Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
A disputa eleitoral para a Presidência da República alcançou o ponto em que toda especulação carrega uma pesada carga de vontade, com uma redução proporcional da racionalidade.
Embora os números indiquem que a candidatura do PSDB entrou em queda livre, o candidato Aécio Neves ainda tem grande influência sobre o eleitorado, porque dispõe de tempo razoável na propaganda pela televisão. Além disso, mesmo com poucas chances de reverter os números que evidenciam o desmanche de suas possibilidades, ele ainda conta com amplo respaldo na mídia tradicional. Segue sendo, portanto, protagonista de peso num embate de cujo centro foi deslocado pela meteórica ascensão da ex-ministra Marina Silva, candidata do PSB.
É interessante observar como a imprensa maneja para não perder o controle dos acontecimentos, embora nunca tenha, de fato, controlado qualquer coisa. Na quarta-feira (3/9), por exemplo, os jornais exploram a troca de golpes entre a presidente Dilma Rousseff e a ex-ministra, apresentando Aécio Neves como franco-atirador.
Não é preciso esforço para observar que o pano de fundo do noticiário ainda tem como principal característica o empenho da imprensa em desgastar a imagem da presidente da República. Mas percebe-se também que aumentam as preocupações dos jornais quanto à real possibilidade de Marina Silva vir a ser eleita. Para alguns colunistas influentes, a candidata do PSB perdeu a inocência e se lançou de cabeça na “velha política”, igualando-se aos que condena em sua propaganda oficial.
No entanto, é bastante provável que a maioria dos apoiadores de Marina Silva ainda enxergue nela a heroína que combateu os predadores da floresta ao lado de Chico Mendes. Sua permanência no primeiro plano da disputa eleitoral, com potencial para vencer a atual presidente, pode depender de sua capacidade de manter essa mística e ao mesmo tempo oferecer argumentos racionais para aquela fatia do eleitorado que se move pelo pragmatismo.
A imprensa vê nela a oportunidade para derrubar do poder o Partido dos Trabalhadores, mas teme que não possa ser domesticada.
Deuses e heróis
Como se sabe, a figura do herói tem sido determinante em muitos episódios fundamentais da nossa História. Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello foram citados por Dilma Rousseff como exemplos de figuras heroicas que chegaram ao poder sem respaldo em uma estrutura partidária e, por isso, acabaram despachados de Brasília por falta de apoio no Congresso.
Esse argumento elimina uma ambiguidade presente na campanha: o PT está dizendo que a disputa se dá no campo de jogo delimitado pelos partidos políticos. Ao destacar esse ponto, a imprensa parece empurrar Marina Silva para dentro do sistema que a ex-ministra diz combater. Dentro desse ringue, fica difícil para a candidata do PSB continuar afirmando seu propósito de construir uma “nova política”. No entanto, como o voto carrega grande componente emocional, é provável que seus apoiadores não se incomodem com o fato de ela parecer muito à vontade entre aqueles que condena. Seria, para usar sua própria linguagem, como um messias de saia em meio aos fariseus.
Aécio Neves é uma aposta que não deu certo.
Dilma Rousseff é a gerente de um grande sistema. Ainda que não disponha, pessoalmente, dos atributos de liderança que caracterizam seu antecessor e padrinho político, tem o respaldo da máquina que a adotou. Suas chances dependem de como vai administrar esse patrimônio, tentando convencer o eleitorado de que pode corrigir os erros de seu governo e fazer um segundo mandato com mais acertos. Passou quatro anos alimentando a imprensa que a chicoteava, e paga o preço da ilusão de que poderia ser diferente.
Marina Silva precisa preservar, com a racionalidade, os votos que obteve com a emoção. Seu discurso tende a se tornar mais pragmático, porque ela sabe que deixou para trás a capa de heroína quando sucumbiu ao medo da morte e abraçou a religiosidade – o verdadeiro herói não teme a morte e não espera pelo favor dos deuses. Seu pecado mortal poderá ser exatamente esse: o de cair na tentação de trocar a utopia da floresta pela fumaça do deus mercado.
