Por Maria do Rosário Caetano, no jornal Brasil de Fato:
Getúlio, o primeiro longa-metragem ficcional do cineasta João Jardim, chega aos cinemas brasileiros no Primeiro de Maio, Dia do Trabalhador. A data foi escolhida a dedo. “Nossa intenção” – conta o cineasta, diretor de documentários importantes como Janela da Alma e Pro Dia Nascer Feliz – é lembrar e homenagear as conquistas do trabalhador brasileiro na era Vargas”.
Gaúcho de São Borja, nascido em 1882, Getúlio deixou “a vida para entrar na História” de forma trágica. Acuado pela UDN, liderada por Carlos Lacerda, que ocupou, junto com a Aeronáutica, a linha de frente das investigações da morte do Major Vaz, o presidente deu um tiro no coração, no dia 24 de agosto de 1954.
O filme de João Jardim não constrói uma biografia do polêmico político gaúcho. Quem quiser conhecer a história completa do presidente morto há 60 anos, deverá buscar as fartas biografias e análises de seu governo impressas em livro. A intenção do cineasta é clara: “Desde o início do projeto, estruturado há cinco anos em sólidas pesquisas, nosso recorte consistia em narrar os 19 derradeiros dias do presidente”.
Getúlio Vargas, que fora revolucionário em 1930 (derrotando a oligarquia café com leite) e tornou-se ditador em 1937, sendo deposto em 1945, voltaria ao poder nas eleições de 1950 (tomou posse em 1951). Não terminou o mandato. Morto, teve enterro que mobilizou multidões e construiu legado que, ainda hoje, se faz presente.
Legado que está na implantação da siderurgia brasileira, nas leis trabalhistas e na criação da Petrobras. Há que se lembrar que a maior parte do exercício do poder de Vargas se deu no Estado Novo (1937-1945), regime ditatorial que reprimiu as liberdades civis, torturou e matou os opositores e censurou a imprensa. No filme, este período é evocado pelo próprio Vargas, que relembra ter rasgado “duas Constituições”.
Carta-Testamento
Getúlio planejou seu suicídio? O filme de João Jardim mostra Alzira Vargas (interpretada pela atriz Drica Moraes), filha predileta do presidente e sua auxiliar direta, preocupada com as reações do pai ao cerco da “República do Galeão” (grupo político-militar que investigou o Atentado da Tonelero, já que nele morrera um quadro da Aeronáutica, o Major Vaz, e ferira Carlos Lacerda).
Ao deparar- se com o rascunho de carta manuscrita pelo próprio pai, e nela encontrar indícios de que ele poderia recorrer ao suicídio, Alzirinha o interpelou. Getúlio (interpretado por Tony Ramos) tranquiliza a filha ao garantir que ali estava apenas o esboço de um discurso.
A carta manuscrita do presidente será reelaborada por Maciel Filho, jornalista, assessor e grande amigo do presidente (“eles gostavam de ler e discutir Schopenhauer”, lembra o ator Tony Ramos). O documento ganharia então o texto final que chegaria à posteridade como a “Carta- Testamento” de Vargas. Aquela que evoca as “aves de rapina” (“Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida”) e garante: “Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém”. Pois, “meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate”.
José Soares Maciel Filho, ao reescrever a carta de Vargas, preservando os conceitos nela contidos e dando-lhe estilo mais depurado, não percebeu que ali estavam todos os indícios de que o presidente pensava em recorrer ao suicídio? Por que não tentou demovê-lo, junto aos familiares mais próximos de Getúlio, incluindo a dedicada Alzirinha?
O thriller político, mesclado com drama familiar, de João Jardim e de seu roteirista, George Moura (autor da minissérie Amores Roubados) teria criado licença histórica ao conformar Maciel Filho (interpretado por Fernando Eiras) em papel tão passivo? O diretor João Jardim garante que foi fiel aos documentos pesquisados e que são raras as licenças históricas abraçadas pelo roteiro.
