Reproduzo abaixo mais um violentíssimo (no melhor sentido da palavra) petardo de Wanderley Guilherme dos Santos, no qual ataca os inimigos da democracia. Aproveito para dar alguns pitacos à guisa de introdução e advertência.
É preciso calma. A descoberta de que houve pagamentos a alguns militantes que participaram de manifestações ou eventos correlacionados não significa nada. Não podemos criminalizar uma festinha de Cinelândia. A tabela de pagamentos, com gastos de rabanada, pão, gelo, panfletos, não tem nada de culpável. Não há rojões, granadas, balas, metralhadoras.
Movimentos sociais, partidos, sindicatos, sempre dão ajuda a seus militantes. Isso não é terrorismo. É a vida como ela é. Não há nada de errado nisso. Ao contrário. Acho que essas organizações sociais são até muquiranas demais. Deviam ser mais ainda mais participativas. Pagar passagem de ônibus para os jovens virem das periferias às reuniões no centro da cidade. Dar lanche. Até mesmo uns trocados para a cerveja, de vez em quando.
Não vamos procurar pêlo em ovo. Nem inventar o terrorismo da rabanada. Não vamos criminalizar uma prática normal. Sou totalmente contra a tática black bloc, mas não vamos exagerar. São garotos, ponto. Não tem sentido tratá-los como terroristas. Apliquem-lhes algumas penas alternativas e está muito bem. Repito: temos que esvaziar nossas prisões, não abarrotá-las ainda mais. Se reiterarem, aí sim, prisão. Leve. Os que não forem tão garotos, aplique-se uma pena diferente. O que não pode é a impunidade total, até porque houve suspeita de participação de milicianos e/ou bandidos em alguns saques e quebra-quebra.
Quanto aos garotos que participaram da morte trágica do repórter, é exagero chamá-los de assassinos. Foi um acidente. Vamos ter bom senso.
O problema aqui é de outra ordem, conforme mostra Wanderley Guilherme em seu artigo. O problema são os “white blocs”, intelectuais que pregam a violência. Isso sim é perigoso. Pregar a violência, tratar a violência como tática política urbana é uma agressão imperdoável à democracia. Isso deve ser combatido duramente. Não com polícia, mas com argumentos, como faz Wanderley.
Uma coisa é uma violência sem controle, causada por gente desesperada, sob forte impacto emocional motivada pela morte de algum jovem querido numa comunidade. Entende-se, mas sabe-se que, mesmo assim, não é o certo a fazer. Uma mente responsável, com acesso a comunidade, deve convencê-la a lutar de forma democrática, registrar denúncia, usar os canais apropriados para obter justiça, organizar-se politicamente, eleger representantes políticos melhores.
Outra coisa é um professor, friamente, pregar a violência como estratégia política. Particularmente, violência contra patrimônio público.
Imagino que Wanderley ficou especialmente indignado com a invasão das câmaras e assembléias legislativas, como eu também fiquei. Eu votei em certos candidatos, ainda gosto de vários deles, e quero vê-los trabalhando; não quero que um coxinha revoltado, semi-politizado, semi-retardado, interrompa os trabalhos legislativos para tirar onda de revolucionário. E dá-lhe rabanada e refrigerante!
Esse tipo de ação não muda em nada o status quo, e mesmo que mude, não cria um hábito saudável para a democracia. É preciso estimular a politização, a inteligência, a estratégia, a organização, afinal estamos numa civilização, então precisamos ser civilizados. Francamente, nunca vão me convencer que a melhor forma de melhorar o país é instaurando a barbárie e a selvageria anárquica.
Até porque essa tática pode abrir as portas do inferno. E sempre haverá aqueles que lucram com o caos, e com o sofrimento alheio.
Numa democracia não se ganha no grito. Não se ganha na força bruta. A grande utopia da democracia é a paz. É um regime que depende de um pacto tácito entre seus membros: as contradições, inevitáveis, entre as diferentes forças sociais, devem ser resolvidas pacificamente.
Revolução? Uma revolução também não precisa, necessariamente, ser violenta. A revolução russa de outubro de 1917 aconteceu sem uma morte, sem uma violência. Mais tarde é que, para se consolidar, ela teve que lutar contra as invasões patrocinadas pelos regimes ocidentais. Mas o dia da tomada de poder foi pacífico. Os sovietes convenciam seus pares através da argumentação política.
