quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O telefonema de Saad para Haddad

Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

“Recebi um telefonema de um dono de muitos meios de comunicação dizendo que não daria trégua à prefeitura e que colocaria todos seus veículos contra o IPTU progressivo. Isso não me foi contado. Isso foi dito.”

Bem-vindo ao mundo como ele é, Haddad.

Haddad disse aquilo a jornalistas. Preferiu não dar o nome do empresário. Mas o site Conversa Afiada logo descobriu de quem se tratava: de Johnny Saad, dono da Band.

É um episódio que traz diversas conclusões.

Primeiro, e antes de tudo, ele mostra como funciona a mídia corporativa. O dono manda seus empregados defenderem a causa dele próprio, e a sociedade é bombardeada com um noticiário viciado.

Saad é dono de imóveis em São Paulo, e isso significa que ele teria que pagar mais IPTU.

O brasileiro ingênuo – cada vez em menor número, felizmente – tem uma fé cega naquilo que ouve, vê e lê na mídia. Não tem ideia dos interesses por trás do noticiário.

Depois, há uma questão de moralidade. Saad tem uma concessão pública, a televisão. Como ele se atreve a usá-la em seu favor?

Algum tempo atrás, o executivo da ONU que trata da liberdade de expressão, Jacques de la Rue, notou um fato curioso.

Em muitos países, o Brasil entre eles, as pessoas que receberam concessão pública para ter uma tevê ou uma rádio usam isso com a única finalidade de enriquecerem.

Para ficar no caso mais dramático, os três herdeiros de Roberto Marinho estão no topo da lista das maiores fortunas pessoais do Brasil.

Concessão pública não foi feita para que um pequeno grupo se locuplete.

Por isso, há necessidade de regras que coíbam abusos e fiscalizem o uso decente de concessões.

Cristina Kirchner deu um exemplo de combatividade ao enfrentar a mesma situação na Argentina, ao preço de um colossal desgaste derivado da resistência feroz do grupo Clarín.

Mas não fraquejou e venceu.

Terceiro, o episódio do telefonema mostra uma coisa importante: na Era Digital, uma boa forma de tornar públicos absurdos privados é por vazamentos.

Nenhum órgão das empresas jornalísticas – Folha, Veja, Globo, Estadão – publicaria a denúncia de Haddad, e os brasileiros não saberiam da brutalidade de Saad ao telefone.

A informação foi vazada, e a Band é obrigada a enfrentar a vergonha do telefonema de seu dono.

Foi fruto de um vazamento, também, o furo do ano no Brasil: a trapaça fiscal da Globo na aquisição dos direitos da Copa de 2002. O site Cafezinho publicou a documentação, passada por alguém inconformado da Receita Federal.

O Brasil foi ocupado – na acepção do Movimento Ocupe Wall St – pelas companhias de mídia. Elas se valem de tudo para manter seus privilégios e os do pequeno grupo a que pertencem. Usam seus empregados como se fossem gado para propalar mentiras que lhes convêm.

Fui um deles, aliás.

Vazar informações que ajudem num processo imperioso de desocupação é um ato que beneficia toda a sociedade. Que todos que possuem informações relevantes se lembrem disso.

4 comentários:

  1. jõao
    O seu comentário está aguardando moderação.
    Vídeo: a solidariedade aos companheiros presos políticos
    19 dez 2013/0 Comentários/ destaque /Por Equipe do Blog
    A página Seja Dita a Verdade, no Facebook, editou um vídeo com trechos de depoimentos dados no 5º Congresso Nacional do PT por integrantes do partido e familiares dos presos petistas na AP 470.
    Entre os depoimentos, estão os do presidente da legenda, Rui Falcão, de Joana Saragoça, filha de Zé Dirceu, e do deputado João Paulo Cunha (SP).
    Veja abaixo:
    http://www.youtube.com/watch?v=XL3_t8A-9iY#t=311

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  2. "FUI UM DELES".

    Felizmente para nossa Pátria e para todos nós NÃO É MAIS!

    Parabéns pela coragem em dizer e pelas lutas, já travadas, na mesma trincheira de todos nós.

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  3. E o ministro hibernardo, fica depois do carnaval?

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  4. Caro Miro...

    parece que, à maioria, passou desapercebido, mas, nesta quinta feira (19), a Globo (Overseas) mostrou suas garras. Ao noticiar a simbólica devolução do mandato presidencial de João Goulart pelo Congresso Nacional, a "pj" Patricia Poeta leu (é só isso que fazem mesmo) a seguinte pérola: "(...) o presidente João Goulart foi deposto por um golpe de Estado, apoiado por setores da sociedade (setores? que setores? a "big house"), pois, havia a desconfiança de que João Goulart preparava um golpe para implantar um "ditadura de esquerda"!
    Pois é, como dizem, "a melhor defesa é o ataque"! Durma-se com essa.

    Leo Mendes Filho
    (Parauapebas/PA)

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