quinta-feira, 27 de novembro de 2014

2014: o ano que não começou

Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

Vamos deixar para resolver tudo depois do Carnaval.

Só dá pra gente tratar desse assunto quando acabar a Copa do Mundo, se é que vai ter... Antes disso, é impossível decidir qualquer coisa.

Tem que esperar passar as eleições. Sei lá como as coisas vão ficar...

Só vou decidir o que fazer depois que a Dilma anunciar a nova equipe econômica.

Quem e quantas vezes não ouviu frases assim durante este 2014, o ano que está acabando antes mesmo de ter começado, ao tentar acertar um emprego, fechar um negócio, fazer uma viagem, terminar ou começar um namoro? Carnaval, Copa, Eleições, de evento em evento, o tempo foi passando, e nada acontecendo, o país parando, tudo sendo adiado (ver meu comentário no Jornal da Record News desta quarta-feira).

Resultado: chegamos ao final do ano com um crescimento próximo de 0% no PIB. Ou seja, é como se 2014, de tantas e tão fortes emoções, tivesse passado em branco, simplesmente não houvesse existido. Passaremos direto de 2013 para 2015, pulando um ano nas nossas vidas, que certamente não ficará nas nossas melhores lembranças.

O agora imortal Zuenir Ventura, meu bom e velho amigo de muitas jornadas, escreveu o já clássico 1968: o ano que não terminou. Poderia muito bem agora retomar o tema e escrever o contrário sobre "2014, o ano que não começou". Se ele não se interessar, podem ser também o Heródoto Barbeiro, o Lira Neto, o Laurentino Gomes ou qualquer outro destes jornalistas-escritores que se tornaram historiadores de sucesso. Fica a sugestão.

Falam muito da inanição do Congresso Nacional, mas na verdade o país inteiro, com exceção dos juízes, delegados e mídia aliada da Operação Lava Jato, está num recesso obsequioso desde agosto, quando foi dada a largada da campanha eleitoral.

Anunciado o resultado das eleições, esperava-se que a reeleita presidente Dilma Rousseff anunciasse logo, diante da delicada situação política e econômica vivida pelo país, as linhas centrais e os primeiros nomes do seu "novo governo, novas ideias" prometido durante toda a campanha. Afinal, ela sabia ao longo de todo este tempo que corria o risco de sair vencedora na disputa, apesar de todas as dificuldades enfrentadas.

As novidades e as definições que o país tanto esperava, no entanto, foram sendo adiadas. Primeiro, para após a folga presidencial pós-eleitoral, o que é muito justo, já que a presidente não é de ferro (até eu fiquei uns dias sem trabalhar...). Nada. Ficou para logo depois da viagem à Austrália em que a presidente participaria de importante reunião do G20. Até agora, nada.

Hoje, quarta-feira, 26 de novembro, completamos exatamente um mês do segundo turno da eleição que deu a vitória a Dilma, deixando um país dividido, em que só se fala em terceiro turno e juízo final, e alguns celerados já começaram a pregar o impeachment da presidente e um novo golpe militar. E o país continua parado, e Dilma em silêncio.

O novo prazo anunciado pelos jornais para acabar o mistério é amanhã ou, quem sabe, sexta-feira, ou sabe lá Deus quando. O fato é que nem o país nem a presidente podem esperar pela nova posse no dia 1º de janeiro. Dilma sabe disso, mas deve estar numa encruzilhada danada tentando conciliar no seu novo ministério a direita e a esquerda, os interesses do PT e os da base aliada, e ainda por cima acalmar o mercado e os movimentos sociais, cada vez mais indóceis, enquanto tenta fechar as contas da economia, que insistem em lhe trazer más notícias.

Não gostaria de estar na pele dela. Sei de todas as dificuldades enfrentadas pela presidente, mas o país tem pressa em encontrar um novo rumo, e ela sabia de todos estes desafios quando resolveu se candidatar à reeleição.

Agora, minha cara Dilma, não tem outro jeito: é pau na máquina e bola pra frente que atrás vem gente. E seja o que Deus quiser.

Vamos que vamos.

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