De qualquer forma, não estamos na Rússia, não há um Czar a ser derrubado. Até se pode entender a juventude, rebelde por natureza. Sejamos compreensivos, mas não condescendentes. É preciso reagir politicamente, não policialescamente. A repressão do Estado tem de ser sempre cuidadosa, mas eficiente e rápida quando necessária. A democracia, já disse alhures o professor Wanderley, não pode ser suicida, não pode, em nome de uma distorcida visão de liberdade, permitir que jovens mimados destruam o sistema. Até porque, se o permitirmos, os jovens o farão simplesmente por diversão, dado a lamentável falta de discernimento (e a falta do que fazer) da maioria.
Também é estúpido criarmos uma visão livresca da figura do “governo”, como se fosse uma entidade com a qual a sociedade não tivesse ligação ou responsabilidade. Eu vejo colunistas e ativistas falando de “governo” como quem fala de um Estado estrangeiro opressor. Não tem sentido. Nossos governos são democráticos e, como tais, merecem ser respeitados, até para que eles nos respeitem. Podemos fazer oposição, uma oposição radical, dura, ofensiva até, mas sempre com respeito, porque os governantes, assim como os parlamentares, não estão ali por obra divina. O povo os elegeu. Se não respeitarmos governos e políticos, então porque respeitar o Judiciário, por exemplo? Por que respeitar o Ministério Público? Ambas as entidades também oferecem inúmeras vidraças a serem quebradas, e às vezes são mais conservadores e até mesmo mais corruptos que os demais poderes. E não são eleitos. Seria absurdo, porém, conceber um Ocupa Judiciário. Se os jovens querem criar uma comunidade, que o façam. Acampem onde quiserem, mas se quiserem entrar num legislativo, façam-no com o respeito que os valores democráticos determinam. Repito: respeitem para serem respeitados. Um articulista do Globo (da Academia Brasileira de Letras!) disse que o rojão era direcionado à PM, e que, portanto, a intenção era “boa”. Ora, isso é estupidez. Não podemos descontar nossa indignação política nas costas dos trabalhadores sofridos do governo do estado.
Viva a democracia, viva a energia das ruas, mas não nos interessa um gigante mimado e descontrolado, disposto a dançar qualquer música, desde que o paguem bem. Precisamos de movimentos sociais orgânicos, inteligentes, estratégicos, e, sobretudo, democráticos. Com rabanada ou sem rabanada.
Vamos ao artigo de Wanderley.
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A nova era da violência
Autores intelectuais dos assassinatos já acontecidos e por vir são os whiteblocs. Devem ser combatidos com a mesma virulência com que combatem a democracia
Por Wanderley Guilherme dos Santos, na Carta Maior.
Professores universitários do Rio de Janeiro, de São Paulo e outras universidades falam do governo dos trabalhadores como se fosse o governo do ditador Médici, embora durante aquele período não abrissem o bico. Vetustos blogueiros, artistas sagrados como marqueteiros crônicos, jovens colunistas em busca da fama que o talento não assegura, políticos periféricos ao circuito essencial da democracia, teóricos sem obra conhecida e de gogó mafioso, estes são os mentores da violência pela violência, anárquica, mas não acéfala. Quem abençoa um suposto legítimo ódio visceral contra as instituições, expresso em lamentável, mas compreensível linguagem da violência, segundo estimam, busca seduzir literariamente os desavisados: a violência é a negação radical da linguagem. Mentores whiteblocks, igualmente infames.
A era da violência produziu a proliferação dos algozes e a democratização das vítimas. Antes, a era das máquinas trouxe a direta confrontação entre o capital e o trabalho, as manifestações de protesto dirigiam-se claramente aos capitalistas em demanda por segurança no serviço, salário, férias, descanso remunerado, regulamentação do trabalho de mulheres e crianças. Reclamos precisos e realizáveis. Politicamente exigiam o fim do voto censitário, o direito de voto das mulheres, o direito de organização, expressão e manifestação. Exigiam, em suma, inclusão econômica, social e política.
Os mentores dos algozes possuíam nome e residência conhecida. Os executores eram igualmente identificáveis: as forças da repressão, fonte da violência acobertada pela legislação que tornava ilegais as associações sindicais, as passeatas, os boicotes e as greves. As vítimas estavam à vista de todos: operários, operárias, desempregados, além de cidadãos, escritores e jornalistas solidários com a causa dos miseráveis.