“Não houve” – assegura – “insensibilidade de Maciel Filho para com o gesto extremo deGetúlio”. Gesto que daria trágico desfecho aos 19 dias de tensão vividos no Palácio do Catete. “Fomos fieis aos fatos”, assegura o realizador carioca.
“Todos que cercavam Getúlio pensavam que aquele texto, que ele manuscrevera e ao qual Maciel Filho dera redação final, seria usado em caso de assassinato do presidente. Temia-se que o Catete fosse invadido pelos militares, que conspiravam junto com Lacerda, e que desta invasão resultasse a morte de Vargas. O clima era tão tenso, que este desfecho parecia o mais evidente. A clareza do texto e sua transformação em Carta-Testamento é algo que seu deu a posteriori. Ler a carta, reescrita e datilografada por Maciel Filho, depois que o suicídio de Vargas era fato, traz uma clareza que não era possível naqueles dias de aflição e medo vividos pelo presidente cercado por todos os lados.”
O cineasta recomenda a leitura dos dois textos originais preservados no Museu da República, que ocupa, hoje, o Palácio do Catete. Ou suas reproduções, numerosas na internet e até numa placa, que Leonel Brizola, um dos herdeiros do Trabalhismo varguista, fez imprimir em bronze.
“O texto manuscrito de Vargas é muito rancoroso. Nele, o presidente acuado dá enorme ênfase à traição de muitos que estiveram ao lado dele. Já o texto revisto e datilografado por Maciel Filho, e assinado por Getúlio Vargas, é mais elaborado. E perde muito do rancor do esboço original.”
Fontes de celuloide
Para construir Getúlio como narrativa cinematográfica, João Jardim e seu fotógrafo, Walter Carvalho (co-diretor de Janela da Alma), recorreram a muitas matrizes. O cineasta conta que Z, thriller político de Constantin Costra- Gavras, foi uma das matrizes recorrentes. “Buscamos neste filme a tensão e a conspiração, suas marcas principais, além de recorrermos a muitos personagens e às cenas pela metade, já que a história não para, corre rápida por menos de 120 minutos.”
Outra fonte foi o drama Domingo Sangrento, de Paul Greengrass, por “sua pegada documental” e concentração narrativa. Nunca é demais lembrar, diz ele, que “sou um documentarista e a ideia de realizar este filme nasceu quando eu filmava, em várias regiões brasileiras, o documentário Pro Dia Nascer Feliz, sobre os problemas enfrentados por alunos e professores em nossas escolas de primeiro grau”.
João Jardim cita ainda duas fontes inspiradoras. “Vi e revi, muitas vezes, O Profeta, de Jacques Audiard, um filme que se passa numa prisão e prende nossa atenção o tempo todo, pois é muito tenso”. Por fim, cita o longa-metragem que, aparentemente, nada tem a ver com Getúlio: O Sol, do russo Alexander Sokurov. “Tirei deste filme, sobre a solidão do imperador do Japão, o silêncio do protagonista”.
Quem for assistir ao primeiro longa ficcional de João Jardim verá que ele não é retórico. Alzira Vargas olha o pai, em sua agonia, e tenta dizer o que sente com poucas palavras, pequenos e tensos gestos. Dona Darcy Vargas (numa liberdade poética, interpretada pela magérrima Clarice Abujamra) diz uma ou duas palavras. Maciel Filho também se faz presente sem apelar para a loquacidade. Só Carlos Lacerda, que os defensores de Vargas chamavam de “O Corvo”, o incansável tribuno golpista, desfruta, no filme, do dom da palavra escandida em inúmeros programas de rádio e na TV preto-e-branco.
Walter Carvalho colabora com João Jardim na estruturação imagética da narrativa. Os momentos de maior tensão são aqueles que materializam na tela os pesadelos de Vargas. Ele vê militares, em fileiras prussianas, subindo armados os degraus das escadarias do Catete. Acorda suado, atordoado.
