Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Os jornais anunciam nas edições de quinta-feira (10/4) que o governo paulista poderá admitir a necessidade de um racionamento de água na região metropolitana de São Paulo, se as condições climáticas continuarem desfavoráveis. A imprensa também noticia a troca do titular da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos, com a posse do engenheiro Mauro Arce, que ocupou o cargo entre 1998 e 2006.
Há um forte componente político envolvendo essa questão, mas os jornais dão voltas ao problema. Até aqui, a imprensa, principalmente os dois principais diários de São Paulo, vem acompanhando a crise de abastecimento com um olho no governador e outro em São Pedro. Uma lista de declarações feitas pelo chefe do governo paulista sobre o risco da falta de água, desde fevereiro, publicada na quinta-feira pelo Estado de S. Paulo, mostra que o agravamento do problema foi acompanhado por manifestações oficiais que revelam pouca disposição para admitir o inevitável: a maior aglomeração urbana do país está sob ameaça de ficar sem água.
As reportagens começam a apresentar um quadro muito mais preocupante do que o cenário desenhado até aqui e acomodado pelas medidas e pelas declarações do governador. A presença do engenheiro Arce, que deixou a presidência da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) para assumir o comando da secretaria e montar um gabinete de crise, é uma declaração implícita de que a tática usada até aqui funcionou apenas como cortina de fumaça, com o beneplácito da imprensa.
Mauro Arce é considerado um quadro de governo que alia alta qualificação técnica com sensibilidade política. Em sua primeira manifestação na volta à Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos, ele faz um corte na linha de discursos tranquilizadores e afirma que a situação é mais “delicada” do que a crise de energia elétrica.
Portanto, o cidadão pode esperar uma mudança no discurso oficial, mais assertividade e o fim das meias-medidas. Só não se pode garantir que a imprensa paulista vai admitir que houve muita irresponsabilidade por parte do governo do Estado.
Chove na horta do acionista
No período em que o Brasil passou pela sucessão de “apagões” no sistema elétrico, entre meados de 2001 e o final de 2002, a opinião de Mauro Arce foi importante para convencer o governo federal a assumir a necessidade de racionamento e convocar a população a colaborar com a redução do consumo. Naquela ocasião, o núcleo político do governo Fernando Henrique Cardoso e seu candidato à Presidência da República, José Serra, resistiam a admitir que os cortes de energia provocados pela falta de investimentos e pela seca eram sintomas de uma crise grave.
Em plena campanha eleitoral, que acabou vencida pelo candidato petista Lula da Silva, o governo federal optou por esclarecer a população, obtendo uma adesão surpreendente que produziu uma economia média de 20% no consumo, além de estimular uma série de mudanças no setor industrial, com o surgimento de lâmpadas e aparelhos eletrodomésticos mais econômicos. Doze anos depois, o componente eleitoral volta a interferir na adoção de medidas adequadas.
O Globo também noticia que o governador de São Paulo começa a admitir a possibilidade do racionamento de água, mas destaca outros aspectos da questão que têm sido evitados pelos jornais paulistas. Por exemplo, o diário carioca informa que, em relatório distribuído em março para seus acionistas, a Sabesp já alertava que poderia ser obrigada a “tomar medidas drásticas, como o rodízio de água”.
Outro trecho da reportagem do Globo poderia causar indignação nos leitores paulistas:
“Enquanto isso, os acionistas da Sabesp comemoram os resultados dos lucros da companhia, que é uma empresa mista e tem ações sendo negociadas nas bolsas de São Paulo e Nova York. Nos últimos dez anos, a Sabesp pagou R$ 3,6 bilhões de dividendos, metade dos quais vai para o Tesouro estadual”.
Segundo o jornal carioca, o valor distribuído aos acionistas é suficiente para financiar todas as obras que teriam garantido o abastecimento de São Paulo.
A Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo evitam o quanto podem expor a falta de planejamento e a perversidade da distribuição de recursos da Sabesp, que, segundo o Globo, prioriza os lucros dos acionistas.
Enquanto falta água para a maioria, chove na horta de alguns.
