sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Sobre a desconstrução de imagens

Por Geraldo Galindo

"O principal fenômeno político da atual sucessão presidencial tem sido, até o momento, o triunfo da ideologia da desconstrução. Depois de triturar Marina Silva, expurgando-a do segundo turno, a usina de demolição em que se converteu o Comitê de Dilma passa no moedor a imagem de Aécio" (Josias de Souza, colunista do do Portal UOL/Folha de São Paulo).

"Marina foi submetida a um bombardeio e o bombardeio sobre Aécio também é enorme." (FHC, em entrevista Folha)

Os colunistas de plantão a serviço da mídia colonizada e seus representantes nos partidos que os representam têm dito e escrito que a campanha de Dilma e o PT estariam usando como armas de campanha a desconstrução da imagem dos adversários. E essa desconstrução seria despolitizada, de baixo nível, com a desqualificação pessoal. E repetem que o instrumento que teria sido usado contra Marina Silva estaria se repetindo no segundo turno contra Aécio.

Inicialmente é necessário esclarecer que, tanto a campanha de Aécio, como a de Dilma, fizeram com Marina o que deveria ser feito: informar para a população que o que ela apresentava como "nova política" era uma enorme fraude e a grande maioria dos eleitores entenderam a mensagem. A farsa foi desmontada no terreno da política, com a comprovação de que a ex-senadora enganara momentaneamente pessoas de boa fé que acreditavam no falso discurso do PSB/Rede.

Quando a ecocapitalista anunciou que defenderia o Banco Central independente e a flexibilização da CLT foi necessário ser dito o que as medidas significariam. Isso não tem nada a ver com desconstrução rasteira de imagem, mas debate de ideias, de programas. E a comprovação mais cabal de que a acriana nada representa de novidade na política foi sua decisão de se juntar ao que existe de mais reacionário no segundo turno, apoiando "o que existe de pior da velha política", como ela se referira a Aécio em um dos debates do primeiro turno.

Quando Josias de Souza fala em "usina de demolição de imagens", ele e todos os outros blogueiros, comentaristas e colunistas que comungam dessa opinião entendem direitinho o que vem a ser essa usina. Na verdade os "moedores" de imagem de adversários políticos estão exatamente na mídia que passou os últimos 12 anos fazendo o serviço sujo de suas extensões partidárias. A esquerda brasileira, especialmente o PT, vem sendo vítima de uma implacável campanha de calúnias, mentiras, desinformações e denúncias sem provas, todos os dias, impiedosamente. Talvez não se tenha registro na história de tamanha histeria, e demonização contra um partido, durante tanto tempo. E o impressionante é que diante de todo esse aparato "moedor" de imagens, os promotores dessas investidas não tenham conseguido trazer para o lado deles a maioria do povo.

O candidato Aécio Neves, que tem o apoio velado ou declarado dos grandes meios de comunicação, se apresenta como o presidente que combateria a corrupção, que defenderia a liberdade de imprensa, que acabaria com o aparelhamento do estado, etc. Ele tem o direito, mesmo com uma dose cavalar de hipocrisia, de defender tais teses. Mas, se nossa campanha tem elementos, dados e provas de que o discurso do opositor não combina com a realidade, não é só recomendável desmascara-lo, é é uma obrigação política transmitir a verdade aos eleitores. Ainda mais quando sabemos que a mesma mídia que dispara diariamente ataques ao governo é a mesma que acoberta ou não dá a devida dimensão aos escândalos patrocinados pelos partidos de sua simpatia. E que a esquerda brasileira só dispõe de tempo na TV em raríssimos momentos, um deles a campanha eleitoral. Se não usarmos esse espaço para nos defender e argumentarmos contra o discurso da oposição, quando o faremos?

Portanto, se Aécio diz combater a corrupção, é necessário que o povo saiba que seu governo em Minas torrou R$14 milhões na construção de um aeroporto próximo a uma fazenda familiares e que a publicidade no governo de Minas, controlada pela irmã do candidato, destina recursos públicos para as emissoras de rádio da própria família; se ele se apresenta como o defensor da liberdade de imprensa, é necessário que o povo saiba que em Minas a imprensa é rigidamente controlada, não há espaços para o contraditório e há feroz perseguição política contra os que ousam se insubordinar; se ele jura que vai combater o aparelhamento do estado é necessário que o público saiba que em Minas dezenas de milhares de servidores foram contratados sem concurso público e que ele emprega boa parte da família em cargos do governo. Esse é um debate franco, civilizado, no terreno da política.

Um dos elementos levantados pelos adeptos da "teoria da desconstrução" se refere ao fato da presidente Dilma ter tratado do caso da blitz da Lei Seca no Rio, quando o senador foi flagrado sem a carteira de habilitação e possivelmente embriagado. As pesquisas indicavam que cerca de 90% do povo brasileiro não tinha conhecimento do fato. Fosse um dirigente do PT, esse caso teria ganho uma dimensão em que praticamente toda a população teria conhecimento e essa liderança petista seria execrada e desmoralizada pro resto da vida. Mas era Aécio Neves, o candidato da mídia, pouca repercussão. Então, é correto que o povo brasileiro seja informado pela campanha - já que a grande imprensa omite - que o candidato a mandatário do país dirigiu sem habilitação. E isso é um péssimo exemplo para o cidadão.

Por fim, devemos reconhecer que a mídia golpista promoveu um grande estrago nas consciências de milhões de brasileiros, que terminaram por incorporar acriticamente o falso moralismo das classes dominantes. Esse é o verdadeiroo bombardeio que FHC finge desconhecer. Tentaram sistematicamente desconstruir a imagem de nossas lideranças da forma mais abjeta e agora nos acusam de repetir seus métodos espúrios, quando só dispomos de poucas oportunidades para dizer a verdade aos que são vítimas da avassaladora onda midiática de mentiras, manipulações e baixarias.

A verdade vencerá.

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