Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
A assessoria de imprensa do Ibope faz reparos ao comentário produzido neste Observatório na última segunda-feira (6/10). Sob o título “A pesquisa desmoralizada”, o observador registrava a corrida dos dois institutos de pesquisa mais acreditados pela imprensa na tentativa de aproximar suas previsões da realidade mostrada pelas urnas. Claramente, a análise das intenções de voto às vésperas do primeiro turno desconheceu a onda de conservadorismo que se escondia por trás da maré que queria ser chamada de “nova política”.
Diz o Ibope que não houve erro, porque já no sábado (4/10) seus indicadores apontavam uma ascensão vigorosa do candidato Aécio Neves, movimento de última hora relacionado à tendência de queda da ex-ministra Marina Silva, que vinha sendo registrada desde o dia 2 de setembro. “O que o Ibope não captou foi a velocidade do crescimento dele (...) e, como sabemos, o objetivo da pesquisa não é acertar o resultado, mas as tendências”, diz a mensagem do instituto. A afirmação vem acompanhada dos gráficos divulgados no sábado (4/10) (ver aqui) e dos números da pesquisa de boca de urna feita no domingo (5), dia da eleição em primeiro turno (ver aqui).
Comparando os dois conjuntos, pode-se notar que houve uma percepção de que os votos em Aécio Neves estavam crescendo num ritmo mais acelerado entre sexta-feira e sábado, na véspera da eleição, mas tanto o Ibope quanto o Datafolha ficaram longe dos números finais, com diferenças inadmissíveis. Mesmo na boca de urna, com uma amostragem de 64.200 eleitores em 468 municípios, os números do Ibope ficaram defasados, muito além da margem de erro.
No entanto, não era esse o ponto abordado no comentário em questão. O eixo destas observações é a imprensa, e os institutos de pesquisa entram no credo como parte desse complexo que se deslocou da mediação para o protagonismo direto e sem disfarces no jogo político-partidário. O quanto os institutos de pesquisa servem a esse propósito manipulador da mídia tradicional, é questão a ser analisada no longo prazo.
Feliz Natal!
De qualquer forma, convém anotar que não foi apenas este observador que constatou o efeito desmoralizador das urnas sobre os institutos de pesquisa: a ombudsman da Folha de S.Paulo registrou, no domingo (12/10): “As divergências entre previsão e apuração afetaram a credibilidade das pesquisas e levaram junto a cobertura dos jornais, amplamente escorada nos levantamentos”.
O que se discute aqui é exatamente essa relação suspeita, gloriosamente aceita pelos institutos, na qual supostas “tendências” apontadas pelas consultas de opinião são tratadas pelas redações como verdades absolutas ou previsões infalíveis. O peso desses números é fundamental nas escolhas editoriais, como anota a ombudsman: “Nunca as pesquisas eleitorais foram tão predominantes como neste ano”, escreveu. “Em 44 dias, aFolha deu oito manchetes para o Datafolha e uma para o Ibope, fora os títulos menores.”
Além disso, o noticiário sobre a disputa eleitoral envolve a costumeira chuva de escândalos com que a imprensa trata de encharcar o público, atacando principalmente um dos lados da contenda.
“O protagonismo é do Ministério Público Federal, e os jornais ficaram no papel de publicar títulos e manchetes quase sempre construídas com um fio de notícia, em vazamentos feitos a conta-gotas por gente envolvida na investigação”, diz a ombudsman da Folha. A receita é aquilo que já foi citado neste espaço muitas vezes: “dois dedos de novidade” e o enchimento de contexto, memória de coisas já publicadas e muita, muita opinião.
A revista Época também analisa o fracasso dos institutos de pesquisa, e chega a afirmar que “os erros na boca de urna levantam a possibilidade de haver falhas sistemáticas” – ou seja, é possível que os levantamentos de intenções de voto sirvam principalmente para alimentar as manchetes da imprensa.
Alguns especialistas ouvidos pela publicação entendem que as pesquisas eleitorais, como são feitas no Brasil, não deveriam ser publicadas. Outros apontam distorções, como a atitude dos entrevistadores, que pode induzir as respostas dos entrevistados.
