Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Embora tenha sido ilustrada por varios momentos que parecem pura trapalhada política, a ruptura de Marta Suplicy com o Partido dos Trabalhadores é uma novidade ruim para o governo Dilma e boa para seus adversários.
Marta não formalizou a saída mas trilha um caminho onde não parece haver retorno possível. No momento, ela articula uma frente capaz de sustentar sua campanha em 2016, como adversária de Fernando Haddad.
A ruptura é ruim para o PT. Marta acumulou um respeitável patrimonio político na maior cidade do país, onde Dilma e o partido obtiveram um dos piores desempenhos da campanha de 2014, numa eleição vencida por uma das margens mais estreitas da história.
Para muitos petistas, os votos da cidade de São Paulo constituem um desastre imenso a espera de uma boa análise.
A análise ainda não veio mas, com a decisão de Marta, o desastre pode tornar-se ainda mais dramático.
Como senadora, e, em especial, nos quatro anos de prefeita, entre 2000 e 2004, Marta ligou-se a conquistas importantes, como o Bilhete Único, o Uniforme Escolar, os Ceus.
Durante a maior parte de sua vida política, Marta foi alvo de uma pancadaria fácil dos meios de comunicação porque era candidata pelo PT. Em outra legenda, quando ficará na posição adversária de um projeto político que o poder estabelecido planeja liquidar de qualquer maneira, é provável que passe a receber um tratamento menos agressivo, menos preconceituoso e, quem sabe, menos injusto. Moça nascida e bem criada, para os adversários de sempre o problema de Marta nunca foi a origem - mas as companhias.
Ao fazer críticas duras à política econômica do segundo mandato, a ex-prefeita deixou claro que pode ter iniciado um percurso que, num momento de miséria sociológica, seria possível descrever como um retorno à própria classe.
Ao apresentar denúncias contra seu sucessor, deixou uma pergunta ética no meio do caminho: por que só fez isso agora, no meio dos holofotes, quando está de saída?
Luiz Inácio Lula da Silva foi vitorioso nas urnas da capital paulista em 2002 - na única vez que isso aconteceu com um candidato petista - e não há dúvida que a gestão de Marta, então na metade do mandato, teve um papel nessa vitória. Talvez não tenha sido tão decisivo quanto a ex-prefeita e seus aliados imaginam, mas teve um peso real na votação da cidade.
Para Haddad, a notícia só não é totalmente ruim porque Marta era a única liderança, dentro do PT, que poderia questionar o projeto de reeleição.
O problema é que Marta tem votos onde Haddad não tem e sua entrada na campanha vai se transformar num obstáculo para o crescimento do prefeito aonde ele se mostra fraco, que é a periferia. Considerando o renascimento de Celso Russomano, que se tornou o deputado mais votado do país após naufragar em 2012, Haddad enfrentará uma tarefa ainda mais complicada, mesmo considerando a aquisição de um Secretário, Gabriel Chalita, que tem um bom currículo eleitoral na cidade.
E se você pensar que, cedo ou tarde, as posições municipais desaguam nas correntezas federais, não é difícil imaginar outros desdobramentos.
A ruptura apenas confirma aquilo que era possível antecipar nos últimos meses: a cicatriz aberta entre Marta e a maioria do Partido era maior do que a capacidade de qualquer cirurgião disponível para o serviço de costura sem anestesia. Levada por Dilma para compor o ministério, Marta não tinha o direito de trabalhar pelo "Volta, Lula" – a menos, claro, que informasse a presidente e colocasse o cargo à disposição.
A traição não é um gesto aceitável na política e costuma ser tolerada em duas situações. Quando é tão bem feita que não chega a ser descoberta ou quando é tão generalizada que ninguém liga.
Embora tenha apoiado Dilma na reta final da campanha, Marta construiu um ambiente complicado à sua volta.
Num assembléia de artistas reunidos no Rio de Janeiro para apoiar Dilma, ela foi hostilizada por um coro que pedia: “Volta, Juca!”
