domingo, 7 de setembro de 2014

O vice pseudo-revolucionário de Marina

Por Altamiro Borges

Diante das críticas às fragilidades de Marina Silva – que não teria base parlamentar para sustentar suas posições e chegou a ser comparada a Jânio Quadros e Collor de Mello –, o seu vice na chapa, o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), deu uma de revolucionário e afirmou que ela irá “governar com a força das ruas”. Em concorrida entrevista à imprensa, o novo bolchevique disse: “Depois de eleger Marina, temos de ir às ruas para dar a ela a cobertura para que possa exigir do Congresso as mudanças necessárias ao país”. Entre outras mudanças, o vice citou a reforma política e a reforma tributária e garantiu que o seu governo “não vai cacifar as velhas raposas” da política.

As declarações de Beto Albuquerque assustaram alguns “calunistas” da mídia, que enxergam o fantasma do comunismo embaixo da cama. Eles acusaram o vice de Marina de “bolivariano e chavista”, por sua rejeição ao parlamento – o que é uma tremenda falsidade com Hugo Chávez, que elegeu ampla maioria no Congresso Nacional e promoveu importantes mudanças neste fórum da endeusada democracia liberal. Os editoriais dos jornais O Globo, Folha e Estadão chegaram a exigir de Marina Silva uma posição firme em defesa do parlamento, contra qualquer iniciativa de apoio aos “conselhos populares” chavistas. O capítulo do seu programa que trata deste ponto, que também foi plagiado, sofreu um bombardeio.

A gritaria da mídia não tem qualquer justificativa. Beto Albuquerque nunca pregou a revolução e a destruição da democracia burguesa. Ele até já adotou posições progressistas, mas sempre nos limites do capitalismo. Ele é conhecido por suas ligações com os usineiros, fabricantes de armas e outros segmentos do capital. Já o seu partido, o PSB, é um dos mais pragmáticos da política nativa – comparável ao “ônibus” do PMDB. Em vários Estados, a sigla é base de apoio do PSDB – como em São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Em outros, ela construiu heterodoxas e amplas alianças, inclusive com as “velhas raposas da política”, para dar sustentação aos quatro governos estaduais que comanda – a começar de Pernambuco.

Já Marina Silva, que posa de programática para seduzir os “sonháticos”, também é bem pragmática. Ela já mudou de partido três vezes para viabilizar sua ambição presidencial – do PT para o PV, deste para a tentativa frustrada de criação da Rede e, agora, está de carona no PSB. O seu pragmatismo já virou motivo de chacota: ela seria a expressão da “metamorfose ambulante”. Para conquistar o voto evangélico, ela rasgou o programa do PSB sobre direitos dos homossexuais. Para acalmar os “milicos de pijama”, saudosos da ditadura, ela mudou de posição sobre a revisão da Lei da Anistia. Ela só não precisou ceder aos banqueiros, que já comandam a sua campanha – vide Neca Setubal, herdeira do Itaú.

Caso vença as eleições, seu governo terá inevitavelmente uma base conservadora de sustentação. Até o demo Agripino Maia, coordenador-geral da campanha do tucano Aécio Neves, já anunciou que PSDB e DEM serão marineiros de carteirinha. O PMDB, o eterno governista, também terá sua fatia de poder. As “velhas raposas”, hoje satanizadas por motivos eleitoreiros, não serão excluídas do tabuleiro político. A presidenciável Marina Silva se finge de inocente e pura, mas ela não é boba. Não quer ser apeada do Palácio do Planalto e sabe que precisará garantir sua governabilidade. A tal “força das ruas” será totalmente descartada. Nem mesmo os mais “sonháticos” acreditam nesta bravata pseudo-revolucionária de Beto Albuquerque.

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