Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
Rio de Janeiro, Carnaval de 2030. Num apartamento na avenida Atlântica, Merval Pereira e seu neto de sete anos conversam. Destacam-se na parede duas fotos emolduradas finamente: uma é de Merval com seu fardão de imortal. A outra é de Roberto Marinho.
O neto: “O que é isso, vovô? Me deram na escola.” O garoto segura uma máscara de Carnaval com o rosto do avô.
Merval disfarça a surpresa: “Uma homenagem que fizeram ao vovô em 2015, muito antes de você nascer.”
O neto: “Por que você foi homenageado, vovô?”
Merval, rápido: “Porque eu era um jornalista muito amado.”
O neto: “Amado pelo povo! Que bom, vovô. Por que o povo amava você?”
Merval: “Porque eu defendia o povo nas coisas que eu escrevia e dizia.”
O neto: “Onde o senhor escrevia, vovô?”
Merval: “No Globo.”
O neto: “Globo? Que é isso?”
Merval: “Um jornal. Era um jornal.”
O neto: “Jornal. O que é isso?”
Merval: “Era onde as pessoas liam notícias antes de você nascer. No papel.”
O neto: “Papel. O que é isso?”
Merval se ergue e pega, no escritório, um exemplar de sua coleção: “É isso aqui.” E passa para o garoto.
O neto: “Por que não fazem mais isso, vovô?”
Merval, com um esgar de repulsa: “Por causa daquela ruim. A internet.”
O neto: “O que é isso, vovô? Me deram na escola.” O garoto segura uma máscara de Carnaval com o rosto do avô.
Merval disfarça a surpresa: “Uma homenagem que fizeram ao vovô em 2015, muito antes de você nascer.”
O neto: “Por que você foi homenageado, vovô?”
Merval, rápido: “Porque eu era um jornalista muito amado.”
O neto: “Amado pelo povo! Que bom, vovô. Por que o povo amava você?”
Merval: “Porque eu defendia o povo nas coisas que eu escrevia e dizia.”
O neto: “Onde o senhor escrevia, vovô?”
Merval: “No Globo.”
O neto: “Globo? Que é isso?”
Merval: “Um jornal. Era um jornal.”
O neto: “Jornal. O que é isso?”
Merval: “Era onde as pessoas liam notícias antes de você nascer. No papel.”
O neto: “Papel. O que é isso?”
Merval se ergue e pega, no escritório, um exemplar de sua coleção: “É isso aqui.” E passa para o garoto.
O neto: “Por que não fazem mais isso, vovô?”
Merval, com um esgar de repulsa: “Por causa daquela ruim. A internet.”
O menino, recém-alfabetizado, começa a folhear o jornal: “Onde o senhor escrevia?”
Merval mostra a ele uma coluna sua. Nela, atacava a taxação das grandes fortunas e defendia o financiamento privado das campanhas.
O neto: “Ah, aqui que o senhor protegia os pobres, vovô?”
Merval: “Exatamente.”
O neto: “O senhor lê para mim então isso que escreveu pelos pobres?”
Merval: “Amanhã, sem falta.”
O neto vê o nome do dono do jornal.
“Quem é esse?”
Merval explica.
O neto: “Ele também defendia os pobres, vovô?”
Merval: “Claro. Ele e toda a família. Sempre.”
O neto: “Fizeram máscara de Carnaval para ele também?”
Merval: “Hmmm. Não que eu lembre. Mas merecia.”
O neto: “O que ele fez pelos pobres?”
Merval pensa em alguma coisa: “Criou o Bolsa Família e o décimo terceiro.”
O neto: “Décimo terceiro?”
Merval: “Um salário a mais para os trabalhadores.”
O neto parece impressionado. Merval não está muito confortável com a conversa. Quer acabar logo com ela: “Agora vamos para a rua para aproveitar o Carnaval.”
O neto: “Posso ir de máscara?”
Merval: “Hmmm. Não. Vovô quer comprar uma máscara nova para você.”
O neto: “Do Lula?”
Merval: “Não, não. Esse não.”
O neto: “Por quê? Ele era ruim para os pobres?”
Merval: “Era. A gente escolhe uma máscara na hora, na rua.”
O neto, olhando para a máscara do avô: “Por que as lágrimas, vovô?”
Merval: “Porque … porque o vovô ficou emocionado com a homenagem.”
O neto, antes que os dois fossem para a rua: “Vou contar tudo isso na escola amanhã.”
Merval, incisivo: “Melhor não, meu filho. Devemos ser modestos, humildes. Guarde tudo isso apenas para você. Vou contar uma última. Aquele ficou conhecido como o Carnaval do Merval.”
O garoto sorriu.
E então avô e neto foram festejar o Carnaval de 2030.
Merval mostra a ele uma coluna sua. Nela, atacava a taxação das grandes fortunas e defendia o financiamento privado das campanhas.
O neto: “Ah, aqui que o senhor protegia os pobres, vovô?”
Merval: “Exatamente.”
O neto: “O senhor lê para mim então isso que escreveu pelos pobres?”
Merval: “Amanhã, sem falta.”
O neto vê o nome do dono do jornal.
“Quem é esse?”
Merval explica.
O neto: “Ele também defendia os pobres, vovô?”
Merval: “Claro. Ele e toda a família. Sempre.”
O neto: “Fizeram máscara de Carnaval para ele também?”
Merval: “Hmmm. Não que eu lembre. Mas merecia.”
O neto: “O que ele fez pelos pobres?”
Merval pensa em alguma coisa: “Criou o Bolsa Família e o décimo terceiro.”
O neto: “Décimo terceiro?”
Merval: “Um salário a mais para os trabalhadores.”
O neto parece impressionado. Merval não está muito confortável com a conversa. Quer acabar logo com ela: “Agora vamos para a rua para aproveitar o Carnaval.”
O neto: “Posso ir de máscara?”
Merval: “Hmmm. Não. Vovô quer comprar uma máscara nova para você.”
O neto: “Do Lula?”
Merval: “Não, não. Esse não.”
O neto: “Por quê? Ele era ruim para os pobres?”
Merval: “Era. A gente escolhe uma máscara na hora, na rua.”
O neto, olhando para a máscara do avô: “Por que as lágrimas, vovô?”
Merval: “Porque … porque o vovô ficou emocionado com a homenagem.”
O neto, antes que os dois fossem para a rua: “Vou contar tudo isso na escola amanhã.”
Merval, incisivo: “Melhor não, meu filho. Devemos ser modestos, humildes. Guarde tudo isso apenas para você. Vou contar uma última. Aquele ficou conhecido como o Carnaval do Merval.”
O garoto sorriu.
E então avô e neto foram festejar o Carnaval de 2030.
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