Numa carreata em São Paulo, o presidente do PT Rui Falcão tentou obrigar a ex-prefeita a descer da caminhonete que iria liderar um cortejo com a presença de Dilma. Rui queria que Marta fosse no segundo veículo, longe da presidente-candidata, numa espécie de rebaixamento e desprestígio. Mas Marta resistiu e ficou onde se encontrava. Os dois discutiram ao berros, trocando acusações de todo tipo que só não causaram um estrago maior porque os repórteres que cobriam o evento estavam ocupados acompanhado uma conversa da própria Dilma com alguns eleitores.
Composições e rupturas são movimentos permanentes da luta política mas nem todos devem ser banalizados.
Os movimentos de Marta tinham a direção clara de quem queria abrir a porta de saída, mas assumiram um caráter acima de tudo confuso, a começar pelo fato de que, candidata a candidata a um posto municipal, concentrou-se em denúncias e criticas de caráter federal. Querendo a cadeira de Haddad, priorizou ataques a Dilma.
Tentando antecipar os movimentos de Marta, uma parcela considerável de dirigentes do PT imaginava que ela fosse atuar de modo organizado, desafiando o prefeito para uma prévia no estilo das primárias dos partidos norte-americanos - situação que lhe daria argumentos mais convincentes para um afastamento posterior. Os adversários mais antigos da ex-prefeita dizem que essa atitude apenas confirma sua preferência por ações e reação de caráter individual, em detrimento de atitudes decididas coletivamente.
Com uma biografia política surpreendente e peculiar, é difícil adivinhar o benefício que Marta Suplicy está gerando a si própria. O desempenho de Luiza Erundina em sua encarnação pós-PT mostra que o eleitor dá muito mais valor aos partidos políticos do que a boa parte dos estudiosos gosta de admitir. Se, em São Paulo, a força do PT de hoje não admite comparação com anos passados, ainda é prematuro antecipar eventuais vantagens que Marta possa obter como ex-petista.
Em qualquer caso, é fácil antecipar que o afastamento de Marta irá gerar prejuízos às próximas campanhas do governo e do Partido dos Trabalhadores.
Embora tenha sido ilustrada por varios momentos que parecem pura trapalhada política, a ruptura de Marta Suplicy com o Partido dos Trabalhadores é uma novidade ruim para o governo Dilma e boa para seus adversários.
Marta não formalizou a saída mas trilha um caminho onde não parece haver retorno possível. No momento, ela articula uma frente capaz de sustentar sua campanha em 2016, como adversária de Fernando Haddad.
A ruptura é ruim para o PT. Marta acumulou um respeitável patrimonio político na maior cidade do país, onde Dilma e o partido obtiveram um dos piores desempenhos da campanha de 2014, numa eleição vencida por uma das margens mais estreitas da história.
Para muitos petistas, os votos da cidade de São Paulo constituem um desastre imenso a espera de uma boa análise.
A análise ainda não veio mas, com a decisão de Marta, o desastre pode tornar-se ainda mais dramático.
Como senadora, e, em especial, nos quatro anos de prefeita, entre 2000 e 2004, Marta ligou-se a conquistas importantes, como o Bilhete Único, o Uniforme Escolar, os Ceus.
Durante a maior parte de sua vida política, Marta foi alvo de uma pancadaria fácil dos meios de comunicação porque era candidata pelo PT. Em outra legenda, quando ficará na posição adversária de um projeto político que o poder estabelecido planeja liquidar de qualquer maneira, é provável que passe a receber um tratamento menos agressivo, menos preconceituoso e, quem sabe, menos injusto. Moça nascida e bem criada, para os adversários de sempre o problema de Marta nunca foi a origem - mas as companhias.
Ao fazer críticas duras à política econômica do segundo mandato, a ex-prefeita deixou claro que pode ter iniciado um percurso que, num momento de miséria sociológica, seria possível descrever como um retorno à própria classe.
Ao apresentar denúncias contra seu sucessor, deixou uma pergunta ética no meio do caminho: por que só fez isso agora, no meio dos holofotes, quando está de saída?