“Houve momentos” – conta João Jardim – “em que pensamos em filmar no pampa gaúcho, espaço tão caro ao imaginário de Getúlio, reminiscências de infância daquele homem acuado”. Mas “mudamos de ideia, pois o pampa está muito mudado e, além do mais, poderíamos quebrar o clima tenso que buscávamos”.
Filmar no Palácio do Catete, na mesma cama e com Tony Ramos trajando réplica do pijama usado pelo presidente, quando desfechou o tiro fatal no coração, significou para João Jardim “experiência única”. “Todos nós sabemos que cinema é imagem e música. Para a imagem, as locações são fundamentais. Filmar no cenário real em que tudo se passou foi algo muito significativo para um realizador que, como eu, vem do documentário. Quanto à música, buscamos a colaboração de Federico Jusid, experiente profissional argentino, que atua na Espanha e nos EUA, pois queríamos um registro sinfônico que nos ajudasse a construir um thriller político, mesclado com drama familiar.”
Pegada documental
A narrativa de João Jardim se respaldou em ampla pesquisa histórica, em testemunhos escritos de pessoas que estiveram no palco dos acontecimentos (como Tancredo Neves) e na consulta de dezenas de jornais. Em especial de Última Hora (pró-Vargas) e Tribuna da Imprensa (lacerdista). Mas a guerra travada por estes dois veículos não ganha relevo no filme, já que abriria outra complexa frente narrativa.
“Nossa fonte principal foram os diários que Vargas escreveu, a partir de 1930, quando deixou o Rio Grande do Sul rumo ao Rio de Janeiro, com os revolucionários que puseram termo à República Velha, até 1942. Conversamos também com pessoas como Carlos Heitor Cony e com o filho de José Soares Maciel Filho, que nos ajudou muito. O clima daquele agosto de 1954, nós encontramos nos jornais. Mesmo que algo noticiado por eles fosse desmontado, desmentido, no dia seguinte, ali estava impresso o calor daquele momento.”
Na narrativa fílmica, depois do suicídio de Vargas, João Jardim recorre a imagens reais do velório, seguido por gigantesco cortejo que levou o presidente ao avião que o transportaria do Rio de Janeiro até a sua São Borja natal. As imagens reproduzidas pertencem ao filme Glória e Drama de Um Povo, de Alfredo Palácios, realizado no calor da hora, em 1954.
Quem quiser saber mais sobre a trajetória de Vargas, pode ver, em DVD, dois longas documentais: No Mundo em Que Getúlio Viveu, de Jorge Ilelli (1963), e Getúlio Vargas, de Ana Carolina (1974). Ou ler os dois volumes da recente biografia escrita por Lira Neto, para a Companhia das Letras. Ou, ainda, rever a minissérie Agosto, da Rede Globo, baseada em livro de Rubem Fonseca. Até para comparar, pois nesta série, Gregório Fortunato, o “anjo negro” (interpretado por Tony Tornado) tem papel de relevo. No filme, Gregório (interpretado por Thiago Justino) tem presença mais contida. O thriller mesclado com drama familiar de Jardim centra- -se, com ênfase especial, no Getúlio, de Tony Ramos, e em sua filha, Alzirinha (Drica Moraes em grande momento). Além deles, só o Carlos Lacerda, de Alexandre Borges ganha destaque.
Getúlio, o primeiro longa-metragem ficcional do cineasta João Jardim, chega aos cinemas brasileiros no Primeiro de Maio, Dia do Trabalhador. A data foi escolhida a dedo. “Nossa intenção” – conta o cineasta, diretor de documentários importantes como Janela da Alma e Pro Dia Nascer Feliz – é lembrar e homenagear as conquistas do trabalhador brasileiro na era Vargas”.
Gaúcho de São Borja, nascido em 1882, Getúlio deixou “a vida para entrar na História” de forma trágica. Acuado pela UDN, liderada por Carlos Lacerda, que ocupou, junto com a Aeronáutica, a linha de frente das investigações da morte do Major Vaz, o presidente deu um tiro no coração, no dia 24 de agosto de 1954.
