quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Dilma e a correção do imposto de renda

Por Altamiro Borges

A presidenta Dilma Rousseff decidiu vetar o reajuste de 6,5% na tabela do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF) aprovado pelo Congresso Nacional – inclusive com os votos dos deputados do PT. O anúncio foi feito nesta terça-feira (20) pelo ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, que informou que o governo editará nos próximos dias uma Medida Provisória corrigindo a tabela em 4,5%. “O espaço fiscal que temos é este”, explicou o ministro, reforçando o discurso da austeridade da nova equipe econômica. A decisão prejudica os trabalhadores e as camadas médias da sociedade e visa manter o chamado superávit primário – a reserva de caixa para pagar os banqueiros.

Em entrevista à jornalista Najla Passos, do site Carta Maior, o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores da Receita Federal (Sindifisco), Claudio Damasceno, revelou a gravidade do problema. “Segundo ele, com o fechamento do IPCA de 2014 em 6,41%, a defasagem da tabela do IRPF acumulada desde 1996 chega a 64,28%... ‘O contribuinte mais uma vez é o maior sacrificado. E a situação preocupa, porque não há regra prevista. Há somente acenos da parte do governo’, lamentou. Dos muitos impostos existentes no Brasil, o IRPF é apontado por vários analistas como um dos principais instrumentos para a justiça fiscal, já que permite a cobrança de diferentes alíquotas por diferentes faixas de renda”.

A decisão impopular da presidenta Dilma já está sendo festejada, de forma oportunista, pela oposição demotucana e pela mídia venal. A direita nativa, porta-voz dos patrões, nunca se preocupou com a mordida do Leão nos rendimentos dos trabalhadores. Agora, porém, tenta posar de defensora dos assalariados. O deputado Mendonça Filha, líder do DEM, até tripudia. “Vetar a correção próxima ao valor final da inflação de 2014 é exigir que, mais uma vez, o trabalhador seja penalizado com a situação econômica do país. O governo retira mais gente da isenção para inchar ainda mais suas receitas do jeito mais fácil: apertando ainda mais o contribuinte”, choraminga o demo, na maior caradura.

Já o cambaleante Aécio Neves, que até agora não se recuperou da surra levada no pleito presidencial, anuncia que mobilizará o parlamento para derrubar o ajuste fiscal do governo. Para ele, Dilma Rousseff “trai os compromissos assumidos com a população durante a campanha” ao vetar a correção de 6,5% na tabela do imposto de renda. “Na prática, isso significa que o governo está aumentando o imposto de renda a ser pago pelos brasileiros”, afirmou o presidente do PSDB em nota divulgada à imprensa. O tucano ainda insiste na tese do “estelionato eleitoral” praticado para reeleger Dilma. “O PT está fazendo o que falsamente disse que a oposição faria”, choraminga Aécio Neves.

Na mesma batida, a mídia privada aproveita para fustigar o governo. A revista Época, da famiglia Marinho, não poupa adjetivos. “A decisão da presidente Dilma de vetar a correção da tabela do IR em 6,5% dá o que pensar sobre o seu governo e o PT. Mais que qualquer bravata revolucionária, do tipo que gera frisson nas hostes vermelhas do PT, a correção da tabela tem um impacto direto no bolso dos brasileiros todos os meses. Apesar de o PT se considerar ‘o legítimo representante dos trabalhadores’ desde a sua fundação, em 1980, detentor de uma espécie de direito divino para falar em nome dos fracos e oprimidos, o veto de Dilma mostra que se foram os tempos em que o partido honrava o seu nome, se é que algum dia isso realmente aconteceu”, esbraveja o jornalista José Fucs, em seu blog hospedado na revista.

Durma-se com este barulho! Ao invés de promover um amplo debate sobre a reforma tributária, que penalize as grandes fortunas e os mais ricos, o governo opta por não corrigir a tabela do imposto de renda e penaliza os trabalhadores. Desta forma, ele continua na defensiva política, tentando acalmar o "deus-mercado" e levando porrada dos oportunistas de plantão. Desta forma, a presidenta Dilma sofre maiores desgastes, inclusive entre os setores populares que garantiram a sua reeleição. Lamentável!

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3 comentários:

  1. Caro Altamiro, nas suas considerações você não está levando em consideração o fato que diz respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal, já que a correção da tabela do IR em 6.5% incorro em renúncia fiscal de 7 bilhões de reais e o autor da proposta não apresentou uma alternativa para repor a quantia do recurso a menos no tesouro.

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  2. Sim, e com MAIS essa LAMENTÁTEL tomada de decisão pela presidenta, você não acha que a militância progressista deveria sair em passeatas para manifestar o nosso desagrado?

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  3. Quem se lembrou de Lei de Responsabilidade Fiscal quando ocorreram todas as desonerações quem lembrou da Lei de Responsabilidade Fiscal? Votei em Dilma, torci por ela mas não lhe passei cheque em branco para tomar medidas de caráter recessivo como as que estão sendo tomadas. Acho que ela deveria sair de sua zona de conforto e vir conversar com seus eleitores. Não lembrar deles somente no momento de pancadaria.

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