Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
O governo Dilma terá a dura tarefa de se equilibrar entre dois fogos.
De um lado, está a força das ruas – que empurrou Dilma para a vitória. De outro, está o “centrão” no Congresso.
Sejamos claros. Na Câmara, a centro-esquerda (PT, PCdoB e mais alguns votos no PSB e PDT) tem menos de 100 deputados. Isso mesmo: cerca de 20% da Câmara, apenas!
O PMDB – que seria o aliado de “centro” a garantir estabilidade – envia sinais de rebelião. Mas Dilma não pode prescindir do centro para governar…
O PSD de Kassab deve assumir papel importante. Pode-se aglutinar, em torno do PSD, uma base de apoio de centro que ofereça a Dilma um contraponto, se o PMDB de Eduardo Cunha insistir na chantagem. Na teoria, PSD/PR/PP/PDT podem formar um bloco com mais de 120 deputados (o dobro do PMDB).
De toda forma, é um xadrez complexo. Se ceder demais ao centro no Congresso, Dilma desagradará as ruas – onde colheu o apoio que lhe garantiu a vitória numa campanha em que o cerco midiático conservador chegou a níveis semelhantes ao de 1954, no ataque final a Getúlio Vargas.
A situação de Dilma pode encontrar paralelo também no governo Jango. Ele era pressionado pela esquerda – para avançar nas Reformas de Base. Só que o aliado PSD (partido de centro), rechaçava as reformas. Jango queria a reforma possível – que pudesse ser aprovada no Congresso. Pressionado pela esquerda, foi para o tudo ou nada. Perdeu apoio do PSD, e foi derrubado por um golpe em 1964.
Dilma enfrenta dilema semelhante. Com duas diferenças:
- a presidenta tem a legitimidade conferida pelas urnas; precisa usar o capital político agora, para romper o cerco conservador (Jango fora eleito como vice, e assumiu o cargo após a renúncia de Janio em 1961);
- Dilma tem em mãos o roteiro para romper esse cerco – um Plebiscito para a Reforma Política.
Como convocar o Plebiscito? Sob quais regras? Em que momento? Isso vai decidir o futuro do embate político em curso no Brasil. A vitória de Dilma nas urnas foi só uma batalha – a guerra será prolongada.
Assim como na campanha eleitoral, a afoiteza do conservadorismo pode-se virar contra seus próprios interesses. Lembremos: passado o primeiro turno, FHC (“quem vota no PT é desinformado”) e milhares de apoiadores de Aécio (“nordestinos vagabundos”) deixaram claro para o Brasil o ódio antinordeste e antipovo que os movia. Isso deu a Dilma uma votação consagradora no Nordeste e moveu a esquerda (inclusive a esquerda não-petista, como ficou claro no Rio e mesmo em São Paulo) contra o PSDB.
O excesso de força e a arrogância elitista foram componentes da derrota tucana. Agora, pode-se dar o mesmo.
Passada a eleição, o PMDB exibe seus vetos, derruba a proposta de participação popular. É um sinal claro: não queremos povo no meio do salão! O PSDB de Aloysio e outros trogloditas vai pra tribuna avisar : “não haverá trégua”.
Isso tudo alegra o núcleo duro do tucanato (na mídia comandada por mervais e outros derrotados). Mas, ao mesmo tempo, tem caráter didático para unir mais gente em torno de Dilma. A direita pode enforcar-se na corda de sua arrogância.
A presidenta precisa sair do Palácio e fazer o debate, mostrando quem quer impedir as reformas no Brasil.
Dilma – com apoio de Lula – precisa manter o povo na rua. Só isso permitirá que ela negocie – numa condição de mais força – com o centro no Congresso.
Ou seja, a saída não está num extremo (só negociação congressual) nem no outro (ignorar o Congresso e partir para o confronto na rua). Mas numa composição das duas táticas.
O PT até hoje abdicou da rua, resolvendo tudo com conciliação. Esse tempo acabou.
Mas não sejamos ingênuos, nem extremistas. A negociação segue sendo necessária. A esquerda não tem força para impor sua agenda “pura” ao país. Apostar nisso é apostar num desastre.
Por último, o que pode oferecer um alívio a Dilma? Parte dos empresários e o setor menos amalucado do PSDB não vão apostar em terceiro turno. Os empresários querem um país em paz, pra fazer negócios. E Alckmin quer diálogo, pra evitar que São Paulo morra de sede.
Alckmin talvez tenha percebido que, se entrar nessa rota de “tocar fogo no país”, o PSDB também pode acabar tragado pela onda de descontrole que adviria de tal tática extremista.
O quadro é complexo. Mas Dilma tem trunfos na mão. Precisa usá-los logo.