O filme de João Jardim não constrói uma biografia do polêmico político gaúcho. Quem quiser conhecer a história completa do presidente morto há 60 anos, deverá buscar as fartas biografias e análises de seu governo impressas em livro. A intenção do cineasta é clara: “Desde o início do projeto, estruturado há cinco anos em sólidas pesquisas, nosso recorte consistia em narrar os 19 derradeiros dias do presidente”.
Getúlio Vargas, que fora revolucionário em 1930 (derrotando a oligarquia café com leite) e tornou-se ditador em 1937, sendo deposto em 1945, voltaria ao poder nas eleições de 1950 (tomou posse em 1951). Não terminou o mandato. Morto, teve enterro que mobilizou multidões e construiu legado que, ainda hoje, se faz presente.
Legado que está na implantação da siderurgia brasileira, nas leis trabalhistas e na criação da Petrobras. Há que se lembrar que a maior parte do exercício do poder de Vargas se deu no Estado Novo (1937-1945), regime ditatorial que reprimiu as liberdades civis, torturou e matou os opositores e censurou a imprensa. No filme, este período é evocado pelo próprio Vargas, que relembra ter rasgado “duas Constituições”.
Carta-Testamento
Getúlio planejou seu suicídio? O filme de João Jardim mostra Alzira Vargas (interpretada pela atriz Drica Moraes), filha predileta do presidente e sua auxiliar direta, preocupada com as reações do pai ao cerco da “República do Galeão” (grupo político-militar que investigou o Atentado da Tonelero, já que nele morrera um quadro da Aeronáutica, o Major Vaz, e ferira Carlos Lacerda).
Ao deparar- se com o rascunho de carta manuscrita pelo próprio pai, e nela encontrar indícios de que ele poderia recorrer ao suicídio, Alzirinha o interpelou. Getúlio (interpretado por Tony Ramos) tranquiliza a filha ao garantir que ali estava apenas o esboço de um discurso.
A carta manuscrita do presidente será reelaborada por Maciel Filho, jornalista, assessor e grande amigo do presidente (“eles gostavam de ler e discutir Schopenhauer”, lembra o ator Tony Ramos). O documento ganharia então o texto final que chegaria à posteridade como a “Carta- Testamento” de Vargas. Aquela que evoca as “aves de rapina” (“Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida”) e garante: “Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém”. Pois, “meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate”.
José Soares Maciel Filho, ao reescrever a carta de Vargas, preservando os conceitos nela contidos e dando-lhe estilo mais depurado, não percebeu que ali estavam todos os indícios de que o presidente pensava em recorrer ao suicídio? Por que não tentou demovê-lo, junto aos familiares mais próximos de Getúlio, incluindo a dedicada Alzirinha?
O thriller político, mesclado com drama familiar, de João Jardim e de seu roteirista, George Moura (autor da minissérie Amores Roubados) teria criado licença histórica ao conformar Maciel Filho (interpretado por Fernando Eiras) em papel tão passivo? O diretor João Jardim garante que foi fiel aos documentos pesquisados e que são raras as licenças históricas abraçadas pelo roteiro.
“Não houve” – assegura – “insensibilidade de Maciel Filho para com o gesto extremo deGetúlio”. Gesto que daria trágico desfecho aos 19 dias de tensão vividos no Palácio do Catete. “Fomos fieis aos fatos”, assegura o realizador carioca.
“Todos que cercavam Getúlio pensavam que aquele texto, que ele manuscrevera e ao qual Maciel Filho dera redação final, seria usado em caso de assassinato do presidente. Temia-se que o Catete fosse invadido pelos militares, que conspiravam junto com Lacerda, e que desta invasão resultasse a morte de Vargas. O clima era tão tenso, que este desfecho parecia o mais evidente. A clareza do texto e sua transformação em Carta-Testamento é algo que seu deu a posteriori. Ler a carta, reescrita e datilografada por Maciel Filho, depois que o suicídio de Vargas era fato, traz uma clareza que não era possível naqueles dias de aflição e medo vividos pelo presidente cercado por todos os lados.”
