Por Nicolas Chernavsky, no blog culturapolítica.info:
Desde o início dessa campanha eleitoral no Brasil, tenho escrito uma série de artigos, e a cada artigo que escrevo, percebo algo novo não só sobre a eleição, mas também sobre minha própria forma de encarar a eleição. Eu planejava escrever um artigo hoje de manhã, mas simplesmente algo estava faltando, e o tema não surgia, mas nesses casos eu sabia que durante o dia minha mente raciocinaria mesmo inconscientemente pra formar o tema deste artigo, e foi isso o que aconteceu. Aconteceram algumas coisas hoje que me fizeram perceber a importância do fato de que em todos nós há como uma "eleição interna". Nós, sem exceção, não somos isentos de ter um componente progressista e um componente conservador, que disputam de uma forma análoga às candidaturas do polo progressista, com Dilma, e do polo conservador, com Aécio. Vou contar algumas situações que me ocorreram hoje pra ilustrar o raciocínio.
Pelos meus artigos, não é segredo pra ninguém que votarei em Dilma Rousseff, sendo que tenho um adesivo de sua candidatura no vidro traseiro do meu carro. Hoje eu estava dirigindo o carro, e ao entrar em um balão, deveria ter esperado um carro passar para depois eu entrar, mas acabei entrando antes desse carro, e o carro buzinou reclamando. De fato eu havia errado, e depois fiquei me sentindo culpado porque a pessoa que buzinou poderia relacionar o meu voto em Dilma com o ocorrido no trânsito. Obviamente é algo pequeno e não haveria razão que justificasse meu sentimento de culpa. Por isso, decidi pensar de onde realmente vinha a importância que eu estava dando ao caso. Para isso, citarei outro fato que ocorreu ainda hoje.
Costumo ter uma certa resistência a ver o horário eleitoral na televisão. Uma das razões tem a ver com o fato de que nesse horário eleitoral o nível de profundidade política é, na média, relativamente baixo, mas esse motivo não é suficiente para eu não vê-lo, uma vez que o horário eleitoral tem bastante audiência e acaba influenciando consideravelmente a eleição. Assim, sei que há outra razão para eu ter resistência a vê-lo, que é uma certa dose de angústia de ver o horário eleitoral das candidaturas mais conservadoras. No caso, hoje, minha resistência a assistir o programa eleitoral na TV estava relativamente alta, tanto que à propaganda da candidatura de Aécio, que veio primeiro, praticamente não assisti, sendo que depois assisti à propaganda da candidatura Dilma. Fiquei pensando depois por que minha resistência a ver o horário eleitoral da candidatura Aécio estava especialmente alta hoje, e percebi que era a mesma razão que me fazia sentir culpado quanto ao episódio do carro. Essa razão é a seguinte.
Creio que tanto a culpa pelo episódio do carro quanto a resistência a ver o programa da candidatura Aécio se derivam do meu componente conservador, que apesar de ser mais fraco que o progressista, se manifesta nesse tipo de situação. No caso do carro, a culpa não vinha de talvez ter perdido o voto da pessoa que buzinou, mas sim da possibilidade de eu ter feito aquilo de propósito, inconscientemente, para prejudicar a candidatura Dilma. Da mesma forma, a resistência a ver o programa eleitoral da candidatura Aécio viria do medo de que ver o discurso da candidatura conservadora aumentasse a força na minha disputa interna do meu componente conservador. Assim, eu não tinha medo dos argumentos que vinham de fora, mas da aceitação do meu componente conservador desses argumentos. Quando percebi essa dinâmica, ou seja, quando tomei consciência desse processo, pude enfraquecer meu conservadorismo, e meu progressismo ganhou força na correlação de forças interna. Assim, tive mais facilidade para vencer as resistências a assistir ao último debate entre Dilma e Aécio na televisão.
Chego a este último artigo antes do segundo turno fazendo uma sugestão a vocês, ou seja, que tentem perceber a eleição presidencial com um conjunto de milhões de "eleições" que ocorrem no interior de cada pessoa, e por que não no interior de cada partido, sindicato, central sindical, empresa, ONG e todas as outras instituições. Entretanto, como quem vota são as pessoas, e não essas outras entidades, quero focar na eleição interna das pessoas. Para o progressismo vencer mais facilmente dentro de nós, precisamos admitir que temos um componente conservador. Aí, conseguiremos dialogar melhor com ele, internamente, e quem sabe, convencê-lo e trazê-lo para o lado do progressismo, ficando nós com isso mais completos e menos divididos. Se não for possível ser 100% progressista, pelo menos sejamos o máximo possível, o suficiente para votar no polo progressista dessa eleição, representado pela candidatura Dilma.
