não é apenas o Estado que carece da confiança dos brasileiros: a imprensa escrita, por exemplo, merece o crédito de apenas 38% dos entrevistados, enquanto as emissoras de TV são confiáveis para apenas 29% dos brasileiros.

Embora o estudo não faça comparações com os anos anteriores, trata-se de indicadores que deveriam preocupar os gestores da mídia. Afinal, credibilidade é tudo para o jornalismo.

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