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"Não temos uma inflação alta, temos uma inflação moderada e controlada", diz o professor João Sicsú, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e ex-diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para ele, hoje há uma discussão "mais política do que técnica" em torno do tema. Ele lembra que o país está completando uma década de inflação dentro da meta, que vai até 6,5%. “Mas temos de buscar uma inflação cada vez menor, porque é um elemento que dificulta a distribuição de renda”, observa.
Nesse sentido, Sicsú afirma que não adianta aumentar os juros como forma de reduzir a inflação. "Acho que cabe, mais que ao Copom (Comitê de Política Monetária), cabe ao governo, elaborar elementos mais sofisticados do que os juros para o combate à inflação. A taxa de juros tem custo fiscal e de desaceleração do crescimento. É o samba de uma nota só. Inflação deve ser tratada com inteligência. É preciso buscar a causa e atacá-la."
Nos últimos anos, o economista e pesquisador lembra que o custo de vida vem sendo pressionado, basicamente, pelos itens ligados ao grupo de Alimentação e Bebidas – que subiu 9,86% em 2012 e 8,48% em 2013, respondendo respectivamente por 38% e 34% do IPCA. "Isso vem de causas climáticas, de especulação no mercado internacional de commodities. A taxa de juros não é capaz de conter essa inflação. Não terá nenhum impacto sobre o tomate ou o trigo", diz Sicsú.
Outro item de pressão é o custo com serviço doméstico, com influência do salário mínimo. "Mas o salário mínimo tem cumprido um papel muito mais positivo, em termos de distribuição de renda, do que a inflação que provoca em algum nível."
Também se reflete um momento de transição pelo qual o país passa. “Há uma mudança estrutural no Brasil, que era um país estagnado e entrou na rota do desenvolvimento. Estamos sofrendo esse tipo de pressão inflacionária, estamos nessa transição, que traz variação maior de preços em serviços”, lembra o economista, citando casos como manicure, pedreiro e porteiros de prédio. E o período é de desemprego em nível baixo e renda em alta. "Todo país que melhora seu nível de renda tende a ter serviços mais caros."
Para o problema atual, mais concentrado nos preços dos alimentos, ele sugere mudanças fiscais e controle de estoques. "Isso requer muito investimento do governo e muita inteligência", observa Sicsú, para quem se deve dar mais atenção a variações "exageradas" nos preços dos alimentos. "O caso do tomate é emblemático. Custou 13 reais e custou 99 centavos. É preciso diminuir essas oscilações bruscas."
Ele lembra que o país já superou, por exemplo, a inflação causada pelos chamados preços administrados (monitorados pelo governo). "Manter o contato com base no IGP era um tiro no pé, por ser um índice muito sensível à variação cambial. O que derrubou a inflação em 2007/2008 não foram os juros, mas a mudanças nos contratos dos preços administrados."
Para este ano, a inflação de 2014 não deverá mostrar resultado muito diferente dos últimos anos, "a não ser que aconteça algo extraordinário no mundo", e se manter abaixo de 6%. "Mas toda a ênfase vai ser dada aos preços de alimentos e bebidas. A discussão vai ser política-eleitoral", lembra. "O embate vai ser difícil, porque será concentrado no que mais tem variado (custos com alimentação) e que é muito sensível. E quando menor a renda, maior a parcela gata com alimentos."
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