sábado, 24 de maio de 2014

Aécio e a saudade de Serra

Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

A última pesquisa Ibope é uma paulada em Aécio. Compare os 20% dados a ele com os quase 24% que o instituto Sensus lhe atribuíra semanas atrás.

Fica agora claro que o que realmente ergueu Aécio foi a decisão do Sensus de usar a ordem alfabética nas cartelas mostradas aos eleitores.

Seu nome vinha em primeiro e isso o elevou artificialmente.

O patamar real de Aécio é, ao que tudo indica, os 20%, e se ele não sair daí a eleição deve ser decidida no primeiro turno, dada a anemia eleitoral de Eduardo Campos.

Temos, aparentemente, “2 and a half” candidatos: Dilma, Aécio e Campos.

Campos perdeu a chance de mostrar que é um político diferente ao não fazer o que as intenções de voto gritavam que fizesse: deixar Marina ser a candidata da coalizão.

Aécio pode crescer a ponto de forçar o segundo turno?

Numa palavra: não. Não com seu discurso thatcherista, atrasado em mais de trinta anos.

Nem os conservadores ingleses ousam repetir as teses de Thatcher, que ajudaram a levar o mundo a uma brutal concentração de renda. Desregulamentar, privatizar, ceifar direitos trabalhistas etc etc.

É incrível que ele faça do thatcherismo a base de sua campanha em 2014.

Isso vai dar a ele um apoio torrencial dos barões da mídia e do chamado 1%. Mas não vai lhe dar votos.

Imagine a seguinte cena num debate: Candidato Aécio, o senhor poderia descrever as medidas impopulares que prometeu tomar? O senhor concorda que o salário mínimo cresceu muito, como diz seu conselheiro econômico, Armínio Fraga?

Nelson Rodrigues dizia que gostava que os atores fossem burros ao interpretar peças suas. Burros para não melhorar, aspas, o texto original de NR.

Se fosse inteligente, Aécio seria burro. Pegaria a essência do discurso do Papa Francisco e a adaptaria a seu discurso. As pessoas iam querer conversar com ele, como querem conversar com Francisco.

Bastava, de cara, falar em desigualdade como o grande mal brasileiro. E falar, e falar, e falar.

Depois, as oportunidades de brilhar se apresentariam. Aécio poderia posar segurando o livro de Piketty sobre desigualdade que é a sensação do mundo econômico e político em nossos dias.

Num gesto surpreendente e que lhe renderia boa publicidade, poderia convidar Piketty para fazer uma palestra no Brasil.

Ele estaria inovando, surpreendendo. E mostrando que está sintonizado com o mundo.

Mas não.

Em vez de Piketty, ele nos oferece Armínio Fraga. Talvez desça ainda mais na escada e fale na Esquerda Caviar de Constantino.

Aécio poderia tornar interessante a eleição.

Mas optou pelo caminho que conduz a um só destino: o fracasso. É possível que os tucanos terminem saudosos de Serra: perdia, mas pelo menos chegava ao segundo turno.

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