O cineasta recomenda a leitura dos dois textos originais preservados no Museu da República, que ocupa, hoje, o Palácio do Catete. Ou suas reproduções, numerosas na internet e até numa placa, que Leonel Brizola, um dos herdeiros do Trabalhismo varguista, fez imprimir em bronze.
“O texto manuscrito de Vargas é muito rancoroso. Nele, o presidente acuado dá enorme ênfase à traição de muitos que estiveram ao lado dele. Já o texto revisto e datilografado por Maciel Filho, e assinado por Getúlio Vargas, é mais elaborado. E perde muito do rancor do esboço original.”
Fontes de celuloide
Para construir Getúlio como narrativa cinematográfica, João Jardim e seu fotógrafo, Walter Carvalho (co-diretor de Janela da Alma), recorreram a muitas matrizes. O cineasta conta que Z, thriller político de Constantin Costra- Gavras, foi uma das matrizes recorrentes. “Buscamos neste filme a tensão e a conspiração, suas marcas principais, além de recorrermos a muitos personagens e às cenas pela metade, já que a história não para, corre rápida por menos de 120 minutos.”
Outra fonte foi o drama Domingo Sangrento, de Paul Greengrass, por “sua pegada documental” e concentração narrativa. Nunca é demais lembrar, diz ele, que “sou um documentarista e a ideia de realizar este filme nasceu quando eu filmava, em várias regiões brasileiras, o documentário Pro Dia Nascer Feliz, sobre os problemas enfrentados por alunos e professores em nossas escolas de primeiro grau”.
João Jardim cita ainda duas fontes inspiradoras. “Vi e revi, muitas vezes, O Profeta, de Jacques Audiard, um filme que se passa numa prisão e prende nossa atenção o tempo todo, pois é muito tenso”. Por fim, cita o longa-metragem que, aparentemente, nada tem a ver com Getúlio: O Sol, do russo Alexander Sokurov. “Tirei deste filme, sobre a solidão do imperador do Japão, o silêncio do protagonista”.
Quem for assistir ao primeiro longa ficcional de João Jardim verá que ele não é retórico. Alzira Vargas olha o pai, em sua agonia, e tenta dizer o que sente com poucas palavras, pequenos e tensos gestos. Dona Darcy Vargas (numa liberdade poética, interpretada pela magérrima Clarice Abujamra) diz uma ou duas palavras. Maciel Filho também se faz presente sem apelar para a loquacidade. Só Carlos Lacerda, que os defensores de Vargas chamavam de “O Corvo”, o incansável tribuno golpista, desfruta, no filme, do dom da palavra escandida em inúmeros programas de rádio e na TV preto-e-branco.
Walter Carvalho colabora com João Jardim na estruturação imagética da narrativa. Os momentos de maior tensão são aqueles que materializam na tela os pesadelos de Vargas. Ele vê militares, em fileiras prussianas, subindo armados os degraus das escadarias do Catete. Acorda suado, atordoado.
“Houve momentos” – conta João Jardim – “em que pensamos em filmar no pampa gaúcho, espaço tão caro ao imaginário de Getúlio, reminiscências de infância daquele homem acuado”. Mas “mudamos de ideia, pois o pampa está muito mudado e, além do mais, poderíamos quebrar o clima tenso que buscávamos”.
Filmar no Palácio do Catete, na mesma cama e com Tony Ramos trajando réplica do pijama usado pelo presidente, quando desfechou o tiro fatal no coração, significou para João Jardim “experiência única”. “Todos nós sabemos que cinema é imagem e música. Para a imagem, as locações são fundamentais. Filmar no cenário real em que tudo se passou foi algo muito significativo para um realizador que, como eu, vem do documentário. Quanto à música, buscamos a colaboração de Federico Jusid, experiente profissional argentino, que atua na Espanha e nos EUA, pois queríamos um registro sinfônico que nos ajudasse a construir um thriller político, mesclado com drama familiar.”
