Por Altamiro Borges
Nos meses que antecederam as eleições no Brasil, a mídia colonizada, que nutre o complexo de vira-lata, fez recorrentes elogios ao México e ao seu presidente, o direitista Enrique Peña Nieto. Ele seria um exemplo de político “moderno” e “austero”, e o país seria o paraíso da prosperidade na América Latina, uma prova do vigor do modelo neoliberal. Mas tudo não passava de propaganda ideológica. Agora, passado o pleito no Brasil, descobre-se que o México, sempre tão servil aos EUA, afunda numa grave crise econômica, moral e política. A mídia privada, porém, não faz qualquer autocrítica das patifarias que difundiu. Pior ainda, ela evita dar destaque ao caos vivido pelo pobre México.
Nesta segunda-feira (1), o jornal governista “El Universal” divulgou uma pesquisa revelando que 50% dos mexicanos reprovam o governo de Peña Nieto. É o pior índice de popularidade desde o início da sua gestão, em 2012. Há muito que o México passa por um processo cruel de regressão social, com altas taxas de desemprego e aumento da miséria. Essa barbárie decorre da política imposta pela oligarquia local, servil às imposições do Nafta, um acordo comercial que submete a nação à rapina dos EUA. Mas o que fez crescer a rejeição ao atual presidente foi a descoberta de que 43 alunos de uma escola de Ayotzinapa foram brutalmente assassinados pela polícia. A notícia deflagrou uma explosão de revolta no país.
Nesta onda de descontentamento, vieram à tona graves denúncias de corrupção envolvendo o “moderno” e “austero” presidente do México. A empreiteira que venceu a “licitação” para a construção de um trem-bala quando Peña Nieto era governador do Estado de México presenteou sua mulher, a atriz Angélica Rivera, com uma luxuosa mansão. O escândalo abalou ainda mais a popularidade do presidente tão bajulado pela mídia colonizada do Brasil. Estes e outros fatores serviram para desmascarar o yuppie neoliberal do México e para elevar a temperatura da luta de classes no país. O jornalista Eduardo Graça, numa reportagem para a revista CartaCapital, demonstra que a crise política é violenta no México.
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Estamos no México, mas não se trata de uma novela produzida no país, embora pareça. A hipótese cada vez mais factível da segunda chacina em cinco meses, desta vez de 43 estudantes, contar com a participação direta da polícia levou milhares de mexicanos às ruas em revolta contra o colapso do sistema de segurança pública, a certeza da impunidade e o conchavo descarado entre autoridades locais e os cartéis de tráfico de drogas... Populares atearam fogo no prédio da Assembleia Legislativa do estado de Guerrero e na sede do PRI, o partido governista. Aeroportos e rodovias de grandes centros foram ocupados e os manifestantes chegaram a fazer de refém por algumas horas, na terça-feira 11, o secretário estadual de Segurança. Trata-se da maior crise relacionada à explosão da violência na segunda maior economia da América Latina (...).
O enredo ficou ainda mais complicado para o governo após a denúncia da jornalista Carmen Aristegui de que o presidente e a primeira-dama se revezam entre o palácio presidencial e uma mansarda avaliada em 7 milhões de dólares, registrada em nome do Grupo Higa. Trata-se de uma empreiteira que abocanhou 652 milhões de dólares em contratos com o Estado do México durante a administração Peña Nieto, entre 2005 e 2011. Ao assumir a Presidência do país, anunciou um leilão para a construção de um trem de alta velocidade entre o Distrito Federal e a cidade de Querétaro. A obra, avaliada em 3,7 bilhões de dólares, foi arrematada no início do mês por um consórcio liderado justamente pelo Higa.
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Os descalabros do governo “moderno” e “austero” do neoliberal Peña Nieto são antigos. Mas a mídia brasileira, em plena campanha pela eleição do também neoliberal Aécio Neves, preferiu esconder os podres. No final de 2013, a própria Angélica Rivera havia concedido entrevista jactando-se da nova mansão. Agora, só agora, a Folha tucana lembra que “o interior da casa do casal presidencial foi mostrado em detalhes pela primeira-dama em matéria de uma revista de celebridades em 2013. O piso é de mármore, e há quartos para os filhos do casal. ‘Los Pinos [residência oficial da Presidência] nos foi emprestada só por seis anos. Nossa verdadeira casa, nosso lugar é este’, disse Rivera”.
Veja abaixo a cronologia da crise recente:
26 de setembro
Nos meses que antecederam as eleições no Brasil, a mídia colonizada, que nutre o complexo de vira-lata, fez recorrentes elogios ao México e ao seu presidente, o direitista Enrique Peña Nieto. Ele seria um exemplo de político “moderno” e “austero”, e o país seria o paraíso da prosperidade na América Latina, uma prova do vigor do modelo neoliberal. Mas tudo não passava de propaganda ideológica. Agora, passado o pleito no Brasil, descobre-se que o México, sempre tão servil aos EUA, afunda numa grave crise econômica, moral e política. A mídia privada, porém, não faz qualquer autocrítica das patifarias que difundiu. Pior ainda, ela evita dar destaque ao caos vivido pelo pobre México.
