quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Caos no Metrô e os “vândalos” do PSDB

Por Altamiro Borges

Uma pane na Linha 3-Vermelha do Metrô, que transporta diariamente quase 5 milhões de pessoas, causou graves transtornos para os paulistanos na noite desta terça-feira (4). Mulheres grávidas passaram mal, usuários se arriscaram nos trilhos e ocorreram confrontos com os seguranças da empresa estatal. Diante de mais este descalabro, que já virou rotina na capital paulista, o governador tucano Geraldo Alckmin preferiu acusar os próprios passageiros, afirmando – sem provas e de forma leviana – que o tumulto foi resultado de uma “ação orquestrada de sabotagem”. Já o secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, culpou os “vândalos” pelo acidente, fugindo das suas responsabilidades no setor.

De fato, há uma “ação orquestrada de sabotagem” no Metrô. Ela é promovida pelo PSDB, que comanda São Paulo há 20 anos. Neste longo período, os tucanos não investiram o suficiente na ampliação das linhas e ainda sucatearam totalmente os serviços, reduzindo o número de trabalhadores e cortando os gastos na manutenção do sistema. Os “vândalos” citados pelo incompetente secretário da pasta são os tucanos! Só a título de comparação, o Metrô de São Paulo possui apenas 74,3 km de extensão para uma população de quase 11 milhões de habitantes. Já Santiago, capital do Chile, tem uma malha de 101 km para atender cerca de seis de milhões de pessoas.

Além disso, como revelam investigações feitas no exterior – já que o Judiciário e a mídia paulista são dominados pelos tucanos –, o Metrô tem sido usado para sugar dinheiro público e para montar um poderoso esquema de Caixa-2 do PSDB, através de contratos com as multinacionais do setor, como a Siemens e a Alstom. Nesta terça-feira, finalmente o Supremo Tribunal Federal decidiu abrir inquérito para investigar as denúncias do pagamento de milionárias propinas para integrantes dos governos em São Paulo – no que já ficou conhecido como “trensalão tucano”. O ministro Marco Aurélio Mello decidiu dividir as apurações sobre o cartel das empresas para fraudar licitações.

O STF investigará apenas os casos dos atuais secretários Edson Aparecido (Casa Civil), Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Econômico) e José Aníbal (Energia), e do deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP). Já os diretores do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) acusados de receber propina responderão em primeira instância, na Justiça Federal de São Paulo. O ministro ainda decidiu quebrar o sigilo dos envolvidos, mantendo em segredo informações associadas à intimidade dos investigados, como sigilo bancário e fiscal. Se estas denúncias fossem amplamente divulgadas pela mídia, como ela fez no midiático julgamento do “mensalão”, a revolta dos usuários do Metrô seria ainda maior!

Nota dos metroviários

Diante do caos permanente no Metrô, das graves denúncias de corrupção no setor e da reação leviana dos tucanos, o Sindicato dos Metroviários de São Paulo divulgou nesta quarta-feira (5) um comunicado bastante esclarecedor sobre a situação da empresa. Reproduzo-o na íntegra abaixo:

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Os metroviários lamentam profundamente o sufoco que passaram os usuários e funcionários na noite de ontem, dia 4 de fevereiro. Sob condições adversas, nos dedicamos diariamente para garantir o funcionamento do Metrô. No entanto, mais uma vez, um trem "reformado" (a maldita frota K) apresentou problemas de porta causando uma reação em cadeia. Os trens parados dentro dos túneis, com o ar condicionado desligado, geraram uma situação insuportável. 

Os trabalhadores do Metrô já haviam denunciado ao Ministério Público os problemas dos trens reformados pela iniciativa privada. Os "trens do Propinoduto". Exigimos, também, uma solução técnica para o ar condicionado dos trens para que não desliguem dentro do túnel. 

Alertávamos para a possibilidade de situações como esta ocorrerem, mas infelizmente, nada foi feito. Diante do caos de ontem voltaremos a procurar o MP buscando soluções. 

Nós entendemos o desespero e a revolta dos usuários. Mas, em momento como os de ontem é necessário seguir as orientações dos funcionários das estações, que tentam minimizar para que não aconteçam consequências mais graves.

Os metroviários sempre estarão presentes para ajudar. Infelizmente não nos é dada condições suficientes para atuar. O Metrô está saturado e somos poucos para um público de 5 milhões de usuários.

Neste quadro, não ajuda em nada as declarações do secretário Jurandir Fernandes que, numa tática diversionista, culpa "grupos organizados" pelo caos. A culpa não é do usuário. Ir por esse caminho é fugir da solução e da responsabilidade com o público. 

Os problemas são: 

1- As falhas dos trens do propinoduto. Não é coincidência que o trem K-07, que abriu falha ontem, é o mesmo que descarrilhou em agosto do ano passado, que ao retornar a operação, falhou por abrir a porta do lado contrário.

Denunciamos que as principais consequências do propinoduto são as péssimas condições dos trens reformados. A empresa privada que ganhou concorrência, a base de propina, oferece um péssimo serviço. Como já havíamos denunciado, essa frota, com apenas sete trens, somou 696 falhas num período de 30 dias. Sendo mais de 300 somente no K07. Trem citado nessa ocorrência.

2- Poucos trens no horário de pico. Além das falhas durante a operação, como as de ontem. Os trens do propinoduto param para manutenção com mais frequência. O que causa uma redução de carros nos horários de pico.

3- O ar condicionado. Exigimos solução técnica para o ar condicionado que não tem fonte alternativa de energia. Quando a via tem que ser desenergizada, por qualquer problema, o ar condicionado desliga também. 

4- CBTC. O investimento vultoso nesse novo sistema de sinalização de via funciona mal e com risco para o usuário, principalmente onde não há operadores de trem.

5- Porta plataforma. Em um sistema carregado como o Metrô de São Paulo são necessárias as portas nas plataformas. Elas servem para minimizar as interferências como a queda de objetos na via e em situações como a presente impossibilidade de entrada na via. Até hoje não houve uma explicação plausível sobre o contrato que iniciou a implantação das portas nas plataformas. Aquelas que viraram monumento na estação Vila Matilde.

6- Superlotação. Ocorre por falta de expansão da malha metroferroviária.

7- Falta de funcionários. Há vinte anos o sistema operava com mais funcionário que hoje. Sendo que, na época, havia menos usuários e menos estações.


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