Os jornais anunciam nas edições de quinta-feira (10/4) que o governo paulista poderá admitir a necessidade de um racionamento de água na região metropolitana de São Paulo, se as condições climáticas continuarem desfavoráveis. A imprensa também noticia a troca do titular da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos, com a posse do engenheiro Mauro Arce, que ocupou o cargo entre 1998 e 2006.
Há um forte componente político envolvendo essa questão, mas os jornais dão voltas ao problema. Até aqui, a imprensa, principalmente os dois principais diários de São Paulo, vem acompanhando a crise de abastecimento com um olho no governador e outro em São Pedro. Uma lista de declarações feitas pelo chefe do governo paulista sobre o risco da falta de água, desde fevereiro, publicada na quinta-feira pelo Estado de S. Paulo, mostra que o agravamento do problema foi acompanhado por manifestações oficiais que revelam pouca disposição para admitir o inevitável: a maior aglomeração urbana do país está sob ameaça de ficar sem água.
As reportagens começam a apresentar um quadro muito mais preocupante do que o cenário desenhado até aqui e acomodado pelas medidas e pelas declarações do governador. A presença do engenheiro Arce, que deixou a presidência da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) para assumir o comando da secretaria e montar um gabinete de crise, é uma declaração implícita de que a tática usada até aqui funcionou apenas como cortina de fumaça, com o beneplácito da imprensa.
Mauro Arce é considerado um quadro de governo que alia alta qualificação técnica com sensibilidade política. Em sua primeira manifestação na volta à Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos, ele faz um corte na linha de discursos tranquilizadores e afirma que a situação é mais “delicada” do que a crise de energia elétrica.
Portanto, o cidadão pode esperar uma mudança no discurso oficial, mais assertividade e o fim das meias-medidas. Só não se pode garantir que a imprensa paulista vai admitir que houve muita irresponsabilidade por parte do governo do Estado.
Chove na horta do acionista
No período em que o Brasil passou pela sucessão de “apagões” no sistema elétrico, entre meados de 2001 e o final de 2002, a opinião de Mauro Arce foi importante para convencer o governo federal a assumir a necessidade de racionamento e convocar a população a colaborar com a redução do consumo. Naquela ocasião, o núcleo político do governo Fernando Henrique Cardoso e seu candidato à Presidência da República, José Serra, resistiam a admitir que os cortes de energia provocados pela falta de investimentos e pela seca eram sintomas de uma crise grave.
Em plena campanha eleitoral, que acabou vencida pelo candidato petista Lula da Silva, o governo federal optou por esclarecer a população, obtendo uma adesão surpreendente que produziu uma economia média de 20% no consumo, além de estimular uma série de mudanças no setor industrial, com o surgimento de lâmpadas e aparelhos eletrodomésticos mais econômicos. Doze anos depois, o componente eleitoral volta a interferir na adoção de medidas adequadas.
O Globo também noticia que o governador de São Paulo começa a admitir a possibilidade do racionamento de água, mas destaca outros aspectos da questão que têm sido evitados pelos jornais paulistas. Por exemplo, o diário carioca informa que, em relatório distribuído em março para seus acionistas, a Sabesp já alertava que poderia ser obrigada a “tomar medidas drásticas, como o rodízio de água”.
Outro trecho da reportagem do Globo poderia causar indignação nos leitores paulistas:
“Enquanto isso, os acionistas da Sabesp comemoram os resultados dos lucros da companhia, que é uma empresa mista e tem ações sendo negociadas nas bolsas de São Paulo e Nova York. Nos últimos dez anos, a Sabesp pagou R$ 3,6 bilhões de dividendos, metade dos quais vai para o Tesouro estadual”.
Segundo o jornal carioca, o valor distribuído aos acionistas é suficiente para financiar todas as obras que teriam garantido o abastecimento de São Paulo.
A Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo evitam o quanto podem expor a falta de planejamento e a perversidade da distribuição de recursos da Sabesp, que, segundo o Globo, prioriza os lucros dos acionistas.
Enquanto falta água para a maioria, chove na horta de alguns.
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