Luiz Inácio Lula da Silva foi vitorioso nas urnas da capital paulista em 2002 - na única vez que isso aconteceu com um candidato petista - e não há dúvida que a gestão de Marta, então na metade do mandato, teve um papel nessa vitória. Talvez não tenha sido tão decisivo quanto a ex-prefeita e seus aliados imaginam, mas teve um peso real na votação da cidade.
Para Haddad, a notícia só não é totalmente ruim porque Marta era a única liderança, dentro do PT, que poderia questionar o projeto de reeleição.
O problema é que Marta tem votos onde Haddad não tem e sua entrada na campanha vai se transformar num obstáculo para o crescimento do prefeito aonde ele se mostra fraco, que é a periferia. Considerando o renascimento de Celso Russomano, que se tornou o deputado mais votado do país após naufragar em 2012, Haddad enfrentará uma tarefa ainda mais complicada, mesmo considerando a aquisição de um Secretário, Gabriel Chalita, que tem um bom currículo eleitoral na cidade.
E se você pensar que, cedo ou tarde, as posições municipais desaguam nas correntezas federais, não é difícil imaginar outros desdobramentos.
A ruptura apenas confirma aquilo que era possível antecipar nos últimos meses: a cicatriz aberta entre Marta e a maioria do Partido era maior do que a capacidade de qualquer cirurgião disponível para o serviço de costura sem anestesia. Levada por Dilma para compor o ministério, Marta não tinha o direito de trabalhar pelo "Volta, Lula" – a menos, claro, que informasse a presidente e colocasse o cargo à disposição.
A traição não é um gesto aceitável na política e costuma ser tolerada em duas situações. Quando é tão bem feita que não chega a ser descoberta ou quando é tão generalizada que ninguém liga.
Embora tenha apoiado Dilma na reta final da campanha, Marta construiu um ambiente complicado à sua volta.
Num assembléia de artistas reunidos no Rio de Janeiro para apoiar Dilma, ela foi hostilizada por um coro que pedia: “Volta, Juca!”
Numa carreata em São Paulo, o presidente do PT Rui Falcão tentou obrigar a ex-prefeita a descer da caminhonete que iria liderar um cortejo com a presença de Dilma. Rui queria que Marta fosse no segundo veículo, longe da presidente-candidata, numa espécie de rebaixamento e desprestígio. Mas Marta resistiu e ficou onde se encontrava. Os dois discutiram ao berros, trocando acusações de todo tipo que só não causaram um estrago maior porque os repórteres que cobriam o evento estavam ocupados acompanhado uma conversa da própria Dilma com alguns eleitores.
Composições e rupturas são movimentos permanentes da luta política mas nem todos devem ser banalizados.
Os movimentos de Marta tinham a direção clara de quem queria abrir a porta de saída, mas assumiram um caráter acima de tudo confuso, a começar pelo fato de que, candidata a candidata a um posto municipal, concentrou-se em denúncias e criticas de caráter federal. Querendo a cadeira de Haddad, priorizou ataques a Dilma.
Tentando antecipar os movimentos de Marta, uma parcela considerável de dirigentes do PT imaginava que ela fosse atuar de modo organizado, desafiando o prefeito para uma prévia no estilo das primárias dos partidos norte-americanos - situação que lhe daria argumentos mais convincentes para um afastamento posterior. Os adversários mais antigos da ex-prefeita dizem que essa atitude apenas confirma sua preferência por ações e reação de caráter individual, em detrimento de atitudes decididas coletivamente.
Com uma biografia política surpreendente e peculiar, é difícil adivinhar o benefício que Marta Suplicy está gerando a si própria. O desempenho de Luiza Erundina em sua encarnação pós-PT mostra que o eleitor dá muito mais valor aos partidos políticos do que a boa parte dos estudiosos gosta de admitir. Se, em São Paulo, a força do PT de hoje não admite comparação com anos passados, ainda é prematuro antecipar eventuais vantagens que Marta possa obter como ex-petista.
Em qualquer caso, é fácil antecipar que o afastamento de Marta irá gerar prejuízos às próximas campanhas do governo e do Partido dos Trabalhadores.
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