Aécio Neves, o cambaleante candidato tucano, devia ser mais cuidadoso com o que fala. Neste caso, o bafômetro pode funcionar. No sábado (9), em Manaus, ele saiu imediatamente em defesa dos seus amigos Carlos Alberto Sardenberg e Miriam Leitão, jornalistas da amiga Rede Globo, que tiveram suas biografias adulteradas na enciclopédia virtual Wikipédia. Ele tratou logo de culpar a presidenta Dilma pelo episódio. “É mais uma demonstração do autoritarismo deste governo, que acha que é dono da história das pessoas”. Também ironizou a nota explicativa do Palácio do Planalto, que alegou desconhecer o caso. “Está na hora de mudar o slogan do governo para ‘Brasil, eu não sabia de nada’”.
No caso do slogan sugerido, Aécio Neves pode ter uma baita ressaca. Há três semanas atrás, ele disse que “não sabia de nada” sobre o aeroporto na fazenda do seu titio em Cláudio, construído com R$ 14 milhões dos cofres públicos de Minas Gerais quando ele próprio era governador. “Não sabia” se tinha usado a pista; “não sabia” que o “aecioporto” estava irregular na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Talvez também “não soubesse” que seu titio foi acusado pelo Ministério Público de explorar trabalho escravo e que seu primo foi denunciado por ajudar traficantes. Já sobre as críticas ao autoritarismo, os jornalistas mineiros conhecem bem as histórias de Andrea Neves, irmã do presidenciável tucano.
Encosto da mídia amiga
A postura marota do “eu não sabia de nada” gerou bicadas no próprio ninho, segundo nota publicada na Folha em 1º de agosto: “O PSDB em peso considera que Aécio Neves demorou demais para admitir que usou o aeroporto de Cláudio (MG). Os mais otimistas acreditam que agora a polêmica tende a esfriar... O PT fará o possível para manter o assunto nos jornais. Hoje a campanha de Dilma Rousseff pedirá à Procuradoria-Geral da República que investigue se o uso do aeroporto configurou atentado contra a segurança do transporte aéreo. A pista não é homologada pela Agência Nacional de Aviação Civil. Em tese, pilotos que pousaram lá podem ser condenados a penas de 2 a 5 anos de prisão”.
A sorte de Aécio Neves é que a mídia amiga, que também adota o slogan “eu não sabia de nada” – basta lembrar o ex-demo Demóstenes Torres, o “mosqueteiro da ética” da revista Veja –, logo tratou de abafar o caso. Graças aos factoides forjados pela imprensa, como o da CPI da Petrobras e agora o do Wikipédia, o “aecioporto” virou pó, a exemplo do que ocorreu com o helicóptero apreendido pela polícia com 450 quilos de cocaína, de propriedade de um antigo aliado político do senador mineiro. De qualquer forma, o cambaleante presidenciável tucano precisa ficar esperto com esta conversa fiada do “eu não sabia de nada”. Pelas beiradas, a sua candidatura pode até estar sendo minada pelos seus “compadres”.
Alckmin, Aécio e as agendas incompatíveis
Em artigo no Estadão de sexta-feira (8), intitulado “Incompatibilidade de agenda”, a repórter Julia Duailibi deu a pista. “As equipes do governador Geraldo Alckmin e do presidenciável tucano Aécio Neves se encontraram nos últimos dias para tentar resolver um problema de agenda. Os eventos em que Aécio compareceu em São Paulo foram considerados fracos, típicos de uma ‘agenda de deputado’, segundo um integrante da campanha... O problema é que, neste momento da campanha, Aécio e Alckmin têm objetivos diferentes. Aécio quer se expor em São Paulo e, assim, se tornar conhecido no Estado. Alckmin, que lidera as pesquisas de opinião, quer se preservar e opta por uma agenda minimalista”.
Segundo a jornalista, “o responsável pela agenda de Aécio, o seu cunhado, Luiz Márcio, se reuniu com a coordenação da campanha de Alckmin para tratar do assunto. Entre as agendas que foram consideradas fracas, está a visita ao Parque da Juventude, num sábado frio e chuvoso, em que o local estava vazio. A equipe do tucano teve que correr para tirar outro evento da cartola, uma visita a uma obra social na zona leste, que mais parecia uma agenda de campanha municipal. Outra agenda que também não funcionou foi uma ida à zona sul paulistana, com o vereador Milton Leite (DEM). Na região, conhecida por ser um forte reduto eleitoral petista, só havia apoiadores do vereador, que gritavam o seu nome. Também não fora programado um percurso prévio: Aécio, ao lado de Alckmin e de Serra, ficou andando pela região, meio que sem destino”.
Depois, quando os votos minguarem, Aécio Neves não poderá dizer que “eu não sabia de nada”.
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