Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Até hoje, 64 anos depois, ainda tem gente tentando explicar a tragédia da nossa derrota por 2 a 1 para o Uruguai, jogando em casa, no Maracanã, quando bastava um empate para o Brasil se sagrar campeão mundial pela primeira vez. Reportagens, livros e documentários sem fim foram produzidos desde 1950 e ainda não houve uma resposta capaz de matar o assunto.
O que aconteceu?, perguntamo-nos todos agora uns aos outros, ainda perplexos com o chocolate de 7 a 1 que, agora, pentacampeões mundiais, tomamos dos antigos fregueses alemães, na tarde desta terça-feira, 8 de setembro de 2014, no Mineirão.
Uma catástrofe deste porte nunca será explicada por uma única razão. Como nos grandes acidentes ferroviários ou aéreos, sempre há um conjunto de fatores imponderáveis e imprevistos, que formam uma cadeia de falhas ou erros capazes de explicar o desastre final, depois de aberta a caixa preta, apontando causas e responsáveis.
É tamanha a perplexidade de todos nós que não sei nem por onde começar a escrever este texto, depois de ter visto todas as entrevistas e comentários na televisão até tarde da noite e lido desde cedo, na manhã desta Quarta-feira de Cinzas do nosso futebol, quilômetros de artigos de colegas publicados no papel e nos portais sobre o que aconteceu no Mineirão.
Desta vez, não há controvérsias. Com diferentes argumentos, todos falaram e escreveram mais ou menos as mesmas coisas para tentar explicar o inexplicável. A única conclusão a que cheguei, que não ajuda muito, eu sei, é de que só com o tempo, muito tempo - dias, semanas, meses, talvez anos - poderemos entender esta acachapante humilhação sofrida na Copa de 2014, pela segunda vez disputada no nosso país, em meio a uma grande festa popular.
De cara, é preciso separar bem duas coisas: a primorosa organização do evento, que superou todas as expectativas e foi mundialmente reconhecida, e o indigente futebol mostrado pela seleção brasileira nos gramados por onde desfilou, desde a estreia contra a Croácia, no Itaquerão, há quatro semanas.
Aconteceu exatamente o contrário do que muita gente previa: ganhamos de goleada fora do campo, com tudo funcionando a contento, e perdemos de forma desonrosa o sonhado hexacampeonato, jogando muito mal, desde a estreia contra a Croácia, no Itaquerão, há quatro semanas.
Como todo mundo, também desconfiava do oba-oba criado em torno desta "Família Scolari", que estrelou muitos comerciais na televisão, não saiu mais das capas de jornais e revistas, fez marquetagem a granel, foi tratada com muitos mimos no castelo da CBF, na fria Teresópolis, mas pouco treinou, enquanto os alemães se esfalfavam todos os dias sob o sol do meio dia na concentração tropical que eles mesmos construíram do litoral baiano, sem folgas nem badalações. O time de Felipão que entrou em campo para enfrentar a máquina alemã não treinou coletivamente nenhuma vez porque Felipão queria fazer mistério e enganar o técnico deles, Joachim Löw, como teve a coragem de dizer em entrevista após o jogo.
Os alemães não apresentaram um semideus como Neymar, mudavam o time de um jogo para outro conforme o adversário, mas nos mostraram como se joga futebol para ganhar e não para brilhar e faturar. O resto foi consequência. Em favor de Felipão, há que se lembrar apenas que esta geração de jogadores, a mais pobre de talento dos últimos tempos, embora com salários milionários, não era esta maravilha. Nenhum grande craque capaz de definir partidas sozinho ficou de fora.
Com este time e o esquema (tínhamos algum sistema?) tático montado por Felipão para "surpreender" os alemães, nem Neymar, nem mesmo Pelé seriam capazes de evitar a vergonha que passamos. Do jeito que estávamos jogando, sem meio de campo, na base do vamos que vamos e seja o que Deus quiser, uma hora isso teria que acontecer, estava escrito há tempos. Caímos na real e isso pode ser bom. Só não precisava ser por 7 a 1...
Pior do que errar na escalação e no esquema, foi Felipão insistir no erro, não tendo humildade para mudar jogadores e a forma de jogar, logo aos 15 minutos de jogo, quando a Alemanha ganhava só por 1 a 0 e já estava dando um baile no Mineirão, com o Brasil não vendo a cor da bola, exatamente como aconteceu naquela final do Mundial de Clubes, em Tóquio, quando o Santos, com Neymar e tudo, só ficou assistindo o Barcelona jogar, e levou 4 a 0 no primeiro tempo.
O Brasil já estava tomando de 5 a 0 e o perplexo Felipão ficava só olhando o desastre acontecer, sem tomar nenhuma providência, como aquele tristemente famoso comandante italiano, o tal do Schettino. Ao ver o navio afundar, em vez de tentar salvar o maior número possível de passageiros, ele tratou de cair fora e salvar a própria pele. Felipão não chegou a tanto, até porque não tinha como fugir do Mineirão no intervalo, mas também não fez nada.
