segunda-feira, 15 de junho de 2015

DNA tucano do petista Delcídio Amaral

Por Conceição Lemes, no blog Viomundo:

O deputado federal Fernando Marroni (PT-RS) denunciou em artigo publicado no Viomundo: “DNA do entreguismo está no sangue dos tucanos”.

É sobre o pré-sal. Marroni trata de dois projetos - um do deputado federal Jutahy Júnior (PSDB/BA) e outro do senador José Serra (PSDB-SP) -, que propõem o fim da obrigação de a Petrobras participar com, no mínimo, 30% na exploração do pré-sal e de atuar como operadora única no setor.

“Dos entreguistas tucanos é o que espera”, observa nos comentários o leitor Francisco de Assis.”E quando essa postura é de um energúmeno do PT, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo Dilma, quando deixa aflorar o seu passado tucano?”

Assis denuncia:

Foi o que aconteceu em plena sessão do Senado de quarta-feira, 10 de junho, denuncia Assis. Nosso leitor detalha:

Delcídio tomou o microfone para elogiar José Serra e se disse “pessoalmente” de acordo com a proposta do representante paulista dos interesses da Chevron & Cia, no sentido de retirar a participação obrigatória de 30% da Petrobras na exploração do pré-sal.

Numa tremenda canalhice, Delcidio Amaral faz isto enquanto a Chefe do Governo, do qual ele é líder, está no exterior, com o mesmíssimo argumento de Serra de ‘ajudar’ a Petrobras.

Não à toa, recebeu em seguida os elogios fervorosos de Serra.

Lembrando que a situação no Senado foi criada pelo energúmeno Renan Calheiros, que pôs em votação diretamente no PLENÁRIO a proposta de Serra, sem encaminhá-la às comissões.

Será que alguém no V Congresso do PT vai denunciar o senador Delcídio Amaral?


Um tucano enrustido? Um quinta coluna do PSDB dentro da bancada do PT?

No início da carreira como engenheiro, Delcídio foi diretor da Shell na Holanda. De 1999 a 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso, por indicação do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), ele ocupou o cargo de diretor de Energia e Gás da Petrobras . Foi bem na época em que os tucanos pretendiam transformar a Petrobras em PetroBrax.

O fato é que:

1) Delcídio Amaral foi filiado ao PSDB. Chegou a gabar-se de sua ficha de inscrição ter sido abonada pelo então todo poderoso Sérgio Mota, ex-ministro das Comunicações do FHC.

2) Ele foi filiado ao PSDB de 1998 a 2000 inteiro, informou-nos a assessoria do senador, e parte de 2001.

3) Em outubro de 2001, ele deixou a diretoria de Energia e Gás da Petrobras para assumir a Secretaria de Infraestrutura e Habitação no governo de Zeca do PT. E filiou-se ao PT.

4) Em 2005, circulou a informação de que Delcídio sairia do PT e iria para o PSDB:

A decisão teria sido tomada após reunião com o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), no fim de semana. Pela estratégia traçada até o momento, Delcídio deverá ser candidato ao governo do Estado pelo PSDB em uma aliança com o PFL. A notícia sobre a mudança ainda não foi confirmada pelo senador que, segundo sua assessoria, deverá falar sobre a decisão até o fim desta semana.

5) Delcídio, no entanto, ficou no PT, onde está desde o final de 2001.

7) Curiosamente, é só o que consta na sua biografia. Delcídio omite no seu site, assim como na Wikipedia, o seu passado de filiado ao PSDB.

De qualquer forma, esta repórter foi atrás do pronunciamento feito pelo senador Delcídio Amaral em 10 de junho. Ele confirma a denúncia do leitor Francisco de Assis. Reproduzo abaixo alguns trechos da nota taquigráfica (na íntegra, ao final) publicada no portal do Senado:

Com relação ao requerimento do Senador Serra, eu quero aqui dizer o seguinte: existem divergências no que diz respeito à Petrobras atuar como operadora exclusiva e ter 30%. Eu vou ser muito sincero, Presidente. Eu sou Líder do Governo, mas, como Senador da República e como engenheiro, eu vou confessar a V. Exª que esses 30% apareceram faltando uma semana, ou dez dias, para encaminhamento do projeto da partilha. Nem na Petrobras há consenso com relação ao operador exclusivo, e acho – mas esta é uma opinião pessoal como Senador, e não como Líder do Governo – fundamental a gente debater.

Pergunto a V. Exª, Sr. Presidente: quando a Petrobras está revisando o seu plano de negócios, quando o dinheiro está curto, quando a Petrobras está fazendo ajustes internos importantes, se vier um leilão, a Petrobras vai ter que entrar com 30% em todos os leilões? Será que nos blocos que vão ser leiloados, a Petrobras tem um interesse tão importante quanto outras petroleiras?