Desde o início dessa campanha eleitoral no Brasil, tenho escrito uma série de artigos, e a cada artigo que escrevo, percebo algo novo não só sobre a eleição, mas também sobre minha própria forma de encarar a eleição. Eu planejava escrever um artigo hoje de manhã, mas simplesmente algo estava faltando, e o tema não surgia, mas nesses casos eu sabia que durante o dia minha mente raciocinaria mesmo inconscientemente pra formar o tema deste artigo, e foi isso o que aconteceu. Aconteceram algumas coisas hoje que me fizeram perceber a importância do fato de que em todos nós há como uma "eleição interna". Nós, sem exceção, não somos isentos de ter um componente progressista e um componente conservador, que disputam de uma forma análoga às candidaturas do polo progressista, com Dilma, e do polo conservador, com Aécio. Vou contar algumas situações que me ocorreram hoje pra ilustrar o raciocínio.
Pelos meus artigos, não é segredo pra ninguém que votarei em Dilma Rousseff, sendo que tenho um adesivo de sua candidatura no vidro traseiro do meu carro. Hoje eu estava dirigindo o carro, e ao entrar em um balão, deveria ter esperado um carro passar para depois eu entrar, mas acabei entrando antes desse carro, e o carro buzinou reclamando. De fato eu havia errado, e depois fiquei me sentindo culpado porque a pessoa que buzinou poderia relacionar o meu voto em Dilma com o ocorrido no trânsito. Obviamente é algo pequeno e não haveria razão que justificasse meu sentimento de culpa. Por isso, decidi pensar de onde realmente vinha a importância que eu estava dando ao caso. Para isso, citarei outro fato que ocorreu ainda hoje.
Costumo ter uma certa resistência a ver o horário eleitoral na televisão. Uma das razões tem a ver com o fato de que nesse horário eleitoral o nível de profundidade política é, na média, relativamente baixo, mas esse motivo não é suficiente para eu não vê-lo, uma vez que o horário eleitoral tem bastante audiência e acaba influenciando consideravelmente a eleição. Assim, sei que há outra razão para eu ter resistência a vê-lo, que é uma certa dose de angústia de ver o horário eleitoral das candidaturas mais conservadoras. No caso, hoje, minha resistência a assistir o programa eleitoral na TV estava relativamente alta, tanto que à propaganda da candidatura de Aécio, que veio primeiro, praticamente não assisti, sendo que depois assisti à propaganda da candidatura Dilma. Fiquei pensando depois por que minha resistência a ver o horário eleitoral da candidatura Aécio estava especialmente alta hoje, e percebi que era a mesma razão que me fazia sentir culpado quanto ao episódio do carro. Essa razão é a seguinte.
Creio que tanto a culpa pelo episódio do carro quanto a resistência a ver o programa da candidatura Aécio se derivam do meu componente conservador, que apesar de ser mais fraco que o progressista, se manifesta nesse tipo de situação. No caso do carro, a culpa não vinha de talvez ter perdido o voto da pessoa que buzinou, mas sim da possibilidade de eu ter feito aquilo de propósito, inconscientemente, para prejudicar a candidatura Dilma. Da mesma forma, a resistência a ver o programa eleitoral da candidatura Aécio viria do medo de que ver o discurso da candidatura conservadora aumentasse a força na minha disputa interna do meu componente conservador. Assim, eu não tinha medo dos argumentos que vinham de fora, mas da aceitação do meu componente conservador desses argumentos. Quando percebi essa dinâmica, ou seja, quando tomei consciência desse processo, pude enfraquecer meu conservadorismo, e meu progressismo ganhou força na correlação de forças interna. Assim, tive mais facilidade para vencer as resistências a assistir ao último debate entre Dilma e Aécio na televisão.
Chego a este último artigo antes do segundo turno fazendo uma sugestão a vocês, ou seja, que tentem perceber a eleição presidencial com um conjunto de milhões de "eleições" que ocorrem no interior de cada pessoa, e por que não no interior de cada partido, sindicato, central sindical, empresa, ONG e todas as outras instituições. Entretanto, como quem vota são as pessoas, e não essas outras entidades, quero focar na eleição interna das pessoas. Para o progressismo vencer mais facilmente dentro de nós, precisamos admitir que temos um componente conservador. Aí, conseguiremos dialogar melhor com ele, internamente, e quem sabe, convencê-lo e trazê-lo para o lado do progressismo, ficando nós com isso mais completos e menos divididos. Se não for possível ser 100% progressista, pelo menos sejamos o máximo possível, o suficiente para votar no polo progressista dessa eleição, representado pela candidatura Dilma.
Bacana esse texto, tenho essas mesmas dificuldades, mesmíssimas, parece que o autor falou de mim.
ResponderExcluirE me lembra a questão do arquétipo junguiano da sombra, nosso lado obscuro, e a necessidade de trabalha-lo ao invés de reprimi-lo.
Mas não tenho a menor vontade de assistir programa de direitista, nem, de ler seus artigos. Tralharei/o minha em outras esferas e , apesar de achar o artigo interessantíssimo,não sei se concordo totalmente com essa leitura e/ou solução interna.
Talvez minha sombra seja stalinista ou maoista, sei la hehe.