De que adianta ele agora reconhecer que foi o único responsável, mas não se arrepende das escolhas que fez? Sem Neymar, o arrogante e vaidoso técnico, que está com o prazo de validade vencido faz muito tempo, queria ser o herói do Brasil. Resolveu dar uma de Santos Dumont, escalando três atacantes, com Bernard em lugar do ídolo fora de combate, em vez de reforçar o meio de campo, como era óbvio, até para leigos como eu. Se o Brasil ganhasse, ele sonhava ser louvado como gênio da raça. Faltou-lhe, acima de tudo, humildade, para reconhecer o erro a tempo e corrigi-lo ao ver a vaca indo para o brejo.
Vários colegas agora propõe começar tudo de novo, com uma completa reformulação do nosso futebol, importação de técnicos, etc e tal. De que jeito, se o futebol está nas mãos de gente como José Maria Marin, o presidente da CBF, que também sumiu de cena quando o barco afundava, e agora vai passar o cargo para seu cupincha Marco Polo del Nero, eternizando a dinastia Ricardo Teixeira? Tem alguma chance de dar certo?
Termino aqui repetindo o que falei no comentário do Jornal da Record News, ao lado de Heródoto Barbeiro e Alvaro José: assistimos ontem ao final de uma época de hegemonia do Brasil no futebol mundial e ao surgimento da supremacia de uma nova escola inspirada no Barcelona, que levou a Espanha ao título, em 2010, e agora no Bayern, de Munique, a base desta fantástica seleção alemã de 2014.
Não por acaso, dois times dirigidos pelo mesmo Gardiola, o técnico espanhol que criou um novo jeito de jogar bola, unindo arte, técnica, tática, velocidade, profissionalismo e romantismo, tudo ao mesmo tempo, para dar espetáculo e vencer, sem medo de perder, como os nossos "professores". Por falar nisso, semana que vem recomeça o Brasileirão... Vamos sentir muitas saudades desta fantástica Copa do Mundo de 2014, apesar do que aconteceu no Mineirão.
Vida que segue.
Até hoje, 64 anos depois, ainda tem gente tentando explicar a tragédia da nossa derrota por 2 a 1 para o Uruguai, jogando em casa, no Maracanã, quando bastava um empate para o Brasil se sagrar campeão mundial pela primeira vez. Reportagens, livros e documentários sem fim foram produzidos desde 1950 e ainda não houve uma resposta capaz de matar o assunto.
O que aconteceu?, perguntamo-nos todos agora uns aos outros, ainda perplexos com o chocolate de 7 a 1 que, agora, pentacampeões mundiais, tomamos dos antigos fregueses alemães, na tarde desta terça-feira, 8 de setembro de 2014, no Mineirão.
Uma catástrofe deste porte nunca será explicada por uma única razão. Como nos grandes acidentes ferroviários ou aéreos, sempre há um conjunto de fatores imponderáveis e imprevistos, que formam uma cadeia de falhas ou erros capazes de explicar o desastre final, depois de aberta a caixa preta, apontando causas e responsáveis.
É tamanha a perplexidade de todos nós que não sei nem por onde começar a escrever este texto, depois de ter visto todas as entrevistas e comentários na televisão até tarde da noite e lido desde cedo, na manhã desta Quarta-feira de Cinzas do nosso futebol, quilômetros de artigos de colegas publicados no papel e nos portais sobre o que aconteceu no Mineirão.
Desta vez, não há controvérsias. Com diferentes argumentos, todos falaram e escreveram mais ou menos as mesmas coisas para tentar explicar o inexplicável. A única conclusão a que cheguei, que não ajuda muito, eu sei, é de que só com o tempo, muito tempo - dias, semanas, meses, talvez anos - poderemos entender esta acachapante humilhação sofrida na Copa de 2014, pela segunda vez disputada no nosso país, em meio a uma grande festa popular.
De cara, é preciso separar bem duas coisas: a primorosa organização do evento, que superou todas as expectativas e foi mundialmente reconhecida, e o indigente futebol mostrado pela seleção brasileira nos gramados por onde desfilou, desde a estreia contra a Croácia, no Itaquerão, há quatro semanas.
Aconteceu exatamente o contrário do que muita gente previa: ganhamos de goleada fora do campo, com tudo funcionando a contento, e perdemos de forma desonrosa o sonhado hexacampeonato, jogando muito mal, desde a estreia contra a Croácia, no Itaquerão, há quatro semanas.
Como todo mundo, também desconfiava do oba-oba criado em torno desta "Família Scolari", que estrelou muitos comerciais na televisão, não saiu mais das capas de jornais e revistas, fez marquetagem a granel, foi tratada com muitos mimos no castelo da CBF, na fria Teresópolis, mas pouco treinou, enquanto os alemães se esfalfavam todos os dias sob o sol do meio dia na concentração tropical que eles mesmos construíram do litoral baiano, sem folgas nem badalações. O time de Felipão que entrou em campo para enfrentar a máquina alemã não treinou coletivamente nenhuma vez porque Felipão queria fazer mistério e enganar o técnico deles, Joachim Löw, como teve a coragem de dizer em entrevista após o jogo.