E, Sr. Presidente, quero aqui registrar: operador exclusivo de campo – eu sei que Senadores e Senadoras aqui conhecem bem isto, mas não custa lembrar – faz a exploração, ele detém a tecnologia, ele contrata a engenharia, ele faz o procurement de equipamentos, ele contrata os equipamentos, ele faz o construction – por isso que é EPC, ele faz a construção – e ele opera, produz, explora.

Eu pergunto a V. Exª: outras grandes petroleiras do mundo, Shell, Chevron, Exxon – e eu acho que o Brasil precisa ter parceiros aqui para fazer frente aos desafios do pré-sal –, V. Exª acha que empresas como essas vão querer entrar atuando como investidores passivos e deixando a operação exclusiva com a Petrobras?

Eu acho muito pouco provável isso, e quem sai prejudicado é o País, porque nós precisamos, mais do que nunca, de empresas que detêm tecnologia para nos ajudar na exploração e na produção do pré-sal.


“É um absurdo, uma afronta, que o senador líder do governo venha a público a defender em público a perda de soberania energética do Brasil”, condena João Antônio de Moraes, diretor de Relações Internacionais da Federação Única dos Petroleiros (FUP). “A retirada da Petrobras como operadora única desfigura o regime de partilha.”

“Mais importante que o mercado e o petróleo que temos é o conhecimento que, através da Petrobras, o Brasil detém”, prossegue Moraes. “Se a Petrobras não for a única operadora, nós estaremos abrindo mão desse conhecimento para petrolíferas estrangeiras e da soberania energética.”

Outra questão crucial em jogo é o conteúdo local, que as petroleiras estrangeiras não têm cumprido. Mesmo assim, os tucanos são contra a obrigatoriedade do conteúdo local.

“Não tem nenhum navio ou plataforma encomendados por empresas estrangeiras no Brasil”, denuncia Moraes. “Só tem da Petrobras. Isso só reforça a importância da Petrobras como exploradora única do pré-sal. Se deixar com as outras petroleiras, elas não vão encomendar aqui. E não cumprindo o conteúdo local, elas não vão desenvolver o Brasil.”

– No seu pronunciamento, o senador diz que ‘nós precisamos, mais do que nunca, de empresas que detêm tecnologia para nos ajudar na exploração e na produção do pré-sal’.

Moraes rebate: “Não tem empresa nenhuma no mundo em condições de produzir no pré-sal como a Petrobras. Isso é consenso mundial. As outras empresas querem entrar justamente para aprender com a Petrobras”.

Aqui, é sempre bom lembrar o caso da Argentina, para não seguirmos o mau exemplo.

A Argentina transferiu os ativos e o conhecimento detido pela sua petrolífera estatal, a YPF, principalmente para a espanhola Repson, que fez exploração predatória das reservas do país. Hoje, o nosso vizinho é obrigado a importar petróleo e tem um problema energético muito grave por conta da abertura paras empresas estrangeiras.

“Essa fala do senador é mais uma afronta, pois não considera o problema que está sendo para o nosso vizinho a transferência do controle da produção para uma estrangeira”, enfatiza Moraes. “Se quisermos o pré-sal como promotor do desenvolvimento nacional, o regime tem de ser o de partilha e a Petrobras como única empresa na exploração do petróleo.”

Ou seja, apesar de no PT, o DNA do senador Delcídio Amaral é tucano. Pior é que de vez em quando ele “aflora”, como observou o nosso leitor Francisco de Assis, e dá bicadas no PT para regozijo da tucanada.

Foi o que fez na última quarta-feira, 10 de junho, no plenário do Senado, quando engrossou o coro de Serra e demais oposicionistas, embora seja líder do governo de Dilma.

“Candidamente”, Delcídio disse: “Esta é uma opinião pessoal como Senador, não como líder do governo”.

Primeiro: Com um líder de governo como ele, para que a presidenta Dilma precisa de oposição?

Segundo: “Como senador”, sim. Tucano e não petista.

Em abril deste ano, a revista de Joyce Pascowitch publicou uma nota dizendo que o senador Delcídio está “insatisfeito no PT” e que “teria tido conversas políticas recentes em São Paulo com Fernando Henrique Cardoso”.

Será que o pronunciamento no Senado sobre o pré-sal seria um sinal de que ele estaria regressando ao velho ninho?