Embora os números indiquem que a candidatura do PSDB entrou em queda livre, o candidato Aécio Neves ainda tem grande influência sobre o eleitorado, porque dispõe de tempo razoável na propaganda pela televisão. Além disso, mesmo com poucas chances de reverter os números que evidenciam o desmanche de suas possibilidades, ele ainda conta com amplo respaldo na mídia tradicional. Segue sendo, portanto, protagonista de peso num embate de cujo centro foi deslocado pela meteórica ascensão da ex-ministra Marina Silva, candidata do PSB.
É interessante observar como a imprensa maneja para não perder o controle dos acontecimentos, embora nunca tenha, de fato, controlado qualquer coisa. Na quarta-feira (3/9), por exemplo, os jornais exploram a troca de golpes entre a presidente Dilma Rousseff e a ex-ministra, apresentando Aécio Neves como franco-atirador.
Não é preciso esforço para observar que o pano de fundo do noticiário ainda tem como principal característica o empenho da imprensa em desgastar a imagem da presidente da República. Mas percebe-se também que aumentam as preocupações dos jornais quanto à real possibilidade de Marina Silva vir a ser eleita. Para alguns colunistas influentes, a candidata do PSB perdeu a inocência e se lançou de cabeça na “velha política”, igualando-se aos que condena em sua propaganda oficial.
No entanto, é bastante provável que a maioria dos apoiadores de Marina Silva ainda enxergue nela a heroína que combateu os predadores da floresta ao lado de Chico Mendes. Sua permanência no primeiro plano da disputa eleitoral, com potencial para vencer a atual presidente, pode depender de sua capacidade de manter essa mística e ao mesmo tempo oferecer argumentos racionais para aquela fatia do eleitorado que se move pelo pragmatismo.
A imprensa vê nela a oportunidade para derrubar do poder o Partido dos Trabalhadores, mas teme que não possa ser domesticada.
Deuses e heróis
Como se sabe, a figura do herói tem sido determinante em muitos episódios fundamentais da nossa História. Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello foram citados por Dilma Rousseff como exemplos de figuras heroicas que chegaram ao poder sem respaldo em uma estrutura partidária e, por isso, acabaram despachados de Brasília por falta de apoio no Congresso.
Esse argumento elimina uma ambiguidade presente na campanha: o PT está dizendo que a disputa se dá no campo de jogo delimitado pelos partidos políticos. Ao destacar esse ponto, a imprensa parece empurrar Marina Silva para dentro do sistema que a ex-ministra diz combater. Dentro desse ringue, fica difícil para a candidata do PSB continuar afirmando seu propósito de construir uma “nova política”. No entanto, como o voto carrega grande componente emocional, é provável que seus apoiadores não se incomodem com o fato de ela parecer muito à vontade entre aqueles que condena. Seria, para usar sua própria linguagem, como um messias de saia em meio aos fariseus.
Aécio Neves é uma aposta que não deu certo.
Dilma Rousseff é a gerente de um grande sistema. Ainda que não disponha, pessoalmente, dos atributos de liderança que caracterizam seu antecessor e padrinho político, tem o respaldo da máquina que a adotou. Suas chances dependem de como vai administrar esse patrimônio, tentando convencer o eleitorado de que pode corrigir os erros de seu governo e fazer um segundo mandato com mais acertos. Passou quatro anos alimentando a imprensa que a chicoteava, e paga o preço da ilusão de que poderia ser diferente.
Marina Silva precisa preservar, com a racionalidade, os votos que obteve com a emoção. Seu discurso tende a se tornar mais pragmático, porque ela sabe que deixou para trás a capa de heroína quando sucumbiu ao medo da morte e abraçou a religiosidade – o verdadeiro herói não teme a morte e não espera pelo favor dos deuses. Seu pecado mortal poderá ser exatamente esse: o de cair na tentação de trocar a utopia da floresta pela fumaça do deus mercado.
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