Os alemães não apresentaram um semideus como Neymar, mudavam o time de um jogo para outro conforme o adversário, mas nos mostraram como se joga futebol para ganhar e não para brilhar e faturar. O resto foi consequência. Em favor de Felipão, há que se lembrar apenas que esta geração de jogadores, a mais pobre de talento dos últimos tempos, embora com salários milionários, não era esta maravilha. Nenhum grande craque capaz de definir partidas sozinho ficou de fora.
Com este time e o esquema (tínhamos algum sistema?) tático montado por Felipão para "surpreender" os alemães, nem Neymar, nem mesmo Pelé seriam capazes de evitar a vergonha que passamos. Do jeito que estávamos jogando, sem meio de campo, na base do vamos que vamos e seja o que Deus quiser, uma hora isso teria que acontecer, estava escrito há tempos. Caímos na real e isso pode ser bom. Só não precisava ser por 7 a 1...
Pior do que errar na escalação e no esquema, foi Felipão insistir no erro, não tendo humildade para mudar jogadores e a forma de jogar, logo aos 15 minutos de jogo, quando a Alemanha ganhava só por 1 a 0 e já estava dando um baile no Mineirão, com o Brasil não vendo a cor da bola, exatamente como aconteceu naquela final do Mundial de Clubes, em Tóquio, quando o Santos, com Neymar e tudo, só ficou assistindo o Barcelona jogar, e levou 4 a 0 no primeiro tempo.
O Brasil já estava tomando de 5 a 0 e o perplexo Felipão ficava só olhando o desastre acontecer, sem tomar nenhuma providência, como aquele tristemente famoso comandante italiano, o tal do Schettino. Ao ver o navio afundar, em vez de tentar salvar o maior número possível de passageiros, ele tratou de cair fora e salvar a própria pele. Felipão não chegou a tanto, até porque não tinha como fugir do Mineirão no intervalo, mas também não fez nada.
De que adianta ele agora reconhecer que foi o único responsável, mas não se arrepende das escolhas que fez? Sem Neymar, o arrogante e vaidoso técnico, que está com o prazo de validade vencido faz muito tempo, queria ser o herói do Brasil. Resolveu dar uma de Santos Dumont, escalando três atacantes, com Bernard em lugar do ídolo fora de combate, em vez de reforçar o meio de campo, como era óbvio, até para leigos como eu. Se o Brasil ganhasse, ele sonhava ser louvado como gênio da raça. Faltou-lhe, acima de tudo, humildade, para reconhecer o erro a tempo e corrigi-lo ao ver a vaca indo para o brejo.
Vários colegas agora propõe começar tudo de novo, com uma completa reformulação do nosso futebol, importação de técnicos, etc e tal. De que jeito, se o futebol está nas mãos de gente como José Maria Marin, o presidente da CBF, que também sumiu de cena quando o barco afundava, e agora vai passar o cargo para seu cupincha Marco Polo del Nero, eternizando a dinastia Ricardo Teixeira? Tem alguma chance de dar certo?
Termino aqui repetindo o que falei no comentário do Jornal da Record News, ao lado de Heródoto Barbeiro e Alvaro José: assistimos ontem ao final de uma época de hegemonia do Brasil no futebol mundial e ao surgimento da supremacia de uma nova escola inspirada no Barcelona, que levou a Espanha ao título, em 2010, e agora no Bayern, de Munique, a base desta fantástica seleção alemã de 2014.
Não por acaso, dois times dirigidos pelo mesmo Gardiola, o técnico espanhol que criou um novo jeito de jogar bola, unindo arte, técnica, tática, velocidade, profissionalismo e romantismo, tudo ao mesmo tempo, para dar espetáculo e vencer, sem medo de perder, como os nossos "professores". Por falar nisso, semana que vem recomeça o Brasileirão... Vamos sentir muitas saudades desta fantástica Copa do Mundo de 2014, apesar do que aconteceu no Mineirão.
Vida que segue.
É JUSAMENTE POR ESTE PLACAR ESTENSO QUE PASSEI A DUVIDAR DE COMO A SELAÇAO BRASILEIRA JOGOU. LEMBRO QUE HOUVE UMA DENUNCIA E NAO ME LEMBRO SE INQUERITO SOBRE A VITORIA DA FRANÇA CONTRA O BRASIL E A SELAÇAO ESTAVA TAMBEM ASSIM APATICA SEM VIDA, SEM FORÇA SEM REAÇAO. PORTANTO NAO DUVIDO NADA DO QUE ACONTECEU.
ResponderExcluirPois, é Kostscho. Lamentaria mais se tivéssemos perdido de 2 a 1. Por que? Porque pelo menos eu teria certeza de que havia algum esquema tático sendo tentado. Do jeito que foi: sem defesa, sem ataque, sem meio-campo, não me surpreendeu. Se Felipão fosse o treinador da equipe Alemã, da Holandesa ou da Argentina com certeza eles teriam ido embora nas oitavas de final. Craques nós tínhamos, só não tínhamos técnico...
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