Foto: Roberto Stuckert Filho/PR |
Dizem os jornais que a presidenta Dilma Rousseff vai intensificar suas viagens pelo Nordeste e inaugurar algumas das muitas obras que estão em curso, certo que nem todas no ritmo em que deveriam estar, pelos cortes orçamentários e pelo temor generalizado que espalhou-se entre gestores e empresas contratadas de não se vulnerarem ao fazer os inevitáveis ajustes de percurso que obras de grande magnitude exigem.
É muito bom que aconteça, mas não é o bastante na situação em que o Brasil se encontra politicamente e, com isso, economicamente.
É impossível voltarmos à normalidade enquanto houve pasto para a manada insensata cujo tropel se ouve hoje nas ruas brasileiras.
Porque só assim para entender quem pode sustentar que o Brasil hoje é o caos e antes do tal “lulopetismo” era uma maravilha.
É o mesmo raciocínio – embora primaríssimo, admitido por gente que se acha intelectual – que inspirou as tais “jornadas de junho” de 2013, quando os estádios da Copa do Mundo viraram a culpa de nossas mazelas, e não os 500 anos de história de país colonizado e saqueado.
O mecanismo de formação de opinião pública é – evidentemente – fortemente influenciado pela mídia que, aqui, tem características muito mais marcadas de propaganda que na maior parte do mundo.
Mas tem uma base real.
O que ficou, na prática, do ajuste fiscal senão os cortes nos benefícios sociais -sejam aqueles que decorrem da legislação previdenciária e assistencial, sejam aqueles auferidos por programas como o Fies, o Pronatec, o Minha Casa… – que sofreram reduções que, embora compreensíveis em relação ao seu volume total são uma frustração para quem os perde?
O que ficou da política de juros não apenas altos mas em elevação contínua senão – e por outras razões, também – a queda no poder de compra (a crédito, essencialmente) , os aumentos de preços de produtos de alimentação e nas tarifas de energia, áreas em que a incapacidade ou o desinteresse dos “senhores da macroeconomia” deixaram de lado sob o argumento de que “2015 será um ano de dificuldades”.
Os reajustes de impostos – na verdade apenas uma sem-restauração do regime tributário anterior ao que, progressivamente, se adotou a partir de 2011, com as desonerações tributárias – não avançou coisa alguma, na prática. Nem mesmo “bondades” como a repatriação de recursos e a uniformização do ICMS foram adiante, paralisados pela crise política.
A anomia do governo, apanhando estoicamente há seis meses e balbuciando apenas um discurso institucional, sem combate, sem estímulo, sem sinais de luta, a tudo deixa contaminar pelo desânimo e o resultado é que, somado ao engessamento das bondades tributárias que não se consegue retirar, aos atrasos e cortes nos gastos públicos e suas repercussões nas cadeias econômicas e a hipertrofia de desaceleração econômica presente na própria lógica do “ajuste” resultaram na queda da arrecadação que é, afinal, o único mecanismo saudável para que se produzam superávits nas contas públicas.
Governo (parece uma tautologia mas é necessário, diante de tudo o que estamos vendo) é para governar, não para ser dominado pelos acontecimentos.
Mas o governo e seu núcleo parece viver num outro mundo, quase sempre encolhido e pedindo uma racionalidade que, a esta altura, os agentes econômicos, só encontram na lógica do desastre.
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