*****

A íntegra do pronunciamento

O SR. DELCÍDIO DO AMARAL (Bloco Apoio Governo/PT – MS. Sem revisão do orador.) – Eu queria só fazer um registro, Sr. Presidente [Renan Calheiros].

Em relação ao requerimento de minha autoria, que diz respeito ao sistema de contratação simplificado da Petrobras, eu entendo – e há um consenso com relação a essa questão – que nós precisamos aprimorá-lo.

Agora, é importante registrar, Presidente, que essa proposta surgiu ainda na época em que foi quebrado o monopólio do petróleo. Por quê? Porque a Petrobras, trabalhando num sistema competitivo com outras companhias de petróleo, teria que ter agilidade para contratar, até porque o mercado é competitivo e aberto.

Portanto, esse processo não nasceu agora. Esse processo vem lá de trás, inclusive na época em que fui diretor da Petrobras. Agora, se há distorções, problemas – e eu concordo com as ponderações que foram apresentadas –, é fundamental que a gente qualifique esse debate, porque, sendo uma questão de tamanha relevância para uma empresa do tamanho da Petrobras, nós não podemos ser simplistas nessas discussões.

Sr. Presidente, eu quero fazer aqui um registro muito tranquilo com relação a isso. Eu tenho uma preocupação com relação aos debates nas comissões permanentes e no plenário. Para mim, as comissões permanentes, Presidente, são de extrema relevância, porque elas trabalham os textos. Quando a matéria vem para o plenário, o texto tem começo, meio e fim. Não estou dizendo que isso está acontecendo no Senado, mas nós temos verificado alguns projetos que têm sido votados, inclusive na outra Casa, que, quando se vota em plenário, acaba-se votando um Frankenstein! As coisas não se juntam. Portanto, o papel das comissões permanentes é muito importante.

Por isso, respeitando até a iniciativa do Senador Ferraço e as críticas que ele fez – e não tenho dúvida de que nós podemos aperfeiçoar esse sistema –, nós precisamos usar as comissões do Senado para qualificar ainda mais os textos que vêm para o plenário da nossa Casa. É essa a intenção, Sr. Presidente. Eu não estou questionando a iniciativa do Senador Ferraço. Portanto, entendo e compreendo a importância desse tema, mas nós precisamos ter mais tempo para trabalhar, e não procrastinar uma decisão, que é mais do que relevante, em função dos acontecimentos que nós temos vivenciado.

Com relação ao requerimento do Senador Serra, eu quero aqui dizer o seguinte: existem divergências no que diz respeito à Petrobras atuar como operadora exclusiva e ter 30%. Eu vou ser muito sincero, Presidente. Eu sou Líder do Governo, mas, como Senador da República e como engenheiro, eu vou confessar a V. Exª que esses 30% apareceram faltando uma semana, ou dez dias, para encaminhamento do projeto da partilha. Nem na Petrobras há consenso com relação ao operador exclusivo, e acho – mas esta é uma opinião pessoal como Senador, e não como Líder do Governo – fundamental a gente debater.

Pergunto a V. Exª, Sr. Presidente: quando a Petrobras está revisando o seu plano de negócios, quando o dinheiro está curto, quando a Petrobras está fazendo ajustes internos importantes, se vier um leilão, a Petrobras vai ter que entrar com 30% em todos os leilões? Será que nos blocos que vão ser leiloados, a Petrobras tem um interesse tão importante quanto outras petroleiras?

E, Sr. Presidente, quero aqui registrar: operador exclusivo de campo – eu sei que Senadores e Senadoras aqui conhecem bem isto, mas não custa lembrar – faz a exploração, ele detém a tecnologia, ele contrata a engenharia, ele faz o procurement de equipamentos, ele contrata os equipamentos, ele faz o construction – por isso que é EPC, ele faz a construção – e ele opera, produz, explora.

Eu pergunto a V. Exª: outras grandes petroleiras do mundo, Shell, Chevron, Exxon – e eu acho que o Brasil precisa ter parceiros aqui para fazer frente aos desafios do pré-sal –, V. Exª acha que empresas como essas vão querer entrar atuando como investidores passivos e deixando a operação exclusiva com a Petrobras?

Eu acho muito pouco provável isso, e quem sai prejudicado é o País, porque nós precisamos, mais do que nunca, de empresas que detêm tecnologia para nos ajudar na exploração e na produção do pré-sal.

Sr. Presidente, acho que são temas relevantes, mas, como tentamos encaminhar o acordo, e não houve essa possibilidade, eu acho que nós temos que sobrestar essa votação, até pelas iniciativas das Senadoras e dos Senadores aqui, para que a gente busque, dos dois requerimentos, uma solução até a próxima semana.

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