terça-feira, 14 de outubro de 2014

Eleições e a sociedade bipolar

Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

Na cacofonia provocada durante a campanha eleitoral pelas conversas de motoristas de táxi misturadas ao som das análises do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, revela-se também como nossa sociedade é bipolar, ao defender uma coisa e praticar exatamente o seu oposto.

Quem percebeu isso foi minha filha Mariana Kotscho, também veterana jornalista, que publicou um texto sobre o assunto em seu animado Facebook.

Reproduzo abaixo o que escreveu Mariana:

"Tem gente que reclama da criminalidade, mas compra drogas e assim alimenta o crime...

Tem gente que reclama da falta de água mas continua lavando a calçada com mangueira...

Tem gente que reclama da corrupção, mas não perde a oportunidade de comprar a carteira de motorista...

Tem gente que não trabalha, vive de renda, de herança, e diz que o bolsa família é que sustenta vagabundo...

Tem gente que fala em respeito, mas não perde a oportunidade de agredir o outro ou fazer piada racista...

Tem gente que diz que a vida dela tá péssima, mas mora em casa própria, frequenta as melhores escolas e os melhores hospitais e viaja pro exterior pelo menos duas vezes por ano...

E tem gente que em rede social fala que ama o povo nordestino, que somos todos brasileiros e, em grupos privados de whatsapp, manda um monte de vídeo acabando com o nordeste...

Tem gente que faz doação pra ajudar famílias pobres, mas se incomoda demais quando tem que se sentar ao lado delas no avião...

Ou seja, tem todo tipo de gente por aí...

E você, tem mais algum exemplo da bipolaridade da nossa sociedade?"


Volto eu. Desde pequena, Mariana me surpreende e comove com o que fala e escreve, principalmente por seu agudo senso de justiça. Digo sempre que é uma prova da evolução da espécie... Também conheço um montão de gente desta sociedade bipolar, mas nunca tinha me dado conta da dimensão desta doença, que se alastra pelo país.

É isso que explica porque, aqui em São Paulo, a maioria dos eleitores quer não apenas derrotar Dilma e o PT nas urnas, mas também degolar a presidente e, se possível, acabar com o seu partido.

Quer dizer, a sociedade bipolar quer é "acabar com esta raça", como já dizia o grande democrata Jorge Bornhausen, aliado de Marina Silva e, agora, também de Aécio Neves.

Embora nesse meio seja comum a prática de sonegar impostos, há uma justificativa: "Não vou dar meu dinheiro para o governo alimentar estes vagabundos do Bolsa Família", cansei de ouvir nos últimos agitados dias da campanha eleitoral.

Contribui muito para isso também a revolta das madames com os direitos conquistados pelos empregados domésticos. Reclamam que ficou difícil arrumar empregadas e, quando conseguem, elas pedem mil coisas, além do salário mínimo. A criadagem agora exige um monte de direitos, até o pagamento de horas extras, imaginem só...

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