O governo Dilma terá a dura tarefa de se equilibrar entre dois fogos.
De um lado, está a força das ruas – que empurrou Dilma para a vitória. De outro, está o “centrão” no Congresso.
Sejamos claros. Na Câmara, a centro-esquerda (PT, PCdoB e mais alguns votos no PSB e PDT) tem menos de 100 deputados. Isso mesmo: cerca de 20% da Câmara, apenas!
O PMDB – que seria o aliado de “centro” a garantir estabilidade – envia sinais de rebelião. Mas Dilma não pode prescindir do centro para governar…
O PSD de Kassab deve assumir papel importante. Pode-se aglutinar, em torno do PSD, uma base de apoio de centro que ofereça a Dilma um contraponto, se o PMDB de Eduardo Cunha insistir na chantagem. Na teoria, PSD/PR/PP/PDT podem formar um bloco com mais de 120 deputados (o dobro do PMDB).
De toda forma, é um xadrez complexo. Se ceder demais ao centro no Congresso, Dilma desagradará as ruas – onde colheu o apoio que lhe garantiu a vitória numa campanha em que o cerco midiático conservador chegou a níveis semelhantes ao de 1954, no ataque final a Getúlio Vargas.
A situação de Dilma pode encontrar paralelo também no governo Jango. Ele era pressionado pela esquerda – para avançar nas Reformas de Base. Só que o aliado PSD (partido de centro), rechaçava as reformas. Jango queria a reforma possível – que pudesse ser aprovada no Congresso. Pressionado pela esquerda, foi para o tudo ou nada. Perdeu apoio do PSD, e foi derrubado por um golpe em 1964.
Dilma enfrenta dilema semelhante. Com duas diferenças:
- a presidenta tem a legitimidade conferida pelas urnas; precisa usar o capital político agora, para romper o cerco conservador (Jango fora eleito como vice, e assumiu o cargo após a renúncia de Janio em 1961);
- Dilma tem em mãos o roteiro para romper esse cerco – um Plebiscito para a Reforma Política.
Como convocar o Plebiscito? Sob quais regras? Em que momento? Isso vai decidir o futuro do embate político em curso no Brasil. A vitória de Dilma nas urnas foi só uma batalha – a guerra será prolongada.
Assim como na campanha eleitoral, a afoiteza do conservadorismo pode-se virar contra seus próprios interesses. Lembremos: passado o primeiro turno, FHC (“quem vota no PT é desinformado”) e milhares de apoiadores de Aécio (“nordestinos vagabundos”) deixaram claro para o Brasil o ódio antinordeste e antipovo que os movia. Isso deu a Dilma uma votação consagradora no Nordeste e moveu a esquerda (inclusive a esquerda não-petista, como ficou claro no Rio e mesmo em São Paulo) contra o PSDB.
O excesso de força e a arrogância elitista foram componentes da derrota tucana. Agora, pode-se dar o mesmo.
Passada a eleição, o PMDB exibe seus vetos, derruba a proposta de participação popular. É um sinal claro: não queremos povo no meio do salão! O PSDB de Aloysio e outros trogloditas vai pra tribuna avisar : “não haverá trégua”.
Isso tudo alegra o núcleo duro do tucanato (na mídia comandada por mervais e outros derrotados). Mas, ao mesmo tempo, tem caráter didático para unir mais gente em torno de Dilma. A direita pode enforcar-se na corda de sua arrogância.
A presidenta precisa sair do Palácio e fazer o debate, mostrando quem quer impedir as reformas no Brasil.
Dilma – com apoio de Lula – precisa manter o povo na rua. Só isso permitirá que ela negocie – numa condição de mais força – com o centro no Congresso.
Ou seja, a saída não está num extremo (só negociação congressual) nem no outro (ignorar o Congresso e partir para o confronto na rua). Mas numa composição das duas táticas.
O PT até hoje abdicou da rua, resolvendo tudo com conciliação. Esse tempo acabou.
Mas não sejamos ingênuos, nem extremistas. A negociação segue sendo necessária. A esquerda não tem força para impor sua agenda “pura” ao país. Apostar nisso é apostar num desastre.
Por último, o que pode oferecer um alívio a Dilma? Parte dos empresários e o setor menos amalucado do PSDB não vão apostar em terceiro turno. Os empresários querem um país em paz, pra fazer negócios. E Alckmin quer diálogo, pra evitar que São Paulo morra de sede.
Alckmin talvez tenha percebido que, se entrar nessa rota de “tocar fogo no país”, o PSDB também pode acabar tragado pela onda de descontrole que adviria de tal tática extremista.
O quadro é complexo. Mas Dilma tem trunfos na mão. Precisa usá-los logo.
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