Nesta segunda-feira (1), o jornal governista “El Universal” divulgou uma pesquisa revelando que 50% dos mexicanos reprovam o governo de Peña Nieto. É o pior índice de popularidade desde o início da sua gestão, em 2012. Há muito que o México passa por um processo cruel de regressão social, com altas taxas de desemprego e aumento da miséria. Essa barbárie decorre da política imposta pela oligarquia local, servil às imposições do Nafta, um acordo comercial que submete a nação à rapina dos EUA. Mas o que fez crescer a rejeição ao atual presidente foi a descoberta de que 43 alunos de uma escola de Ayotzinapa foram brutalmente assassinados pela polícia. A notícia deflagrou uma explosão de revolta no país.
Nesta onda de descontentamento, vieram à tona graves denúncias de corrupção envolvendo o “moderno” e “austero” presidente do México. A empreiteira que venceu a “licitação” para a construção de um trem-bala quando Peña Nieto era governador do Estado de México presenteou sua mulher, a atriz Angélica Rivera, com uma luxuosa mansão. O escândalo abalou ainda mais a popularidade do presidente tão bajulado pela mídia colonizada do Brasil. Estes e outros fatores serviram para desmascarar o yuppie neoliberal do México e para elevar a temperatura da luta de classes no país. O jornalista Eduardo Graça, numa reportagem para a revista CartaCapital, demonstra que a crise política é violenta no México.
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Estamos no México, mas não se trata de uma novela produzida no país, embora pareça. A hipótese cada vez mais factível da segunda chacina em cinco meses, desta vez de 43 estudantes, contar com a participação direta da polícia levou milhares de mexicanos às ruas em revolta contra o colapso do sistema de segurança pública, a certeza da impunidade e o conchavo descarado entre autoridades locais e os cartéis de tráfico de drogas... Populares atearam fogo no prédio da Assembleia Legislativa do estado de Guerrero e na sede do PRI, o partido governista. Aeroportos e rodovias de grandes centros foram ocupados e os manifestantes chegaram a fazer de refém por algumas horas, na terça-feira 11, o secretário estadual de Segurança. Trata-se da maior crise relacionada à explosão da violência na segunda maior economia da América Latina (...).
O enredo ficou ainda mais complicado para o governo após a denúncia da jornalista Carmen Aristegui de que o presidente e a primeira-dama se revezam entre o palácio presidencial e uma mansarda avaliada em 7 milhões de dólares, registrada em nome do Grupo Higa. Trata-se de uma empreiteira que abocanhou 652 milhões de dólares em contratos com o Estado do México durante a administração Peña Nieto, entre 2005 e 2011. Ao assumir a Presidência do país, anunciou um leilão para a construção de um trem de alta velocidade entre o Distrito Federal e a cidade de Querétaro. A obra, avaliada em 3,7 bilhões de dólares, foi arrematada no início do mês por um consórcio liderado justamente pelo Higa.
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Os descalabros do governo “moderno” e “austero” do neoliberal Peña Nieto são antigos. Mas a mídia brasileira, em plena campanha pela eleição do também neoliberal Aécio Neves, preferiu esconder os podres. No final de 2013, a própria Angélica Rivera havia concedido entrevista jactando-se da nova mansão. Agora, só agora, a Folha tucana lembra que “o interior da casa do casal presidencial foi mostrado em detalhes pela primeira-dama em matéria de uma revista de celebridades em 2013. O piso é de mármore, e há quartos para os filhos do casal. ‘Los Pinos [residência oficial da Presidência] nos foi emprestada só por seis anos. Nossa verdadeira casa, nosso lugar é este’, disse Rivera”.
Veja abaixo a cronologia da crise recente:
26 de setembro
Policiais e traficantes atacam a tiros ônibus com alunos de magistério de Ayotzinapa, que estavam em Iguala para arrecadar fundos; 43 jovens desaparecem
30 de setembro
30 de setembro
Suspeitos, prefeito de Iguala, Jose Luis Abarca, e sua mulher, María de los Ángeles, fogem
5 de outubro
5 de outubro
Dois traficantes confessam a morte de 17 dos 43 desaparecidos e acusam Abarca de ser o mandante
4 de novembro
4 de novembro
Abarca e sua mulher são encontrados e presos
7 de novembro
7 de novembro
Procurador-geral Jesús Murillo diz que traficantes de cartel confessaram o assassinato de todos os desaparecidos. Os corpos teriam sido queimados e jogados em um rio. Pais questionam versão do governo
9 de novembro
9 de novembro
Surge denúncia de que mulher do presidente teria comprado mansão de empresa agraciada com contratos do governo
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