A reportagem sugere algumas mudanças de critério, afirmando que esse seria o caminho para que os institutos deixem de ser motivo de piada. A mais popular delas diz o seguinte: “Hoje é segunda-feira, dia 13 de outubro. Considerando a margem de erro, feliz Natal!”
Diz o Ibope que não houve erro, porque já no sábado (4/10) seus indicadores apontavam uma ascensão vigorosa do candidato Aécio Neves, movimento de última hora relacionado à tendência de queda da ex-ministra Marina Silva, que vinha sendo registrada desde o dia 2 de setembro. “O que o Ibope não captou foi a velocidade do crescimento dele (...) e, como sabemos, o objetivo da pesquisa não é acertar o resultado, mas as tendências”, diz a mensagem do instituto. A afirmação vem acompanhada dos gráficos divulgados no sábado (4/10) (ver aqui) e dos números da pesquisa de boca de urna feita no domingo (5), dia da eleição em primeiro turno (ver aqui).
Comparando os dois conjuntos, pode-se notar que houve uma percepção de que os votos em Aécio Neves estavam crescendo num ritmo mais acelerado entre sexta-feira e sábado, na véspera da eleição, mas tanto o Ibope quanto o Datafolha ficaram longe dos números finais, com diferenças inadmissíveis. Mesmo na boca de urna, com uma amostragem de 64.200 eleitores em 468 municípios, os números do Ibope ficaram defasados, muito além da margem de erro.
No entanto, não era esse o ponto abordado no comentário em questão. O eixo destas observações é a imprensa, e os institutos de pesquisa entram no credo como parte desse complexo que se deslocou da mediação para o protagonismo direto e sem disfarces no jogo político-partidário. O quanto os institutos de pesquisa servem a esse propósito manipulador da mídia tradicional, é questão a ser analisada no longo prazo.
Feliz Natal!
De qualquer forma, convém anotar que não foi apenas este observador que constatou o efeito desmoralizador das urnas sobre os institutos de pesquisa: a ombudsman da Folha de S.Paulo registrou, no domingo (12/10): “As divergências entre previsão e apuração afetaram a credibilidade das pesquisas e levaram junto a cobertura dos jornais, amplamente escorada nos levantamentos”.
O que se discute aqui é exatamente essa relação suspeita, gloriosamente aceita pelos institutos, na qual supostas “tendências” apontadas pelas consultas de opinião são tratadas pelas redações como verdades absolutas ou previsões infalíveis. O peso desses números é fundamental nas escolhas editoriais, como anota a ombudsman: “Nunca as pesquisas eleitorais foram tão predominantes como neste ano”, escreveu. “Em 44 dias, aFolha deu oito manchetes para o Datafolha e uma para o Ibope, fora os títulos menores.”
Além disso, o noticiário sobre a disputa eleitoral envolve a costumeira chuva de escândalos com que a imprensa trata de encharcar o público, atacando principalmente um dos lados da contenda.
“O protagonismo é do Ministério Público Federal, e os jornais ficaram no papel de publicar títulos e manchetes quase sempre construídas com um fio de notícia, em vazamentos feitos a conta-gotas por gente envolvida na investigação”, diz a ombudsman da Folha. A receita é aquilo que já foi citado neste espaço muitas vezes: “dois dedos de novidade” e o enchimento de contexto, memória de coisas já publicadas e muita, muita opinião.
A revista Época também analisa o fracasso dos institutos de pesquisa, e chega a afirmar que “os erros na boca de urna levantam a possibilidade de haver falhas sistemáticas” – ou seja, é possível que os levantamentos de intenções de voto sirvam principalmente para alimentar as manchetes da imprensa.
Alguns especialistas ouvidos pela publicação entendem que as pesquisas eleitorais, como são feitas no Brasil, não deveriam ser publicadas. Outros apontam distorções, como a atitude dos entrevistadores, que pode induzir as respostas dos entrevistados.
A reportagem sugere algumas mudanças de critério, afirmando que esse seria o caminho para que os institutos deixem de ser motivo de piada. A mais popular delas diz o seguinte: “Hoje é segunda-feira, dia 13 de outubro. Considerando a margem de erro, feliz Natal!”
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