Não há por que falsificar a história e negar que, ao longo do tempo, sindicatos mais fortes e oligarquizados também exerceram repressão sobre organizações rivais, bem como convocatórias grevistas impostas pela coação de operários sobre seus iguais. A era das máquinas não distribuía a violência igualitariamente, mas algozes e vítimas possuíam identidade social clara.
A atual era da violência, patrocinada por ideólogos, jornalistas, blogueiros, ativistas (nova profissão a necessitar de emprego permanente), professores, artistas, em acréscimo aos descontentes hepáticos, testemunha a agregação de múltiplos grupelhos, partidos sem futuro e fascistas genéticos aos tradicionais estimuladores da violência, os proprietários do capital. São algozes anônimos, encapuzados, escondidos nos codinomes das redes sociais, na covardia das palavras de ordem transmitidas a meia boca, no farisaísmo das negaças melífluas.
Os whiteblocs disfarçam o salário e a segurança pessoal nas pregações ao amparo do direito de expressão e de organização. Intimidam com a difamação de que os críticos desejam a criminalização dos movimentos sociais. Para que não haja dúvida: sou a favor da criminalização e da repressão às manifestações criminosas, a saber, as que agridam pessoas, depredem propriedade, especialmente públicas, e convoquem a violência para a desmoralização das instituições democráticas representativas.
As vítimas foram, por assim dizer, democratizadas. Lojas são saqueadas, vidros de bancos estilhaçados, passantes, operários, classes médias, e mesmo empregados e subempregados que a má sorte disponha no caminho da turba são ameaçados e agredidos. A benevolência do respeito à voz das ruas é conivência. Essas ruas não falam, explodem rojões. Não há diálogo possível de qualquer secretaria para os movimentos sociais com tais agrupamentos porque estes não o desejam. E, quando um quer, dois brigam.
A era da violência é obscura. Não me convencem as teorias do trabalho precário porque não cobrem todo o fenômeno, também é pobre a hipótese de uma classe ascendente economicamente com aspirações em espiral (já sustentei esta hipótese), e, sobretudo, não dou um centavo pela teoria de que almejam inclusão social. Eles dizem e repetem à exaustão que não reclamam por inclusão alguma, denunciada por seus professores como rendição à cooptação corrupta.
Os autores intelectuais dos assassinatos já acontecidos e por acontecer são os whiteblocs. Têm que ser combatidos com a mesma virulência com que combatem a democracia. Não podem levar no grito.
Partidos de esquerda aceitaram táticas atrasadas e fizeram uma aliança malandra com a direita contra o atual governo. Aliança tática com a direita usando métodos atrasados de organização dá nisso que estamos vendo na imprensa -- PSTU, PSOL e jovens anarquistas agora estão sendo descartados nas primeiras páginas de jornais como terroristas ou
ResponderExcluirfinaciadores de baderna -- a imprensa monopolista mudou de música, mudou de dança, mudou de pauta, talvez até de aliados ... Os pequenos voltam a viver a realidade de suas pequenices nessas alianças de ocasião. Blogues de apoidadores do governo ao chamarem a tática usada de coisas de terroristas apontaram o senso comum que aqueles manifestantes não querem ver.
Não há cabelo em ovo mas é evidente que há uma disputa eleitoral acirradissima
onde se enfrentam profissionais de ambos os lado, alianças explícitas poderosas em ambos os lados. Agora jovem negro trabalhador vai preso, garota fica com medo de sair na rua e ser linchada pela população ...Enfim, dirigentes de partidos de esquerda, empregados no setor público e com mestrado e doutorado em universidades públicas, usaram movimento social, mal organizado, como auxiliar em suas pequenas ambições eleitorais ...
... O susto que estão levando
esses jovens é muito pesado, suas vozes tremem. Pensei em até abrir uma página de doação para ajudá-lo nessa dura fase da vida.
Esses jovens, esses jovens sem pós graduação e encantados com a revolução via o bilionário facebook e edições caseiras de video em micros com cpu Intel, hoje acessíveis a qualquer trabalhador com salário mínimo, precisam de nossa solidariedade e condescendência ...