Pegada documental
A narrativa de João Jardim se respaldou em ampla pesquisa histórica, em testemunhos escritos de pessoas que estiveram no palco dos acontecimentos (como Tancredo Neves) e na consulta de dezenas de jornais. Em especial de Última Hora (pró-Vargas) e Tribuna da Imprensa (lacerdista). Mas a guerra travada por estes dois veículos não ganha relevo no filme, já que abriria outra complexa frente narrativa.
“Nossa fonte principal foram os diários que Vargas escreveu, a partir de 1930, quando deixou o Rio Grande do Sul rumo ao Rio de Janeiro, com os revolucionários que puseram termo à República Velha, até 1942. Conversamos também com pessoas como Carlos Heitor Cony e com o filho de José Soares Maciel Filho, que nos ajudou muito. O clima daquele agosto de 1954, nós encontramos nos jornais. Mesmo que algo noticiado por eles fosse desmontado, desmentido, no dia seguinte, ali estava impresso o calor daquele momento.”
Na narrativa fílmica, depois do suicídio de Vargas, João Jardim recorre a imagens reais do velório, seguido por gigantesco cortejo que levou o presidente ao avião que o transportaria do Rio de Janeiro até a sua São Borja natal. As imagens reproduzidas pertencem ao filme Glória e Drama de Um Povo, de Alfredo Palácios, realizado no calor da hora, em 1954.
Quem quiser saber mais sobre a trajetória de Vargas, pode ver, em DVD, dois longas documentais: No Mundo em Que Getúlio Viveu, de Jorge Ilelli (1963), e Getúlio Vargas, de Ana Carolina (1974). Ou ler os dois volumes da recente biografia escrita por Lira Neto, para a Companhia das Letras. Ou, ainda, rever a minissérie Agosto, da Rede Globo, baseada em livro de Rubem Fonseca. Até para comparar, pois nesta série, Gregório Fortunato, o “anjo negro” (interpretado por Tony Tornado) tem papel de relevo. No filme, Gregório (interpretado por Thiago Justino) tem presença mais contida. O thriller mesclado com drama familiar de Jardim centra- -se, com ênfase especial, no Getúlio, de Tony Ramos, e em sua filha, Alzirinha (Drica Moraes em grande momento). Além deles, só o Carlos Lacerda, de Alexandre Borges ganha destaque.
POIS É O MAJOR FOI O BODE EXPIATORIO, A DIREITA E EXTREMA DIREITA QUERIA JOGAR AS FORÇAS ARMADAS CONTRA O PRESIDENTE GETULIO VARGAS,E PARA FAZER O SERVIÇO ENTROU A CIA COM SEUS ASSASSINOS DE ALUGUEL E JOGARAM A CULPA EM GETULIO QUE NAO AGUENTOU A PRESSAO E COMETEU SUICIDIO.
ResponderExcluirqUE Getulio tenha se suicidado ate posso acreditar, mais como ele tranquilizou a filha, entao posso tambem acreditar que ele tenha sido assassinado, pelos mesmo que mataram o coronel Ha muito tempo os EUA ja vinha intervindo no Brasil, e todos os golpes aqui dados tem o seu dedo. portanto nao descarto a possibilidade de Getulio ter sido assassinado tambem. mesmo porque poderia ate ter sido um ato de vingança pela morte o coronel nao é?
ResponderExcluirAssistirei assim que puder,pois aos
ResponderExcluir10 anos de então admirei-me,claro,
com as lágrimas que escorriam pela
face do meu avô materno,que logo me
pegou pela mão,dizendo-me:vem rezar
por ele,comigo,pois reza de criança
tem mais valor.Jamais me esquecerei
disto,é claro.
Sylvia Tigre Recife/PE